A Bênção Matrimonial na Perspectiva Evangélica

Artigo

04/02/1988

A BÊNÇÃO MATRIMONIAL NA PERSPECTIVA EVANGÉLICA

Werner Brunken

I - A Bênção Matrimonial na perspectiva evangélica

Para que a união entre duas pessoas tenha validade, é suficiente contrair núpcias na presença do Juiz de Paz. Para que esta união seja legalizada, é necessário apresentar documentos (certidão de nascimento) e testemunhas (que atestam não haver impedimento para que o casamento se realize).
Mas se além desta união no civil um casal deseja a bênção matrimonial na igreja, tal casal deve estar consciente que esta bênção é algo mais na sua vida conjugal. Este algo mais um casal, que procurou o pastor para casar, expressou com as seguintes palavras:

Desejamos no casamento religioso expressar a nossa fidelidade um ao outro diante de Deus, das testemunhas e da comunidade reunida. Por sermos pessoas cristãs, que colocamos a nossa vida à disposição de Deus já antes do casamento, desejamos neste ato renovar esta aliança com Deus. Desejamos receber a certeza que Deus, no seu poder, irá acompanhar-nos nesta nova etapa de nossa vida. Desejamos que ele nos una com o seu amor, perdão e aceitação mútua.

Martim Lutero, ao falar sobre a bênção matrimonial, disse: Aqueles que a instituiram pela primeira vez, que se conduzisse noiva e noivo para a igreja, na verdade não a consideraram uma brincadeira, mas algo muito sério; pois não há dúvida de que com isso eles quiseram buscar a bênção de Deus e a intercessão comunitária e não fazer comédia ou farsa pagã. Isso o próprio assunto o comprova. Pois, quem procura oração e bênção junto ao pastor ou bispo, com isto está a indicar em que perigo e dificuldade está entrando, e de quão elevada bênção divina e intercessão comunitária ele precisa para o estado em que ele agora se inicia; pois diariamente se percebo que desgraça o diabo provoca no estado matrimonial através do adultério, infidelidade, discórdia e toda sorte de miséria.

Estes testemunhos sobre a bênção matrimonial estão baseados naquilo que a Bíblia expressa sobre a vida entre pessoas de sexo oposto. Deus depois de criar a mulher, a entregou ao homem (Gn 2.22). Este disse: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2.23). E: Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne (Gn 2.24).

Deus colocou sua bênção sobre a vida de pessoas que se unem na sua presença. Esta bênção é expressa pela proteção, pelo acompanhamento, pelo perdão, pela aceitação mútua, pelo amor que Ele tem para com as suas criaturas.

Na bênção matrimonial na perspectiva evangélica não se trata de um sacramento, como é o caso na Igreja Católica Romana. Pois um sacramento não pode ser desfeito e onde houver separação, não há perdão. Sob a perspectiva evangélica a união é feita enquanto a vida durar, mas conta-se com a realidade do pecado e com a dureza do coração humano (Mc 10.2-12). Mesmo assim, sob a perspectiva evangélica não se pode abençoar casais que querem só experimentar se vai dar certo. Continua válido: O que Deus uniu, não o separe o homem. Quem coloca a vida matrimonial em oração na presença de Deus, receberá forças para viver esta união até que a morte os separe.

Podemos dizer que na bênção matrimonial Deus une duas pessoas sob a sua proteção. Esta união as compromete para viver unidas enquanto viverem. No amor são capazes de se doar uma a outra. Nesta união são abençoados por Deus para gerar filhos (Gn 1.28). Em tudo os dois são libertados para viver da sua graça o na comunhão com Ele.

No Manual de Ofícios da IECLB a bênção matrimonial é descrita como segue:

“O matrimônio é santa ordem de Deus Criador: Assim diz o Senhor: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”.

...Matrimônio cristão é santa comunhão. Assim o estudastes no Catecismo: Devemos temer e amar a Deus e, portanto, viver uma vida casta e decente em palavras e ações, e cada qual ame e honre o seu consorte.

...O matrimônio é serviço santo. Assim diz o apóstolo Pedro: Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1 Pd 4.10).

Como cônjuges cristãos andais por dias bons e maus sob a bênção de Deus. Assim está escrito: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Lançai sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós (1 Pe 5.7).

E no Guia Nossa Fé, Nossa Vida da IECLB diz que no ato da bênção matrimonial testemunhamos publicamente a nossa fé. Quer-se levar uma vida matrimonial em fé e amor, indissolúvel, conforme a vontade de Deus.

Assim bênção matrimonial na perspectiva evangélica acontece quando: o casal aceitando-se como homem e mulher, chegar ao consenso de se unir em matrimônio. Ao mesmo tempo este casal se sabe batizado e que recebeu a palavra de Deus; que foi salvo pelo sangue de Jesus; que orienta suas vidas nos mandamentos de Deus e que agora deseja viver sua união conjugal orientada por este Deus com todas as bênçãos, que até aqui tinha experimentado.

Bênção matrimonial sob a perspectiva evangélica dá a certeza que o Espírito Santo torna-se o Consolador na vivência do casal. O matrimônio faz parte da história de Deus com as suas criaturas, onde Ele se dá a conhecer na sua graça. Neste sentido a bênção matrimonial é indispensável para casais cristãos. Bênção matrimonial deve ser compreendida como sendo um culto a Deus, no qual o Ressurreto se chega ao casal para permanecer com ele até que a morte os separe.

II — E a Bênção Matrimonial para os divorciados?

Como já descrito acima a Bíblia conta com a realidade do pecado, com a dureza do coração humano, que não se deixa orientar pela vontade de Deus. Se Cristo derramou seu sangue pelos pecados da humanidade, derramou-o também para casais que erraram e se separaram. Havendo após a legalização do divórcio um novo casamento no civil, também sob a perspectiva evangélica podemos realizar uma bênção matrimonial desde que seja confessada a culpa, assumidas as consequências do vínculo desfeito e quando constatada a seriedade de um novo compromisso matrimonial (cf. Nossa Fé, Nossa Vida, p. 44).

III — Bibliografia

MANUAL DE OFÍCIOS da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. São Leopoldo, 1970.

REVISTA DO CEM. Matrimônio em debate. São Leopoldo, v. 5, n: 2, 1982.

NOSSA FÉ - NOSSA VIDA. Um guia de vida comunitária em fé e ação. 6: ed. São Leopoldo, 1981.

SEITZ, Manfred. Die Predigt bei der Trauung. In: BREIT, H. & SEITZ, M. Trauung. Stuttgart, 1975, p. 11-31 (Calwer Predigthilfen, s. n.).

Proclamar Libertação – Suplemento 2
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1988 / Volume: Suplemento 2
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7314
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Nenhum serviço agrada a Deus, seja ele enorme, quando este fere o próximo.
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