1 Pedro 1.3-9

Auxílio Homilético

02/04/1978

Prédica: 1 Pedro 1.3-9
Autor: Breno Dietrich
Data Litúrgica: Domingo Quasimodogeniti
Data da Pregação: 02/04/1978
Proclamar Libertação - Volume: III


I - O texto

V. 3: Louvado (seja) Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que conforme a sua muita misericórdia nos fez renascer para uma esperança viva, através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,

V. 4: para uma herança imperecível imaculada e imarcessível, que nos céus esta reservada para vós,

V. 5: que sois resguardados no poder de Deus, através da fé, para a salvação, preparada para ser revelada no último tempo.

V. 6: Por isso exultais, (vós) que agora, se necessário, vos contristais um pouco, nas várias provações,

V. 7: para que a autenticidade de fé - muito mais valiosa do que ouro perecível, apurado por fogo - redunde em glória e honra na revelação de Jesus Cristo.

V.8: A ele amais, sem tê-lo visto, nele crendo, sem vê-lo agora, exultais em alegria indizível e cheia de glória,

V.9: alcançando o alvo de vossa fé: a salvação das almas.

II - Considerações teológico-exegéticas

O texto em questão pode ser considerado um hino no qual o tema exaltação de Deus é desenvolvido. Neste texto, composto por uma única frase, o autor procura expor os reais fundamentos do exaltar, louvar a Deus. O texto, bastante conciso, contém muitas ideias e. elementos básicos da fé e esperança cristãs.

V. 3: É uma fórmula introdutória, não no estilo pessoal (de Paulo), mas no estilo clássico e bastante artístico. Fórmulas de bênção eram usadas tanto no mundo religioso como no profano. O que segue à saudação é a fundamentação para o louvor, para a exaltação de Deus.

Precisamos louvar a Deus porque ele nos fez renascer. A experiência salvífica dos cristãos é denominada de nascer-de-novo. Esta renovação é atribuída à ação do verbo. O texto, porém, não diz expressamente quando e como se realiza essa renovação.

Apesar de este termo nascer-de-novo ser bastante usado no NT, e também de maneiras diferentes, não se pode precisar aqui a origem deste termo. Em todos os casos podem-se mencionar três hipóteses: nos cultos de mistérios pagãos, na aceitação de prosélitos no judaísmo e na seita de Qumran, que falava na nova criação.

Renascer: - é um processo de renovação pelo qual o homem é elevado a uma vida nova, mais alta do que aquela a que pertence por natureza; é um rompimento total entre o então e o agora, entre o velho e o novo homem. Renascer não significa aperfeiçoar-se, mas ter realmente uma nova origem. Este ter uma nova origem está fora do alcance humano. Esta nova origem é dada unicamente pela obra salvífica de Cristo, pela ressurreição da Cristo dentre os mortos.

O renascer está relacionado com o batismo (Rm 6). Mas a força do batismo está na ressurreição. O batismo em si não é a causa da salvação, mas sim a ressurreição. Por isto o batismo, como meio de salvação, não pode ser separado da obra de Cristo.

O v.3 ainda esclarece um outro detalhe: nós já agora temos a possibilidade de renascer para uma esperança viva da salvação. O renascer não significa já agora obter a plenitude da nova vida, mas sim a esperança viva, a certeza da salvação. Também o fundamento desta esperança, desta certeza em relação ao futuro é a ressurreição de Cri sto.

Vv. 4-5: Além da esperança , que é o ponto alto da renovação, está a herança. Esta herança, a salvação plena, é o alvo da esperança. A certeza que podemos ter, os renascidos, em relação a esta herança, se expressa de duas maneiras:

 a) esta herança está guardada no céu para nos. Deus preserva, Deus cuida, Deus zela por esta herança. Esta herança, este tesouro, esta salvação já existe; não precisa mais ser criada. Esta herança é como um tesouro, porém diferente dos terrenos: imperecível, imaculado, imarcessível... Pelo fa¬to de esta herança já existir nos céus, a certeza da salvação é sublinhada.

b) Israel tinha a promessa de uma herança - Canaã. Mas a nova herança é incorruptível e não está sujeita à devastação pelos inimigos. A certeza de nossa esperança, dos renascidos, baseia-se no fato de que também nós estamos guardados no poder de Deus através da fé. A certeza de nossa salvação não se baseia no fato de sermos crentes, mas sim na fidelidade de Deus, que nos preserva por meio da fé, - para a salvação.

Tanto a fé como a salvação são obras exclusivas de Cristo. O dogma da fé consiste em crer em Deus, que ressuscitou a Jesus Cristo, e crer em Cristo, que agora não o vemos.

Vv.6-7: Nestes dois versículos o autor do texto quer mostrar que a fé se comprova no sofrimento. Enquanto os cristãos, os renascidos, ainda são forasteiros neste mundo, eles não estão livres do sofrimento. Mas esse sofrimento não pode ser entendido, como era no helenismo, como fatalismo. O texto neste particular é claro: devemos estar dispostos a sofrer, mas -se necessário. O renascido, o cristão, não esta à mercê do destino, mas está resguardado no, poder e na vontade de Deus. Também no sofrimento a vontade de Deus vem ao encontro do renascido; nenhum setor ou momento da vida do cristão está fora, está excluído do poder de Deus.

A alegria e o sofrimento do renascido precisam estar em harmonia; precisam estar numa coexistência. Mesmo que o sofrimento seja a característica nesta vida, a alegria precisa prevalecer. Também no sofrimento o renascido pode e precisa se alegrar, porque os sofrimentos são passageiros e não significam necessariamente um perigo para sua vida.

Os sofrimentos, tidos como provações, têm uma finalidade: a autenticidade da fé! Esta provação, este teste da fé é comparado à apuração do ouro que é submetido ao fogo. Esta comparação era usada tanto no mundo bíblico como clássico. A fé que prevalece às provas, tentações e tribula¬ções é mais pura, mais valiosa que o metal mais precioso.

A fé, uma vez passada pelas provações, fará o renascido louvar, glorificar e honrar o sujeito e o objeto da fé (Deus) no dia da revelação gloriosa de Cristo.

V. 8: Neste versículo é mencionada a relação existente entre o cristão e Cristo. A relação entre ambos é determinada pelo amar e crer, amar e crer sem ver!

Aqui em l Pedro está falando a segunda geração cristã, que não chegou a ver o Cristo. Talvez essa segunda geração se sinta inferiorizada em relação a primeira porque não pode ser considera da testemunha ocular das obras de Jesus. Mas este ponto a segunda geração consegue superar no momento em que descobre que o importante agora e decisivo é o crer sem ver! A falta de fé pede para ver; exigir provas é sinal de falta de fé. Uma esperança que vê não é mais esperança. Assim a segunda geração cristã se convence de que a dádiva escatológica da nova vida não é constatável por experiências terrenas e nem captável por acontecimentos visionários.

A fé não é um fraco substitutivo da impossibilidade de ver. A fé que não vê é a verdadeira existência escatológica. A fé pode agora ser entendida como um resplendor, um raio de luz da glória futura que brilha já agora. Por isto os renascidos podem, já agora, exultar em alegria indizível e cheia de glória. Esta alegria dissolve o limite entre o já agora e o ainda não. A alegria está motivada pelo dinamismo da salvação que se aproxima como a luz do dia. A alegria, por isto, precisa ser presente.

V. 9: Alegria existe porque os crentes alcançarão o alvo da fé que é a salvação; os cristãos são preservados no poder de Deus para a salvação. Por causa da fidelidade de Deus os cristãos alcançam o alvo da fé. Aqui o futuro determina o presente.

III – Meditação

Páscoa: nova vida! Quasimodogeniti: como recém-nascidos! Os recém-nascidos precisam começar a ensaiar os primeiros passos na fé. Os recém nascidos algum dia precisarão ser autônomos, maduros e adultos.

Conforme o texto em pauta, l Pe 1,3-9, a base da nova vida é páscoa, a ressurreição de Cristo. Sem tomar consciência desta base, sem tomar a sério esta base jamais conseguiremos caminhar com firmeza o caminho da fé, pois pisaremos seguidamente em falso. E isto vale para o cristão, para a comunidade e para a Igreja toda.

O pastor, ao meu ver, deveria fazer um rápido balanço para ver até que ponto a base da fé, a base da existência cristã é conhecida e vivida por seus membros. O nosso texto se adapta muito bem para, mais uma vez, dizer qual é o ponto básico da fé cristã e suas consequências.

Ouso mencionar alguns pontos sobre os quais se deveria refletir:

a) renascer: - qual é a opinião existente sobre o novo nascimento? Talvez muitos membros entendam o novo nascer como sendo um esforço próprio para melhorar de vida. Isto é muito pouco e até oposto à mensagem do texto. Outros talvez pensam poder constatar com exatidão o dia e a hora do novo nascimento e ainda ressaltar: antes 'eu' era assim, agora ‘eu’ sou diferente. Também este pensamento e atitude estão em contradição com o nosso texto. Existe o perigo de atribuirmos a nós mesmos muitos valores e merecimentos baseado no que somos, temos e podemos. O novo nascimento
é obra exclusiva de Cristo e começa com o batismo.

b) Como está o batismo em nossas comunidades? Para muitos o batismo talvez continua sendo um acontecimento social, um costume, uma tradição ou uma necessidade. É muito importante dizer, e sempre de novo, que no batismo inicia o novo nascimento, que com o batismo nos tornamos herdeiros da herança que nos céus está reservada para nós (v. 4).

c) Será que nós nos sentimos resguardados no poder de Deus? Será que contamos com a realidade da Deus em nossa vida? Eu creio que de modo geral preferimos confiar em nós mesmos. Preferimos criar e confiar na nossa própria segurança. Presos em nós mesmos, lutamos, nos decepcionamos, nos frustramos em todos os sentidos e não temos alegria no trabalho e no viver.

d) Somos pessoas alegres ou tristes, deprimidas e abatidas? Nossos membros e comunidades refletem alegria? Mui dificilmente! Por quê? - porque a fé é fraca! porque a fé é entendida como posse e não como dádiva constante de Deus! porque desconhecemos a base da fé que é a obra salvífica de Deus concretizada em Jesus Cristo. Não refletimos alegria porque criamos um abismo entre o já agora e o ainda não! porque imaginamos a salvação como uma promessa muito distante de nós. Se não refletimos alegria então isto é um sinal de que a nossa esperança está fraca ou em fase de extinção. Precisamos, como pregadores, tornar claro aos nossos membros que a salvação futura já brilha no presente. O futuro se torna presente e o presente é determinado pelo futuro. Estando viva a chama da esperança em nós, teremos alegria e também condições de louvar o nosso Deus.

e) Como está o louvor em nossa vida e nos cultos? Fraco também! Por quê? - talvez porque deixamos nos abater nos reveses da vida, nos sofrimentos e nas provações; talvez porque sucumbimos quando a nossa fé é testada. Falta de louvor é um sinal de que a fé não é autentica e que consideramos outras cousas mais valiosas que a fé (v.7). Eu creio que vale a pena dedicarmos uma parte da prédica ao tema: sofrer - se necessário e alegria no sofrimento.

f) Por último devemos ressaltar a relação entre Cristo e o cristão. Amar e crer sem querer ver, sem pedir provas e sinais - isto redunda em alegria indizível e cheia de glória. Nossa fé, nosso sofrimento, nossa vida, nosso engajamento não é em vão. O alvo de nossa fé é a salvação. Isto nos deve alegrar e dar-nos uma viva esperança.


Autor(a): Breno Dietrich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Pedro I / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 3 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978 / Volume: 3
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18153
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