Propaganda Enganosa e Descomprometimento - Atitudes e práticas prejudiciais

01/12/2011

Propaganda Enganosa e Descomprometimento

— Atitudes e práticas prejudiciais —

P. em. Friedrich Gierus

Nestes dias comprei um novo creme dental. Quando abri a bisnaga, e ao apertar o tubo, verifiquei que um terço do seu conteúdo era ar.

Isto é apenas um exemplo do dia a dia: Você compra algo com determinada expectativa e, quando começa usar o produto, descobre que foi enganado.

A propaganda e os mandamentos

Sabemos que nem tudo que se divulga a título de oferta referente a determinadas mercadorias corresponde à verdade, aliás, não corresponde à plena verdade. A qualidade nem sempre é aquela que foi anunciada. O sabor do alimento divulgado não é aquele que se imaginava ao ouvir a propaganda. A ferramenta anunciada não é o que esperávamos. O melhor preço da cidade não resiste a uma pesquisa em outros estabelecimentos da cidade.

A partir destas experiências é obvio que se fica desconfiado. Desenvolvemos certa capacidade de filtrar todas as informações que chegam à nossa mente através do rádio, da TV, nos outdoors e através da propaganda do diz-que-diz. Mesmo assim, muitas vezes, somos vítimas da propaganda enganosa. E nos perguntamos: Por que os anunciantes não podem anunciar suas mercadorias ou serviços na base da verdade?

A questão é que o anunciante quer informar o público e convencê-lo a comprar seu produto ou serviço. A questão é conquistar o consumidor para vender — e lucrar. Para alcançar este objetivo, muitas vezes, servem todos os tipos de artimanha, começando no exagero das afirmações, passando para semi-verdades ou até mentiras. O principal é a conquista do cliente e que o negócio esteja florindo.

Aliás, falando das semi-verdades ou meias mentiras, lembro de um dito do poeta e cineasta francês Jean Cocteau: Uma garrafa de vinho que está meio vazia também está meio cheia. Mas uma meia mentira não será nunca uma meia verdade.

No ensino confirmatório, aprendemos o sétimo mandamento — Não roube! — e o Reformador Martim Lutero explica: Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não tirar o dinheiro ou os bens do próximo nem nos apoderar deles por meio de mercadorias falsificadas ou negócios desonestos; mas devemos ajudá-los a conservar e melhorar seu meio de vida.

Já que estamos no Catecismo Menor de Martim Lutero, tomemos conhecimento também do oitavo mandamento que também trata da questão da honestidade: Não fale mentiras a respeito do próximo! E o Reformador explica: Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não enganar o nosso próximo com falsidade, traí-lo, caluniá-lo ou fazer acusação falsa contra ele; mas devemos desculpá-lo, falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira.

E o descomprometimento com o combinado?

Mas não é somente no mundo da propaganda ou da publicidade que encontramos o fenômeno da comunicação persuasiva, ou digamos da semiverdade. A sociedade toda está infestada: na comunicação, nos negócios, na política. Não falo das mentiras deslavadas, mas sim, das semiverdades, aquelas afirmações que parecem ser honestas, mas, aos poucos, revelam sua verdadeira natureza. Na mesma linha se encontra o descomprometi-mento. Isto é, eu digo uma coisa e faço outra.

Nestes dias combinei com o encanador para resolver um problema do sistema de esgoto na minha casa. Sua promessa: Pode deixar segunda-feira que vem estarei lá em sua casa, às sete horas. Fiquei contente. Para facilitar o serviço combinei com o pedreiro para também estar presente, no mesmo dia e na mesma hora. Quem não veio, foi o encanador. Por causa da falta dele, o pedreiro não podia fazer a sua parte. Assim, tivemos um prejuízo desagradável, tanto o pedreiro, que largou seu serviço em outra construção para me atender, quanto eu, que não consegui resolver meu problema. Perguntei, por telefone, por que o encanador não veio, e o mesmo simplesmente disse que esqueceu do compromisso assumido.

Neste caso, nem se pode falar de semi-verdade nem de enganar com falsidade. Mas sim, se trata do descompromentimento que nos deixa na mão e provoca prejuízos para todos os envolvidos. Assim, propaganda enganosa e Descomprometimento são farinha do mesmo saco. Tudo é vinculado à falta de responsabilidade e ao desinteresse no bem comum. O poço onde jorram estas águas se chama egoísmo, que somente pensa no seu lucro e tira vantagem onde sempre se abre uma possibilidade.

Já nos tempos bíblicos...

Não que este egocentrismo seja um mal só do nosso tempo! A Bíblia denuncia este comportamento como um mal que sempre fez parte da natureza humana. O apóstolo Paulo afirma isto, dizendo Não há uma só pessoa que faça o que é certo... Todos se desviaram do caminho certo... todos mentem e enganam Romanos 3.10ss. Quer dizer, que ninguém é perfeito, e ninguém é dono da verdade.

Isto é desanimador. Será que não existe nenhum meio para sair deste circulo vicioso de pequenas e grandes mentiras, de semiverdades e do egoísmo, que geram malandragem, Descomprometimento, ódio, roubo, violência e guerras?

A vítima mais conhecida das semi-verdades, do Descomprometimento e da mentira foi Jesus Cristo. Ele foi denunciado como criminoso e malfeitor (Jo 18.28ss) e levado à presença do governador Pôncio Pilatos para ser interrogado e condenado. Na presença desta autoridade Jesus disse: Foi para falar da verdade que eu nasci e vim ao mundo. Quem está do lado da verdade ouve a minha voz. E Pilatos pergunta: O que é a verdade? Com esta pergunta termina o interrogatório de Pilatos e a pergunta fica no ar.

De fato, esta pergunta sempre ocupou os teólogos, filósofos, políticos, sociólogos, juristas, cientistas, matemáticos e é um tema inesgotável que precisa ser questionado e interpretado sempre de acordo com as circunstâncias, a contextualidade e a conjuntura social, científica e religiosa.

O caminho da verdade

Mas o que Jesus queria dizer, testemunhando que ele veio ao mundo para falar da verdade, inclusive afirmando: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (João 14.6)? Ele mesmo interpreta isto com as palavras: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.31-32) e explica: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei (Jo 14.34). Desta forma, Jesus anuncia um jeito de ser e viver que supera o egoísmo, as mentiras as semiverdades e o descomprometimento, abrindo a porta da esperança para uma vida com dignidade e de bem-estar. Jesus explica este jeito de ser e viver: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vos; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos (Mt 20.25-28). 

Para ter uma vida digna é só seguir o caminho que Jesus indicou. O critério para viver a verdade no dia a dia dos seus negócios, no convívio da família, no contexto do seu trabalho, na política e na sociedade em geral é: Amar seu próximo como a si mesmo (Mt 22.39). Quer dizer, em todo seu planejamento, em todas as suas ações, em tudo que você fala, sempre pergunte se a si mesmo: Isto constrói ou destrói? Isto ajuda ao próximo ou prejudica? Isto contribui para a honra e glória de Deus ou visa apenas à satisfação do meu egoísmo? Diante deste teste a semi-verdade, a mentira e o descomprometimento dificilmente terão vez em sua vida.

Sabemos que ninguém é perfeito, por isso nos é oferecido o perdão que nos permite reiniciar a nossa caminhada na busca da verdade. Recebemos esta oferta do perdão nos cultos dominicais, participando da Santa Ceia onde Jesus Cristo nos convida: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mt 11.28).

O autor é Pastor emérito da IECLB e reside e Blumenau/SC


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Autor(a): Friedrich Gierus
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Artigo
ID: 31857
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