Povo de Deus Unido em Meio às Diferenças

19/01/2017

 

Lado PALAVRA

POVO DE DEUS UNIDO EM MEIO ÀS DIFERENÇAS

Carlos Gilberto Bock

O termo ecumenismo deriva-se da palavra grega oikoumene, que designa o mundo habitado como uma casa comum, onde prevalece a unidade em meio às diferenças. Trata-se de um termo bastante antigo, que experimentou diferentes ênfases ao longo da história (ênfase geográfica, cultural, política e religiosa). Mais modernadamente (no último século), as pessoas cristãs têm usado esse termo para designar o compromisso em prol da unidade do povo de Deus.

O ecumenismo, na perspectiva cristã, busca tornar visível a unidade do povo de Deus, já realidade pela fé em Cristo. A vivência dessa unidade se dá dentro da “casa comum”, ou seja, na dimensão da história humana. A “casa comum” que os seres humanos habitam se encontra, contudo, dividida em diferentes credos, etnias, gêneros, povos, línguas, classes sociais, etc. A diversidade humana é em si legítima; a pluralidade é um valor a ser cultivado. Não pode, porém, se tornar um argumento para fundamentar a perpetuação de desigualdades, ou seja, a confirmação de uma força sobre outra.

A compreensão cristã do ecumenismo como a busca da unidade do povo de Deus não pode ser dissociada, portanto, desta compreensão mais abrangente do mundo como a casa comum, que sofre com as consequências das divisões e desigualdades humanas. O povo de Deus é chamado a ser sinal e testemunho da reconciliação de Deus com sua criação.

O ecumenismo e suas diferentes expressões

O movimento ecumênico, a rigor, caracteriza-se pela diversidade não só de igrejas e entidades, mas também de propostas e modelos de unidade. No início, o movimento ecumênico se desenvolveu a partir do compromisso missionário. O ecumenismo de missão, como seu nome já diz, busca a convergência de esforços no sentido de evangelizar o mundo não cristão. O ideal visado é a unidade das pessoas cristãs para que o mundo todo creia.

Um segundo tipo de proposta pode ser identificado como ecumenismo diaconal. Essa proposta enfatiza a busca da unidade dos cristãos e das cristãs no sentido de cooperação e serviço, a fim de reverter situações de sofrimento e de divisões sociais de origem econômica, racial, étnica, cultural, de gênero, etc. No Brasil, esse tipo de ecumenismo é promovido, por exemplo, pela Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE – 1973), com sede em Salvador, a qual congrega seis igrejas cristãs. Também a Diaconia (1967), de Recife, que congrega onze igrejas, representa este tipo de ecumenismo. CESE e Diaconia atuam, principalmente, no apoio a projetos diaconais e de desenvolvimento, em âmbito nacional. A IECLB é membro da Diaconia desde 1967, e da CESE, desde 1983.

Um terceiro tipo pode ser classificado como ecumenismo teológico-doutrinal. A ênfase dessa proposta é a unidade visível da Igreja de Cristo. Ela leva a sério as diferenças confessionais, procura cicatrizar as feridas históricas que originaram as divisões e busca por convergências teológicas entre as diferentes igrejas. No Brasil, quem representa esse tipo de ecumenismo é o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC – 1982), com sede em Brasília, o qual congrega cinco igrejas-membro, entre elas a IECLB. O CONIC, entre outras atividades, organiza anualmente a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Conta também, em alguns estados e cidades, com representações regionais e locais.

Em âmbito internacional, desde 1948, existe o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), com sede em Genebra – Suíça. O CMI é o conselho mais representativo do cristianismo no mundo e tem como uma de suas grandes tarefas promover o ecumenismo entre as igrejas-membro, incluindo a IECLB, que o integra desde 1950. Em nível continental existe o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), com sede em Quito, Equador. O CLAI congrega as igrejas evangélicas do continente americano. A IECLB integra o CLAI desde a sua fundação oficial, em 1982.

Além dos conselhos, as igrejas mantêm ainda em âmbitos internacional, regional e nacional comissões de diálogo bilateral que buscam consensos teológicos em torno de temas que historicamente as afastaram. Exemplo concreto desses esforços foi, em 1999, a assinatura de um acordo internacional entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Federação Luterana Mundial sobre a Doutrina da Justificação por Graça e Fé. Essa doutrina foi um dos motivos para a Reforma Luterana no século XVI, e hoje, segundo este acordo, já não é mais motivo de discórdia entre as igrejas católica e luteranas.

Um quarto tipo de ecumenismo, bastante difundido na América Latina, tem sido identificado como ecumenismo de base ou popular. Essa proposta nasceu a partir das necessidades concretas do povo empobrecido e teve um papel significativo no processo de redemocratização da organização popular e da solidariedade das pessoas excluídas, a partir da fé em um Deus libertador. Buscam-se melhores condições de vida e de dignidade em situações bem concretas, como moradia, saúde, trabalho, terra, salários dignos, etc.

Diversos movimentos da sociedade civil brasileira que hoje contam com reconhecimento público têm suas raízes no movimento ecumênico de cunho popular. Entre as entidades ecumênicas que historicamente estiveram vinculadas a essa proposta, podemos citar, por exemplo, o Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria (CECA), o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Koinonia, o Centro Ecumênico de Capacitação de Serviços àEducação e Evangelização Popular (CESEP), o Instituto de Estudos da Religião (ISER).

Por fim, poder-se-ia mencionar ainda o diálogo inter-religioso, que de forma mais explícita que os modelos anteriores, procura promover o diálogo com outras religiões. Neste caso o ecumenismo extrapola o ambiente cristão. Alguns autores e autoras designam essa proposta de macroecumenismo. As iniciativas relacionadas a ela têm a importante função de promover o mútuo conhecimento e reconhecimento, bem como a defesa conjunta da paz e da justiça na sociedade.

Referências bibliográficas

BOCK, Carlos Gilberto. O ecumenismo eclesiástico em debate. Uma análise a partir da proposta ecumênica do CONIC. São Leopoldo: IEPG/Sinodal, 1998. 149 p.

DECLARAÇÃO Conjunta Católico Romana Evangélico Luterana. Doutrina da Justificação por Graça e Fé. Porto Alegre Edipucrs/Cebi, 1998. 79 p.

SANTA ANA, Júlio de. Ecumenismo e Libertação. São Paulo Vozes, 1991. 317 p.

TIEL, Gerhard. Ecumenismo na perspectiva do Reino de Deus. Uma análise do movimento ecumênico de base. São Leopoldo/Cebi, 1998, 256 p.


Este estudo teve a linguagem revista e atualizada. A proposta integra o volume 3 da Coleção Palavração denominado “Graça e Fé: temperos para a vida”, publicado em 2003 pelo Departamento Nacional para Assuntos da Juventude da IECLB – DNAJ, sob a coordenação de Cláudio Giovani Becker e impresso por Contexto Gráfica e Editora (ISBN 85-89000-14-1).


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