Marcos 13.24-37

Auxílio Homilético

27/11/2011

Prédica: Marcos 13.24-37
Leituras: Isaías 64.1-9 e 1 Coríntios 1.3-9
Autora: Marcia Blasi
Data Litúrgica: 1º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 27/11/2011
Proclamar Libertação - Volume: XXXVI

1. Introdução

Este é o primeiro domingo do ano litúrgico. É o ano-novo na igreja. Para esse tempo tão especial, o templo da comunidade também precisa receber um carinho especial. Depois de tantos meses com os paramentos verdes e após o Domingo da Eternidade, agora celebramos um novo começo. A cor litúrgica para o Advento é o roxo/violeta/lilás. O importante é não confundir esse tempo com o Natal. A época do Natal tem suas próprias celebrações, artes e símbolos, como a árvore de Natal e o presépio. Transformar a igreja em Natal já agora impede que vivamos esse tempo de preparação, quando acompanhamos, domingo após domingo, as velas da coroa de Advento sendo acesas. Se já agora cantarmos “Noite Feliz” e tivermos o pinheiro na igreja, para que celebrar o Natal e por que celebrar o Natal? Cada coisa tem seu tempo. Celebrar Advento com calma, lembrando o preparo em todos os sentidos, dando sentido ao preparo, conduz a uma celebração natalina com mais sentido.

O espaço litúrgico merece atenção. Não é preciso muita coisa. A simplicidade de uma coroa de Advento, feita com ramos naturais e num tamanho adequado ao espaço na igreja, ajuda a comunidade a viver esse tempo de espera. Paramentos adequados também são importantes.

Esperar é difícil para muita gente. Vivemos num tempo de satisfação rápida aos desejos, um tempo de impaciência, queremos tudo para ontem. Nesse contexto é maior o nosso desafio na pregação, na liturgia e no espaço litúrgico. Enquanto preparamos a celebração do nascimento de Jesus, esperamos por sua vinda novamente. Estamos num tempo entre os tempos. Um tempo de reavivar a esperança e a vontade de viver e trabalhar por um mundo justo e pacífico para todas as pessoas.

2. Os textos bíblicos

O evangelho, em Marcos 13, exorta a um viver comprometido e conclama a comunidade a estar alerta e vigilante quanto à chegada do Reino. No texto de Isaías 64.1-9, o profeta proclama que Deus “escondeu-se” de seu povo por causa do pecado desse e implora que Deus não lembre os pecados para sempre, mostrando novamente a sua grandiosidade. Não se trata aqui de um texto apocalíptico, mas de um reconhecimento de pecados e de um clamor por ajuda. Em 1 Coríntios 1.3-9, Paulo saúda a comunidade de Corinto, agradecendo pela graça de Deus na vida dessa comunidade. O apóstolo lembra que a comunidade já foi enriquecida com muitos dons e que o pedido feito por Isaías já se concretizou. Deus ouviu o clamor de seu povo e enviou seu Filho. Não é preciso clamar por mais dons. A comunidade já recebeu todos os dons que precisa, e as pessoas de¬vem agora continuar firmes até o dia final.

3. Exegese

Acredita-se que o Evangelho de Marcos seja o evangelho mais antigo e que foi usado como base nas redações de Mateus e Lucas. Por causa da referência à destruição do templo no capítulo 13, provavelmente o evangelho foi escrito antes ou durante a revolta popular judaica, desencadeada em 66 d.C. e que culminou com a reconquista romana e a destruição do templo em 70 d.C. A linguagem utilizada na escrita do evangelho é um grego popular, e o autor baseou-se numa variedade de tradições orais das ações e dos ensinamentos de Jesus.

O capítulo 13 apresenta um sermão apocalíptico de Jesus, o que J. Jeremias chamou de “a profecia da desgraça” (p. 196). Jesus está em Jerusalém. O fim de sua vida está próximo. Ele aproveita cada instante para ensinar algo mais aos seguidores e seguidoras. Ao chegar ao templo, Ele se indigna com os abusos e perde a calma. Jesus expulsa os comerciantes daquele lugar e começa a ensinar, anunciando a destruição do templo e o seu retorno. A raiva dos sacerdotes e dos professores da lei só aumenta. Para livrarem-se dele, planejam sua morte.

O texto previsto para a pregação deste domingo, Marcos 13.24-37, é uma resposta à pergunta de Pedro, Tiago, João e André no versículo 4: “Quando é que isso vai acontecer? Que sinal haverá para mostrar quando todas essas coisas vão começar?”.

V. 24-25 – Depois daqueles dias de sofrimento: entre esses sofrimentos encontram-se a destruição do tempo, as perseguições, os falsos profetas, a fome, as catástrofes naturais; o sol.. a lua... poderes do espaço: todo o universo vai mostrar sinais. Há interpretações diferentes sobre essas imagens. Para algumas pessoas, é a criação que mostrará esses sinais; para outras, essa é uma linguagem simbólica que se refere aos opressores do povo. O importante é que esses sofrimentos não são castigo de Deus, não são causados por Deus. Eles são causados pela própria humanidade. Os sofrimentos descritos são uma realidade presente na vida da comunidade de fé.

V. 26-27 – O Filho do Homem aparecerá... mandará os anjos... reunirá os escolhidos...: baseado numa imagem de Daniel 7.13, onde uma figura simbólica desce sobre as nuvens, aqui é o próprio Cristo que vem e envia anjos para reunir os seus e as suas.

V. 28-32 – A figueira já foi exemplo de ensino no capítulo 11, em que se diz que ela foi destruída por não produzir frutos. Aqui a figueira e sua folhas verdes são sinais de esperança para quem crê e também um chamado a produzir bons frutos. Os sinais têm a finalidade de anunciar o fim dos tempos, mas ninguém sabe quando isso vai acontecer... nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai. Por isso é necessário continuar produzindo bons frutos.

fV. 33-37 – Essa parábola de exortação é um chamado para que as pessoas fiquem vigilantes e estejam preparadas. Como ninguém sabe a hora, é preciso
vigiar sempre. O interessante aqui é que somente o porteiro recebe a incumbência de permanecer acordado. Talvez essa parábola tenha sido dirigida aos dirigentes do povo ou até mesmo aos discípulos. Vigiem, fiquem alertas, fiquem acordados e acordadas foram as mesmas palavras que Jesus disse aos discípulos no Getsêmani. Mesmo assim, eles adormeceram. Os discípulos não conseguiram ficar vigilantes por algumas horas, mesmo assim não foram expulsos da presença de Jesus, nem amaldiçoados por seu cochilo. Podemos acreditar que há esperança também para nós. Jesus continua nos acordando de nossa letargia e envia-nos a nos embrenhar neste mundo, espalhando sinais de seu reino.

4. Meditação

Para pregadoras e pregadores, a época de Advento traz dificuldades especiais. A comercialização do Natal e a popularização das canções natalinas tornam difícil a tarefa de viver um tempo de calma e de preparação. Pregar sobre esse texto, então, duplica a dificuldade. As pessoas vêm para o culto esperando ouvir mensagens de anjos, de Maria grávida louvando o nome de Deus. Não esperam ouvir relatos de catástrofes, sinais do fim dos tempos, chamados para vigiar. As pessoas desejam o anúncio e não a profecia.

O resgate do que realmente significa Advento é urgente em nossas comunidades e celebrações de fé. Precisamos encontrar o equilíbrio entre a preparação, a rememoração do nascimento de Jesus e a tarefa de estar preparados para quando ele voltar novamente “para julgar os vivos e os mortos”. Muito importante é que a mensagem da pregação desse domingo não seja transformada em algo ameaçador, que leve as pessoas ao medo e ao desespero. Afinal, aquele que virá é Jesus, a quem conhecemos por seu amor, pelo carinho com que tratou as pessoas excluídas de seu tempo, aquele que curou e devolveu as pessoas para uma vida digna. Quem vem não é um tirano, mas o príncipe da paz. Quem vem é o mesmo que foi morto na cruz e com sua ressurreição abriu as portas para nos acolher na vida eterna. Não é preciso ter medo.

O medo impede as pessoas de agir. O medo impede as pessoas de pensar com clareza. O medo prende as pessoas dentro de si mesmas. O medo não deixa as pessoas reagirem em situações de opressão. A mensagem do texto não quer ser isso. A mensagem do texto quer animar as pessoas a preparar-se, sem se esconder ou sair do mundo. O texto quer animar as pessoas a preparar-se, agindo neste mundo como transformadoras da realidade cruel que encontram ao seu redor. Uma pessoa fiel não precisa ter medo de Cristo, nem precisa usar o nome dele para causar medo em outras pessoas. Uma pessoa fiel reconhece seus pecados, mas não se deixa dominar por eles; ela sempre procura recomeçar. Uma pessoa fiel semeia esperança, mesmo que haja a possibilidade de que o mundo que conhecemos deixe de existir amanhã.

Viver alerta, viver preparada tem tanto a ver com estar preparada para a vida quanto estar preparada para o fim dos tempos. Aquela pressa pela iminente volta de Cristo já é algo distante de nossa realidade. Passaram 2.000 anos de anúncios frustrados, e isso apagou um pouco o fogo do povo crente. Por um lado, há um grupo somente preocupado com sua moralidade, com sua salvação, que deixou de ouvir as dores do mundo. Por outro lado, há um grupo de pessoas que não se importa se o fim chegar ou não, pois a dor e as tristezas do mundo apagaram sua esperança. O texto deste domingo é uma boa oportunidade de “acordar” esses dois grupos, chamando-os para uma vida de engajamento e vivência comprometida na vida.

5. Imagens para a prédica

Enquanto trabalhava neste auxílio, acompanhava a propaganda do arrebatamento de fiéis para o dia 21 de maio, anunciado e previsto por Harold Camping, dos Estados Unidos. Segundo ele, cálculos matemáticos precisos teriam levado a chegar até essa data. Muitas pessoas venderam propriedades e bens para financiar uma campanha de cartazes e outdoors. Li até o caso de uma mulher de 27 anos, grávida de sete meses, que abandonou o curso de medicina e doou suas economias para a campanha. Segundo Camping, no dia 21 de maio, seria arrebatado um grupo de pessoas escolhidas e depois haveria cinco meses de muito sofrimento, enviado por Deus sobre a terra.

Bem, o dia 21 de maio chegou e nada de anormal aconteceu. Nenhuma pessoa foi arrebatada. Camping explicou depois que o que aconteceu foi uma experiência espiritual, um arrebatamento espiritual e que o dia do juízo final será no dia 21 de outubro. Se você está lendo esse material, e já passamos da segunda data prevista por Camping, devemos ainda estar vivendo neste mundo, preparando-nos para celebrar mais um Natal. A pregação poderia usar ilustrações como essa e compará-las ao evangelho. Ninguém sabe a hora, nem mesmo Jesus. Como poderia alguém calculá-la?

Por outro lado, a pregação também pode lembrar a comunidade de que Cristo já viveu no meio de nós e deixou-nos muitos ensinamentos. Mesmo assim, o mundo está cheio de sofrimento: há crianças morrendo de fome enquanto comida é jogada fora; há mulheres sendo estupradas como tática de guerra em pleno ano de 2011; há homens enviados para lutar em guerras por causa de sua fé; há gente morrendo sem auxílio médico, sem casa, sem carinho. Isso com certeza são sinais dos tempos, sinais da nossa omissão, da nossa covardia, do nosso medo, da nossa acomodação frente a um sistema econômico que exclui a grande maioria das pessoas e destrói as riquezas naturais.

Trabalhar pela “paz na criação de Deus” com esperança e compromisso é uma boa maneira de preparar-nos neste tempo de Advento. A prédica poderia ser construída entre estes dois polos: esperar esperançosamente x vigiar comprometidamente.

6. Subsídios litúrgicos

Antes do culto, ou mesmo durante o culto, preparar uma coroa de Advento, explicando sua simbologia. Durante a acolhida, introduzir o tempo de Advento, a cor litúrgica, os símbolos dos paramentos, o novo ano eclesiástico.

Bibliografia

COOGAN, Michael D. (Ed). The New Oxford Annotated Bible. New Revised Standard Version with the Apocrypha. New York: Oxford, 2001.
JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica/ Paulus, 2004.
 


Autor(a): Marcia Blasi
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 1º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 37
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2011 / Volume: 36
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25631
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