Os números selvagens da indústria tabagista

01/12/2011

Os números selvagens da indústria tabagista

Gisele Eberspächer

Os fumantes já têm todas as provas que precisam para acreditar que o cigarro faz mal para a saúde. Mas e o meio ambiente? Agora, além do próprio bem-estar, pesquisas mostram que o tabagismo também o prejudica. E se engana quem pensa que é apenas a fumaça que polui: o mais grave é que isso ocorre em todas as etapas entre produção e consumo de um cigarro.

O tabagismo mata cinco milhões de pessoas por ano no mundo. Além disso, é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão, em fumantes ou fumantes passivos.

Já no meio ambiente, esse número se transforma em 1,5 milhão de árvores cortadas ao redor do mundo para abastecer a indústria tabagista, segundo dados da Virginia Tobacco Settlement Foundation (instituição contra tabagismo precoce dos Estados Unidos).

A poluição causada pelo tabagismo começa na produção do cigarro. A planta requer muitos nutrientes, deixando o solo enfraquecido, tornando-se inadequado para outras culturas. As plantações de tabaco no Brasil geram anualmente 730 toneladas de folhas por ano, sendo localizadas principalmente dos estados do Sul. O país é o segundo maior produtor de fumo no mundo, atrás apenas da China, mas é o maior exportador.

O tabaco requer também o uso de uma grande quantidade de adubos, fertilizantes e componentes químicos para crescer livre de pragas. Todas as substâncias se depositam no solo, sendo levadas pela chuva para rios e lençóis freáticos, poluindo a água da região.

A próxima etapa depois da colheita é a secagem das folhas de tabaco, que acontece entre outubro e dezembro de cada ano. Elas são armazenadas em uma espécie de estufa e precisam de calor para perder a umidade. O combustível usado para gerar o calor é a madeira, funcionando como um forno à lenha, onde permanecem até estarem completamente secas, podendo demorar mais de um dia.

A Organização Mundial da Saúde calcula que somente esse momento da produção consuma 12% das árvores cortadas mundialmente por ano.

A média é de uma árvore cortada para cada 300 cigarros produzidos. Após a secagem, as folhas são então empilhadas e levadas para as fábricas, onde serão enroladas e misturadas com outras substâncias para formar os cigarros.

O consumo de recursos pela produção do cigarro continua com as embalagens. Segundo dados da ONG Aliança para Controle do Tabagismo no Brasil (ACTBR), são usados um pouco mais de 3,3 milhões de metros quadrados de papel para embalar os maços de cigarro. Depois, é utilizada ainda uma camada de acetato, aquela embalagem plástica que cobre a caixinha de papel. A quantidade em metros é idêntica a de papel (3,3 milhões de metros quadrados). O número de área da embalagem, incluindo papel e acetato, é equivalente a 600 hectares. Juntas, as embalagens somam 611 mil quilogramas.

Outro efeito negativo do cigarro é a emissão de gases do efeito estufa durante o transporte. Primeiro, as folhas devem chegar dos locais onde são plantadas até as fábricas. Depois, o produto pronto deve ser distribuído pelos pontos de consumo. O carregamento dos maços de cigarro enchem 34 caminhões por dia.
Apesar de ser o fim de um cigano, as batucas criam um grande problema. São descartadas 12 bilhões de batucas de cigarro diariamente no mundo, segundo a ACTBR. São 7,7 bitucas por fumante ou 2,1 bitucas por habitante.

Calcular o peso é ainda mais alarmante: são 4.932 toneladas de bitucas por dia. Um estudo publicado na American Chemical Society (Sociedade Americana de Química) revelou que 4,5 trilhões de filtros de cigarro são descartados no meio ambiente a cada ano. A bituca é formada pelo filtro e um resto de tabaco. Enquanto o tabaco é facilmente absorvido pela natureza, o filtro, que é feito de acetato de celulose, não é biodegradável. O máximo que pode acontecer é ser fragmentado em diversas partículas pequenas, mas que ainda são presentes e identificadas.

Além disso, muitas dessas bitucas acabam seu caminho em mares. Segundo o relatório Marine Litter: a Global Chalenge (Lixo nos Oceanos: um Desafio para o Mundo, em tradução livre), da Organização das Nações Unidas (ONU), embalagens e restos de cigarro se acumulam nos oceanos, formando 40% do lixo encontrado no Mar Mediterrâneo. No Equador, o número chegou a ser ainda maior e somou metade dos resíduos encontrados na costa em 2005.

Para o Projeto de Pesquisa de Doenças Relacionadas ao Tabaco na Califórnia, na Universidade da Califórnia (California Tobacco Related Disease Research Project of the University of California), essas substâncias já matam várias espécies marinhas e afetam outras, mesmo que em pequenas quantidades. Para eles, as bitucas de cigarro deveriam ser consideradas lixo tóxico e receber tratamentos especiais antes de serem descartadas.

Desflorestamento

O tabagismo consome árvores em vários momentos. Primeiro, é feito o desmatamento para gerar espaço para as plantações. Depois, a madeira necessária no processo de secagem das folhas.

Por último, é utilizado um total de 121,5 mil toneladas papel, tanto nas embalagens quanto para enrolar os ciganos. Considerando a safra de 2008, que produziu 730 toneladas de folhas de tabaco, o Brasil cortou 360 milhões de árvores em um ano, somando um total de 240 mil hectares de floresta.

Incêndios

No Brasil, a ONG ambientalista gaúcha Sentinela dos Pampas faz um trabalho de preservação na área nativa local. Segundo uma coleta de dados realizada, foi calculado que 50% dos incêndios dessa região são causados por bitucas de cigarros, sendo a maioria na beira da estrada.

Percorremos trajetos da BR 386 e entrevistamos moradores, gestores públicos, como também a Polícia Rodoviária e, em alguns casos, foi confirmado que os incêndios foram oriundos de fumantes que atiravam as bitucas ainda acesas e, com a vegetação seca, iniciava os incêndios nas margens desta rodovia, comenta Paulo Fernando Cornélio, diretor do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas.

A autora é estudante de Jornalismo, membro da Comunidade Martin Luther, Curitiba/PR.
Seu artigo foi publicado originalmente na Revista Atitude Sustentável (www.atitudesustentavel. uol.com.br Edição 4) 

Observação da Redação: Conforme dados da AFUBRA a safra brasileira de fumo de 2009/10 foi de aproximadamente 721.000 toneladas - sendo 95% produzidas nos três estados do sul. Calcula-se que nestes estados 222.000 famílias têm na produção do fumo sua principal fonte de renda.


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Autor(a): Gisele Eberspächer
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia - Saúde e alimentação
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Artigo
ID: 31855
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