IECLB e Igreja Episcopal Anglicana do Brasil - IEAB



ID: 2725

Juntos em Missão e Ministério - 1996

Declaração de Porvoo - Finlândia

13/10/1992

JUNTOS EM MISSÃO E MINISTÉRIO – DECLARAÇÃO DE PORVOO - 1996

PREFÁCIO DOS CO-PRESIDENTES

1. As mudanças dramáticas passaram impetuosamente pela Europa setentrional nos anos recentes. Muitas conexões de comércio, educação turismo, consultas ambientais estão sendo ativadas e desenvolvida pelas regiões nórdica, báltica, britânica e irlandesa. Neste cenário de rápidas mudanças Igrejas anglicanas e luteranas têm um papel chave a desempenhar. O presente relatório oferece a visão de tais doze Igrejas com um total de cinqüenta milhões de cristãos, que entram em comunhão mais estreita e se associam em várias formas de cooperação prática na medida em que elas cumprem sua missão contemporânea. É motivo de grande alegria os estratos anglicanos e luteranos da cristandade ocidental, que demonstram ter tantas raízes em comum e exibem características notavelmente semelhantes, têm descoberto uns aos outros no presente século e começaram a crescer juntos.

2. A Declaração de Porvoo é o resultado de várias influências principais. Em primeiro lugar, foi uma série de Conversações Teológicas que se realizou entre os anglicanos e luteranos na região nórdica e báltica durante 1901 a 1951 e os acordos que resultaram dessa série. Em segundo lugar, o conhecimento que se travou entre essas Igrejas foi muito fortalecida por outros feitos copatrocinados não diretamente preocupados com as negociações sobre a unidade eclesial, notavelmente, as séries de conferências teológicas anglo-escandinavas (iniciada em 1929) e conferências pastorais (iniciadas em 1978) que ainda continuam. Em terceiro lugar, um novo clima de debate teológico foi criado em nível mundial pelos diálogos bilaterais e multilaterais de caráter ecumênico dos 70 e dos 80 evidenciado nos relatórios de Pullach de 1973, de Lima (BEM) 1982, de Helsinki 1982, Cold Ash 1983, de Niagara de 1988. Este relatório em particular lançou uma nova luz sobre uma antiga questão da fé e ordem.

3. Um estímulo imediato para ir além dos primeiros acordos veio da iniciativa pessoal do Arcebispo Robert Runcie (Cantuária) e do Arcebispo Bertil Werkstrome (Uppsala).

4. Um estímulo posterior foi dado pelo Acordo Episcopal-Luterano de 1982 nos Estados Unidos e pela Declaração Comum de Meissen de 1988 entre a Igreja da Inglaterra e as Igrejas Evangélicas na Alemanha Ocidental e Oriental. Cada um desses acordos resultou numa hospitalidade eucarística, um grau limitado de compartilhar o ministério ordenado, e celebrações conjuntas ocasionais da Eucaristia e compromisso com a vida e missão comuns. Os representantes que foram envolvidos nessas aventuras nos deram relatos de primeira mão.

5. Houve quatro sessões de Conversações Teológicas oficiais entre 1989 a 1992 intercaladas de encontros de um pequeno Grupo de Trabalho de redação. Aproveitamos esta oportunidade para agradecer membros do GT, especialmente, o Bispo Stephen Sykes (Ely). o Bispo Tord Harlin (Uppsala) e Dr. Lorenz Groenvik (Finlândia), que deram muito do seu tempo.. Também, a Comissão agradece Dra. Mary Tanner, Rev.G.Brown, Sr.Colin Podmore e Rev. Kaj Ewngstroem pelos serviços teológico e administrativo.

6 O objetivo destas Conversações consistiu em avançar de nossos acordos já existentes apara o alvo da unidade visível. Colhendo os frutos dos diálogos ecumênicos anteriores esperamos expressar uma medida maior de compreensão comum e resolver as dificuldades antigas entre nós a respeito do episcopado e sucessão. Descobrimos que vivemos histórias semelhantes e enfrentamos desafios semelhante na sociedade contemporânea e que não houve diferenças essenciais entre nós no campo da fé, vida sacramental ou ministério, ( pois cada um de nossas Igreja já são episcopais em sua estrutura). Ficamos convencidos de que o caminho está agora aberto para considerar a Igreja uns dos outros, cada qual com sua característica própria, como Igreja irmã. O tempo está propício para avançar juntos e implementar o acordo prático que será relevante ao laicato e ao clero em cumprir a nossa missão comum.

7. Este propósito se provou tão atraente aos anglicanos e luteranos nos países vizinhos que a nossa membrezia foi estendida.

8. O texto final foi aprovado unanimemente na terça-feira, 13 de Outubro de 1992 em Jaervnpaa e foi entitulado Declaração Comum de Porvoo segundo o nome da cidade finlandesa, em cuja catedral celebramos juntos a Eucaristia no domingo anterior. Com efeito, o contexto de adoração em que os anglicanos e os luteranos compartilharam a Eucaristia e Oração Matutina e Vespertina diariamente durante essas sessões desempenharam um papel importante em trazer-nos debaixo de Deus a uma mente comum.

9. No que se refere à estrutura e o conteúdo, apresentamos o seguinte comentário sucinto:

O Capítulo I estabelece o cenário tanto histórico quanto contemporâneo e dá embasamento firme às discussões doutrinas que se seguem no contexto da missão da Igreja. Nisto dá-se o prosseguimento ao relatório de Niagara.

O Capítulo II soletra o nosso acordo sobre a natureza da Igreja e do alvo da unidade visível. Os parágrafos 20 e 28 são especialmente cruciais para a questão do alvo da unidade visível.

O Capítulo III registra de modo sucinto as áreas substanciais de crenças práticas que os anglicanos e luteranos têm em comum. As doze seções do parágrafo 32 se abeberam nos acordos doutrinais já alcançados nos diálogos anteriores.

O Capítulo IV começa identificar, no parágrafo 34, o problema principal a ser resolvido: o ministério episcopal e sua relação com a sucessão. A seccão que se segue merece atenção especial. Ao procurar libertar as nossas Igrejas de percepção limitada e negativa, este capítulo soletra uma compreensão mais profunda da apostolicidade, do ofício episcopal e da sucessão como “sinal”. Este argumento teológico é novamente relacionado no parágrafo 54 com o contexto missionário e suas conclusões estão resumidas nos parágrafos 56 e 57.

Visto que esta [parte do relatório surge da realidade empírica da vida da Igreja em doze diferentes países, referimo-nos a uma série de doze ensaios apensos a este relatório.

O capítulo V. contem no parágrafo 58 A Declararão de Porvoo que será colocada diante dos organismos de tomada de decisão apropriados de cada uma das Igrejas para a sua aprovação. A cláusula b (v) torna claro que o intercâmbio de ministros ordenados deve ser “de acordo com os regulamentos que entrem em vigor de tempo em tempo”. Isto implica numa aceitação realística de certas restrições que se aplicam já dentro de nossas Comunhões, por exemplo, com relação ao ministério de episcopisa ( e os que são ordenados por ela) ou presbíteras em lugares particulares, exigências de fluência razoável da língua local, qualificações profissionais apropriadas, regulamentos de emprego estatal, juramento costumeiros, etc.

10. Apresentamos este relatório às Igrejas participantes para o seu escrutínio...Os parágrafos 60 e 61 explicitam que as propostas presentes não entram em conflito com as relações ecumênicas em vigência. Todavia, estamos certos de que o presente relatório tem implicações também para outras Igrejas e recomendamos que se busquem respostas consultivas dos parceiros ecumênicos durante o processo da resposta. O método adotado por este relatório é, em princípio, aquele que se aplica entre os parceiros ecumênicos. A eles e às autoridades de nossas Igreja submetemos o presente relatório com humildade.

11. Temos uma esperança vívida de que todas as Igrejas participantes aprovem esta Declaração de Porvoo. Se for aprovado, este relatório será uma contribuição significativa para a restauração da unidade visível da Igreja de Cristo. Logo que uma das Igrejas Anglicanas e uma das Igrejas Luteranas aprovem esta Declaração seus dispositivos podem começar a operar entre elas, sujeitos a quaisquer alterações feitas por uma das Igrejas nas suas leis e regulamentações eclesiásticas. Só no decorrer dos tempos, as conseqüências desta Declaração poderão ser avaliadas. Prevê-se que as celebrações públicas para marcar este novo relacionamento não ocorrerá até que as Igrejas participantes tenham feito a resposta.

12. Durante a Eucaristia na Catedral de Porvoo, no domingo final de nossas Conversações, fomos lembrados pelo pregador de que não é suficiente alegrar-nos com a tradição anglicana e luterana. Se é para permitir o Evangelho a definir e dar forma à vida de nossas comunidades, é preciso que sejamos não somente fiéis à tradição que herdamos, mas que sejamos, também, responsivos às novas questões. Há um desafio especial aos que pertencem às Igrejas nacionais: exercitar o papel crítico e profético dentro da vida de seu próprio país e também testemunhar a unidade em Cristo que transcendem às lealdades e limites nacionais. Cremos que as percepções e propostas contidos neste relatório oferecem um caminho de nos aproximar na resposta desses desafios e capacite as nossas Igrejas a dar testemunho e serviço efetivos cristãos não só dentro deus países e culturas, mas também num cenário mais amplo da Europa.

Assinados pelos Co-Presidentes, em Joanesburgo, em fevereiro de 1993
David Tustin e Tore Furberger, respectivamente bispo anglicano e bispo luterano

( Os itens 5 e 7 foram resumidos, Nota do tradutor)

I. CENÁRIO

A. Uma nova oportunidade

1. Pela direção graciosa de Deus, os anglicanos e luteranos pelo mundo todo compartilham a missão e serviço e descobrem o quanto eles têm em comum. Na Europa as nossas Igrejas têm vivido, pelos séculos, lado a lado em nações separadas. As nossas Igrejas têm preservado, por um considerável tempo, as capelanias em países uns dos outros. Elas têm significação crescente devido à mobilidade acentuada de membros entre as Igrejas. Onde as duas tradições eclesiais estão presentes no mesmo local como na América do Norte, e na África meridional e oriental, desenvolveram-se novas relações e foram feitos novos acordos locais. Ao mesmo tempo, existe a proximidade crescente entre os anglicanos e luteranos europeus, que nos convence de que chegou a hora para revisar os acordos existentes.

2. Esses acordos que tornam possíveis diferentes graus de comunhão têm sido somente parcialmente implementados. Por exemplo, a situação política dos Estados Bálticos impediu a implementação efetiva por cinqüenta anos, de 1939 a 1989. Em grande parte, os acordos diferem porque, no passado, os anglicanos têm feito distinção entre as diferentes Igrejas Luteranas, aplicando principalmente o critério do episcopado histórico. Todavia, os países nórdicos e bálticos têm sido considerados uma região e as Igrejas cooperam estreitamente umas com as outras dentro da Conferência Nórdica de Bispos e Conselho Nórdico de Igrejas. As mudanças políticas na Europa oriental têm suscitado novas esperanças nas Igrejas dos países bálticos. Elas estão desenvolvendo sua própria vida e fazem contribuição crescente para uma comunhão mais ampla. A cooperação com elas torna-se mais importante numa situação em rápida mudança.

3. As Igrejas nórdicas e bálticas desejam relacionar-se com as Igrejas anglicanas na Bretanha e na Irlanda não só como Igrejas nacionais distintas, mas também como grupos de Igrejas. A Comissão se alegra com novos vínculos com a Igreja Luterana na Lituânia. Ela acredita que está surgindo diante de nós a possibilidade de um novo acordo que não faça tratamento diferenciado entre as nossas Igrejas.

4. Somos encorajados nesta crença por uma convergência teológica evidente em diversas conversações anglicanas-luteranas. Além disso, a aceitação oficial da Declaração Comum de Meissen pela Igreja da Inglaterra e pela Igreja Evangélica na Alemanha indica uma compreensão crescente da Igreja.

5. Os anglicanos e os luteranos são assistidos pela convergência ecumênica mais ampla, para a qual têm contribuído as Igrejas Ortodoxas, Católica Romana e Protestantes sobre a doutrina da Igreja, do Ministério e dos Sacramentos. A convergência nos tem capacitado a caminhar para além das maneiras de pensar e as incompreensões que nos impediram a unidade entre os anglicanos e os luteranos. É de importância particular a compreensão do mistério da Igreja como o Corpo de Cristo, como povo peregrino de Deus, como a comunhão ( Koinonia) e também como participação por meio do testemunho e serviço na missão de Deus no mundo. Isto nos proporciona um contexto adequado para uma nova abordagem da questão do Ministério Ordenado e da Supervisão ( episkope).

6. Acima de tudo, enfrentamos o desafio comum para engajar-nos na missão de Deus para com o povo de nossos países e continente numa hora de oportunidade ímpar, que pode ser denominado de kairós.

B. Nossa Base Comum como Igrejas

7. A fé, adoração, e espiritualidade de todas as nossas Igrejas estão enraizadas na tradição da Igreja apostólica. Permanecemos em continuidade com a Igreja dos períodos patrístico e medieval tanto diretamente quanto por meio das percepções do período da Reforma. Nós, cada qual, entendemos que as nossas próprias Igrejas são parte de Igreja Una, Santa, Católica de Jesus Cristo e verdadeiramente participante numa só missão apostólica de todo o povo de Deus. Temos parte na herança litúrgica do Cristianismo ocidental e também na ênfase dada pela Reforma à Justificação pela fé e à Palavra e ao Sacramento como meio de graças. Tudo isso é incorporado em nossos documentos confessionais e litúrgicos e reconhecido, cada vez mais, tanto como sendo vínculo essencial entre as nossas Igrejas como também sendo uma contribuição ao movimento ecumênico mais amplo.

8. A despeito da separação geográfica e de uma ampla diversidade de linguagem, cultura e desenvolvimento histórico, as Igrejas Anglicanas e Luteranas na Bretanha, Irlanda e nos países nórdicos e bálticos têm muito em comum, inclusive uma história, também, muito comum. Os missionários anglo-saxônicos e célticos desempenharam uma parte significativa da evangelização da Europa setentrional e fundaram algumas sés históricas nas terras nórdicas. O testemunho ininterrupto de bispos sucessivos nas dioceses e a manutenção da vida pastoral e litúrgica nas catedrais e igrejas de todos os nossos países representam uma manifestação da comunidade de vida cristão através dos séculos e da unidade entre as Igrejas na Bretanha, Irlanda e na Europa setentrional.

9. Cada uma de nossas Igrejas têm desempenhado um papel significativo no desenvolvimento social e espiritual da nação em que ela se estabeleceu. Estamos conscientes de nossa missão e ministério para com todo o povo em nossos países. A maioria de nossas Igrejas têm tido responsabilidade pastoral e, às vezes, responsabilidade legal para a maioria da população de nossos países. Hoje em dia, essa tarefa está sendo, cada vez mais, efetuada em cooperação com outras Igrejas.

C. A nossa Missão Comum Hoje

10. As nossas Igrejas e os países em que elas se encontram enfrentam, hoje, novas tarefas e oportunidades, no contexto de muitas mudanças ideológicas, sociais e políticas na Europa. Elas incluem:

(a) por parte das nações européias, consciência crescente da interdependência e mútua responsabilidade, da necessidade de reparar injustiças que resultaram das guerras européias de muitos séculos, mas especialmente do século XX, que afetaram todo o mundo.

(b) novas oportunidades - que são especialmente dramáticos no contexto báltico - para o evangelismo, re-evangelismo e trabalho pastoral em todos os nossos países e o desafio para expor de novo a Fé cristã em resposta tanto ao materialismo prático predominante e o anseio pelos valores espirituais entre muitos.

(c) necessidade de reagir ao vácuo que surge do colapso de um sistema político monolítico na Europa oriental e ao caráter pluriforme crescente da sociedade na Bretanha, Irlanda e nos países nórdicos.

(d) oportunidades para trabalhar pela paz, justiça e direitos humanos, mitigar o desequilíbrio entre os países prósperos e os países empobrecidos e o sofrimento que resulta da dependência econômica indevida, para proteger os direitos e dignidade do pobre e desolado - em particular, migrantes, refugiados e minorias étnicas.

(e) debate ecológico dentro e entre os países da Europa nórdica, ao qual as Igrejas começaram trazer uma teologia positiva da Criação e Encarnação, que dê acordo em torno do valor permanente para a terra e vida em todas as suas formas.

(f) necessidade de diálogo e compreensão com os povos de outras raças, culturas e tradições religiosas como parceiros e concidadãos de uma nova Europa.

11. Todas as Igrejas européias principais estão consultando juntos a respeito destas questões, especialmente, no follow-up da Assembléia Ecumênica Européia (Basiléia 1989) copatrocinada pela Conferência européia de Igrejas e o Conselho da Conferência dos Bispos Católicos da Europa. Temos o compromisso para encorajar este processo de consulta e tomar parte ativa nas iniciativas que resultem desse processo. Por meio de tais esforços conjuntos no testemunho e no serviço construiremos a unidade que gozamos já e contribuiremos para uma unidade mais profunda que está diante de nós.

12. Dentro da relação mais ampla da Federação Mundial Luterana e da Comunhão Anglicana nossas Igrejas tornaram-se conscientes da necessidade de enfrentar problemas e empreender tarefa numa perspectiva global.

13. Em face de todas as questões que surgem de nossa missão comum, hoje, as nossas Igrejas são chamadas a proclamar juntos um dever de serviço para um mundo mais amplo e para as sociedades em que elas se encontram. Igualmente, elas são chamadas para proclamar juntos a esperança cristã, que surge da fé, que dê sentido às sociedades caracterizadas pela ambigüidade. Também elas são chamadas junto a proclamar o amor que sana e reconciliação em comunidades feridas pela perseguição, opressão e injustiça. Esta proclamação comum em palavra e sacramento manifesta o mistério do amor de Deus, da presença divina e do Reino de Deus.

II. A Natureza e a Unidade da Igreja

A. O Reino de Deus e o Mistério e o Propósito da Igreja

14. O nosso tempo exige de nós como Igrejas alguma coisa nova. O nosso acordo, como está estabelecido neste texto, sobre a natureza da Igreja, sua unidade tem implicações para as formas pelas quais respondemos ao desafio de nosso tempo. Chegamos a ver com maior clareza que não somos estrangeiros uns aos outros, mas “concidadãos com o povo de Deus, e membros da habitação de Deus... construída sobre o fundamento dois apóstolos e profetas com o próprio Cristo como a pedra angular”(Ef 2.19-20).Pelo dom da graça de Deus fomos atraídos para a esfera da vontade de Deus de reconciliar-se com tudo o que Ele criou e sustenta (2Co 5.17-19), para libertar a criação de todo jugo (Ro 8.19-22) e conduzir todas as coisas para a unidade consigo mesmo (Ef 1.9ss.) O propósito e missão últimos de Deus em Cristo é a restauração e renovação de tudo que Ele fez e a vinda do Reino em sua plenitude.

15. Para trazer-nos à unidade consigo mesmo o Pai enviou o seu Filho Jesus Cristo ao mundo Por meio da vida, morte e ressurreição de Cristo o amor de Deus é revelado e somos salvos dos poderes do pecado e da morte (Jo 3.16-18). Pela graça recebida por meio da fé somos colocados em relação íntegra com Deus. Da morte somos trazidos para a vida nova (Ro 6.1-11), nascidos de novo, feitos filhas e filhos pela adoção e libertados para a vida no Espírito (Gl 4.5; Ro 8.14-17). Este é o coração da proclamação do Evangelho, que a Igreja proclama e, por meio dessa proclamação, Deus reúne seu povo. Em todas as épocas, desde os tempos apostólicos tem sido o propósito da Igreja proclamar este Evangelho em palavra e atos:” Isso que vimos e ouvimos, nós agora anunciamos a vocês, para que vocês compartilhem conosco a vida em comum (koinonia), essa vida que compartilhamos (koinonia) com o Pai e seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1.3).

16. A fé é o reconhecimento dado por Deus de que a luz que veio ao mundo, de que o Verbo foi feito carne e que habitou entre nós e de que nos deu o direito de sermos filhos e filhas de Deus, (Jo 1.1-13). A fé, como a vida em comunhão com o Deus Triuno, nos conduz para a vida de comunhão da Igreja e nos sustenta e nos alimenta nela. É o dom do perdão que nos liberta do jugo do pecado e da angústia de procurar a justificação de nós mesmos, liberando-nos para a vida de gratidão, amor e esperança. Pela graça somos salvos pela fé. (Ef 2.8).

17. Para esta vida de comunhão com Deus e uns com os outros somos chamados pelo Evangelho. No Batismo o Espírito Santo nos une com Cristo em sua morte e ressurreição, ( Ro 6.1-11; 1Co 12.13). Na Eucaristia somos alimentados e sustentados como membros de um só corpo pela participação no corpo e sangue de Cristo (1Co 10.16ss.). A Igreja e o Evangelho são, por conseguinte, relacionados necessariamente uns aos outros. A fé em Jesus, o Cristo, como o fundamento do reinado de Deus surge da proclamação audível e visível do Evangelho em palavra e sacramentos. E não existe a proclamação da palavra e sacramentos sem uma comunidade e seu ministério. Por conseguinte, a comunhão da Igreja é constituída pela proclamação da palavra e celebração dos sacramentos, e servida pelo ministério ordenado. Por meio destes dons Deus cria e mantém a Igreja e faz nascer diariamente para a fé, amor e nova vida.

18. A Igreja como a comunhão deve ser percebida como instrumento do propósito final de Deus. Ela existe para a glória de Deus, para servi-Lo em obediência à missão de Cristo, a reconciliação da humanidade e de toda a criação (Ef 1.10). Portanto, a Igreja é enviada para o mundo como um sinal, instrumento e antegozo de uma realidade que vem do além da história, o Reino de Deus. A Igreja incorpora o mistério da salvação, de uma nova humanidade reconciliada com Deus e uns aos outros por Jesus Cristo (Ef 2.14; Cl 1.19-27). Por meio de seu ministério de serviço e proclamação ela aponta para a realidade do Reino. No poder do Espírito Santo ela participa na missão divina pela qual o Pai envia o Filho para ser o salvador do mundo (1Jo 4.14;Cf Jo 3.17).

19. O Espírito Santo outorga à comunidade dons diversos e complementares. São para o bem comum de todo o povo de Deus e são manifestos nos atos de serviço dentro da comunidade e para o mundo. Todos os membros são chamados a descobrir, com a ajuda da comunidade, os dons que receberam e usá-los para a construção da Igreja e para o serviço do mundo para o qual Cristo os enviou.

20. A Igreja é uma realidade divina, Santa e transcende à presente realidade finita e, ao mesmo tempo, como uma instituição humana, ela toma parte na fragmentação da comunidade humana em sua ambigüidade fraqueza. A Igreja é sempre chamada ao arrependimento, reforma e renovação e depende constantemente da misericórdia e perdão de Deus. As Escrituras nos oferecem um perfil de uma Igreja viva à luz do Evangelho:

- É uma Igreja enraizada e fundada no amor e na graça do Senhor Cristo.
- Sempre alegre, continuamente ora e dá graças mesmo em meio ao sofrimento.
- É peregrina, um povo de Deus com uma nova cidadania celestial, uma nação santa e sacerdócio régio.
- É uma Igreja que faz a confissão comum da fé apostólica em palavra e vida, a fé comum de toda a Igreja em todos os lugares e em todos os tempos.
- É uma Igreja com uma missão a todos em qualquer raça, proclamando o Evangelho, o perdão dos pecados, ministrando o Batismo e celebrando a Eucaristia.
- É uma igreja servida por um Ministério Ordenado Apostólico, enviado por Deus para reunir e alimentar o povo de Deus em cada lugar, unindo-os e relacionando-os com a Igreja Universal dentro de toda a Comunhão dos Santos.
- É uma Igreja que se manifesta por meio de sua comunhão visível o poder de Deus que sana e une em meio às divisões da humanidade.
- É uma Igreja em que os vínculos da comunhão são fortes e suficientes para capacitá-la a dar testemunho efetivo no mundo, para guardar e interpretar a fé apostólica, para tomar decisões, para ensinar com autoridade e para compartilhar seus bens com os necessitados.
- É uma Igreja viva e que responde à esperança que Deus estabeleceu diante de nós, à riqueza e à glória da parte que Deus lhe ofereceu na herança do seu povo, à vastidão dos recursos do poder de Deus abertos a todos os que confiam Nele.

B. A Natureza da Comunhão e Objetivo da Unidade

21. As Escrituras retratam a unidade da Igreja como uma comunhão jubilosa com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo (Cf. 1Jo 1.1-10), bem como a comunhão entre seus membros. Jesus ora para que os discípulos sejam um como o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, para que o mundo creia (Jo 17.21). Por que a unidade da Igreja está fundada na relação misteriosa das pessoas da Trindade, essa unidade pertence por necessidade à sua natureza. Refere-se a essa unidade do Corpo de Cristo em relação a “um só Espírito..uma só esperança...um só Senhor, uma só fé, um só Batismo, um só Deus e Pai de todos nós” (Ef 4.4-6). A comunhão entre os cristãos e Igrejas não deve ser considerada como um produto da realização humana. Ela já é dada em Cristo como um dom a ser recebido, e “como qualquer boa dádiva, a unidade também vem do Pai por meio do Filho no Espírito Santo“.

22. Visto sob esta perspectiva, todavia, a desunião deve ser considerada como uma situação anômala. A despeito de nossos pecados e cismas, a unidade à qual somos chamados já começou a ser manifesta na Igreja. Ela exige uma incorporação mais visível na forma estruturada, para que a Igreja seja percebida a ser, por meio do Espírito Santo, um só Corpo de Cristo e o sinal, instrumento e antegozo do Reino de Deus. Nesta perspectiva todas as tradições denominacionais existentes são provisórias.

23. Todavia, a unidade visível não deve ser confundida com a uniformidade. “A unidade em Cristo não existe a despeito da diversidade e em oposição a ela, mas é dada com a diversidade.” Porque essa diversidade corresponde aos muitos dons do Espírito Santo concedidos à Igreja, ela é um conceito de importância eclesial fundamental com relevância para todos os aspectos da vida da Igreja e não é mera concessão ao pluralismo teológico. Tanto a unidade quanto a diversidade da Igreja são, em última instância, fundadas na comunhão do Deus Santíssima Trindade.

24. A manutenção da unidade e a sustentação da diversidade são servidas pelos vínculos da comunhão. A comunhão com Deus e com os crentes companheiros é manifesta num só Batismo em resposta à pregação apostólica na confissão comum da fé apostólica, na celebração unida da Eucaristia que constrói um só Corpo de Cristo, e num só ministério separado pela oração e pela imposição das mãos. Esta unidade é, também, manifesta como uma comunhão em amor, que implica em que os cristãos estão vinculados uns aos outros numa relação de compromisso com responsabilidades mútuas, bens espirituais comuns e obrigação de compartilhar os bens temporais. Já nos Atos dos Apóstolos podemos discernir esses vínculos: os que receberam a palavra (de Pedro) foram batizados...e dedicaram-se ao ensino e comunhão dos apóstolos, ao partir do pão e orações.. E todos os que creram estavam juntos e tiveram todas as coisas em comum”, (At 2.42ss.).

25. Na narrativa dos Atos dos Apóstolos essa participação numa vida comum é servida pelo ministério apostólico. Temos um quadro de como esse ministério promove a riqueza da diversidade enquanto se mantém, também, a unidade. Por meio do missão dos apóstolos Pedro e Paulo, os gentios são, também batizados. Em face à ameaça da divisão, essa decisão radical é ratificada pela reunião da Igreja em Concílio (Atos 15). Aqui se ilustra o papel dos líderes apostólicos e seu lugar dentro dos concílios da Igreja.

26. Tal compreensão da comunhão tem sido descrita nos seguintes termos:

A unidade da Igreja concedida em Cristo e enraizada em Deus Triuno é realizada em nossa unidade na palavra proclamada, nos sacramentos e no ministério instituído por Deus e conferido pela ordenação. É vivida tanto na unidade da fé, à qual damos o testemunho conjuntamente, e a qual juntamente confessamos e ensinamos e na unidade da esperança e amor que nos conduzem à unidade em comunhão plenamente compromissada. A unidade requer forma externa visível, que é capaz de compreender os elementos de diferenciação interior e diversidade espiritual bem como o elemento de mudança e desenvolvimento históricos. Esta é a unidade de uma comunhão, que cobre todos os tempos e lugares e chamada para testemunhar e para servir ao mundo.

27. Já no Novo Testamento existe o escândalo da divisão entre os cristãos (1Co 1.11-13; 1Jo 2.18-19). As Igrejas não unidas externamente, por razões da história ou pela deliberada separação, são obrigadas pela sua fé trabalhar e orar pela recuperação de sua unidade visível e aprofundamento de sua comunhão espiritual. Está colocada diante da Igreja a visão da unidade como objetivo de toda a criação (Ef 1 ) quando o mundo todo for reconciliado com Deus (2Co 5). A comunhão é assim o fruto da redenção e, necessariamente, uma realidade escatológica. Os cristãos nunca podem tolerar a desunião. São obrigadas não só meramente conservar e manter mas também promover e alimentar a realização mais elevada da comunhão entre as Igrejas e dentro das mesmas.

28. Tal nível de comunhão tem uma variedade de aspectos inter-relacionados. Ela acarreta em acordo em fé juntamente com a celebração comum dos sacramentos apoiados pela por um ministério unido e formas de consulta colegial e conciliar em matérias de fé, vida e testemunho. É possível que estas expressões da comunhão sejam incorporadas na lei e regulamentos da Igreja. Para a plenitude da comunhão é preciso que todos esses aspectos visíveis da vida da Igreja sejam permeados por uma comunhão espiritual profunda, um crescimento mútuo numa mente comum e preocupação mútua e um cuidado pela unidade. ( Fp 2.2)

III. O Que Concordamos Em Fé

29. Os anglicanos da Bretanha e da Irlanda e os luteranos das terras nórdicas e bálticas não condenaram umas às outras como Igrejas, em nenhum tempo, e nunca se separaram formalmente. Porém uma realização mais profunda da comunhão é desejada certamente e agora parece-nos possível, sem negar aquela diversidade própria e frutífera que se desenvolveu no decorrer dos tempos para uma forma distinta de confessar e expressar a nossa fé. Os anglicanos demonstraram a tendência de ressaltar a importância da liturgia como expressão da fé que a Igreja professa. Os luteranos, embora não o neguem, têm dado mais ênfase à confissão doutrinal. Todavia, ambos vêem lex orandi e lex credendi estreitamente relacionadas. A Confissão de Augusburgo e os Trinta e Nove Artigos de Religião foram produzidos em diferentes circunstâncias para responder as diferentes necessidades e não desempenham o mesmo papel na vida das Igrejas. Contêm formulação muito comum e dão testemunho comum da fé que a Igreja professa através dos séculos. Construídos neste fundamento, o contacto e intercâmbio ecumênicos modernos têm ajudado a esclarecer certas questões residuais, colocando em relevo com maior precisão o grau com que conservamos uma compreensão comum da natureza e propósito da Igreja e um acordo fundamental de fé. Agora somos chamados a um aprofundamento da comunhão, aos novos passos a caminho da unidade visível e da nova coerência em nosso testemunho comum em palavra e feitos de um só Senhor, uma só fé e um só Batismo.

30. Para este fim estabelecemos um acordo substancial de fé que há entre nós. Aqui fazemos referência ao BEM (Texto de Lima) e as respostas oficiais de nossas Igrejas a esse texto. Também fazemos referência às tentativas oficiais anteriores para especificar a extensão e natureza do acordo anglicano-luterano. Estes incluem o Relatório de Pullach de 1973, Relatório de Helsinki, 1983 Relatório de Cold Ash de 1983, Implicações do Evangelho de 1988, A Declaração Comum de Meissen, Relatório de Niagara de 1988. Todos estes textos dão o testemunho de uma unidade substancial entre anglicanos e luteranos. Fomos beneficiados com as percepções destes textos como uma contribuição ao nosso acordo em fé. Além disso, temos feito uso considerável de resultados dos diálogos respectivamente anglicano-católico romano, católico romano- luterano.

31. O acordo em fé alcançado nos textos anglicano-luteranos foi afirmado numa resolução da Conferência de Lambeth 1988, onde está declarado que a Conferência

reconhece com base no alto grau de consenso alcançado nos diálogos internacionais, regionais e nacionais entre os anglicanos e os luteranos e, à luz da comunhão em torno da Palavra e Sacramento, que tem sido experimentada na tradição de cada uma das Igrejas, a presença da Igreja de Jesus Cristo na Comunhão Luterana como também em nossa própria Comunhão.

Existe uma afirmação paralela numa resolução da VIII Assembléia da Federação Luterana Mundial reunida em Curitiba, PR, Brasil em fevereiro de 1990:

Esta Assembléia resolve que a FLM renova o seu compromisso com o objetivo da plena comunhão com as Igrejas da Comunhão Anglicana e urge que as Igrejas membros da FLM dêem passos apropriados para sua realização...que a FLM atente, com ação de graças, nos passos já dados para a comunhão eclesial pelos anglicanos e luteranos em nível nacional e regional e que as encoraje para dar prosseguimento.

32. Aqui declaramos resumidamente as crenças e práticas principais que temos em comum:

a) Aceitamos as Escrituras Canônicas do Antigo e do Novo Testamentos como registro suficiente e inspirado tendo autoridade e testemunho profético e apostólico da revelação de Deus em Jesus Cristo. Lemos as Escrituras como parte do culto público na linguagem do povo, acreditando que, nas Escrituras como a Palavra de Deus e testemunho do Evangelho, a vida eterna é oferecida a tida a humanidade e que contêm tudo que é necessário para a salvação.

b) Cremos que a vontade e os mandamentos de Deus são essenciais à proclamação, à fé e à vida cristãs. O mandamento de Deus nos compromete a amar a Deus e o nosso próximo, e viver e servir para o seu louvor e glória. O mandamento de Deus revela, ao mesmo tempo, os nossos pecados e a nossa constante necessidade de misericórdia divina.

c) Cremos no Evangelho e o proclamamos, e que, em Jesus Cristo Deus ama e redime o mundo. “Compartilhamos uma compreensão comum da graça justificadora de Deus, isto é, que somos considerados e feitos justos diante de Deus só pela graça por meio da fé por causa dos méritos de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e não por causa de nossas obras e méritos...As nossas duas tradições afirmam que a justificação nos leva e deve levar-nos às “boas obras”, pois a autêntica fé resulta em amor”. Recebemos o Espírito Santo que renova os nossos corações e nos equipa e nos chama para as boas obras. Assim como a justificação e santificação são aspectos do mesmo ato divino, também, a fé viva e o amor são inseparáveis no crente.

d) Aceitamos a fé que a Igreja tem confessado através dos séculos expressa no Credo Niceno-Constantinopolitano e no Credo dos Apóstolos e confessamos os dogmas básicos trinitário e cristológico, testemunhados por esses Credos. Isto é, cremos que Jesus de Nazaré é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem e que Deus é um só Deus em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo . Esta fé é explicitamente confirmada tanto nos 39 Artigos da Religião e na Confissão de Augsburgo.

e) Confessamos e celebramos a fé apostólica no culto litúrgico. Reconhecemos na liturgia tanto a celebração da salvação por Cristo quanto um fator significativo na formação do consenso dos fiéis. Alegramo-nos com a extensão de “nossa tradição comum de espiritualidade, liturgia e vida sacramental” que nos tem dado formas semelhantes de adoração e textos comuns, hinos, cânticos e orações. Somos influenciados por uma renovação comum de liturgia e por uma variedade de expressão demonstrada em diferentes contextos culturais.

f) Cremos que a Igreja é constituída e sustentada por Deus Triuno pela ação salvadora e Deus em Cristo em palavra e sacramentos. Cremos que a Igreja é um sinal, instrumento e antegozo do Reino de Deus. Mas reconhecemos que está em constante necessidade de reforma e renovação.

g) Cremos que, pelo Batismo com água em nome da Trindade, Deus une o batizando com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, inicia-o na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica e confere o dom gracioso de uma vida nova no Espírito Santo. Uma vez que, em nossas Igrejas, praticamos e valorizamos o Batismo infantil, também, levamos a sério a nossa tarefa catequética para o crescimento das crianças batizadas para o compromisso amadurecido com Cristo. Em todas as nossas tradições o Batismo é seguido de Confirmação. Reconhecemos duas práticas em nossas Igrejas. Elas têm precedentes nos primeiros séculos: nas Igrejas anglicanas, a confirmação é ministrada pelo bispo. Nas Igrejas nórdicas e bálticas, a confirmação é costumeiramente ministrada por um presbítero local. Em todas as nossas Igrejas esse ato inclui a invocação do Deus Triuno, renovação da profissão batismal da fé e oração para que, pela renovação da graça do Batismo, o candidato seja fortalecido agora e sempre.

h) Cremos que o corpo e sangue e Cristo estão verdadeiramente presentes, distribuídos e recebidos sob as formas do pão e vinho na Ceia do Senhor (Eucaristia). Dessa forma recebemos o corpo e sangue de Cristo, crucificado, ressuscitado, e Nele o perdão dos pecados e todos os benefícios de sua Paixão. O memorial eucarístico não é mera lembrança de um evento do passado ou do seu significado, mas a proclamação efetiva dos atos poderosos de Deus por parte da Igreja. Embora incapazes de oferecer a Deus um sacrifício digno, o Cristo nos une consigo mesmo em oferenda de si mesmo ao Pai, um só sacrifício perfeito, suficiente que Ele ofereceu por todos nós. Na Eucaristia, o próprio Deus age, dando a vida ao corpo de Cristo e renovando cada um dos membros. Celebrando a Eucaristia a Igreja é reconstituída e alimentada, fortalecida em fé e esperança, em testemunho e serviço na vida diária. Aqui já temos um antegozo da alegria eterna do Reino de Deus.

(i) Cremos que todos os membros da Igreja são chamados para participar em sua missão apostólica. Portanto., todos os batizados recebem vários dons e ministérios pelo Espírito Santo. São chamados a oferecer suas vidas como “um sacrifício vivo” e a interceder pela Igreja e pela salvação do mundo. Este é o sacerdócio comunitário de todo o povo de Deus e chamada para o ministério e serviço. (1Pe 2.5)

(j) Cremos que, na comunidade da Igreja, o ministério ordenado existe para servir o ministério de todo o povo de Deus. Conservamos o ministério ordenado da palavra e do sacramento como um ofício de instituição divina e como tal um dom de Deus para a sua Igreja. Os ministros ordenados estão relacionados como todos os cristãos tanto com o sacerdócio de Cristo como também com o sacerdócio da Igreja. Esta unidade básica do ministério ordenado é expressa no serviço da palavra e sacramento. Na vida da Igreja essa unidade tem assumido forma diferenciada. O tríplice ministério de bispo, presbítero e diácono tornou-se o padrão geral na Igreja dos primeiros séculos e ainda é preservado por muitas Igrejas, embora freqüentemente em forma parcial. “O tríplice ministério de bispo, presbítero, diácono pode servir hoje como uma expressão da unidade que buscamos e, também, como meios de alcança-lo.”

(k) Cremos que um ministério de supervisão pastoral (episcope), exercido em formas pessoal, colegial, e comunal, é necessário como testemunho e salvaguarda da unidade e apostolicidade da Igreja. Além disso, conservamos e empregamos o ofício episcopal como um sinal de nossa intenção para assegurar, debaixo de Deus, a continuidade da Igreja na vida e testemunho apostólicos. Por estas razões, todas as nossas Igrejas têm um ofício episcopal pessoalmente exercido.

(l) Compartilhamos uma esperança comum na consumação final do Reino de Deus e cremos que nessa perspectiva escatológica somos chamados a trabalhar agora para a promoção da justiça, a buscar a paz e a cuidar o mundo criado. As obrigações do Reino existem para governar a nossa vida na Igreja e nossa preocupação pelo mundo. “A fé cristã consiste em que Deus fez a paz por Jesus “pelo sangue de sua Cruz”, (Cl 1.20), de modo a estabelecer um centro válido da unidade de toda a família humana”.

33. Este sumário dá o testemunho de um alto grau de unidade em fé, e doutrina. Embora isto não exija de cada uma de nossas tradições aceitar cada uma das formulações características de nossas diferentes tradições, exige de nós a encarar e sobrepujar obstáculos ainda existentes para uma comunhão mais estreita.

IV. EPISCOPADO A SERVIÇO DA APOSTOLICIDADE DA IGREJA

34. Existe um antigo problema a respeito do ministério episcopal e sua relação com a sucessão. Na Reforma, todas as nossas Igrejas ordenaram os bispos (às vezes, o termo superintendente foi usado como sinônimo do bispo) às sés existentes da Igreja Católica, indicando a sua intenção de continuar com a vida e ministério da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Em alguns territórios, a sucessão histórica de bispos foi mantida pela ordenação episcopal, ao passo que, em alhures, em poucas ocasiões, bispos ou superintendentes foram sagrados pelos presbíteros seguindo o que se acreditou ser o precedente da Igreja Primitiva. Uma conseqüência disso foi a ausência de unidade entre os ministérios de nossas Igrejas e, por conseguinte, impedimento para o testemunho, serviço e missão comuns. A interrupção da sucessão episcopal tem, não obstante, nessas Igrejas particulares foi sempre acompanhada com a intenção e com as medidas para assegurar a continuidade apostólica da Igreja como uma Igreja do Evangelho servida por um ministério episcopal. A tradição posterior destas Igrejas demonstra sua fidelidade para com a apostolicidade da Igreja. Nos últimos cem anos todas as nossas Igrejas têm sentido uma necessidade crescente de sobrepujar essa dificuldade e dar expressão comum à sua participação contínua na vida da Igreja Una, Santa., Católica e Apostólica.

35. Devido a essa dificuldade, agora marcamos grandemente uma compreensão da apostolicidade de toda a Igreja e, dentro disso, o ministério apostólico, sucessão no ofício episcopal e a sucessão histórica como um sinal. Todos esses fatores estão relacionados entre si.

A. Apostolicidade de toda a Igreja

36. “No Credo, a Igreja confessar ser apostólica. A Igreja vive na continuidade dos apóstolos e de sua proclamação. É o mesmo Senhor que enviou os apóstolos em missão e que continua a estar presente na Igreja. O Espírito guarda a Igreja na tradição apostólica até ao dia em que a história se cumprir no Reino de Deus. A tradição apostólica na Igreja implica a continuidade na permanência das características da Igreja dos apóstolos: testemunho da fé apostólica, proclamação e interpretação renovada do Evangelho, celebração do Batismo e da Eucaristia, transmissão das responsabilidades ministeriais, comunhão na oração, no amor, na alegria e no sofrimento, serviço junto aos doentes e necessitado, unidade das Igrejas locais e partilha dos dons que o Senhor deu a cada um”.

37. A Igreja de hoje é encarregada como foram apóstolos de proclamar o Evangelho a todas as nações, porque as Boas Novas acerca de Jesus Cristo é a revelação do plano eterno de Deus para a reconciliação de todas as coisas em seu Filho. A Igreja é chamada à fidelidade para o testemunho apostólico normativo da vida, morte, ressurreição e exaltação do seu Senhor. A Igreja recebe sua missão e o poder de cumprir essa missão como um dom do Cristo ressuscitado. Por conseguinte, a Igreja é apostólica como um todo. “A apostolicidade significa que a Igreja é enviada por Jesus para ir ao mundo, para participar em sua missão e, portanto, na missão Daquele que enviou Jesus, para participar na missão do Pai e do Filho por meio da dinâmica do Espírito Santo .”

38. Deus Espírito Santo derrama seus dons sobre toda a Igreja (Ef 4.11-13; 1Co 12.4-11) e suscita homens e mulheres, tanto os leigos quanto os ministros ordenados a fim de contribuir para alimentar a comunidade. Por conseguinte, a Igreja como um todo e cada um dos membros participam na comunicação do Evangelho e contribuem para tanto pela expressão fiel e incorporação das características permanentes da Igreja dos apóstolos num dado tempo e lugar. Essenciais ao seu testemunho nãos são meramente suas palavras, mas o amor de seus membros uns pelos outros, a qualidade de seu serviço para com os necessitados, seu uso dos recursos financeiros e outros, a justiça e efetividade de sua vida, seus meios de disciplina, sua distribuição e exercício do poder, e suas assembléias para a adoração . Tudo isto significa meios de comunicação que devem ser focalizados em Cristo, a verdadeira Palavra de Deus e nascem da vida no Espírito Santo.

39. Por conseguinte, a manifestação principal da sucessão apostólica deve ser encontrada na tradição apostólica da Igreja como um todo. A sucessão é uma expressão da permanência e, portanto, da continuidade da própria missão de Cristo em que a Igreja participa.

40. Dentro da apostolicidade de toda a Igreja está uma sucessão apostólica do ministério que serve e é o foco de continuidade da Igreja em sua vida em Cristo e sua fidelidade para com as palavras e atos de Jesus transmitidos pelos apóstolos. O ministério ordenado tem uma responsabilidade particular pelo testemunho dessa tradição e pela proclamação renovada com autoridade em cada geração.

B. Ministério Apostólico

41. Para alimentar a Igreja Deus deu o ministério apostólico instituído pelo Nosso Senhor e transmitido pelos apóstolos. A responsabilidade principal do ministério ordenado é reunir e construir o Corpo de Cristo por meio da proclamação e ensino da Palavra de Deus, da celebração dos sacramentos e pela condução da vida da comunidade em sua adoração, missão e pelo ministério do cuidado pastoral. A separação de uma pessoa ao ofício ordenado vitalício pela oração, invocação do Espírito Santo e pela imposição das mãos lembra a Igreja de que ela recebe de Cristo sua missão e expressa a intenção firme da Igreja de viver em fidelidade para com a comissão e dom e com gratidão por eles. As diferentes tarefas de um só ministério encontra a sua expressão na sua estruturação. O tríplice ministério de bispos, presbíteros e diáconos tornou-se o padrão geral do ministério ordenado na Igreja Primitiva., embora posteriormente haja passado por uma mudança considerável em seu exercício prático e ainda está em seu desenvolvimento hoje.

42. A diversidade dos dons de Deus exige a sua coordenação para que enriqueça toda a Igreja e sua unidade. Essa diversidade e a multiplicidade de tarefas envolvidas no serviço convocam o ministério de coordenação. Este é o ministério de supervisão, episcope, cuidado pela vida de toda uma comunidade, um pastoreio dos pastores e um verdadeiro ato de alimentar o rebanho de Cristo, de acordo com o comando de Cristo através dos séculos e em unidade com os cristãos de outros lugares. A supervisão ( episcope) é uma exigência de toda a Igreja e seu fiel exercício, à luz do Evangelho é de importância fundamental para a sua vida.

43. A supervisão da Igreja e sua missão é a responsabilidade particular do bispo. O ofício do bispo é serviço e comunicação dentro da comunidade dos crentes e junto com toda a comunidade é comunicação para o mundo. Os bispos pregam a palavra, presidem os sacramentos e ministram a disciplina de tal maneira a ser ministros representativos de supervisão, continuidade e unidade na Igreja. Eles têm a supervisão pastoral da área para a qual são chamados. Eles servem a apostolicidade, catolicidade e unidade do ensino, adoração e vida sacramental da Igreja. Eles têm a responsabilidade pela liderança na missão da Igreja. Nenhuma dessas tarefas deverá ser executada em insulamento de toda a Igreja.

44. O ministério de supervisão é exercido pessoal, colegial e comunitáriamente. É da pessoa, porque a presença de Cristo entre seu povo pode mais efetivamente ser salientada pela pessoa ordenada para proclamar o Evangelho e chamar a comunidade para servir o Senhor na unidade de vida e testemunho. É colegiado, primeiro., porque o bispo reúne os que são ordenados para participar nas tarefas do ministério e para representar as preocupações da comunidade, e, em segundo lugar, porque, através da colegialidade dos bispos, a comunidade crista em área local está relacionada com a Igreja em nível mais amplo e a Igreja universal, com aquela comunidade. É comunitária, porque o exercício do ministério ordenado está enraizada na vida da comunidade e exige a participação efetiva da comunidade na descoberta da vontade de Deus e da direção do Espírito. Na maioria de nossas Igrejas hoje ela assume forma sinodal. Os bispos junto com outros ministros e toda a comunidade são responsáveis pela transferência ordenada da autoridade ministerial na Igreja.

45. As dimensões pessoal colegial e comunitário de supervisão encontra a sua expressão em níveis local, regional e universal da vida da Igreja.

C. Ofício Episcopal a Serviço da Sucessão Apostólica

46. A base última da fidelidade da Igreja em continuidade com os apóstolos é a promessa do Senhor e a presença do Espírito Santo em ação em toda a Igreja. A continuidade do ministério de supervisão deve ser entendida no interior da continuidade da vida apostólica da vida e missão apostólicas de toda a Igreja. A sucessão apostólica no ofício episcopal é uma forma visível e pessoal de focalizar a apostolicidade de toda a Igreja.

47. A continuidade na sucessão apostólica é sinalizada na ordenação ou sagração de um bispo. Neste ato o povo de Deus se reúne para afirmar a escolha do candidato eleito e ora por ele. Na imposição das mãos pelo bispo ordinante e outros representantes com oração, toda a Igreja invoca Deus confiando na Sua promessa de derramar o Espírito Santo sobre o povo com que Ele fez o pacto (Is 11.1-3; Cf. Veni Creator Spiritus). O ato bíblico da imposição das mãos é rico em sentido. Pode significar (entre outras coisas) a identificação, comissão ou acolhida. É usada em contextos variados: confirmação, reconciliação, cura e ordenação. De um lado, pela imposição das mãos com oração um dom da graça já outorgada por Deus é reconhecido e confirmado. De outro lado, o dom é aperfeiçoado para o serviço. A significação precisa ou a intenção da imposição das mãos como um sinal é determinada pela oração ou declaração que a acompanha.. No caso do episcopado, a ordenação pela oração e imposição é o que os apóstolos fizeram e a Igreja tem feito através dos séculos.

48. Na sagração do bispo o sinal é efetivo em quatro formas: (1) testemunha a confiança da Igreja na fidelidade de Deus para com o seu povo e na promessa da presença prometida de Cristo com sua Igreja através do poder do Espírito Santo até os fins dos tempos. (2) O sinal expressa a intenção da Igreja de ser fiel à iniciativa e dom de Deus, vivendo a continuidade da fé e tradição apostólicas. (3) A participação de um grupo de bispos na imposição das mãos significa a aceitação do novo bispo por parte deles e de suas Igrejas e, assim, a catolicidade das Igrejas. (4) O sinal transmite o ofício ministerial e sua autoridade, de acordo com a vontade e instituição divinas. Por conseguinte, na sagração, o bispo recebe o sinal da aprovação divina uma comissão permanente para conduzir sua Igreja particular na vida da fé comum e na vida apostólica de todas as Igrejas.

49. A continuidade significada na sagração de um bispo ao ministério episcopal não pode ser divorciado da continuidade da vida e testemunho da diocese, à qual é chamada. Nas circunstâncias particulares de nossas Igrejas, a continuidade representada pela ocupação das sés históricas é mais do que pessoal. O cuidado de manter um padrão diocesano e paroquial de vida pastoral e ministério reflete uma intenção das Igrejas de continuar com o exercício do ministério apostólico da palavra e sacramento da Igreja universal.

D. Sucessão Episcopal Histórica como Sinal

50. Toda a Igreja é um sinal do Reino de Deus . A ordenação é um sinal da fidelidade de Deus para com a sua Igreja, especialmente, em relação à supervisão de sua missão. Ordenar um bispo em sucessão histórica (isto é, em continuidade intencionada com os apóstolos) é, também, um sinal. Dessa forma, a Igreja comunica o seu cuidado pela continuidade no todo de sua vida e missão e reforça sua determinação de manifestar as características permanentes da Igreja dos Apóstolos. Para tornar o sentido do sinal plenamente inteligível, é necessário incluir na liturgia da ordenação uma declaração pública da fé que a Igreja confessa e uma exposição do ministério, ao qual o novo bispo é chamado. Dessa forma, o sinal da sucessão episcopal histórica é colocada claramente no seu pleno contexto de continuidade de proclamação do Evangelho de Cristo e missão de sua Igreja.

51. O uso do sinal da sucessão episcopal histórica não garante per se a fidelidade de uma Igreja para com cada aspecto da fé, vida e missão apostólica. Tem havido cismas na história das Igrejas usando o sinal da sucessão histórica. Nem o sinal garante a fidelidade pessoal de um bispo. Todavia, a retenção do sinal permanece um desafio permanente para a fidelidade e unidade, um chamado para dar testemunho das características permanentes da Igreja dos Apóstolos e comissão para realizá-las mais plenamente.

52. A fidelidade para com o chamado apostólico de toda a Igreja é cumprida por mais do que um meio de continuidade. Portanto, uma Igreja, que tem preservado os sinais da sucessão episcopal histórica está livre de reconhecer um ministério episcopal autêntico numa Igreja que preservou continuidade no ofício episcopal por uma ordenação ocasional sacerdotal/presbiteral na época da Reforma. Semelhantemente, uma Igreja que preservou a continuidade por tal sucessão está livre de entrar numa relação de participação mútua nas ordenações episcopais com uma Igreja que reteve a sucessão episcopal histórica e abraçar o sinal, sem negar sua continuidade apostólica passada.

53. O reconhecimento mútuo de nossas Igrejas e nossos ministérios é teologicamente anterior ao uso do sinal da imposição das mãos na sucessão histórica. A retomada do uso do sinal não implica num juízo adverso sobre os ministérios daquelas Igrejas que anteriormente não fizeram o uso do sinal. É antes um meio de tornar mais visível a unidade e continuidade da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares.

54. Até onde os nossos ministérios estavam separados, todas as nossas Igrejas careciam alguma coisa daquela plenitude que Deus deseja para o seu povo, (Ef 1.23 e 3.17-19). Passando por mudança juntamente e servidas por um ministério episcopal reconciliado e mutuamente reconhecido, as nossas Igrejas serão mais fiéis aos seu chamado e, também, mais conscientes de sua necessidade da renovação. Compartilhando a nossa vida e ministérios em unidade mais estreitamente visível, seremos fortalecidos para a continuação da missão de Cristo no mundo.

E. Um Novo Estágio

55. Pelo longo alcance que caracteriza o nosso acordo registrado nos parágrafos anteriores é aparente que temos alcançado um novo estágio em nossa jornada conjunta na fé. Concordamos sobre a natureza e propósito da Igreja, ( Cap II), sobre a sua fé e doutrina (Cap. III) especialmente sobre a apostolicidade de toda a Igreja, sobre o ministério apostólico no interior da apostolicidade de toda a Igreja e sobre o ofício episcopal no serviço da Igreja (Cap IV).

56. Com a base nesse acordo, cremos

-que as nossas Igrejas devem confiantemente reconhecer uma a outra como Igrejas e entrar numa nova relação,
-que cada uma das Igrejas como um todo tem preservado uma sucessão apostólica autêntica de testemunho e serviço (I.A),
-que cada uma das Igrejas tem transmitido para ela um ministério apostólico de palavra e sacramento por meio de oração e imposição de mãos (IV.B),
-que cada uma das Igrejas tem preservado uma sucessão ordenada de ministério episcopal dentro da continuidade de sua vida pastoral, focalizada na sagrações dos bispos e na experiência e teste unho das sés históricas (IV.C).

57. À luz de tudo isto, descobrimos que chegou a hora quando todas as nossas Igrejas podem afirmar juntos o valor e o uso do sinal da sucessão episcopal histórica (IV.D). Isto significa que aquelas Igrejas, nas quais o sinal não foi usado, às vezes, estão livres para reconhecer o valor do sinal e devem abraçá-lo sem negar sua própria continuidade apostólica. Também, isto significa que aquelas Igrejas, nas quais o sinal tem sido usado estão livres para reconhecer a realidade do of
ofício episcopal e devem afirmar a continuidade apostólica daquelas Igrejas, nas quais o sinal da sucessão episcopal não tem sido, às vezes, usado.

V. Por uma Unidade Mais Estreita

A. Declaração Conjunta

58. Recomendamos que as nossas Igreja faça conjuntamente a seguinte declaração:

DECLARAÇÃO DE PORVOO

Nós, a Igreja da Dinamarca, a Igreja da Inglaterra, Igreja Evangélica-Luterana da Estônia, A Igreja Evangélica-Luterana da Finlândia, a Igreja Evangélica-Luterana de Islândia, a Igreja da Irlanda, a Igreja Evangélica-Luterana de Latvia, a Igreja Evangélica-Luterana da Lituânia, a Igreja da Noruega, a Igreja Episcopal Escocesa, a Igreja da Suécia, a Igreja no Pais de Gales, com base em nossa compreensão comum da natureza e propósito da Igreja, no acordo fundamental na fé e no acordo comum sobre o episcopado a serviço da apostolicidade da Igreja contidos nos Capítulos II - IV da Declaração Comum de Porvoo, fazemos o seguinte reconhecimento e compromissos:

a. (i) Reconhecemos as Igrejas uns dos outros como Igrejas que pertencem a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo e verdadeiramente participantes na missão apostólica de todo o povo de Deus.

(ii) Reconhecemos que, em todas as nossas Igrejas, a Palavra de Deus é autenticamente proclamada e os sacramentos do Batismo e da Eucaristia são verdadeiramente ministrados.

(iii) Reconhecemos que todas as nossas Igrejas compartilham a confissão da fé apostólica.

(IV) Reconhecemos que os ministérios ordenados uns dos outros são outorgados por Deus como instrumentos de sua graça e como tendo possessão não só da chamada interior do Espírito mas também da comissão de Cristo por meio do seu Corpo, a Igreja.

(v) Reconhecemos que a supervisão pessoal, colegial e comunitária está incorporada e exercida em todas as nossas Igrejas numa variedade de formas, em continuidade da vida missão e ministério apostólicos.

(vi) Reconhecemos que o ofício episcopal é valorizado e preservado em todas as nossas Igrejas como um sinal visível que expressa e serve a unidade e continuidade da Igreja na vida, missão e ministério apostólicos.

b. Nós nos comprometemos a

(i) compartilhar a vida em missão e serviço, orar uns pelos outros e uns com os outros e compartilhar os recursos.

(ii) acolher os membros das Igrejas umas das outras para receber ministrações sacramentais e outras pastorais.

(iii) considerar os membros batizados de todas as nossas Igrejas como membros de nossas próprias Igrejas.

(iv) acolher as congregações em diáspora para a vida das Igrejas indígenas ao seu enriquecimento mútuo.

(v) acolher as pessoas ordenadas episcopalmente em qualquer uma de nossas Igrejas ao ofício de bispo, presbítero e diácono para servir, por convite e de conformidade com quaisquer regulamentos que venham de tempo a tempo em vigor no ministério na Igreja receptora sem reordenação.

(vi) convidar, normalmente, os bispos das Igrejas uma das outras para participar na imposição das mãos na ordenação dos bispos em sinal da unidade e continuidade da Igreja.

(vii) trabalhar por uma compreensão comum do ministério diaconal.

(viii) estabelecer formas apropriadas de consulta colegial e conciliar sobre matérias significativas da fé, ordem, vida e trabalho.

(ix) encorajar consultas dos representantes de nossas Igrejas e facilitar a aprendizagem e intercâmbio de idéias e informação em matérias teológicas e pastorais.

(x) estabelecer um grupo de contacto para nutrir o nosso crescimento na comunhão e coordenar a implementação deste acordo.

B. Celebração Litúrgica

59. Recomendamos que este acordo e nossa relação sejam inaugurados e afirmados por três celebrações centrais da Eucaristia, na qual todas as nossas Igrejas sejam representadas. Essas celebrações seriam sinal de

- de nossa aceitação jubilosa mútua,
- o nosso compromisso conjunto na fé, na vida sacramental da Igreja,
- a nossa acolhida de ministros e membros de outras Igrejas como os nossos,
- o nosso compromisso de engajar-nos juntos em missão,

Estas celebrações incluiriam:

- a leitura e assinatura da Declaração de Porvoo,
- a oração central de ação de graças pelo passado e petição pelo futuro oferecidas pelos luteranos em favor dos anglicanos e pelos anglicanos em favor dos luteranos,
- a troca de Paz,
- a Eucaristia conjuntamente celebrada,
- outros sinais verbais e cerimoniais de nossa vida comum..

C. Compromisso Ecumênico Mais Amplo

60. Regozijamo-nos em nosso acordo que torna possível a forma de unidade visível. Vemos nesse acordo os passos em direção da unidade visível que todas as Igrejas comprometidas com o movimento ecumênico procuram manifestar. Não consideramos um fim em si mesmo os passos que damos na direção de uma unidade mais estreita, mas como parte da busca de uma unidade mais ampla. Esta busca envolverá o seguinte:

- o fortalecimento dos vínculos que cada uma de nossas Igrejas tem umas com a outras em nível local, nacional e internacional,
- o aprofundamento das relações dentro de nossas duas Comunhões de caráter mundial e entre elas , apoiando os esforços por uma comunhão mais íntima entre as Igrejas Anglicana e Luterana em outras regiões, especialmente, em relação aos acordos que se desenvolvem na África e América do Norte,
- desenvolvendo ainda mais os laços existentes com outras Comunhões mundiais, especialmente, com as quais temos diálogos e acordos ecumênicos.
- apoiando mutuamente os conselhos locais, nacionais e CMI.

61. A herança comum e a vocação comum de nossos Igrejas, soletrados neste acordo, torna-nos conscientes de nossa obrigação para contribuir juntamente para os esforços de outros. Ao mesmo tempo, estamos conscientes de nossa própria necessidade de sermos enriquecidos pelas percepções e experiência das Igrejas de outras tradições e em outras partes do mundo. Junto com elas estamos dispostos para sermos usados por Deus como instrumentos do propósito salvador e reconciliador para humanidade e criação.

PARTICIPANTES

MEMBROS

IGREJA DA INGLATERRA
Revmº Bispo David Tustin ( Bispo de Grimsby) Co-presidente
“ “ Stephen Sykes (Bispo de Ely)
“ “ John Hind (Bispo de Horsham)
Rev. John Arnold (Deão de Durham)
Ven. Davida Silk (Arcediado de Leicester)
Sra. Maryon Jaeger

IGREJA DA IRLANDA
Rev. Paul Colton

IGREJA EPISCOPAL ESCOCESA
Revmº Bispo Robert Halliday (Bispo de Brechin)

IGREJA DE GALES
Rev. Huw Jones (Deão de Brecon)

IGREJA DA DINAMARCA
Revmº Bispo Henrik Christiansen ( anteriormente Bispo de Aalborg)
Rev. Dr. G.Pedersen

IGREJA EVANGÉLICA-LUTERANA DA ESTÔNIA
Rev. Dr. Toomas Paul
Sr. Tit Paedam

IGREJA EVANGÉLICA-LUTERANA DA FINLÂNDIA
Revmº Dr. Erik Vikstroem (Bispo de Borga)
Rev.Dr. Lorenz Groenvik

IGREJA EVANÉLICA-LUERANA DE ISLÂNDIA
Rev. Dr. Hjalti Hugason

IGREJA EVANGÉLICA-LUTERANA DE LATVIA
Rev. Ringolds Muziks

IGREJA EVANGÉLICA-LUTERANA DE LITUÂNIA
Rev. Aldonis Putce
Rev. Jonas Kalvanas

IGREJA DA NORUEGA
Revmº Dr. Andreas Aarflot (Bispo de Oslo)
Rev. Prof. Ola Tjorhom

IGREJA DA SUÉCIA
Revmº Dr. Tore Furber (anteriormente Bispo de Visby) Co-presidente
Revmº Dr. Harlin (Bispo de Uppsala)

CONSULTORES
Rev.Dr. Risto Cantell
Rev. Prof. Frederic Cleve
Rev. Cônego John Halliburton
Rev. Cônego Christopher Hill
Rev. Cônego Stephen Platten
Rev. Cônego Martin Reardon

OBSERVADORES
Rev.Dr. Eugene L.Braund (FLM)
Diretor Gunnel Boregard ( Conselho Ecumênico Nórdico)
Rev. Dr. Gunther Gassmann (CMI)
Rev. Henrik Roelvink, OFM (ICR: Conferência dos Bispos Nórdicos)
Rev. Lennart Sjoestrom (Conselho Britânico Luterano)

STAFF
Dr. Mary Tanner
Sr. Colin Podmore
Rev. Pirjo Tyoerinoja

MEMBROS ANTERIORES
Revmº Bispo Dr. George Carey (na qualidade de Bispo de Bath e Well)
Revmº Bispo Gunnar Lislerud ( como Bispo de Borg)

PARTICIPANTES ANTERIORES
Rev. Dr. Walter Bouman
Rev.Cônego Cr. Robert Wright
Rev. Geoffrey Brown
Rev. Kaj Engstroem
Sr. Anders Hess
Rev. Jón Baldvinssons

Notas:

HILL,C. “Acordos existentes entre as nossas Igreja”, ver apêndice
W.A.Norgren & W.G.Rusch (eds) Implicações do Evangelho. Diálogo Anglicano-Luterano, Serie III (1988), parag. 33-37, 51-57
BEM, Ministério, parag. 5
Comissão Conjunta Católica Romana / Luterana, Caminhos para a Comunidade ( Genebra, 1981) parag. 9
ibid., parag. 34
Comissão Conjunta Católica- Luterana: Encarando a Unidade. Modelos, Formas e Fases da comunhão Católica-Luterana ( 1985 ), parag. 3
Conversações internacionais anglicana-luteranas. Relatório autorizado pela Conferência de Lambeth e pela Federação Mundial Luterana, paga 17-82
Relatório da Comissão européia, parag 17-51
Relatório do Grupo de Trabalho conjunto anglicano-luterano
Terceira Série de Diálogo Anglicano-Luterano
A Caminho da Unidade Visível, parag 14-16
Relatório da Comissão Internacional Anglicana-Luterana sobre o Episkope, parag 60-80
A liberdade vos Libertará: Conferência de Lambeth 1988, p.204, resolução 4, parag. 4
Ouvi o Clamor do Meu Povo: Ata da VIII Assembléia da FML, p.107
Pullach, parag. 17
Helsinki, parag 20 e Meissen, parag 15 (vi)
All Under One Christ. A declaração sobre a Confissão de Augsburgo pela Comissão bilateral Católica Romana e Luterana, 1980 publicado junto com Ways to Community, Genebra 1981, parag. 14
A Salvação e a Igreja, ARCIC, parag 19
Meissen, parag 15 (ii). Cf. Pullach, parag 23-25
Ver o Artigo VIII.
Artigos I e III.
Meissen, parag 15 (iii)
Meissen, parag. 15 (vii). Cf. Helsinki, parag. 44-51. Ver, também, parags. 14-20 acima
Meissen, parag. 15 (iv). Cf. Helsinki, parags. 22-25
Pullach, parag. 67
ARCIC, Relatório Final, Doutrina Eucarística, parag.5
BEM, Eucaristia, parag. 2
Helsinki, parag. 28
BEM, Ministério, parag. 17
NIAGARA, parag. 68, MEISSEN, parag. 15 (viii) e HELSINKI, parags. 32-42
BEM,Ministério, parag.17
BEM, Ministério, parag. 22
NIAGARA,parag.69 e MEISSEN, parag. 15 (ix)
NIAGARA, parags. 23-30,41-59 e 81-110 e PULLACH, parags 79-82
O Reinado de Deus e a Nossa Unidade. Relatório da Comissão bilateral Internacional Anglicana-Reformada, parag. 18. NIAGARA, parag.70; MEISSEN, PARAG.15 (IX)
Ver Introdução, ensaios históricos sobre o Episcopado em nossas Igrejas e “Ordens e Ordenação”por J.Halliburton.
BEM, Ministério, parag.34
NIAGARA, PARAG. 21
BEM, Ministério parag.35
BEM, Ministério, parag. 34: comentário
BEM, Ministério, parag. 35
BEM, Ministério, parg.13
BEM, Ministério, parag.22
BEM, Ministério, parag.29
Cf. BEM, Ministério, parags 26,29
Cf. NIAGARA, parag. 91
Ver parags 17-20 deste documento
Ver parags.47-48 acima
Ver parag.36 acima.
O background histórico está estabelecido nos Ensaios sobre a Igreja e o Ministério na Europa Setentrional.
Os seguintes documentos expressam esse diálogo: Relatório de Niagara (Internacional), Relatório de Porvoo (Grã-Bretanha, Escandinávia e Países Baixos), Meissen (Grã-Bretanha e Alemanha) e o relatório produzido na América do Norte, Por Plena Comunhão.

Diálogo Episcopal/Luterano II, 1980, pp. 30-31; Pulllach, 17-22
Diálogo Episcopal/Luterano II, p. 38; Pullach, 23-25.

Relatório de Helsinki, 22-25.
Diálogo Episcopal/Luterano II, p. 25-29;
Helsinki, 20; Diálogo Episcopal/Luterano II, p. 22-23
Helsinki, 44-51.

Helsinki, 32-42

Pullach, 79
Relatório da Comissão Internacional Anglicana-Reformada: Reino de Deus e nossa unidade (1984). Cf. Pullach, 59.


Âmbito: IECLB / Organismo: Igreja Episcopal Anglicana do Brasil - IEAB
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Ecumene
ID: 13917
O santo povo cristão é reconhecido exteriormente por meio da salvação da santa cruz.
Martim Lutero
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