Romanos 6.3-11 - Renovação da vida

Prédica

17/07/1955

RENOVAÇÃO DA VIDA
Romanos 6.3-11 

Ouvindo este trecho do apóstolo Paulo, compreendemos logo que aqui é falado da morte de Jesus. Mas este fato: Cristo morreu, tem outra significação do que a morte de qualquer outra pessoa. Cristo morreu. Mas, Cristo é Aquele do qual nos é dito: Deus enviou o seu Filho ao mundo, porque a tal ponto amou aos homens! (João 3,16) Cristo, o representante de Deus no mundo, no qual Deus estava presente, Ele morreu! Ele veio para realizar a obra do Pai, e o seu caminho não somente o conduziu para a terra, mas para a morte, para a sepultura. Mas, ao lado deste fato que Cristo morreu, está o outro que Ele ressuscitou, que Ele vive, vive para sempre, e vive para Deus.

Mas, desses dois fatos, da morte e da ressurreição de Cristo, é aqui falado não apenas como de dois acontecimentos que em determinada época ocorreram com Jesus, mas assim que se torna evidente que eles são decisivos para toda a humanidade, que com eles começa uma nova época para todos os homens. E este é o terceiro fato, com que deparamos neste trecho, e ele se refere a nós mesmos, mostrando-nos a relação que há entre cada um de nós e aqueles dois fatos: a morte de Cristo e a sua ressurreição. E esta relação é estabelecida pelo batismo.: Ou ignorais, diz o apóstolo, que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos sepultados com ele na marte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Cristo, que vive para Deus, sobre quem não tem mais domínio a morte — é a sua vontade, a sua ordem, e a sua obra em nós — e para isto Ele instituiu o batismo — que morra o velho homem, o homem que não pode agradar a Deus e que com tudo o que faz, faz a sua própria vontade, e não a vontade de Deus. 

Se este é o sentido do batismo, que morra o velho homem, ou como diz Martin Luther, que o velho Adão deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, poderíamos perguntar: De quem é falado aqui? Não nascem diariamente novos homens no mundo? Sim, mas estes novos homens não são novos neste sentido; eles pensam e agem e são assim como todos que eram antes deles. Por eles não é renovada a humanidade. n verdade que existe em nós, e pode tornar-se bem grande e forte, a saudade de uma renovação do nosso ser, e quanto mais avançamos em idade e no conhecimento da pessoa humana, e principalmente de nós mesmos, tanto mais sentimos a necessidade de uma renovação. E não faltam experiências humanas de conseguir tal transformação. 

Mais do que uma saudade, mais do que uma experiência, é o que Deus tem feito. A Bíblia toda não deixa em dúvida de que Deus é o Deus dos homens, e que os homens são de Deus. Mas, a Bíblia toda não deixa em dúvida também que os homens, tais como são, não servem a essa finalidade; são antiquados e velhos, e isso o apóstolo indica com a única palavra: pecado. E isso se mostra pelo fato de que Cristo, o representante de Deus, por causa do pecado tem que morrer na cruz. Assim é o homem: não é de Deus e não vive para Ele, não honra a Deus e não glorifica o seu nome. 

Mas Deus não deixa de ser o Deus dos homens, e por isso Ele envia o Cristo, como cabeça da humanidade toda, à morte, e por isso Ele o ressuscita, como cabeça e Senhor de urna nova humanidade. 

E a integração nesta nova humanidade, pela ordem de Deus mesmo, se efetua no batismo. Por isso o batismo é mais do que uma piedosa tradição, mais do que uma bela solenidade. O batismo é um sacramento, e no sacramento se trata de um encontro pessoal com Deus, e trata-se por nós de vida e de morte. Neste sacramento, pela vontade de Deus, os homens são unidos com Cristo em sua morte. Nós morremos com ele, pode dizer o apóstolo, fomos com ele crucificados. Que sejam adultos ou sejam crianças pequenas, os que são batizados, isso é sem grande importância, O que importa é que o batismo seja efetuado em nome de Jesus. Ele é que determina o que se realiza com o que é batizado. Ele, Cristo, vive para Deus, também no ato do batismo. Ele cumpre a vontade de Deus que o homem torne a ser homem de Deus, e Deus o seu Pai. Assim, pela ordem e vontade de Cristo, o homem batizado é unido com Cristo na semelhança de sua morte. Qual foi o aspecto de sua morte? Suspenso na cruz, era a morte de um homem condenado e abandonado por Deus. Ë isso, portanto, o que sucede conosco pelo batismo: somos mortos perante Deus. Morre o velho homem. 

Mas, o fim é outro: o de sermos unidos com Cristo também na semelhança de sua ressurreição. Cristo ressuscitou. Ele vive. A morte não tem mais domínio sobre Ele. Ele vive para Deus. E é este o fim do batismo para conosco, vivermos também nós para Deus. Assim diz Luther no Catecismo sobre a significação do batismo: não somente que o velho Adão em nós deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos; mas ainda: que deve sair e ressurgir o novo homem que vive em justiça e pureza perante Deus eternamente. 

Esta nova vida, na qual viveremos com Jesus eternamente, ainda está. diante de nós. Mas, do outro lado, já fomos batizados, e já fomos, portanto, unidos com Cristo, e Cristo quer que já se manifeste em nós, agora, em meio de nossa vida diária neste mundo, a nova vida, que andemos, pelas palavras do apóstolo, já agora em novidade de vida. 

Até aqui toda a decisão, toda a ação está com Deus, e Ele procede de tal forma que nenhum de nós pode modificar alguma coisa. Cristo veio ao mundo, Cristo morreu e ressuscitou, sem que nós tivéssemos sido perguntados. A nossa unificação com Cristo pelo batismo se consumou, sem que fôssemos perguntados pela nossa opinião. Deus procede pela sua vontade, e para Ele os séculos que estão entre a morte de Jesus e o nosso batismo são de nenhuma importância. Pela sua soberana vontade Cristo morreu por nós, e por nós ressuscitou, e pelo batismo fomos unidos com Ele. Mas agora, nós somos perguntados, e isso é dado à nossa consideração: se nós queremos tomar a sério para nós o que Deus tem feito e decidido, e tirar a necessária conclusão para o nosso modo de pensar e de viver. E essa conclusão, o apóstolo a expressa com toda a clareza: Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. 

Considerai-vos mortos para o pecado: quem está morto, não reage mais. O pecado querendo apoderar-se de vós — considerai que estais mortos para ele. Seja o que for o que dia por dia vos ocorrer, que o aceiteis considerando que com Cristo morrestes, para com Ele viverdes para Deus uma nova vida, Portanto, a vossa reação a tudo que vos for feito, e toda a vossa ação só pode ser inspirada pela pergunta: Como posso melhor servir a Deus? 

Assim o apóstolo nos mostra qual a significação do batismo para a nossa vida; que não podemos viver, como se não fosse verdade que fomos batizados em nome de Jesus Cristo. pelo batismo que participamos do que Cristo tem feito por nós. Mas que participamos, isso se manifesta na nossa vida diária. 

Consideremos, pois, também nós, nesta nossa vida, que pela vontade e ordem de Deus somos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus.

Pastor Ernesto Schlieper

17 de Julho de 1955 (6o Domingo após Trindade), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 7º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 3 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19718
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