Os pequenos pecados a gente paga logo...

01/12/2011

Os pequenos pecados a gente paga logo...

P. Dr. Osmar Zizemer

Meu avô costumava dizer, quando alguma coisa por descuido ou por um erro cometido, ia mal: Os pequenos pecados a gente paga logo!.

Certa vez eu tive de sentir na própria pele esta verdade.

Eu era estudante de teologia no penúltimo ano, e em minhas férias de verão fui designado para prestar serviços pastorais em uma paróquia, que já há meio ano estava sem pastor. Esta paróquia era composta por uma comunidade na cidade e cinco comunidades no interior.

Certo domingo pela manhã celebramos o primeiro culto na igreja da cidade. Em seguida havia um segundo culto marcado numa pequena comunidade bem no interior. Este seria com Santa Ceia. O veículo da paróquia era um velho Jeep Willys, em más condições. Diziam as más línguas que ele tinha grilo até no pisca-pisca. Desloquei-me para a pequena comunidade do interior no velho Jeep pela estrada esburacada e poeirenta. A comunidade estava reunida — quase completa. Celebramos o culto, e quando o mesmo estava no fim, comunicaram-me que uma senhora idosa, já acamada há quase dois anos, pedira que o Pastor viesse trazer-lhe a Santa Ceia. Naturalmente me dispus a fazê-lo imediatamente. Mas eu não sabia o caminho até sua casinha, que ficava dali a uns 10 km por uma estrada muito precária. Um senhor de certa idade e muito simples, que morava bem próximo à capela, se dispôs a me acompanhar e mostrar o caminho. Grato aceitei a oferta — e lá fomos nós, levar a Ceia do Senhor para aquela senhora. Tudo correu bem. Eu lhe trouxe uma meditação na Palavra de Deus, oramos e celebramos a Santa Ceia juntamente com alguns familiares presentes. Assim, mesmo acamada há tanto tempo, aquela senhora teve parte na vivência de fé vivida em culto em sua comunidade naquela manhã.

Despedimo-nos e tomamos o caminho de volta. Até chegarmos à casa do meu guia o relógio marcava meio-dia. O meu acompanhante gentilmente me convidou para almoçar em sua casa... Mas... não tive coragem de aceitar o convite. A higiene havia passado bem longe daquela casa...

Procurei uma desculpa: Tinha de ir logo, pois precisava chegar a tempo a uma comunidade no outro extremo da Paróquia para buscar uma moça que iria tomar o ônibus na cidade para ir participar de um curso de orientadoras de Culto Infantil! Mas isto era só meia-verdade de minha parte. Pois o ônibus em que a moça iria viajar só partiria no fim da tarde. Desculpa aceita, despedi-me com um agradecimento, e dei partida no velho Jeep. Andei alguns quilômetros, quando o motor deu uma esguichada... e morreu. Mexe daqui, mexe dali, mas não teve mais jeito de fazê-lo pegar novamente. O jeito era chamar um mecânico. Mas como?
Tive de caminhar cerca de oito quilômetros, sol de janeiro a pino na cabeça, até chegar ao telefone mais próximo, de onde poderia chamar um mecânico. Telefona pra lá, telefona pra cá, até finalmente conseguir alguém que se dispusesse a me socorrer — afinal era domingo. Finalmente veio o socorro. Após algum tempo o motor do velho Jeep roncou novamente e pude voltar à cidade — e lá pelas quatro horas da tarde consegui comer alguma coisa.

Nunca me arrependi tanto de não ter aceito o almoço, tão gentilmente oferecido, lá naquela casa simples do interior, com uma desculpa que era apenas meia-verdade... Nunca mais me esqueci deste episódio.

É, os pequenos pecados a gente paga logo... Já dizia o meu avô.

O autor é pastor da IECLB, editor do Anuário Evangélico e reside em Blumenau/SC


Voltar para índice Anuário Evangélico 2012
 


Autor(a): Osmar Zizemer
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
ID: 31864
REDE DE RECURSOS
+
Orar é a obra mais primorosa, por isto é tão rara.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br