Ainda consigo perceber e falar sobre o amor de Deus?
Pelo que bate o meu coração?
Somos Igreja, não igreja de massa, mas de muitos braços: o que em uma Comunidade é razão de júbilo, não necessariamente também o é em outra... Depende pelo que bate o coração dos Ministros, das Ministras e das lideranças das Comunidades. Em cada Campo de Atividade Ministerial, encontramos diferentes motivos para jubilar e também para lamentar. A partir disso, olhamos para o futuro, sonhando com o amanhã que virá: agora são outros 500.
Entre os motivos a jubilar, destacamos:
- vivemos em uma realidade na qual cada vez menos se procura por bênção matrimonial, mas, ao mesmo tempo, constatamos que há uma preocupação por parte de muitos casais de edificarem o seu relacionamento sobre uma base sólida e isso transparece na boa qualidade do trabalho que está acontecendo em nosso Sínodo com Casais Reencontristas;
- o trabalho com mulheres é razão de grande júbilo, pois, em um tempo em que não se tem mais tempo, encontramos as mulheres se colocando a caminho para participar dos diferentes encontros de formação e de comunhão, seja em nível de Comunidade, Sínodo ou até nacional;
- em meio às inúmeras atividades que absorvem tempo e dons das lideranças das nossas Comunidades, motivamos as mesmas a buscarem informações e instrumentos que ajudem para uma melhor gestão da vida de Comunidade. Nesse sentido, a Diretoria Sinodal se colocou a caminho para, junto com as lideranças, em Encontros de Presbíteros e Presbíteras, procurar estabelecer um canal de comunicação entre as Comunidades e a estrutura sinodal;
- vivemos em tempo de profundas mudanças e isso faz com que seja necessário buscar novas maneiras de semear e fazer chegar a Palavra de Deus aos diferentes braços e grupos em nossas Comunidades. Com alegria, constatamos que há muitas lideranças percebendo a necessidade de buscar novas ferramentas e maneiras de ser e viver Comunidade neste tempo de tantas transformações. Como exemplo, temos os Seminários de Capacitação, entre eles Comunidades Criativas, pois têm sido oportunidades para ajudar pessoas a se soltarem e a aprenderem novas maneiras de transmitir a Palavra de Deus às diferentes gerações.
Quais são os nossos arrependimentos? Humildemente, confessamos que, no gerenciar o tempo e os dons com os quais Deus nos agracia a cada dia, esquecemos que Ele nos convida a sermos, como filhos e filhas, pessoas trabalhadoras na sua Seara. Neste tempo do ‘correria’, é cada vez mais difícil conseguir motivar pessoas para ajudar na vida da Comunidade. A prática tem mostrado que pessoas somente se engajam e trabalham naquilo pelo qual o seu coração bate.
Nos últimos anos, foi produzida uma infinidade de material de ótima qualidade pela Igreja. Os materiais ajudam a instrumentalizar pessoas que trabalham em diferentes setores da vida da Comunidade. Houve preocupação e orientações práticas para ajudar a colocar em dia aspectos documentais e legais da vida da Comunidade, além de melhorar os seus espaços físicos, em busca de aconchego e conforto. No entanto, percebemos que, cada vez mais, falta paixão pela vida em Comunidade, paixão que brota como resposta à Palavra de Deus.
Estamos engessados por nossas tradições e nossos costumes. Na prática do dia a dia, convivemos com uma relativa tranquilidade em relação às mudanças que vão acontecendo na nossa vida, no nosso trabalho, nas nossas relações, mas acreditamos que, na vida de Comunidade, não é necessário mudar, pois, afinal, ‘isto sempre foi assim’. Sofremos com a morosidade e a lerdeza com que mudanças são aceitas e introduzidas na vida da Comunidade, mudanças estas que devem contextualizar a Palavra de Deus e o nosso jeito luterano de compreender e testemunhar a Palavra de Deus em palavras e ações.
Como pessoas que se sabem parte da grande família de Deus, que se alimenta da Palavra do Senhor e se deixa guiar e transformar pela mesma, para desta forma poder ser fermento que transforma a realidade que nos cerca, percebemos e confessamos que, lamentavelmente, inúmeras vezes acontece justamente o contrário: é o mundo, com o seu egoísmo e individualismo, que contagia a vida de Comunidade e a aprisiona, fazendo com que a vida abundante que Deus deseja para todas e todos nós esteja a perigo. Com isso, a prática do amor se torna algo exclusivo e não mais inclusivo.
P. Bruno Ari Bublitz | Pastor Sinodal do Sínodo Centro-Campanha-Sul