2 Coríntios 4.5-12

Auxilio Homilético

05/06/1994

Prédica: 2 Coríntios 4.5-12
Leituras: Deuteronômio 5.12-15 e Marcos 2.23-28
Autor: Valdemar Lückemeyer
Data Litúrgica: 2º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 05/06/1994
Proclamar Libertação - Volume: XIX


1. Observações preliminares

Encontro dificuldades em descobrir uma mensagem idêntica ou semelhante nos três textos bíblicos previstos para este 2° Domingo após Pentecostes. A afinidade entre o texto do Antigo Testamento e o do Evangelho está clara: a libertação oferecida e presenteada por Deus cria nova vida, que não é mais dominada e oprimida pelo peso da lei. A epístola, porém, indicada como texto para a pregação, nos apresenta a base do ministério apostólico (do apóstolo Paulo e da comunidade cristã). O apóstolo está se defendendo de acusações feitas a ele, que inclusive questionam sua autoridade. Ele apresenta as suas razões, que o levam a anunciar, com poder e autoridade, o evangelho.

Lembro que o texto é indicado para o 2° Domingo após Pentecostes. A comunidade celebrou, há poucos dias, a festa de sua fundação e sabe-se, desde então, incumbida de anunciar o evangelho. E para isso ela tem a promessa do poder do Espírito Santo.

Chamo atenção para dois estudos homiléticos, que abrangem parte da perícope, só que com outras delimitações, feitas por Nelson Kilpp e Clemente J. Freitag, que se encontram nos PL III e PL XI, respectivamente.

2. O contexto

A perícope faz parte da carta apostólica (2.14-7.4), isto é, a carta que o apóstolo Paulo escreveu à comunidade de Corinto, defendendo o seu ministério, por um lado, e atacando, por outro, os falsos apóstolos, que queriam enganar com falsas pregações a comunidade de Corinto na sua segunda viagem missionária. Alguns anos depois, pregadores cristãos oriundos de outras comunidades cristãs apresentaram-se à comunidade, inclusive com cartas de recomendação (2 Co 3.1), e questionaram a autoridade de Paulo. Eles se vangloriavam de sua descendência israelita (11.22), enalteciam seus conhecimentos e capacidade retórica e diziam que Paulo não c verdadeiro apóstolo, porque não teve visões divinas, não tem poder de fazer milagres e não há nele manifestações poderosas do Espírito (12.1ss.), mas, pelo contrário, fala mal, é fraco e humilde, é corajoso somente quando ausente, em suas cartas (10.1; 11.6) (Nelson Kilpp, p. 80).

Paulo reage. Defende-se. Mostra à comunidade a base do seu ministério, de onde vem o seu poder: tudo o que tem ou é vem de Deus. E o evangelho anunciado por ele não procura valorização pessoal; ao contrário, destaca a insignificância do pregador. Importa que o poder de Deus se torne evidente, e não a capacidade e a eloquência do pregador.

3. Comentários exegéticos

V. 5: O conteúdo da pregação do apóstolo é o senhorio de Jesus Cristo. Ele é Senhor, e a seu serviço (diaconia) está o apóstolo. A mensagem cristã, de forma bem resumida e clara, é anunciar Jesus Cristo como Senhor. Ele é Senhor; o apóstolo (e a comunidade), seu(s) servo(s). Assim se entende que o culto é serviço ao Senhor, como lemos em Atos 13.2. Cristo não é Senhor apenas de sua comunidade, mas é o Senhor de todos (Rm 10.12 e Fp 2.11). Com essa compreensão de ministério o apóstolo coloca a si e toda a comunidade na condição de servos que estão a serviço do Senhor. Paulo se sabe chamado para servir e ser servo, inclusive da comunidade — foi assim que Cristo deu o exemplo, ao doar-se em favor da comunidade (Fp 2.5 e 6).

V. 6: Assim como Deus criou a luz (Gn 1.3), também criará luz nos corações das pessoas através do confronto com o evangelho. Onde Jesus Cristo é anunciado como Senhor, ali há uma nova criação. Ali a luz ilumina a compreensão e há entendimento.

V. 7: Em contraposição à grandeza e à glória de Deus está a vida do apóstolo. Ele e todos a quem é dado esse conhecimento de Cristo são vasos de barro, são insignificantes e frágeis. O conteúdo é valioso — aliás, pela validez do conteúdo, também os simples vasos, os que anunciam o evangelho, são valorizados. Afinal, é através deles que Deus chega com Sua palavra às pessoas. O tesouro está em frágeis vasos de barro, nem um pouco apresentáveis. Há um motivo para isso: para que fique evidente que o poder vem de Deus e não do apóstolo ou dos que anunciam a Cristo. A fraqueza e o sofrimento impedem a vanglória do apóstolo. Deus escolhe pessoas fracas como recipientes de sua graça. Dessa maneira, o poder é reconhecido como sendo poder de Deus e não é confundido com poder, habilidade, qualificação humana (l Co 1.26ss.) (N. Kilpp, p. 82).

Nos versículos 8 e 9, encontramos quatro antíteses, através das quais o apóstolo mostra como o poder de Deus se manifesta e o mantém em todas as adversidades. E é justamente na sua fraqueza que se mostra o poder de Deus: ministério e pregação não estão fundamentados em qualidades humanas, mas no poder de Deus. E é bom lembrar que as deficiências do apóstolo eram reais, concretas e verdadeiras. Ele sentira em sua própria carne perseguição, tribulação, angústia — e isto por ser servo.

Vv. 11 e 12: O sofrimento e a morte ameaçam o apóstolo por causa de sua fé, por causa de Jesus (v. 11). Não se trata, pois, de outros sofrimentos, de doenças, por exemplo, mas sim do sofrimento que advém por causa da fé. Aos servos de Jesus não está reservado o caminho da glória, mas o caminho da cruz. Esse caminho passa pela morte, assim como foi o caminho de Cristo, mas não termina na morte, pois Cristo ressuscitou e os seus servos também (v. 14). O sofrer e o morrer do crente está em restrita relação com o sofrer e morrer de Jesus. Também o nosso ressuscitar está em última relação com a ressurreição dos que nele crêem (l Co 15.22ss.) (N. Kilpp, p. 83).

4. A prédica

Pregar sobre a perícope, assim como proposta, não é tarefa fácil, pois ela realmente traz vários temas, que podem muito bem ser trabalhados um após o outro. Um tema bem abrangente poderia ser, por exemplo, uma avaliação da existência cristã no mundo à luz da vida do apóstolo Paulo.

Julgo, no entanto, mais oportuno dar um enfoque considerando ainda a proximidade da festa de Pentecostes. Por isso, centraria tudo na afirmação do próprio apóstolo (mesmo que não esteja na perícope, mas reflete muito bem a mensagem): Eu creio, por isso eu falo

a) Seitas, movimentos, grupos, etc., estão semeando falsas pregações. A comunidade está sendo agredida constantemente com novas versões sobre fé, sobre morte, sobre vida após a morte. Conhecemos essa realidade. O que nós pregamos? Que Senhor nós anunciamos? E por que anunciamos Jesus Cristo como Senhor? O apóstolo cria no Senhor Jesus — por isso ele falava.

b) Muitos pregadores, mestres, professores se colocam em primeiro plano e, através da pregação, procuram projeção social e económica. Tudo depende deles, pois eles ensinam assim. O evangelho, no entanto, não vem em vasos preciosos, mas em vasos de barro. Esse é o caminho de Deus; assim Ele procede (Não foram chamados muitos sábios, poderosos, nobres de nascimento, pelo contrário, Deus escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar os fortes... a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus — l Co 1.26-29). O apóstolo entendeu «» caminho de Jesus Cristo, por isso ele falava.

c) A comunidade vive da promessa de vida em meio à realidade da morte, l is.su promessa, no entanto, a mantém firme para superar as adversidades. Essa promessa manteve firme o apóstolo; por isso ele falava.

d) E, como reflexão final para o pregador, ainda uma palavra de Lutero:

Veja, que imensa honra Deus não concede àqueles que são desprezados pelos homens e se alegram nisso! Aqui percebemos para onde se dirige seu olhar! Apenas para baixo e para as profundezas, como está escrito: 'ele está entronizado acima dos querubins, contudo olha para as profundezas e para os abismos. Os anjos também não foram ao encontro de príncipes ou poderosos, e sim de leigos incultos e das pessoas mais humildes da face da terra. Não poderiam ter-se dirigido ao sumo sacerdote, aos escribas de Jerusalém, pessoas que tinham muito a falar sobre Deus e os anjos? Não. Os pobres pastores, que nada eram nesta terra, foram dignos dessa grande graça e honra no cru Veja como Deus despreza o que é altaneiro.

5. Bibliografia

BORNHÄUSER, Hans e outros (editor). Neue Calwer Predigthilfen, 2° ano, vol. A, 1979 e 6° ano, vol. A, 1983
HÄRTLING, Peter. In Textspuren 2, Konkretes und Kritisches zur Kanzelrede, Stuttgart, 1991
LUTERO, Martin. In: Castelo Forte 1983, Devoções Diárias, co-edição Concórdia Ltda. e Editora Sinodal.
WENDLAND, Heinz-Dietrich. Die Briefe an die Korinther, in: NTD 3, Göttingen, 1982.


Autor(a): Valdemar Lückemeyer
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 12
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1993 / Volume: 19
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 16142
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