O que mais me agrada é sua postura democrática

A PALAVRA DO LEITOR

01/08/1988

O que mais me agrada é sua postura democrática

Arno Glitz

Está cabendo ao Jornal Evangélico completar, neste ano, os 100 anos de jornalismo evangélico em nossa Igreja, iniciados em 1888 com a publicação do Sonntagsblatt (Folha Dominical), como órgão do então Sínodo Riograndense. O Jornal Evangélico, criado em 1971 como jornal nacional, é um jornal para evangélicos no Brasil, que é, ainda, o maior pais católico do mundo.

Diante destes 100 anos de jornalismo em nossa Igreja, só podemos exclamar: Obrigado, Senhor. Porque ao prevalecer durante um século e continuar cada vez mais forte, através do JOREV, Deus mostrou — conforme lemos em Atos 5. 38-39 — que este veículo é um instrumento seu para a construção da Igreja de Cristo em nosso país.

O que eu gosto no nosso JOREV é que, nesta caminhada, esforçou-se para ser fiel ao Evangelho; contar a história da nossa Pátria e, paralelamente, a história de nossa Igreja, hoje IECLB, conta igualmente a nossa evolução como cristãos e como brasileiros, transformando urna Igreja alemã para alemães ou seus filhos, no Brasil. para uma Igreja de Cristo no Brasil, para brasileiros, a maioria ainda que de origem alemã.

Este “abrasileiramento, se assim o posso denominar, e a maneira democrática de ser é o que mais me agrada no JOREV. De um jornal evangélico alienado da realidade brasileira, saudosista do que é alemão, temos, hoje, um JOREV implantando na dura realidade do dia-a-dia de nossa vida como brasileiros.

TENSÕES INEVITÁVEIS

Com artigos e notícias voltadas, de um lado, para a herança e tradição pietista, ou para os conservadores, e inclusive os anti-ecumênicos de nossa Igreja, de outro lado atendendo também as exigências dos contextualistas, dos ecumênicos e dos praticantes de uma leitura libertadora da Bíblia. É de admirar que tantas tendências caibam num mesmo jornal.

As tensões são inevitáveis e muitas vezes acontecem. É diferente a maneira de pensar e reagir de um luterano vivendo no Sul do Brasil, numa cidade grande digamos, da de um luterano vivendo nas zonas rurais das Novas Áreas atendidas pela IECLB. O JOREV é, assim, um espelho fiel da diversidade teológica e contextual existentes na nossa Igreja, diversidade que encontra espaços e mentes abertas neste nosso jornal.

Fico muito contente em ver os jovens, as mulheres, os diversos colunistas ganharem seu espaço. Na questão doutrinária, a coluna O que significa ser de Confissão Luterana'', do nosso Pastor Presidente, Dr. Gottfried Brakemeier, é uma das mais importantes inovações do nosso jornal.

Pessoalmente, só me cabe agradecer ao JOREV o carinho com que sempre recebeu minhas contribuições e informações. Lembro, em especial, as notícias que o JOREV, corajosamente, veiculou em começos de 1981 sobre a luta tremendamente desigual que nos foi imposta pela corrupta e mentirosa Neva/ANDRE (de Lausanne, Suíça), cuja impunidade foi e é garantida pela Caca, Banco Central, Procuradoria da República. Itamaraty, Conselho de Segurança Nacional e outros órgãos da cúpula do Governo Federal.

ENORME ALENTO

Isto significou-nos grande apoio e, sobretudo, enorme alento cm momentos horrivelmente difíceis cm nossas vidas. De repente, o apoio de nossa Igreja e do JOREV nos mostrou que não mais estávamos sós (Salmo 133.1), e deste apoio aspiramos forças e ânimo (Atos 18. 9-10) para perseverarmos, não descansando até que sejam desfeitas as injustiças propositalmente cometidas contra nós.

Poucos jornais brasileiros deram e ainda dão. como o IOREV, cobertura para os eventos da Semana Nacional do Excepcional —que ocorre sempre de 21 a 28 de agosto. Lembro, em especial, as edições do ano de 1981. Ano Internacional das Organizações das Nações Unidas (ONU) para a Pessoa Portadora de Deficiência. Espelha o JOREV, assim, uma preocupação crescente de nossa Igreja para os pequenos (Mateus 25. 40-45), justamente os que o Senhor quer à sua mesa (Lucas 14.21).

O JOREV, dentro da linha de nossa Igreja, e, aliás, da convicção expressa no preâmbulo da Confissão de Augsburgo (de 25/6/1530), é ecumênico. Não acredito que tenha havido uma melhor cobertura de um evento ecumênico como foi, através do Jorev, o da 6ª. Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (o organismo internacional do ecumenismo), em julho/agosto de 1983, em Vancouver, no Canadá, tanto antes como depois da Assembleia. O mesmo pode-se dizer das duas Pré-Assembéias Latino-Americanas que a precederam e da divulgação do hino Jesus Cristo, a Vida do Mundo, o hino brasileiro para a Assembléia. Poucas vezes, a mensagem ecumênica chegou tão forte e nitidamente às comunidades e bases da IECLB como em 1983 através do JOREV.

DÍVIDA EXTERNA

Espelhando a realidade do contexto brasileiro, o JOREV noticiou e comentou encontros de igrejas para a discussão da temática dívida externa, dívida que não podemos pagar (o que até os nossos credores reconhecem) e da qual não sabemos, sinceramente, o que devemos pagar. O impacto da dívida externa se faz sentir em todos os aspectos de nossas vidas.

O Jornal Evangélico noticiou sobre os encontros de nossa e de outras Igrejas brasileiras com Igrejas alemãs, no Rio de Janeiro, em outubro de 1986; sobre a reunião de fevereiro de 1987, no México, convocada pela Igreja Luterana Americana; sobre o encontro em Sankt Augustin, Bonn (Alemanha), em março de 1987; e, recentemente, sobre o encontro das Igrejas brasileiras, em São Paulo, em março de 1988.

O Jornal Evangélico sem mostrando que este assunto da dívida diz respeito não só à nossa vida econômica como cidadãos, mas também à textura moral da nossa Nação, que, pela corrupção, está sendo perigosamente corroída. Combater a corrupção é dever do cristão, porque a corrupção afronta a justiça (Mateus 6.33) e a verdade, portanto afronta Cristo (João 14.6). — Eu gosto da diversidade no JOREV. Há seções que não aprecio, mas as aturo porque sei que há leitores que as apreciam e eles também têm o direito (Mateus 7,12) de serem atendidos em seus desejos.

BELO MUNDO

Gosto da coragem do JOREV em abordar, inclusive através de informes e reportagens, assuntos referentes às experiências sociais em andamento na Nicarágua e em Cuba. Não concordando com aspectos políticos das duas experiências, sei apreciar, porém, a busca de justiça social naqueles povos tão sofridos, sobretudo o nica. Estava em tempo de, como luteranos brasileiros, acordarmos — ou sermos acordados pelo JOREV — para outras realidades que existem nesse belo mundo de Deus, um mundo que só ele criou e que a ele pertence (Salmo 24.1), um mundo ecumênico.

O JOREV busca o diálogo. A vivência na sociedade, nas Igrejas, nos mostra sempre e cada vez mais que só está disposto a dialogar quem é firme em suas convicções. E o espaço ao diálogo o JOREV concede sempre. E isso é bom. Como membro ativo da IECLB, sinto-me imensamente gratificado que através do Jornal Evangélico a nossa Igreja possa comemorar os 100 anos de imprensa evangélica entre o povo de Deus em nossa terra.

Glória. Aleluia Louvado seja o Senhor!

Que o Senhor continue abençoando o Jornal Evangélico como instrumento para divulgar a sua obra.


Arno Glitz é membro da Comunidade Evangélica de Curitiba, um dos representantes da IECLB no Conselho Mundial de Igrejas e integrante do recém-formado grupo de apoio ao trabalho com deficientes na IECLB.


Voltar para índice de Um Século de História de Nossa Imprensa 

 


Autor(a): Arno Glitz
Âmbito: IECLB
ID: 32182
HISTÓRIA
+
Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu guia.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br