Páscoa: ontem, hoje e sempre!

03/03/2009

Há algum tempo, enquanto me ocupava em pesquisar a respeito da imigração alemã evangélica no Brasil, listei situações e hábitos trazidos por imigrantes - parte de uma “bagagem cultural” que compreende experiências e histórias plurais - que até hoje se fazem sentir, de certa forma, entre as comunidades e famílias evangélico-luteranas. Isso inclui o jeito de pensar, de fazer algo, de se relacionar... Dentre as bagagens culturais que se estendem até a atualidade lembro o canto comunitário (cantamos hinos traduzidos do alemão até hoje nos cultos), o valor que damos à educação formal, os cultos e bailes de Kerb (festa em comemoração à consagração e subseqüente aniversário dos templos), o cuidado com o jardim e a horta, o feitio de trabalhos manuais como o crochê e o bordado ou, mesmo, o hábito de ornamentar a casa na época do Natal com um pinheirinho e flocos de algodão (uma alusão à neve que caía na época do inverno/Natal na Alemanha). Em meio a tantas “relíquias” encontrei, ainda, o hábito de preparar, por ocasião da Páscoa, ovos cozidos e coloridos para presentear as crianças.

O ovo chega a nós como um símbolo da Páscoa para dar visibilidade e transmitir um dos mais preciosos conteúdos da fé cristã: Ao ser crucificado e sepultado, Jesus Cristo não ficou entre os mortos, mas ele vive! Ressuscitou! O ovo guarda vida dentro de si. Jesus Cristo morreu e foi sepultado dentro de uma gruta. Na gruta ele ficou durante três dias. A gruta lembra a casca do ovo que guarda a vida. Assim como o pintinho quebra a casca do ovo para nascer, Deus fez com que a “casca se rompesse”, isto é, permitiu que Jesus saísse da gruta: ressuscitasse. Por isso, o ovo é símbolo de Páscoa: de dentro dele brota a vida. Esse processo de romper a casca, no entanto, exige esforço, de parte do pintinho. Semelhantemente, a passagem da morte para a vida e a espera daquelas pessoas que haviam acompanhado Jesus em sua trajetória por cidades e vilas certamente não foi fácil. Envolveu muito sofrimento! A casca do ovo vazia no galinheiro anuncia a vitória do pintinho que dali nasceu; a gruta vazia anuncia vida plena, esperança e ressurreição para toda pessoa que crê em Cristo, no tempo oportuno de Deus, porque Jesus ressuscitou!

Os ovos coloridos mais antigos de que se tem notícia foram encontrados por volta do ano de 1300 numa sepultura na cidade de Worms, na Alemanha. Só a partir de 1828, com o desenvolvimento da indústria de chocolate, teve início o hábito de se presentear ovos de chocolate. Em nossas casas e em muitas celebrações pascais comunitárias continuamos utilizando o ovo como símbolo da vida nova que Deus nos oferece, seja ele ovo cozido ornamentado, seja casquinha de ovo com recheio de amendoim, nozes ou balinhas, sejam ovos de chocolate. Precisamos ficar atentos e atentas, no entanto, para que o símbolo (o ovo) não seja mais importante do que o conteúdo que ele carrega: a superação definitiva da morte como o maior mal que pesa sobre os seres humanos, como bem lembra o hino de número 67 do HPD (Hinos do Povo de Deus): “Cristo venceu a morte. Bendita a nossa sorte! Um novo dia nos alumia”.

Provocados pela simbologia do ovo podemos nos perguntar: Onde se faz necessário, hoje, nos espaços familiar, comunitário, profissional e social que a “casca dura” seja rompida e a vida se faça vitoriosa? A comunhão e a alegria que experimentadas no culto de Páscoa motivam ações verdadeiramente novas e cheias de vida no nosso cotidiano; ou nós “trancamos” essa novidade no espaço da igreja e voltamos, com as mesmas atitudes e pensamentos, para o nosso dia-a-dia, desvinculando fé e vida?

A Páscoa e o ovo, como um dos seus símbolos, nos convidam a colocarmos-nos em movimento; a sairmos/rompermos com a timidez, o individualismo e o comodismo (ali onde eles se instalaram) e realizarmos gestos diferenciados, alternativos e comunitários que sejam portadores de vida com dignidade nos espaços de nossa convivência e para além destes. Assim, entre a tradição e a vida na pós-modernidade, anunciamos o Cristo vivo, fonte de toda vida, ontem, hoje e sempre, entre nós!

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para que toda pessoa que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Pa. Scheila dos Santos Dreher

 

foto de Scheila dos S. Dreher sobre foto de Jurgen Matschie


Autor(a): Scheila dos Santos Dreher
Âmbito: IECLB / Sinodo: Vale do Taquari / Paróquia: Lajeado (RS)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8618
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