Somente um conto de fadas...?

01/12/2011

Somente um conto de fadas...?

Elfriede Rakko Ehlert

Nossa geração era fascinada pelos contos de fadas. Cada instante era aproveitado para ler as histórias, ou quando pequenos, os pais tinham que ler e reler sempre de novo os nossos contos preferidos.

A pergunta que se levanta é e permanece: Qual é o fascínio dos Contos de Fadas? Por que homens como os irmãos Grimm se deram o trabalho de colecioná-los, e que eles depois passaram de geração em geração para chegarem até nós. Entendidos dizem que antiquíssimas sabedorias estão contidas neles.

Vamos tentar analisar um desses contos. Suponho que muitos de nossos leitores o conhecem: O lobo e os sete cabritinhos.

Era uma vez uma cabra que cuidava e criava sete cabritinhos. Todo dia ela saía para trabalhar, não sem antes advertir os cabritinhos contra o lobo mau. Não deveriam deixar ninguém entrar em casa, a não ser a própria mãe. Mas o lobo mau já estava rondando a casa com um enorme apetite para comer.

Certo dia ele bateu à porta e falou com sua voz grossa e mostrou suas patas. A porta não lhe foi aberta. Mas os ingênuos cabritinhos disseram ao lobo, por que não abriram: Por causa se suas patas pretas (os da mãe eram branquinhas) e por causa da voz grossa (a mãe tinha voz fininha). E então nada feito. Logo o lobo aplicou um truque: Comeu giz para a sua voz ficar fina. Mas as patas estavam pretas. E os cabritinhos novamente não abriram a porta. Daí o lobo mau foi ao padeiro e, sob ameaças, mandou aplicar farinha nas suas patas para ficarem brancas. Agora tinha voz fina e patas brancas. Os cabritinhos abriram a porta e, então, mesmo que tentassem fugir para todos os lados, o lobo pegou um por um e engoliu a todos - menos um que se escondeu num relógio bem grande que havia no lugar. O lobo foi embora. Imagine-se o desespero da mãe: A casa toda revirada e nenhum filhote à vista! Engano! O mais novo apareceu. Alegria! Foram atrás do lobo. Como havia comido tanto, ele caiu num sono profundo. A mãe então pegou uma tesoura bem grande e abriu a barriga dele e de lá pularam os seis cabritinhos. Rapidamente juntaram pedras, colocaram na barriga do lobo, costuraram a sua barriga e fugiram. Finalmente o lobo acordou e achou algo estranho na sua barriga, um barulho esquisito... E sentiu uma tremenda sede. Foi até um poço para beber água. Mas as pedras eram pesadas e o puxaram para baixo, e ele já era. Caiu no poço e se afogou. Feliz, a família dos cabritos rodeou o poço para festejar a libertação do maligno.

O que esta história pode nos ensinar? O que ela tem a ver conosco?

Quantas mães, justamente hoje, têm que ir trabalhar e deixar os seus filhos e filhas trancados em casa? Mesmo, quando se dá um monte de conselhos, nem sempre isto adianta. Criança, em sua ingenuidade, cai na conversa e sucumbe à voracidade do lobo mau: O lobo mau, como símbolo da esperteza, teimosia e persistência. O mal que nos rodeia, usa muitas artimanhas e faz cair na sua rede os ingênuos.

A mãe, como símbolo de proteção, inventa meios para neutralizar ou eliminar o poder do mal. O conto não se pode conformar com a vitória do destruidor violento. Lança mão da utopia. O lobo, exageradamente esfomeado, é operado sem anestesia, os cabritinhos podem sair vivos e ilesos da apertada barriga do lobo. As pedras, que substituem a carne viva, tornam-se fatais para o mal que cai no poço e todos estão felizes.

Imaginem como crianças vibram com as pedras barulhentas e só esperam a vitória final sobre o lobo mau: É emoção pura e genuína. Fascínio de um conto de fadas.

Ele traduz o constante sonho humano de que o impossível possa acontecer a utopia transformar-se em realidade e que o mal, o inimigo ameaçador, possa cair num poço sem volta.

Acho que os contos são, por isto, tão queridos e muito lidos. O milagre acontece, o bem obtém a vitória. A paz é restabelecida, o mal é vencido. O que mais os terráqueos poderiam desejar para uma vida tranquila, sem problemas?

A autora é professora e artista plástica e reside em Curitiba/PR


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Autor(a): Elfriede Rakko Ehlert
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
ID: 31860
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