"Post" tornou-se parte do destino do fundador

INÍCIO DA IMPRENSA

01/08/1988

Post tornou-se parte do destino do fundador

O Deutsche Post não teria se imposto sem a personalidade multifacetada, íntegra, clara e combativa do Dr. Wilhelm Rotermund. Sua atividade literária só lhe foi possibilitada pelo mais rigoroso empenho de todas as forças, pelo mais precioso aproveitamento de todo tempo e pela completa clareza quanto a seu objetivo. Ele era, ao mesmo tempo, um pastor ocupadíssimo, diretor de uma escola secundária, presidente do Sínodo, chefe de uma livraria e de uma editora, autor de uma longa série de livros escolares, tinha aqui e no além-mar uma extensa correspondência a ser mantida, e era redator de um jornal para o qual escrevia quase regularmente um ou dois artigos por semana.

Seus artigos não surgiram apenas na escrivaninha distante do mundo; percebe-se neles a linguagem viva do pregador e a singela clareza do professor. Ele conseguia falar com os leitores de modo que estes o entendiam, e ao fazê-lo não abandonava em nada suas opiniões. Jamais se tornou vulgar para ser melhor entendido.

Em janeiro de 1881, apenas quatro semanas após o surgimento do Deutsche Post, Rotermund foi obrigado a perceber que a direção de um jornal alemão no Brasil não era fácil. Cometeu aí a imprudência de criticar severamente a apresentação de uma comédia em São Leopoldo e, sobretudo, de apontar para o gosto condicionado pela diferença racial. Os jornais brasileiros baixaram o pau nele; contra isto, contudo, havia como se defender. Um dia, porém, as vidraças da gráfica foram quebradas. Isto era obra da população, e a esta dificilmente se poderia domar se as coisas ficassem pretas.

AMEAÇA DE INCÊNDIO

Vinte anos mais tarde, um extenso artigo contra o casamento misto entre etnias diferentes quase provocou um novo ataque ao jornal. E quando durante a guerra mundial, antes do Brasil ter entrado na guerra contra a Alemanha, Rotermund sugeriu aos luso-brasileira que aprendessem o alemão ao invés do francês, todos os jornais partiram furiosos contra ele e se ameaçou incendiar o jornal. Só através de uma visita pessoal do então redator ao presidente do Estado, Borges de Medeiros, se obteve cobertura do governo para o Deutsche Post.

Em 13 de outubro de 1928 saiu, sob o número 7632, uma última edição especial do Deutsche Post. O jornal — que por 48 anos havia constituído um centro cultural para a germanidade evangélica e cuja significação estava estreitamente vinculada à personalidade de seu fundador — tinha deixado de existir. Caíra fora uma das mais importantes vozes do polifônico concerto dos jornais teuto-brasileiros. Os tempos do Kulturkampf' (conflito entre o Estado e a Igreja Católica, de 1872 a 1880, particularmente na Prússia) certamente tinham passado há muito, mas os da luta pela própria cultura não tinham terminado com a guerra mundial. Um jornal em tal época precisava de caráter; por esta razão, não podia ser criado a partir do acaso. O Deutsche Post tinha se tornado parte do destino de seu fundador, e também seu acaso foi, no todo, uma pane do aspecto trágico do trabalho e da realização dos alemães que viviam no exterior.


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Autor(a): Erich Fausel
Âmbito: IECLB
ID: 32151
HISTÓRIA
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Martim Lutero
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