1 Tessalonicenses 3.9-13

Auxílio Homilético

02/12/2012

1 TESSALONICENSES 3.9-13

 

Prédica: 1 Tessalonicenses 3.9-13
Leituras: Jeremias 33.14-16 e Lucas 21.25-36
Autor: Ervino Schmidt
Data Litúrgica: 1º Domingo de Advento
Data da Pregação: 02/12/2012
Proclamar Libertação - Volume: XXXVII

1. Fundação da igreja em Tessalônica

Temos indicações bastante precisas sobre o surgimento dessa comunidade na Macedônia. Conforme o livro de Atos dos Apóstolos, o evangelho chegou à Europa em 49 d.C. durante a segunda viagem missionária de Paulo. Temos a bela narrativa em Atos, de acordo com a qual o apóstolo e seus acompanhantes responderam à visão que numa noite tiveram de um homem macedônio que fazia este pedido: “Passa à Macedônia, vem socorrer-nos”. Entendendo que Deus estava a chamá-los para anunciar ali a boa-nova, puseram-se a caminho. Chegaram, não sem contratempos durante a viagem, a Tessalônica, que era a capital da província romana da Macedônia. Era uma cidade florescente, onde viviam numerosos estrangeiros e onde também havia uma forte colônia judaica. Como tinha por costume, Paulo foi à sinagoga local e pregou durante várias semanas, em todo caso por um período maior. Chegou a exercer um ofício. “Vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus” (1Ts 2.9). Recebeu várias doações dos filipenses, com os quais estivera anteriormente. Quis ser independente para exercer a missão da qual fora encarregado.

O apóstolo anunciou Jesus de Nazaré como o Messias esperado. Muitos foram tocados por sua mensagem. Os líderes judeus, evidentemente, não se conformaram com a mudança de orientação dos seguidores da sinagoga. Furiosos, amotinaram a multidão contra Paulo e Silas. Uma acusação falsa foi lançada contra eles: “Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei” (At 17.7b). Isso era uma acusação muito séria, de cunho político.

Paulo e Silas tiveram que partir para Bereia de noite, às escondidas. Também ali não havia condições de permanência. Assim, Paulo segue para Atenas. Seus pensamentos, porém, estão voltados para Tessalônica. Ele manifesta sua intenção de logo voltar para lá. Isso mostra a intensidade de sentimentos que o unem à jovem comunidade, fundada por ele. Ele está inquieto, pois sabia da pesada perseguição a que estavam expostos os irmãos e irmãs. Mas seu desejo de fazer uma visita pessoal não pôde ser realizado. Por isso ele enviou Timóteo e encarregou-o de animar e fortalecer os crentes na situação difícil pela qual passavam. Ele próprio ficou ansiosamente aguardando informações.

Timóteo retornou com notícias muito boas, realmente animadoras. Isso motivou Paulo a escrever a Primeira Epístola aos Tessalonicenses. É uma carta bastante pessoal e transbordante de gratidão. Aliás, é a carta mais antiga do apóstolo de que temos conhecimento, talvez seja mesmo a parte mais antiga de todo o Novo Testamento. A data provável de sua redação é 50 ou 51 d.C.

2. Interpretação

A Primeira Epístola aos Tessalonicenses distingue-se das demais cartas paulinas. O tom, como dissemos acima, é de alívio e de agradecimento pela perseverança na fé que a comunidade demonstrou durante a ausência forçada do apóstolo. A carta não apresenta uma teologia elaborada, como a Epístola aos Romanos, nem extensos conselhos pastorais, tampouco advertência contra heresias ameaçadoras.

Mas a maneira como Paulo se dirige aos tessalonicenses e sua forma de agradecer pelas grandes cousas que Deus tem operado no meio deles mostram a mais pura teologia paulina, a teologia da graça, manifesta na cruz de Cristo.

Paulo dá graças a Deus pelas irmãs e irmãos da comunidade, mas, ao mesmo tempo, lembra: “Reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição, porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas sobretudo em poder...” (1Ts 1.4-5). Alegra-se que os tessalonicenses acolheram a Palavra em meio a muitas tribulações com a alegria do Espírito Santo. Eles receberam a Palavra divina em palavras humanas. O apóstolo Paulo expressa isso de maneira contundente quando escreve mais adiante: “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens e sim como em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós os que credes” (1Ts 2.13). A palavra proclamada por meio de um homem frágil igual a nós foi aceita como palavra de Deus! Também aqui vale “o Verbo se fez carne”. A linguagem apostólica é, portanto, linguagem do mundo. Os conceitos são todos tirados dele. Temos o tesouro unicamente em vasos de barro.

A eleição, a escolha dos tessalonicenses é única e exclusivamente obra de Deus. Não é nenhum merecimento deles. É ação divina. O apóstolo, por isso, enaltece a ação de Deus na comunidade e não as pessoas crentes. Fica excluída, dessa maneira, toda tentação de vanglória, de jactância. Fé não é filosofia humana, não é um vago sentimento, não é persuasão produzida pela habilidade retórica de alguém. Fé é criação da Palavra, creatura Verbi. Claro, os tessalonicenses acolheram a palavra de Deus, disseram seu sim em uma participação ativa, mas isso porque ali estava acontecendo concretamente, em sua história, o grande sim de Deus a eles.

Assim surge comunidade, somente assim. No poder do Espírito! Fora disso não surgiria comunidade cristã, pois a mensagem do evangelho é tão oposta a tudo o que o ser humano pensa e faz que por si próprio jamais a aceitaria. A mensagem que nos atinge é a palavra que o ser humano não aguenta ouvir, mas persegue e tenta eliminar. Ela é palavra da cruz, loucura para os gentios, escândalo para os judeus, ou seja, para todos.

Bruno Gottwald destaca em um estudo sobre um trecho da carta: “Somente a ação criadora de Deus faz surgir e edifica a comunidade de Jesus Cristo. É a ação soberana do Espírito Santo que, através da pregação da palavra e dos sacramentos, ‘opera a fé onde e quando agrada a Deus’. E para Paulo está claro: agradou a Deus escolher, eleger a comunidade de Tessalônica para nela revelar sua glória e através dela fazer conhecer sua missão por toda parte”.

3. Vivência na fé

A consequência da eleição por Deus é uma presença qualificada no mundo, uma nova obediência, é fé ativa no amor. Por intermédio de Timóteo, Paulo recebe boas notícias “da fé e do amor” dos tessalonicenses. Eles sabem que fé e amor andam juntos. Mesmo em situação difícil, mantêm-se firmes. Também as privações e tribulações dos próprios missionários não os levam à resignação. O sofrimento faz parte do ser cristão, como Paulo mesmo ensinava: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). É esse o caminho do discipulado, um caminho que exige renúncia e disposição para o sofrimento. Isso acontece sem resignação. Pelo contrário! Acontece com alegria, porque somos considerados dignos de compartilhar os sofrimentos daquele que foi pregado à cruz e ressuscitado pelo Pai.

A comunidade de Tessalônica caminha bem e é motivo para alegria e agradecimento. Mesmo assim, o apóstolo Paulo ora a Deus que ele a faça crescer. Está preocupado com o desenvolvimento espiritual da mesma. Significa que é necessário um constante aprimoramento na vivência da fé. Que “o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco, a fi m de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos”. Nessa oração aparece também a expectativa do iminente retorno do Senhor. É necessário estar atento e vigilante!

4. Dicas para a pregação

Vejo como viável expor demoradamente, no sentido da reflexão que fizemos, o maravilhoso agir de Deus entre os tessalonicenses. Mostrar como o surgimento de comunidade, naquele tempo como também hoje, é exclusiva obra sua. É o 1º Domingo de Advento. Deve ocupar um bom espaço na prédica a constatação de que Deus vai ao encontro das pessoas. Ele vem e realiza salvação. Outra possibilidade seria destacar a relação mais pessoal entre missionário/ fundador e a comunidade. Situações de comunidades nossas em novas áreas de colonização poderiam ser descritas. Com certeza, lembramos de algum colega que reuniu em comunidade membros dispersos por ocasião de alguma visita missionária, ficando, depois, no aguardo ansioso por notícias. Deus vem através de sua Palavra, mesmo semeada por um pregador itinerante. Ele se encarna na história do povo.

Li uma prédica em que o pregador concentrou-se inteiramente nos versículos finais de nossa perícope, ou seja, sobre a oração da qual Paulo fala, no sentido de pedir a Deus que faça aumentar na comunidade o amor de uns aos outros e a todos. É a preocupação com o crescimento na fé. É preciso estar preparado. Vigilância permanente é necessária, pois o retorno (segundo advento) do Senhor é certo. E não se sabe a hora! “O Dia do Senhor vem como ladrão de noite” (1Ts 5.2). Há, portanto, diversas possibilidades.

5. Auxílios litúrgicos

Hino:

O hino número 8 de “Hinos do Povo de Deus” espelha a situação dos fiéis tessalonicenses. Conclama à vigilância em meio a fadiga e tormentos. “Já vem chegando o Rei.”

Litania:

Celebrante: Advento signifi a que o Senhor vem a nós e permanece conosco. Em todas as experiências de nossa vida, ele nos guia com seu cajado. Ele é nosso Bom Pastor. Por isso dizemos:
Todos/as: Nós te damos graças, Senhor!
Celebrante: Pela vida e por todos os dons com que nos fortaleces.
Todos/as: Nós te damos graças, Senhor!
Celebrante: Pelo dom da tua palavra.
Todos/as: Nós te damos graças, Senhor!
Celebrante: Pela perseverança na fé.
Todos/as: Nós te damos graças, Senhor!
Celebrante: Pelas testemunhas confiáveis do teu evangelho.
Todos/as: Nós te damos graças, Senhor!
Celebrante: Senhor que vives e reinas para sempre, nós te agradecemos.
Todos: Amém.

Confissão de fé:

Sugiro recorrer a Lutero. Ele confessa que o próprio Espírito Santo nos convence ser a Bíblia palavra de Deus. O Espírito “sela” a palavra nos corações humanos, ele testemunha” a veracidade da promissão através da iluminação interna da fé. Lutero acentua que “não existe uma pessoa sequer que – sem ter o Espírito de Deus – possa compreender ainda que só um título da Escritura Sagrada” (em: De servo arbitrio). Mais conhecidas são as palavras com que o reformador introduz a explicação do terceiro artigo do Credo Apostólico no Catecismo Menor: “Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda Igreja na terra e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé”.

Oração:

Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, por tua ressurreição triunfaste sobre a morte e te tornaste o Senhor da vida. Por causa de teu amor por nós nos escolheste como amigos. Que o Espírito Santo nos una a ti e uns aos outros em laços de amizade, para que possamos fielmente te servir neste mundo como testemunhas de teu amor fi el. Amém.

Bibliografia

GOTTWALD, B. Meditação sobre 1Ts 1.2-10. In: Proclamar Libertação VII. São Leopoldo: Sinodal, 1981. p. 210-213.
OEPKE, A. Die Briefe an die Thessalonicher. In: Das Neue Testament Deutsch. Goettingen, 1962.


Autor(a): Ervino Schmidt
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 1º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Tessalonicenses I / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2012 / Volume: 37
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25461
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Portanto, estejam preparados. Usem a verdade como cinturão. Vistam-se com a couraça da justiça e calcem, como sapatos, a prontidão para anunciar a Boa Notícia de paz.
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