Igreja existe para viver e testemunhar o Evangelho de Jesus no mundo. Há muitas formas de dar testemunho do Evangelho. Uma questão, porém, é fundamental: as pessoas precisam ser inspiradas e ensinadas a viverem de acordo com o Evangelho e um lugar importante em que ocorre essa motivação é o Culto.
O Culto é rico e diversificado em seus elementos litúrgicos. Cada parte e elemento da Liturgia possui uma função para ajudar a Comunidade a expressar a Deus as suas necessidades e a receber de Deus aquilo que necessita.
Como exemplo, vamos falar sobre o Kyrie. O Kyrie se localiza no início da Liturgia. Kyrie, do Grego, signifi ca Senhor e vem acompanhado da palavra eleison, que quer dizer tem compaixão ou tem misericórdia. Ele ressalta a função profética e diaconal do Culto.
A característica do Kyrie não é o louvor ou a intercessão. A sua ênfase é o clamorda Comunidade pela compaixão de Deus em favor das pessoas que sofrem no mundo. Este clamor lembra o grito do cego Bartimeu quando ele soube que Jesus passava por perto.
Kyrie, eleison!, clamou Bartimeu (Mc 10.46ss). Jesus se comoveu com o grito de quem estava à margem, à beira do caminho. Ele ouviu, parou e pediu que o trouxessem até ele. Algumas pessoas, ao contrário da atitude de Jesus, se incomodaram com aquele grito e pediram que aquele homem se calasse, mas Jesus abriu o seu coração para receber Bartimeu e pediu para as pessoas que o acompanhavam que chamassem o cego, trazendo-o até ele.
No Culto, por meio do Kyrie, levamos a Jesus os ‘Bartimeus’ que encontramos à beira do caminho, clamando. Desta forma, no momento do Culto, o Kyrie se torna um espaço para a escuta e a misericórdia. Ao ouvirmos as dores do mundo e as acolhermos, nos envolvemos com a realidade que nos cerca e com o testemunho que a Igreja assume diante dela.
Pelo Kyrie, a Comunidade Cristã demonstra que, com o seu Culto, ela não se retira do mundo, mas é Igreja do caminho e enxerga quem está à beira do caminho. No seu Culto, ela assume a voz das pessoas que clamam e dá testemunho do amor de Deus. Isto é ser Igreja viva e solidária!
Subsídio litúrgico - Kyrie
L. O Evangelho nos liberta para enxergar, para ir ao encontro das pessoas em sofrimento, ouvir os seus clamores e trazê-los a Jesus, o Filho de Deus, ajudador em todas as necessidades.
Oremos ao Senhor:
L. Pela paz que vem do alto e a salvação da Criação e das criaturas oprimidas, pelas multidões de pessoas desamparadas, à beira dos caminhos, pelas pessoas que perderam seus lares, sua pátria, e se tornaram refugiadas, pelas pessoas odiadas por sua cor, etnia, condição sexual, perseguidas e violentadas, pelas florestas e animais que gemem a dor das queimadas, pelo testemunho da Igreja em favor da vida digna para todas as pessoas e a Criação inteira, clamemos ao Senhor C. Tem compaixão, ó Deus!
L. Por graça, socorre-nos, Senhor!
C. Amém.
Cat. Dra. Erli Mansk | Coordenadora de Liturgia da IECLB
| PRONUNCIAMENTO |
Cristo é o único Senhor do Culto
A mensagem ‘pública’ da Igreja Cristã, no que se refere aos problemas do mundo, não poderá ser divorciada do seu testemunho ‘interno’, já que este implica naquela. Assim, a Igreja não pode condicionar o seu testemunho público aos interesses de ideologias políticas momentaneamente em evidência ou a grupos e facções que aspiram ou mantêm o poder. Em seu testemunho, não poderá usar métodos incompatíveis com o Evangelho.
A Igreja entende que o Culto deverá ter resguardado o seu caráter de serviço a Deus, adoração, comunhão cristã e diálogo com Deus. Cristo é o único Senhor do Culto Cristão. Pátria e governo serão objetos de intercessão da Comunidade para que possam promover justiça e paz e os fiéis darão graças a seu Senhor por estas preciosas dádivas.
Manifesto de Curitiba (1970)
