Jornal Evangélico Luterano

Ano 2014 | número 776

Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 01:20

Unidade

Lutero - Reforma: 500 anos

   Digamos que o culto, na sua Comunidade, comece às 10 ho- para a glória de Deus. ras, no domingo pela manhã. Certamente, algumas pessoas já estarão envolvidas com o culto há pelo menos uma hora: a equipe de liturgia, as Musicistas, pessoas ocupadas com o trabalho com crianças, a Ministra ou o Ministro, pessoas que cuidam da zeladoria. Todos envolvidos com algum movimento, com alguma tarefa. Outras pessoas chegarão ‘em cima da hora’, por diversos motivos. Algumas chegarão depois do horário. Algumas terão deixado para trás pessoas de quem cuidam para irem ao culto, muito alertas – quem sabe, deixarão o celular ligado, para o caso de ocorrer alguma emergência. Outras terão organizado e adiantado várias tarefas para o dia, se ocupado com a preparação do almoço, arrumado as crianças para irem ao culto – estão agitadas. Algumas terão se preparado com calma, talvez até com um momento de leitura bíblica e oração em casa.

   Chegamos ao culto assim, com uma gama infinita de pensamentos, ocupações, preocupações, apreensão, alegria, cansaço, ansiedades, contrariedades, gratidão... Ali, no meio desse povo, Deus está.

   Então, começa o prelúdio. Ele ajuda este povo, que estava disperso, a se colocar em um mesmo ânimo diante de Deus. É como se fizesse uma moldura para dentro de outro momento da vida, momento este que trará refl exos do e para o cotidiano, mas que não é trivial nem corriqueiro: é o culto.

   Prelúdio ajuda para a percepção de que Deus está aqui, onde eu e os meus irmãos, as minhas irmãs, que talvez nem conheça tão bem, chegamos dispostos a estar em comunhão. Está tudo preparado, organizado, o culto irá começar! A palavra prelúdio está associada a algo que precede ou anuncia algo.

   Olhando para o cenário descrito, seria uma lástima para o sentido de preparo do culto se os instrumentistas decidissem usar, para o prelúdio, a melodia da canção que está na moda ou a trilha de algum filme de sucesso ou se instrumentistas estivessem tão inseguros e mal preparados que tropeçassem a cada nota tocada.

   A música instrumental pode estar no culto, assim como o acompanhamento dos cantos pelos diversos instrumentos que temos à disposição pode ajudar o canto comunitário. A ideia tão enfatizada por Lutero, da música como criação divina, abre as portas para que instrumentistas possam desenvolver os seus talentos e as suas habilidades até o mais alto grau possível. Lutero mesmo tocava alaúde, transcrevendo os arranjos vocais da polifonia para o instrumento e fazendo acompanhar o canto. Sempre precisamos lembrar que a música é uma linguagem que fala além das palavras pronunciadas, portanto comunica e dialoga com as pessoas.

   A música não deverá ter a finalidade de atrair mais pessoas ou embelezar a liturgia simplesmente. No culto, a música é serva da Palavra, é proclamação e Ministério – concomitantemente. Portanto, a ênfase não está na performance do instrumentista nem deve recair sobre ele a centralidade da ação. Deve, sim, apontar para além de si, para a glória de Deus. Independente da Palavra ser proclamada por fala ou música, deve ser fi el ao Evangelho. É por isso que não serve a música que refl ete descuido, superficialidade, banalidade ou presunção, pois contradiz a verdade, honestidade e integridade do Evangelho. Nesse sentido, nos ajuda entender a música como autodoação: não há nada que alguém faça ou possua somente para si. O que cada um tem pertence também ao outro.

   Música no culto não é apenas para se escutar, mas algo de que se participa! O povo não somente se faz presente no culto, mas é ativo na ação litúrgica. Louvor, proclamação e adoração devem envolver todo o povo de Deus. Como fica uma execução instrumental, nesse contexto? Devemos considerar que também uma escuta ativa é participação, mas nem sempre estamos preparados para tal escuta ativa. Talvez fosse importante desenvolvermos uma disciplina pessoal de escuta: fechar os olhos, concentrar na própria respiração e usufruir da música executada.

   A música não deverá ter a finalidade de atrair mais pessoas ou embelezar a liturgia simplesmente. No culto, a música é serva da Palavra, é proclamação e Ministério – concomitantemente. Portanto, a ênfase não está na performance do instrumentista nem deve recair sobre ele a centralidade da ação. Deve, sim, apontar para além de si, Digamos que o culto, na sua Comunidade, comece às 10 ho- para a glória de Deus.

   Os momentos nos quais se pode inserir a música instrumental no culto são diversos, mas pontuais. Não é essa a prática que se quer adotar como regra. Queremos ouvir o canto, como voz do povo na liturgia. Sugerimos abaixo alguns momentos nos quais se pode, ocasionalmente, inserir a música instrumental:

- Processional ou procissão de entrada: é utilizada em festividades ou cultos que envolvem deslocamentos de pessoas, tais como Casamentos e Confirmações – sempre que houver entradas solenes. Esta música não faz parte do culto formal, mas é a caminhada dos oficiantes, coro e outros participantes, representando a chegada do povo reunido por Deus.

- Prelúdio: este momento serve de preparação para o culto. Ele é parte integrante do culto.

- Ofertório: pode ser utilizada música instrumental no momento da entrega das ofertas ou na preparação da mesa para a Ceia.

- Poslúdio: é a música que anuncia o término do culto e o retorno à vida cotidiana. Trata-se do fechamento da moldura iniciada no prelúdio. Há duas maneiras de interpretá-lo. Na primeira, após os últimos acordes do poslúdio é que se fi naliza o momento litúrgico do culto e as pessoas ouvem na mesma atitude do prelúdio. Em outra interpretação, o poslúdio está ligado ao envio, portanto ligado ao movimento. Nesse caso, há deslocamento de pessoas durante esse momento, inclusive com cantos que possam lembrar caminhada, o ide, e outras palavras que incentivem a ação da Igreja no mundo.

- Recessional ou procissão de saída: representa a saída do povo, atendendo a ordem de Deus para ir anunciar o Evangelho. Dessa forma, está associado ao que acima dissemos do poslúdio. A nossa prática mais comum é utilizar somente uma música para poslúdio e procissão de saída.

  

   Até aqui, temos nos detido à música instrumental, mas há também o acompanhamento do canto comunitário. Acompanhar a Comunidade no seu canto é uma tarefa cheia de dignidade, um serviço que se presta ao corpo de Cristo reunido, por isso, mesmo que instrumentistas não cantem, estão fazendo parte do canto comunitário. Não fazem música pela Comunidade. O acompanhamento está inserido na ideia do sacerdócio geral de todas as pessoas que
creem, o qual reveste de humildade e dignidade o ofício 3de cada pessoa cristã. Toda a música do culto é o canto provindo do sacerdócio geral. Todos são encorajados, independente do nível de habilidade individual, a se juntar ao louvor comunitário.

   A democracia não levou Lutero a adotar baixos padrões de música ou a abandonar a beleza e a ordem. Então, que critérios são importantes, para ajudar
a Comunidade no seu canto comunitário?

  

   Se o canto é a voz do povo na liturgia, é necessário entender o significado da palavra acompanhar (andar junto) e da palavra conduzir (levar, orientar pelo caminho). Não é, como temos ouvido, puxar o canto. Aliás, tal termo não é condizente com a nossa Teologia nem expressa a função que um instrumentista (ou alguém que conduz o canto) realiza. Deveríamos abolir o termo puxar o canto do nosso vocabulário.

   Então, a tarefa do instrumentista é dupla: acompanhar e conduzir. Na introdução do hino, quando dá o tom para um canto litúrgico, o instrumentista propõe um andamento, uma tonalidade, na qual o corpo de Cristo reunido irá se inserir, para caminhar junto musicalmente. Daí a importância de criar arranjos para realçar o canto, com excelência, simplicidade e profundidade. Não é hora para fazer experimentos musicais que deixem a Comunidade confusa nem para propor andamentos muito rápidos ou muito lentos nem para propor tonalidades fáceis para o instrumento, mas impossíveis de serem cantadas pela Comunidade. Não é a vontade do instrumentista que prevalece, mas a possibilidade de participação efetiva da Comunidade é o parâmetro norteador.

   Nesse sentido, instrumentistas são pessoas que estão em alerta durante o decorrer da liturgia e bem orientados pelas demais pessoas que se ocupam com a preparação da mesma, para evitar cortes, surpresas e mudanças inesperadas que venham a atrapalhar a boa condução do culto. É claro que tudo no culto, mesmo preparado, ensaiado e organizado, está sujeito à ação do Espírito Santo, o que sempre pode trazer novas contingências – por isso deve-se estar alerta! No entanto, isso não pode servir de motivo para não haver preparo ou entrosamento.

   Instrumentistas, com os seus mais diversos instrumentos, têm se colocado a serviço da Igreja. Graças a Deus por isso! Queira Deus que mais pessoas se motivem para auxiliar em tal serviço. Com ânimo e entusiasmo, realizemos a tarefa!

  

Mus. Dra. Soraya Heinrich Eberle, Bacharel em Regência Coral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Mestre e Doutora em Teologia pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, é Professora na Faculdades EST e no Colégio Pastor Dohms, em Porto Alegre/RS, e Coordenadora de Música da IECLB

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