SÍNODOS - Compromisso com a unidade da Igreja - Entrevista com o Secretário-geral da IECLB

01/12/1997

SÍNODOS - Compromisso com a unidade da Igreja

Entrevista com o Secretário-geral da IECLB

Ele nasceu no Chaco paraguaio em 1939. Fez a escola primária no Paraguai e a secundária no Brasil. Formou-se como professor de Letras Anglo-germânicas na Universidade Católica de Curitiba (PR) e depois estudou Teologia em Marburg na Alemanha. Retornou ao Brasil e trabalhou como professor no extinto Instituto Pré-Teológico e na Faculdade de Teologia da IECLB. Em seguida, assumiu o pastorado em Canarana (MT). Atuou durante 13 anos no Mato Grosso como pastor de paróquia e pastor distrital. No início de 1995, foi convocado para o cargo de Secretário-geral da IECLB. Estamos falando do pastor Gerd Uwe Kliewer, casado e com dois filhos adultos. 


Anuário: Quais foram as decisões mais importantes do último Concílio Geral Extraordinário da IECLB, realizado em Ivoti (RS) em fevereiro passado?

Kliewer: O Concílio Extraordinário de Ivoti tinha somente um assunto na agenda: a votação da proposta de reforma da Constituição da IECLB. Na votação, artigo por artigo, foram definidas as questões que estavam em aberto, como a nomenclatura a ser usada: ¨Sínodo¨ para a instância administrativa intermediária, ¨Pastor Sinodal¨ e Pastor Presidente para designar os líderes espirituais a níveis regional e nacional. ¨Concílio¨ e Conselho para designar os órgãos decisórios a nível nacional, ¨Assembléia Sinodal¨ e ¨Conselho Sinodal¨ para designar os órgãos decisórios regionais.

Anuário: A decisão de recriar os Sínodos não significa uma volta ao passado?

Kliewer: Os Sínodos que existiam antes da fundação da IECLB eram ¨igrejas¨ independentes. A Constituição aprovada em Ivoti, porém, deixa muito claro que, na nova estrutura, os Sínodos são subdivisões da IECLB, comprometidos com a igreja como um todo e a sua doutrina e agindo sob a orientação da direção central. É verdade que os Sínodos terão, dentro dos limites definidos na Constituição, a liberdade de desenvolver programas de trabalho próprio. Não creio, porém, que a nova estrutura possa ser comparada à situação do tempo em que os evangélico-luteranos do Brasil estavam congregados em Sínodos autônomos.

Anuário: Como fica a questão da unidade eclesiástica dentro da nova estrutura?

Kliewer: Na Constituição consta que o Pastor Presidente e o Conselho da Igreja têm a tarefa especifica de zelar pela unidade da igreja. Se o Pastor Presidente exercer a sua tarefa de supervisão e animação de maneira dinâmica e criativa, ele se tornará um fator importante de unidade. Haverá um único corpo de obreiros e obreiras. A admissão e ordenação ao quadro de obreiros estarão centralizadas e terão validade para a igreja toda. A formação teológica estará sob a orientação e controle da direção central. Também as relações com igrejas parceiras e entidades doadoras do exterior passarão pela direção central. Creio que os decênios em que as comunidades convivem com a IECLB já formaram uma consciência de sermos UMA igreja. As próprias comunidades vão revoltar-se, se de algum lado vierem propostas cismáticas.

Anuário: A nova estrutura — com mais de uma dezena de Sínodos — não vai aumentar os gastos?

Kliewer: Um Sínodo não precisa ter o mesmo custo de uma Região Eclesiástica. Mesmo assim, os 18 Sínodos devem custar mais do que as oito Regiões Eclesiástica que tivemos até agora. Caem fora os Distritos, que também tinham o seu custo. E espera-se que, na administração central, haja uma redução de custo. Depois de praticá-la um ano, saberemos dizer mais sobre o custo da nova estrutura. Mas haverá dois fatores novos. A nível do Sínodo, as próprias paróquias, através dos seus representantes na Assembleia e no Conselho Sinodal, definirão o orçamento. O próprio Sínodo vai decidir quanto e como quer gastar. E, a partir de 12 de janeiro de 1998, as comunidades e paróquias não pagam mais cotas-contribuição à igreja, mas recolhem o ¨dízimo¨ sobre as suas receitas, para manter a administração e as outras tarefas incluídas no orçamento central da igreja, como a Escola Superior de Teologia, os diversos departamentos e outros serviços prestados às comunidades. Se essa sistemática der certo, terminará a discussão sobre o valor da cota-contribuição. Ao invés disso, estaremos discutindo como melhor aplicar o ¨dízimo¨.

Anuário: Como fica a participação dos leigos na nova estrutura?

Kliewer: A nova estrutura exige a participação intensa dos leigos. Abre espaço para que leigos e leigas assumam a presidência de conselhos, de assembleias e do Concílio. Atualmente, os pastores têm maioria no Conselho Diretor. No Conselho da Igreja, porém, dois terços serão leigos ou leigas. Também no Concílio mais de dois terços serão leigos ou leigas. Um dos motivos da reforma da Constituição foi o fortalecimento da ação dos leigos na igreja. Agora só falta esses ocuparem os novos espaços.

Anuário: Por que o termo ¨Bispo¨ não emplacou no Concílio e prevaleceu ¨Pastor Sinodal¨?

Kliewer: As funções atribuídas na Constituição ao Pastor Sinodal, como também ao Pastor Presidente, correspondem àquelas que o Novo Testamento atribui ao Bispo. A palavra ¨Bispo¨, em grego, significa ¨supervisor¨ de um certo número de comunidades. Do ponto de vista bíblico, poderíamos usar sem problema este termo para designar os líderes espirituais dos Sínodos e da igreja. Mas a maioria do Concilio de Ivoti teve reservas em relação a esse termo. A meu ver, isso se deve ao fato de que, em nossa cultura brasileira, liga-se à figura do bispo uma forte conotação de autoritarismo, que parece não combinar com o espírito democrático que reina na IECLB.

Anuário: Quais são as suas expectativas com relação à nova estrutura?

Kliewer: Creio que a ênfase do trabalho da igreja se deslocará para as comunidades e os Sínodos e que os Sínodos poderão desenvolver programas mais adequados à sua situação específica. Para a direção da igreja ficará a tarefa de animar, acompanhar e orientar os programas, mas eles serão executados nos Sínodos e na comunidade.

Anuário: O que vai mudar na Secretaria Geral com a reestruturação?

Kliewer: Espero que, no futuro, muitos dos problemas que hoje caem na Secretaria Geral sejam resolvidos já no Sínodo. Espera-se que a Secretaria Geral reduza o seu tamanho, o que só será possível se forem reduzidas as suas tarefas.

Anuário: Como os leigos e comunidades estão reagindo à implantação da nova estrutura?

Kliewer: Neste momento — início de junho de 1997 —, estão em andamento as reuniões de planejamento e formação dos Sínodos. Nas reuniões em que eu e colegas da Secretaria Geral participamos, pudemos sentir que há um engajamento sério dos líderes leigos das comunidades, no sentido de colocar os novos Sínodos numa base firme.

Anuário: Quando finalmente estiver implantada a nova estrutura, o Senhor vai permanecer na Secretaria Geral?

Kliewer: Essa é uma decisão que só posso tomar depois do Concílio de 1998, se o novo Pastor Presidente e o Conselho da Igreja me convidarem para essa tarefa.

Anuário: Na nova estrutura, qual vai ser o papel do Secretário-geral?

Kliewer: O Secretário-geral, conforme a Constituição, dirige a Secretaria Geral, que, por sua vez, executa a administração central da IECLB . Essa foi a tarefa do Secretário-geral desde que esse cargo foi criado. Mudou um pouco a definição: na Constituição anterior, o Pastor Presidente era responsável pela administração da igreja e delegava essa tarefa ao Secretário-geral. Na nova Constituição, separa-se a tarefa administrativa, que é do Secretário-geral, da liderança espiritual, que é do Pastor Presidente. Mas os dois trabalharão lado a lado, em estreita colaboração, como também acontece agora. Não poderá ser diferente.

Anuário: Algum dia um leigo poderá vir a ocupar a função de Secretário-geral?

Kliewer: Não há e nunca houve norma alguma que exigisse que a Secretaria Geral — ou qualquer outra Secretaria —fosse ocupada por um pastor ou pastora. Certamente há muitos leigos ou leigas que podem exercer o cargo de Secretário-geral tão bem ou melhor do que eu. Espero que, depois de mim, tenhamos um leigo ou uma leiga na Secretaria Geral.


Entrevista realizada por Rui J. Bender, em maio de 1997


Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998
 


Autor(a): Rui Bender
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1998 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997
ID: 33113
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