Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 822

Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 09:31

Unidade

Série Especial Eu sou o SENHOR, teu Deus

Será? Será mesmo que o Deus de Jesus Cristo é o nosso único Deus? Será que podemos fazer essa confi ssão com sinceridade e verdade? Pensemos um pouco...

Os Mandamentos foram entregues a um povo livre, livre da escravidão, livre de amarras injustas, livres para celebrar e viver. Deus os libertou, livrou da escravidão e desejava que assim permanecessem, livres, afirmou: Eu sou o Senhor, teu Deus. (Ex 20.1ss). Esse povo vivia em uma realidade na qual crer e servir a muitos deuses (politeísmo) era ‘normal’. Na época, os reis cultuavam os seus deuses e também ordenavam que as pessoas fizessem o mesmo. (Moloque, Lv 20.2-5, Baal, 1Rs 16.31-32 e 18.21-40, 2Rs 10.21-18 e 23.5, Jz 6.32, 8.33 e 9.4 e 9.46 e Jr 11.12).

Diante dessa realidade conturbada, o Deus de Israel coloca-se como orientador: Eu sou o Senhor, o Deus de vocês. Deus desejava organizar o caos. Ele deseja ser o guia, aquele que mostrou e que mostraria como dar cada passo, mas a impaciência diante do tempo de Deus despertou no coração do seu povo a vontade, o desejo de um novo deus, alguém que atendesse às necessidades conforme a sua vontade.

A demora de Moisés no Monte, a falta de orientação, os medos e as incertezas fizeram o povo de Deus pecar, afastar-se da sua presença. Esse povo, carente, liberto, mas ainda escravo de ordens, escravo dos seus próprios interesses, construiu um bezerro de ouro e o colocou à frente, para que orientasse e conduzisse os próximos passos (Ex 32.1ss).

A impaciência e a incapacidade de esperar Deus e crer que Ele caminha conosco nos fez e nos faz pecar. Desconfiamos de Deus e, em nossa desconfiança, nos afastamos de Deus e colocamos outras coisas em seu lugar.

A impaciência e a incapacidade de esperar Deus e crer que Ele caminha conosco nos fez e nos faz pecar. Desconfiamos de Deus, desconfi amos e não cremos firmemente que Ele seja única fonte eterna de amor. Em nossa desconfi ança, nos afastamos de Deus e colocamos outras coisas em seu lugar. Construímos ‘bezerros’. Aqui, cabe perguntar: O que você tem colocado no lugar de Deus? Por que coisas você tem substituído o Deus de Jesus Cristo, o nosso único Senhor?

Voltemos às perguntas do começo: Será mesmo que o Deus de Jesus Cristo é o nosso único Deus? Será que podemos fazer essa confissão com sinceridade e verdade? Será que também nós não somos impacientes? Será que não brigamos com Deus na busca por respostas às nossas inquietações, por cura para as nossas dores? Será que o silêncio de Deus também não nos faz buscar alternativas?

Crer que Deus é o nosso único Deus é jogar-se no escuro, é confi ar e persistir, apesar do silêncio, da demora, do medo e das incertezas. É crer fi rmemente que, em meio à tempestade, por maior que ela seja, e ainda que não percebamos, Deus conosco está. Impossível não lembrar do testemunho de Jó. Ele era temente a Deus, um homem bom, honesto e caminhava em fidelidade à vontade de Deus. Jó perde os seus bens, perde a sua família, fica com a saúde debilidade e afi rma: Nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer. O Senhor deu, o Senhor tirou. Louvado seja o seu nome! (Jó 1.21).

Nem mesmo diante do caos que a sua vida se transforma, Jó pecou contra Deus, por nenhum só instante pronunciou qualquer palavra insensata contra Deus. Verdade que desejou morrer, que quis que o seu sofrimento tivesse fim, mas ainda assim não insultou Deus. Diante das provocações dos seus amigos, que Deus o havia abandonado e tudo o que estava passando era fruto do seu pecado, Jó responde: Pois eu sei que o meu defensor vive. No fi m, ele virá me defender aqui na terra. Mesmo que a minha pele seja toda comida pela doença, ainda neste corpo eu verei a Deus. Eu o verei com os meus olhos. Os meus olhos o verão e ele não será um estranho para mim. Desejo tanto que isso aconteça! (Jó 19.25-27). Suplicar e pedir por uma fé como a de Jó talvez seja um bom começo. Apesar das difi culdades, apesar do sofrimento, Deus comigo está!

Lutero reconheceu: crer que Deus é o nosso único Senhor exige uma fé madura, genuína e uma confiança de coração. Deus designa aquilo do qual se deve esperar todo o bem e em que devemos refugiar-nos em toda apertura. Portanto, ter um Deus outra coisa não é senão confi ar e crer nele de todo o coração. Se são verdadeiras a fé e a confiança, verdadeiro também é o teu Deus. Inversamente, onde a confiança é falsa e errônea, aí também não está o Deus verdadeiro. Fé e Deus não se podem divorciar. Aquilo, pois, a que prendes o coração e te confi as, isso, digo, é propriamente o teu Deus (Catecismo Maior).

Lutero, em sua explicação sobre o Primeiro Mandamento, diz que toda a pessoa que confessa a Deus como o seu único Senhor confia exclusivamente nele e reconhece que todas as coisas das quais necessita para viver vêm das suas bondosas e amorosas mãos. Deus nos sustenta integral, inteira e incondicionalmente. Além de nos dar tudo o que precisamos, Ele nos preserva de infortúnios e, quando algo nos sobrevém, nos salva e liberta. Lutero relacionou a designação Gott (Deus), da Língua Alemã, com gut (bom), dizendo: por ser Ele (Deus) fonte eterna que transborda de pura bondade e do qual mana tudo o que é e se chama ‘bom’ (Catecismo Maior).

Crer e confessar que Deus é o nosso único Senhor só é possível a partir da fé, uma fé genuína e madura, dom do próprio Deus, como Lutero mesmo afi rmou. Por meio da fé, Deus se relaciona conosco e nos relacionamos com toda a Criação. Por muito tempo, Lutero viveu e foi conduzido por uma fé em um Deus severo, exigente e punitivo. O estudo das Sagradas Escrituras e o seu desejo de crescimento na fé permitiram o seu encontro com o Deus da Graça, o Deus de Jesus Cristo. Ao saberse amado por Deus tal qual era, pecador, Lutero reconhece a sua incapacidade de alcançar Deus, mas sabe-se alcançado e cuidado. Muitos ‘bezerros de ouro’ foram destruídos com esse profundo e grandiosos encontro.

Vivemos em uma realidade consumista e hedonista. Estamos sempre em uma busca egoísta por saciar os nossos desejos. Esses mesmos sentimentos de insatisfação, incapacidade e infelicidade, impostos pela sociedade capitalista, é transferido para a nossa vida de fé. Desejamos pregações, louvores e encontros que saciem os nossos desejos, as nossas vontades e que curem a nossa solidão. Desejamos um Deus que nos sirva tal qual a nossa vontade. Quando assim não for e não acontecer, quando Deus demorar, nós o julgamos: ‘Deus nos abandonou’ e construímos os nossos ‘bezerros de ouro’, algo concreto que dará ‘sentido’ à nossa vida.

Crer que Deus é o nosso único Deus é jogar-se no escuro, é confiar e persistir, apesar do silêncio, da demora, do medo e das incertezas. É crer firmemente que, em meio à tempestade, ainda que não percebamos, Deus conosco está.

Onde buscamos respostas quando cremos ter sido abandonados e abandonadas por Deus? As respostas a essas perguntas são os ‘bezerros’ que construímos, são os deuses aos quais nos apegamos. Algumas pessoas procuram outra religião. Algumas simplesmente não procuram nada. Outras se atiram no mundo dos jogos, vícios, curandeiros, superstições, simpatias e crendices. Outras vivem escravizadas pelo trabalho, pelo dinheiro e pela ganância do ‘ter mais e mais’.

Às vezes, não precisamos sequer nos sentir desamparados e desamparadas por Deus para ir em busca de algo diferente. Não! Tudo isso se mistura à nossa fé. Quer dizer, eu creio em Deus, eu creio no Deus de Jesus Cristo, nosso Senhor, mas... mas também creio nisso, naquilo e naquele ou tro. Agarro os meus ‘bezerros de ouro’ com todas as minhas forças. Aí preciso confessar... Deus não é o único Deus em minha vida. Ele não é o Senhor da minha história.

Temos dificuldades para reconhecer que Deus continua sendo Deus, o único, se a porta abrir ou se fechada ficar, se a cura vier ou se a doença prevalecer, se tudo der certo ou se não der. Deus continua sendo Deus apesar das nossas desconfi anças.

Reconhecer Deus como o nosso único Senhor diante de um comércio tão variado da fé é confi ar apesar do silêncio, é ser paciente, é permanecer firme, é ter convicção, é crer apesar de não ter respostas, é reconhecer em cada traço da vida o cuidado e amor por nós. Reconhecer Deus como o nosso único Senhor nos faz lutar e denunciar todos os ‘bezerros’ que escravizam. Reconhecer Deus como o nosso Senhor nos liberta, dignifica e coloca em seu colo amoroso, pois reconhecer que Deus é o nosso único Senhor é reconhecer que Deus será sempre Deus ‘apesar de’.

Não tenham medo! Não tenham medo de quebrar os ‘bezerros’ que construímos! Joguem-se! Joguem-se, ainda que nada vejam! Confi em, pois o Deus do nosso Senhor Jesus Cristo nos carrega e carregará em meio às nossas tempestades e roguemos também que Ele afaste de nós a impaciência, as dúvidas, o desespero e preencha o nosso ser com confi ança, esperança e a sua sabedoria.

Que as palavras da canção Fonte eterna de amor (LCI567), do P. Rodolfo Gaede Neto, sejam a nossa oração em tempos de aflição, em tempos de angústia e que elas nos lembrem que, apesar de tudo, repousamos nos bondosos braços de Deus, pois Ele é o nosso único Senhor: 

Canção do Cuidado
Fonte eterna de amor
que transbordas de bondade
te derramas em favor
de toda humanidade.
Vem me dar a tua mão
e conduze a minha vida.
Nestes tempos de aflição
concede-me guarida.
Sob a luz do teu olhar
sigo em paz a minha estrada,
Pois eu sei que vais guiar
cada passo da jornada.
Vem, Senhor, me carregar
nos momentos de cansaço.
Caso eu venha tropeçar
que eu caia em teu abraço.

Pa. Vera Regina Waskow, Ministra na Paróquia Cristo Salvador, em Curitiba/PR

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