Não há, não, duas folhas iguais em toda a criação

A Deficiência ou a Pessoa com Deficiência

15/04/2014

PASTORAL

Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.

Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.

Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.
António Gedeão (Poesias Completas, 1956-1967 )

Após as belas palavras desse poema, senti-me motivada a compartilhar algumas informações sobre a Deficiência ou a Pessoa com Deficiência.

A preocupação com a inclusão vai muito além da acessibilidade do espaço físico, da qual muitas vezes nos limitamos e que são questões legais de direito. Na minha opinião, a maior preocupação é a manutenção e permanência da pessoa com deficiência em um ambiente agradável, saudável, no qual não sinta ser “diferente”, pois todos somos iguais, como lembra o poema citado.

Vejo a deficiência como uma limitação funcional em relação ao ambiente ao qual o indivíduo está inserido, e para que aja uma inclusão concreta temos que partir do principio de mudanças e essas, muitas vezes, não são compreendidas. Para efetivar as mudanças, temos que acreditar, olhar de forma individual, coletiva e integrada. Não existe um modelo preestabelecido, precisa existir de fato COMPROMISSO, deixar a crença de lado, olhar além do que os olhos veem. As mudanças não devem ocorrer de forma sistêmica. Toda melhoria impõe mudança, não há mudança sozinha. A inclusão ocorre através de experiências, de comprometimento, monitoramento do acesso e permanência nos espaços eclesiais, sociais e educacionais. Temos que proporcionar oportunidades, pois quanto mais vivências, mais apropriações das interações.

Hachler, diz que: “Na verdade, o que temos a oferecer a alguém é a simples, porém ousada contribuição da nossa genuína presença”.

Há elementos que nos prendem e nos tornam resistentes à inclusão social, entre eles destaco: o preconceito, a falta de informações, a intolerância a modelos mais flexíveis, medo do novo, estruturas físicas e conscientização social. Temos que ter mudança no olhar, mudança no comportamento e claro, mudança na atitude. É importante saber como o sujeito se relaciona, aprende e processa as informações. Temos que ter claro alguns conceitos acerca da diferença entre doença mental e deficiência intelectual, pois o fato de não sabermos leva-nos a uma atitude excludente ou errônea. Assim, de forma simples, Doença mental são alterações no comportamento social e Deficiência intelectual, são alterações no desempenho cognitivo.

Diferença não é deficiência, e sim, uma condição que o indivíduo apresenta de forma permanente ou momentânea. Portanto, é necessário considerar as dificuldades para propor as adaptações e/ou flexibilizações, estímulo, compreensão e resposta, para isso Amaral (1992) diz que: “a deficiência provoca estranheza, desorganiza, mobiliza, foge do esperado, provoca a hegemonia do emocional sobre o racional. O diferente se apresenta a nós como uma ameaça, pois contraria aquilo que deferimos como padrão perfeito, belo, harmônico”.

Contrapondo ou complementando essa citação, quero lembrar a atitude de Jesus Cristo ao curar o cego- texto:João, 09- onde, essa estranheza fica clara após a cura, pois, as pessoas estavam acostumadas a ver o cego pedindo esmolas e nada era feito porque não tinham uma funcionalidade de autonomia. A impressão que fica é a de que tudo precisa se justificar: o ser diferente, o ser igual, a mudança de estado, pois nos habituamos a analisar o que é de fato harmônico e agradável ao nosso olhar.

Para concluir, cito ainda Mantoan(2003): “ A inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós.”

Seguindo essa linha de pensamento, vamos abrir nossos corações e nossas mentes e deixar fluir a inclusão, deixar acontecer de forma rica, espontânea, sem nos preocuparmos com as diferenças, e sim com as potencialidades que cada ser apresenta. Somos únicos. Não podemos esquecer de que somos seres humanos e cada um possui sua especificidade e suas limitações. Conviver com as diferenças é conviver com nós mesmos.

Iliane Roeder Reinehr- Coordenadora do Departamento da Pessoa com Deficiência, no Sínodo Norte Catarinense.

Foto: manueladlramos 2002- Detalhe da estampa VII da Flora Lusitanica (1804) de F. Avelar Brotero
(exemplar da Biblioteca do Instituto Botânico do Porto)
 

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