1 Tessalonicenses 5.16-24

Auxílio Homilético

14/12/2008

Prédica: 1 Tessalonicenses 5.16-24
Leituras: Isaías 61.1-4, 8-11 e João 1.6-8,19-28
Autor: Paulo Roberto Garcia
Data Litúrgica: 3º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 14 de dezembro de 2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXIII
Tema: Advento


1. Introdução

No calendário litúrgico, o Advento é um período marcado pela espera e pela esperança. Na tradição semita, a esperança é, simultaneamente, um olhar para frente e outro olhar para trás. O passado ilumina o presente e alimenta a esperança futura. De igual modo, o cristianismo primitivo, ao ela- borar o calendário litúrgico – na expectativa de transmitir os ensinamentos da fé –, cunhou nesse período de Advento essa dimensão de passado, presente e futuro em profunda ligação. Assim, ao mesmo tempo em que o Ad- vento nos lembra de que na história da fé a esperança messiânica se concretiza no nascimento de Cristo, relembrar essa expectativa remete-nos ao futuro: a esperança na parúsia – a volta de Cristo.

Por isso o texto de Tessalonicenses é importante para esse momento litúrgico que vivemos. As dúvidas acerca dos mortos, os sofrimentos que marcam uma comunidade com dúvidas sobre a parúsia e as respostas e orientações pastorais de Paulo constituem um marco na construção da fé cristã. O Cristo que veio, o Cristo que voltará é a exclamação de fé que deve orientar a comunidade.

2. Informações exegéticas – A carta

Quando nos defrontamos com a Primeira Epístola de Paulo aos Tessalonicenses, necessitamos ter em mente que ela constitui um marco do cristianismo. É o primeiro escrito do Novo Testamento, redigido pelo menos 10 anos antes do primeiro evangelho – o de Marcos. Essa carta nos insere nos dramas e nas lutas de uma das antigas expressões do cristianismo primitivo: o cristianismo do mundo mediterrâneo.

Para abordar essa carta, é necessário, primeiramente, nos posicionarmos diante de uma discussão que cerca a maioria dos textos paulinos: o problema da coesão interna das cartas. Os textos paulinos são literariamente caracterizados por interrupções abruptas, retomada de assuntos interrompidos anteriormente, múltiplos inícios (saudações e ações de graça) e finais. Diante desse problema, uma das propostas para compreender essas características – e que assumimos aqui – é que uma parte dos escritos paulinos do Novo Testamento é, na verdade, uma compilação de pequenas cartas paulinas (isso vale para Filipenses, Tessalonicenses, Coríntios, Romanos – o capítulo 16). Na verdade, podemos interpretar essas pequenas cartas como bilhetes pastorais, o que marcaria a característica da ação pastoral de Paulo. Frente aos problemas emergenciais das comunidades nascentes, ele enviava pequenos bilhetes orientativos, que, com o passar do tempo, foram colecionados até assumir a forma das cartas que temos hoje. Em 1 Tessalonicenses, encontramos duas introduções (1.2; 2.13) e duas conclusões (3.11 e 5.23). São dois pequenos bilhetes. O primeiro é constituído pelas seguintes perícopes: 1.1-2.12+4.2-5.28 (ou seja, é o bilhete que contém nossa perícope). O segundo é composto por: 2.13-4.1.

Nosso bilhete insere-se em uma discussão sobre problemas que estão perturbando a igreja, e Paulo tenta solucioná-los: sua autoridade apostólica é contestada (2.2-12); membros da comunidade estavam se desviando do ensino, de modo especial acerca do comportamento sexual e comunitário (4.2-
12); há dúvidas sobre a ressurreição dos mortos e a parúsia (4.13-5.11); e, finalmente, há desrespeito aos líderes da comunidade (4.12-13). Percebe-se que esse bilhete atende a uma necessidade que gira em torno da vida cristã, suas esperanças e a vivência comunitária da fé.

3. Informações exegéticas – Nossa perícope

Nossa perícope marca o encerramento da carta e vai, em forma de despedida, apresentar desejos e desafios que giram em torno das celebrações cúlticas. Os termos regozijar, orar, Espírito, profecias apontam para as celebrações da comunidade.

A primeira parte (v. 16-18) é composta por três exortações (marcadas pelo uso do imperativo) acerca do estado de espírito que deve estar presente entre os participantes da comunidade: Regozijai-vos sempre! Orai sem cessar! Em tudo dai graças! O argumento para justificar esse comportamento é que “esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus” para a comunidade.

A segunda parte (v. 19-22) é composta por quatro exortações (também marcadas pelo uso do imperativo), que podem ser entendidas a partir das práticas do culto. As duas primeiras exortações aparecem na forma negativa: Não apagueis o Espírito! Não desprezeis as profecias! A seguir, encontramos duas exortações práticas: Julgai todas as coisas, retende o que bom! Abstende- vos de toda forma do mal!

A terceira parte é a conclusão da carta, uma bênção (v. 23) com uma fórmula de juramento que garante o anunciado (v. 24).

Em uma comunidade com dificuldades em relação à vida cúltica e à vida na sociedade, além de crítica aos líderes, o final da carta exorta aqueles que esperam a vinda do Senhor a viver a alegria das celebrações; o respeito às manifestações extáticas do Espírito e das profecias; o discernimento do que é bom e do que não é bom e uma prática de vida em que se abstenha daquilo que tenha aparência do mal.

4. Reflexões para auxiliar na homilia

A parte final da Primeira Epístola de Paulo aos Tessalonicenses é um apelo à comunidade para uma vida marcada por práticas de fé que condigam com a esperança cristã. A comunidade enfrentava problemas. Um grupo questionava a autoridade paulina como apóstolo. Também havia dúvidas sobre o destino dos mortos, o que colocava em cheque a fé na ressurreição e na esperança na volta de Cristo. Além disso, havia um desrespeito aos líderes locais. Nessa situação, Paulo envia um pequeno bilhete, que é parte de nossa carta, para orientar a comunidade.

Ele inicia defendendo sua autoridade com base na autenticidade e na humildade de seu trabalho (2.1-7); na fadiga pelo trabalho intenso para ter sustento sem ser pesado para a comunidade (2.9-10) e principalmente no cuidado pastoral para com a comunidade. Para isso ele usa a figura de uma mãe que cuida dos filhos pequenos (2.7) e a de um pai que orienta e exorta seus filhos (2.11-12). A autoridade apostólica de Paulo está baseada no cuidado pastoral que ele tem para com a comunidade e no seu testemunho de fé.

Em relação ao sofrimento da comunidade acerca dos mortos, Paulo aponta que essa preocupação provoca a perda da esperança (4.13). Para animar a fé da comunidade, ele lembra que a morte e a ressurreição de Jesus são a base de toda a esperança. Agrega a isso a certeza da volta dele (4.15-17). A certeza da companhia futura de Cristo com seu povo deve animar a comunidade de fé (4.18).

No final desse bilhete, Paulo convoca a comunidade para uma vida de respeito mútuo (5.12-15). Ele inicia com uma súplica (“rogamos” – 5.12), para que a comunidade respeite seus líderes e demonstre apreço aos que trabalham (5.12-13). Ele encerra essa súplica com uma exortação: Vivei em paz uns com os outros (5.13b).

Após a súplica, o desafio. Paulo exorta a comunidade a instruir os preguiçosos; animar os abatidos; ajudar os fracos e a ser paciente para com todos. A comunidade deve vigiar para que ninguém pague o mal com o mal; antes a comunidade deverá praticar o bem mutuamente (5.14-15).

Ao abordarmos esses conflitos, percebemos que o grande tema que amarra toda a argumentação paulina é a esperança, que está fundada na fé; na morte; na ressurreição de Jesus e em sua volta. Tanto o trabalho pastoral de Paulo como o dos que dirigem a comunidade têm como finalidade proteger e animar os fracos, fortalecer os desanimados e exortar os que se afastam. O amor e a paz devem marcar os relacionamentos. A alegria e o respeito nas celebrações cúlticas são a expressão da vontade de Deus em Cristo. Com isso chegamos ao centro da argumentação: a espera pela volta de Cristo é o que oferece ânimo, conforto e esperança mútua. A partir dessa esperança, a comunidade é exortada a uma vida de oração, respeito mútuo tanto nos relacionamentos como nas celebrações.

A expectativa futura organiza e regulamenta o relacionamento comunitário no presente. Esse é o desafio que o bilhete apresenta à comunidade e que é resumido em nossa perícope na forma de uma exortação conclusiva.

Para os cristãos, hoje, a argumentação paulina continua a desafiar. A vida cotidiana, as relações entre os seres humanos, as relações comunitárias e as celebrações cúlticas devem ser permeadas de alegria, gratidão, amor e respeito, tudo isso fundamentado na esperança futura, que é garantida pela lembrança passada: Cristo morreu e ressuscitou. Nisso repousa nossa esperança.

Bibliografia

BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 2004.
CROSSAN, John Dominic; REED, Jonathan L. Em busca de Paulo: como o apóstolo de Jesus opôs o reino de Deus ao império romano. São Paulo: Paulinas, 2007.
DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003.

FERREIRA, Joel Antônio. Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Petrópolis: Editora Vozes, 1991.
KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento – 2. História e literatura do cristianismo primitivo. São Paulo: Paulus, 2005.
PATTE, Daniel. Paulo, sua Fé e a Força do Evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1987.
VIDAL, Sénen. Las Cartas Originales de Pablo. Madrid: Editorial Trotta,1996.


 


Autor(a): Paulo Roberto Garcia
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Tessalonicenses I / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 16 / Versículo Final: 24
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2008 / Volume: 33
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18569
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