IECLB e Conselho Mundial de Igrejas



ID: 2701

Batismo Eucaristia Ministério - Convergência da Fé

Prefácio


O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) é uma comunidade fraterna de Igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador segundo as Escrituras, e se esforçam a fim de responder em conjunto à sua vocação comum para a glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo (Constituição).

Nessas palavras temos uma definição clara do que é o Conselho Mundial de Igrejas. Ele não é uma autoridade universal fiscalizadora do que os cristãos deveriam crer e fazer. Mas, passados apenas três decênios, ele é já uma comunidade notável de aproximadamente trezentas Igrejas. Estas Igrejas representam uma rica diversidade de culturas, de tradições, de liturgia em numerosas línguas e de existência sob todas as espécies de sistemas políticos. Todas elas, contudo, comprometidas numa estreita colaboração de testemunho cristão e de serviço. Ao mesmo tempo, todas, também, lutando em conjunto para atingir o fim da unidade visível da Igreja. 

A Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial assegura apoio teológico aos esforços das Igrejas que tenham em vista a unidade. Com efeito, a Comissão foi encarregada, pelos membros do Conselho, de lhes lembrar continuamente a obrigação livremente aceita por elas de trabalharem de modo mais visível para a manifestação do dom de Deus, a unidade da Igreja. Por isso, o objetivo claramente estabelecido pela Comissão é o de proclamar a unidade da Igreja de Jesus Cristo e exortar as Igrejas a tornarem visível esta unidade numa só fé e numa só comunidade eucarística, com expressão no culto e na vida comum em Cristo, a fim de que o mundo creia. 

Se as Igrejas divididas têm o encargo de chegar à unidade visível que procuram, então uma questão prévia essencial é que se ponham fundamentalmente de acordo sobre o batismo, a eucaristia e o ministério. É compreensivo, pois, que a Comissão de Fé e Constituição tenha consagrado muita atenção para ultrapassar a divisão doutrinária sobre estes três temas. Durante os últimos cinquenta anos, a maior parte dos seus encontros e conferências têm tido algum destes temas no centro das suas discussões. 

Os três textos são fruto de um processo de pesquisa de cinquenta anos que remonta à primeira Conferência de Fé e Constituição, em Lausane, em 1927. O material foi discutido e revisto pela Comissão de Fé e Constituição, em Acera (1974), em Bangalore (1978) e em Lima (1982). Entre um e outro encontros da Comissão plenária, a Comissão permanente e o seu Comitê de trabalho sobre batismo, eucaristia e ministério — sob a presidência do irmão Max Thurian, da Comunidade de Taizé — prosseguiram no trabalho e redação. 

Estes textos ecumênicos refletem igualmente as consultas sucessivas e a colaboração contínua estabelecida entre os membros da Comissão (aprovados pelas Igrejas) e as próprias Igrejas particulares. A Quinta Assembleia do Conselho Mundial (Nairóbi, 1975) tornou possível o envio às Igrejas de um primeiro texto impresso para estudo (série Faith and Order n° 73). É muito significativo que mais de cem Igrejas, de todas as regiões e de todas as tradições, tenham enviado comentários pormenorizados. Estes foram cuidadosamente analisados durante uma consulta em Crêt-Bérard, em 1977 (série Faith and Order n° 84). 

Conjuntamente, certos problemas particularmente difíceis foram igualmente analisados na altura de consultas ecumênicas especiais realizadas sobre os seguintes temas: Batismo das crianças e dos adultos, em Louisville, em 1978 (série Faith and Order n° 97); Episcopè e Episcopado, em Genebra, em 1979 (série Faith and Order n 102). O Texto foi igualmente revisto pelos representantes das Igrejas ortodoxas, em Chambéry, 1979. Finalmente, a Comissão de Fé e Constituição foi novamente autorizada pelo Comitê Central do Conselho Mundial, em Dresden (1981), a enviar o documento revisto (o texto de Lima de 1982) às Igrejas, pedindo-lhes uma resposta oficial, como uma etapa vital em todo este processo ecumênico. 

Este trabalho não foi realizado somente por Fé e Constituição. Os três temas do batismo, da eucaristia e do ministério têm sido objeto de pesquisa em muitos diálogos ecumênicos. Os dois principais tipos de conversações entre Igrejas, o tipo bilateral e o tipo multilateral, provaram ser complementares e mutuamente benéficos. Os três relatórios do Fórum sobre as conversões bilaterais mostram-no claramente: Concepções da unidade (1978), Consensos sobre textos de acordo (1979), Autoridade e recepção (1980) (série Faith and Order n° 107). Em consequência, a Comissão de Fé e Constituição, na sua própria pesquisa multilateral sobre os três temas, tentou construir, tanto quanto possível, sobre as descobertas particulares, conversações bilaterais. Com efeito, uma das tarefas da comissão é avaliar o resultado de todos estes esforços particulares em proveito do movimento ecumênico no seu conjunto. 

O testemunho das Igrejas locais que passaram já pelo processo da união, ultrapassando assim as divisões confessionais, foi igualmente importante para o desenvolvimento deste texto. É importante reconhecer que a procura da união das Igrejas locais, assim como a procura de um consenso universal, estão intimamente ligadas. 

Talvez ainda mais influentes que os estudos oficiais são as mudanças que ocorreram na vida das próprias Igrejas. Vivemos num momento crucial na história da humanidade. No seu caminhar para a unidade, as Igrejas interrogam-se acerca da relação existente entre as suas compreensões e práticas do batismo, da eucaristia e do ministério, e a sua missão na e para a renovação da comunidade humana, ao procurarem promover a justiça, a paz e a reconciliação. Este texto não pode, pois, ser dissociado da missão redentora e libertadora de Cristo por intermédio das Igrejas no mundo moderno. 

Como resultado dos estudos bíblicos e patrísticos, da renovação litúrgica e da necessidade de um testemunho comum, surgiu uma comunhão fraterna ecumênica que transcende frequentemente as fronteiras confessionais e na qual as antigas diferenças passam a ser vistas sob uma nova luz. Assim, não obstante a linguagem deste texto ser ainda muito clássica no seu esforço de reconciliação das controvérsias históricas, ele tem uma intenção claramente contemporânea inserida nos contextos modernos. Este espírito estimulará certamente muitas reformulações do texto nas linguagens variadas do nosso tempo. 

Até onde nos conduzirão estes esforços? Como é manifesto no texto de Lima, atingimos, já, um notável grau de acordo. Certamente, não chegamos ainda, completamente, a um consenso (consentire), compreendido aqui como a experiência de vida e de expansão da fé necessária para realizar e manter a unidade visível da Igreja. Um tal consenso está enraizado na comunhão fundada sobre Cristo e o testemunho dos apóstolos. Sendo dom do Espírito, ele se realiza como uma experiência partilhada antes de poder ser expresso por palavras, num esforço combinado. Um consenso completo não pode ser proclamado senão depois das Igrejas terem atingido o ponto em que elas podem viver e agir em conjunto na unidade. 

No caminho em direção ao fim da unidade visível, contudo, as Igrejas terão de passar por diversas etapas. Elas têm sido abençoadas de novo pela escuta mútua e o retorno, em conjunto, às fontes originais, isto é, à Tradição do Evangelho atestada na Escritura, transmitida na e pela Igreja, pelo poder do Espírito Santo (Conferência Mundial de Fé e Constituição, 1963). 

Ao abandonarem as oposições do passado, as Igrejas começaram a descobrir numerosas convergências plenas de promessas em convicções e perspectivas que elas partilham. Essas convergências asseguram-nos de que, não obstante toda a diversidade na expressão teológica, as Igrejas têm muito em comum na sua compreensão da fé. O texto que daí resulta tende a tornar-se parte do reflexo fiel e suficiente da Tradição cristã sobre elementos essenciais da comunhão cristã. No processo de um crescimento comum, com uma confiança mútua, as Igrejas devem desenvolver essas convergências doutrinárias, etapa por etapa, até serem capazes finalmente de declarar, em conjunto, que vivem em comunhão umas com as outras, na continuidade dos apóstolos e dos ensinos da Igreja universal. 

Este texto de Lima representa as convergências teológicas significativas que Fé e Constituição discerniu e formulou. Aqueles que sabem quanto as Igrejas têm divergido na doutrina e prática do batismo, da eucaristia e do ministério podem aperceber-se da importância da medida do acordo aqui registrada. Praticamente, todas as confissões tradicionais estão representadas na Comissão. Que teólogos de tradições tão profundamente diferentes possam ser capazes de falar com uma tal harmonia sobre batismo, eucaristia e ministério: eis um fato sem precedentes no movimento ecumênico moderno. Note-se com particular atenção, o fato de que a Comissão reúne igualmente entre os seus membros de pleno direito, teólogos da Igreja Católica Romana e de outras Igrejas que não pertencem ao Conselho Mundial de Igrejas. 

No decurso de uma avaliação crítica, a intenção primeira deste texto ecumênico deve estar bem presente no espírito. O leitor não deve esperar encontrar nele uma exposição teológica completa sobre o batismo, a eucaristia e o ministério. Não seria nem apropriado nem desejável. O texto de acordo concentra-se intencionalmente sobre os aspectos do tema que estão diretamente ou indiretamente em relação com os problemas do reconhecimento mútuo conducente à unidade. O texto principal mostra os domínios de convergência teológica mais importantes; os comentários que a ele se ajuntam indicam quer diferenças históricas ultrapassadas, quer pontos controversos a exigir ainda pesquisa e reconciliação. 

À luz de todos estes desenvolvimentos, a Comissão de Fé e Constituição apresenta agora este texto de Lima (1982) às Igrejas. Fazemo-lo com uma convicção profunda, pois temo-nos tornado cada vez mais conscientes da nossa unidade no Corpo de Cristo. Encontramos motivos para nos alegrarmos ao descobrirmos as riquezas da nossa herança comum no Evangelho. Cremos que o Espírito Santo nos conduziu até este tempo, kairos do movimento ecumênico, em que as Igrejas infelizmente divididas sentiram-se capazes de chegar a acordos teológicos substanciais. Cremos que numerosos progressos significativos são possíveis, se, nas nossas Igrejas, tivermos suficiente coragem e imaginação para acolher o dom da unidade que Deus nos concede. 

Como sinal do seu empenho ecumênico, as Igrejas são convidadas a tornarem viável o mais amplo empenho do povo de Deus, a todos os níveis da vida da Igreja, no processo espiritual de recepção deste texto. Em apêndice, dão-se algumas sugestões particulares em relação ao uso deste texto no culto, no testemunho e na reflexão das Igrejas. 

A Comissão de Fé e Constituição convida agora, respeitosamente, todas as Igrejas a prepararem uma resposta oficial a este texto, no mais elevado nível conveniente de autoridade, seja um Conselho, seja um Sínodo, seja uma Conferência, seja uma Assembleia ou qualquer outra instituição. Para ajudar o processo de recepção, a Comissão gostaria de conhecer tão precisamente quanto possível: 

• até que ponto a sua Igreja pode reconhecer neste texto a fé da Igreja através dos séculos; 

• as consequências que a sua Igreja pode tirar deste texto para as suas relações e diálogos com outras Igrejas, particularmente com as Igrejas que reconhecem também o texto como uma expressão da fé apostólica; 

• as indicações que a sua Igreja pode receber deste texto, no que respeita à sua vida e ao seu testemunho no nível do culto, da educação, da ética e da espiritualidade; 

• as sugestões que a sua Igreja pode dar para a continuidade do trabalho de Fé e Constituição, no que diz respeito à relação entre o material deste texto, sobre o batismo, a eucaristia e o ministério, e o seu projeto de pesquisa a longo prazo, sobre A expressão comum da fé apostólica hoje. 

A nossa intenção é, na oportunidade de uma futura Conferência Mundial de Fé e Constituição, comparar todas as respostas oficiais recebidas, publicar os resultados e analisar as implicações ecumênicas para as Igrejas. 

Todas as respostas a estas questões deverão ser enviadas até 31 de dezembro de 1984 ao secretariado de Fé e Constituição, Conselho Mundial de Igrejas, 150 route de Ferney, 1211 Genève 20, Suisse. 

William H. Lazareth - Diretor do Secretariado de Fé e Constituição
Nikos Nissiotis - Moderador da Comissão de Fé e Constituição

Veja sumário aqui.
 


Autor(a): William H. Lazareth e Nikos Nissiotis
Âmbito: IECLB / Organismo: Conselho Mundial de Igrejas - CMI
ID: 20825
Ó Senhor, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra.
2Reis 19.15
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