Celebração de Jubileus



ID: 2880

Comunidade de Funil, Minas Gerais, completa 100 anos

01/10/2017

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100 anos da Comunidade Evangélico-Luterana de Funil
500 anos da Reforma Protestante

Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.
Salmos 126:3

Ao celebrarmos os 100 anos da Comunidade Evangélico-Luterana de Funil temos a feliz coincidência de celebrarmos também os 500 anos da Reforma Protestante. Neste sentido, a comunidade de Funil carrega nestes 100 anos de história muito do espírito que moveu o movimento da Reforma Protestante: as Sagradas Escrituras como centro e guia da fé em comunidade e o firme apego à compreensão de que a Igreja vive a sua fé participando do mundo.

A Comunidade de Funil está localizada no Córrego Funil, zona rural do município de Conceição de Ipanema, leste de Minas Gerais. É formada basicamente por descendentes de alemães/ãs migrados/as do município Mar de Espanha/MG, em 1917, compostos, principalmente, pelas famílias Saar, Kaizer, Keller, Grosmann, Braun. Essas famílias são descendentes de imigrantes alemães/ãs contratados/as por uma empresa de construção de estradas e ferrovias, a Cia União e Indústria. Vieram ao Brasil com o objetivo de construir a Rodovia União Indústria, que ligaria as cidades do Petrópolis (RJ) a Juiz de Fora (MG), a pedido do Imperador Dom Pedro II. Os/as primeiros/as imigrantes alemães/ãs contratados/as por esta empresa aportaram no Rio de Janeiro no ano de 1858. Além da viagem estafante feita por carroças de tração animal do Rio de Janeiro a Juiz de Fora, deparam-se com situações precárias de moradia e de trabalho. Muitos ficaram doentes e morreram por causa da febre de tifo. Durante as décadas seguintes e início do século XX, a chegada de imigrantes de alemães/ãs continuou acontecendo.

Ao final (e mesmo durante) a construção da rodovia, muitos/as dos/as imigrantes se dispersaram pelo interior de Juiz de Fora, em busca de melhores condições de sobrevivência. Algumas famílias foram para o município de Mar de Espanha e lá constituíram uma comunidade, que se tornou ponto de pregação da Paróquia de Juiz de Fora. Em 1917, parte das famílias que viviam em Mar de Espanha se mudaram para a zona rural do município de Ipanema/MG (distrito de Nossa Senhora Conceição – futuramente Conceição de Ipanema - 1954).

As famílias que formariam a Comunidade de Funil chegaram a uma região com muitas matas virgens e poucas habitações. É preciso dizer que ainda hoje encontram-se ainda, em algumas cavernas da região, vestígios da presença de populações indígenas, denominadas pelos portugueses por Botocudos ou Aimorés. Com isso, evidencia-se a percepção de que a terra que os/as migrantes alemães/as encontraram já era povoada. Embora não haja relatos de que tenham tido contato com as populações indígenas, é importante reconhecer que viviam ali antes deles. Ao se fixar em Funil, as famílias iniciaram o processo de colonização das terras da região e o início da agricultura. O cultivo de cereais como arroz, feijão, milho, a criação de animais, o cultivo de frutas e verduras forneceu as condições de subsistência da comunidade. Posteriormente, iniciaram o cultivo de café, que é típico da região e a maior fonte de renda dos agricultores da região do leste de Minas Gerais, como também a instalação de pequenas agroindústrias de açúcar mascavo e rapadura.

Ao mesmo tempo em que as famílias se preocupavam com a agricultura de subsistência, procuraram também manter sua tradição cultural e religiosa. Apesar de estarem isolados de outras comunidades de tradição luterana, houve um profundo esforço de manter vivo os cultos, a liturgia e os hinos que identificavam a comunidade como sendo luterana. Para tanto, construíram uma capela para os encontros e cultos semanais ao longo da década de 1920. Hoje no local da primeira capela está o cemitério da comunidade. Nos primeiros anos de existência, a comunidade foi assistida por obreiros das comunidades capixabas de São Bento e Crisciuma/ES, e, inclusive, por obreiros de outras denominações evangélicas da região. Mais tarde, após a Segunda Guerra – década de 1950 – começaram a ser assistidas nos ritos mais “imprescindíveis” como batismo e casamento por obreiros da Paróquia Luterana de Juiz de Fora, distante aproximadamente 300 km. Com isso, tornou-se ponto de pregação da Comunidade Evangélica Luterana de Juiz de Fora/MG. A atual capela da comunidade foi inaugurada no dia 19 de setembro de 1954.

O problema financeiro sempre foi a maior dificuldade da comunidade por conta do pequeno número de famílias-membro e do rendimento pequeno que a agricultura proporciona, o que não impediu as famílias de permanecerem fieis à tradição evangélico-luterana. Neste sentido, a prática do mutirão para cultivar lavouras de cana de açúcar e café que forneciam dividendos exclusivamente para custear a estrutura da comunidade foi uma prática constante. Evidentemente que a comunidade contou e ainda conta com ao apoio financeiro da IECLB e do Sínodo Sudeste.

O que faz a história da Comunidade de Funil ser especial é o fato de que sobreviveu por longo período sem a assistência regular de ministro/a ordenado/a. Isso desde 1917 com a chegada das primeiras famílias até 1975, com as visitas do então pastor de Juiz de Fora Oziel Campos de Oliveira Júnior, que procurou levantar informações para um possível estabelecimento institucional da Comunidade dentro da estrutura da IECLB. Com a presença pastoral constante a partir de 1976, a comunidade elaborou seus estatutos. Com o passar do tempo as famílias da comunidade foram crescendo e as novas famílias se mudando para os municípios vizinhos de São José do Mantimento e Chalé, onde se formaram pontos de pregação e, atualmente, comunidades da Paróquia de Funil.

Com isso também uma das características da presença luterana na região ficou ressaltada: a participação de membros da comunidade na vida pública dos municípios. Durante os anos 1960 e 70, os senhores Walfrid Saar (de 1955-59; 73-77) e Willy Kaizer (1959-63; 63-67) foram eleitos vereadores de Conceição de Ipanema. Na década de 1970, Willy Kaizer, após se mudar do córrego de Funil, foi prefeito do município de Chalé por dois mandatos (anos de administração). Seguindo esta tradição, Germano Saar foi eleito vereador de Conceição de Ipanema por 3 mandatos (1989-92; 1993-96 e 1997-2000). Neste período, Gottfried Kaizer foi eleito prefeito de Conceição de Ipanema durante os mandatos de 1997-2000 e 2005-2008. Neste segundo mandato de 2005-2008, o vice-prefeito foi Wilfried Saar, que se elegeria prefeito de Conceição de Ipanema por dois mandatos (2009-12 e 2013-16). Em Chalé, Willi Arnold Kaizer Junior foi eleito vereador (2009-12) e vice-prefeito (2013-16). Em São José do Mantimento, Hildebrand Kaizer está em seu sexto mandato de vereador (1997-2000; 2001-04; 2005-08; 2009-12; 2013-16 e 2017-20).

Junto a esta atuação política, a trajetória da Comunidade de Funil contou com a participação significativa na área da educação, pois muito cedo houve o preparo de pessoas para atuarem como professoras das crianças. Neste sentido, lembra-se da dona Irene Bruno (Braun), primeira professora formada da comunidade, que atendia as crianças em sua casa. Após a construção da atual capela da comunidade também foi feito um prédio escolar, que abrigou, durante os anos de 1980 a 2000, uma escola multisseriada para atender membros da comunidade e da vizinhança nas séries iniciais da educação básica. E mais recentemente, a comunidade contribuiu com a construção e implementação de uma unidade da Escola Família Agrícola Margarida Alves.

Três características marcam a história da Comunidade de Funil: a) persistência na fé nos moldes da tradição luterana; b) a participação na vida pública; e c) a contribuição com a educação. Estes elementos são característicos do movimento que Lutero iniciou a 500 anos atrás na Alemanha. A participação na vida pública, no entender de Lutero, também é uma tarefa e um ministério do/a cristão/ã no horizonte do Sacerdócio Geral de Todos os Santos. E essa atuação pública está muito direcionada com a importância que Lutero deu para a educação das crianças e dos jovens, como um papel mais importante, inclusive maior que o do pastor na vida da comunidade.

Com isso, o esforço de manter-se fiel à tradição de fé luterana expõe também a importância das comunidades e da estrutura da IECLB de serem solidárias umas com as outras, preservando os ensinamentos de Paulo sobre a unidade do serviço da Igreja (1 Co 16). Neste momento de festividade a comunidade de Funil, como sempre aconteceu e é marca indelével de sua história, revive, de modo muito intenso, a celebração e a vivência do Reino de Deus pregado e vivido por Cristo ao redor da mesa, com o repartir do pão. Ao redor da mesa porque a Comunidade de Funil subsistiu ao longo deste um século cultivando e preparando alimentos para proporcionar momentos de comunhão, com profundo senso de comensalidade e hospitalidade. Revisitar a história da Comunidade de Funil é reconhecer a vivência da fé através das muitas dificuldades da vida humana, mas com profunda prática cotidiana de partilha e solidariedade, proporcionado pelo poder do Espírito Santo.

Escrito por: 

Willian Kaizer de Oliveira
Doutor em Teologia – Faculdades EST
Nascido e criado em Funil
Conceição de Ipanema/MG
 


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