1Tessalonicenses 1.2-10

Auxílio homilético

12/09/1982

Prédica: 1 Tessalonicenses 1.2-10
Autor: Bruno Gottwald
Data Litúrgica: 14° Domingo após Trindade
Data da Pregação: 12 de setembro 1982
Proclamar Libertação - Volume:VII

 

CANTAI AO SENHOR UM CÂNTICO NOVO, POIS ELE TEM FEITO MARAVILHAS! (Sl 98.1)

l — Texto

Partimos da pressuposição de que estamos diante de um texto paulino, redigido em Corinto por volta do ano 50, por ocasião da segunda viagem missionária do apóstolo.

Paulo não havia feito experiências muito animadoras em seu trabalho missionário. Ele mesmo e seus colaboradores haviam sido maltratados e ultrajados em Filipos (2.2): até tinham sido presos (At 16.39). Mesmo em Tessalônica Paulo havia pregado o Evangelho em meio a muita luta (2.2; At 17.1-9): também em Corinto o trabalho havia sido dificultado com toda série de adversidades (1Co 2.3: At 18.9s). Seria, portanto, bem compreensível se, depois de tantas dificuldades e diante de tantas situações e reações adversas a ele pessoalmente e ao próprio Evangelho, Paulo tivesse resignado ou desistido. Mas ele não resigna, não desiste, pois está convicto de que a edificação da comunidade não está em última análise, nas mãos de homens e, sim, nas mãos de Deus. A concretização dos sinais do Reino de Deus não está condicionada à simpatia e aclamação dos homens.

Isto, para Paulo, não minimiza a sua responsabilidade para com a pregação reta do Evangelho, pois ele vive existencialmente cada passo no surgimento e na edificação da comunidade; sofre as dores de parto, como ele mesmo se refere à comunidade dos gálatas. Paulo sempre estava com seus pensamentos e orações voltados para as comunidades onde lançara a semente do Evangelho. Ciente das dificuldades e adversidades existentes em Tessalônica, Paulo deseja visitar pessoalmente a comunidade (2.17s). Mas, impedido de fazê-lo pessoalmente, envia seu auxiliar Timóteo. Este volta de Tessalônica trazendo noticias que levam Paulo a agradecer e louvar a Deus. Este louvor de Paulo determina toda primeira parte da carta até 3.13. O objeto deste louvor não são os tessalonicenses, nem o sucesso de seu trabalho. O louvor se dirige a Deus pelas grandes cousas que ele tem realizado entre os tessalonicenses.

O apóstolo enaltece a ação de Deus na comunidade:

a) Mesmo que em meio a muita tribulação, os tessalonicenses aceitaram com muita alegria o Evangelho (v.6; At 17.5-10).

b) O Evangelho despertou fé entre os tessalonicenses.

c) A fé tem sido operosa; é dada aos tessalonicenses a disposição para perseverar, e com isso a comunidade tem sido missionária (v.7s).

d) A comunidade está a caminho, na viva esperança pela vinda do Senhor.

II — Meditação

Aqui alguém louva a Deus por sua ação benevolente através de seus servos, pela fé despertada na comunidade e pela reação do meio ambiente a esta ação de Deus.

Nem de longe Paulo pensa em gloriar-se de seu trabalho em Tessalônica, a única cousa da qual pode gloriar-se é sua fraqueza (2 Co 11.30). Essa fraqueza justamente caracterizou o início de seu trabalho em Tessalônica, dando assim espaço livre para a ação de Deus. Certamente essa experiência contribuiu para a fórmula com a qual Paulo define a ação do Senhor em sua vida: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. (2 Co 12.9)

Somente a ação criadora de Deus faz surgir e edifica a comuni¬ade de Jesus Cristo. É a ação soberana do Espírito Santo que, através da pregação da palavra e dos sacramentos, opera a fé. onde e quando agrada a Deus. E para Paulo está claro: agradou a Deus escolher, eleger a comunidade de Tessalônica para nela revelar sua glória, e através dela fazer conhecer sua missão por toda a parte da circunvizinhança. Essa missão de Deus se realiza pela fé viva dos tessalonicenses que inicia com a conversão dos mesmos em ambos os sentidos, de e para (APO e PRÓS), e que tem por isso como consequência uma nova obediência amparada e carregada pela esperança na vinda do Senhor.

No v. 3 Paulo não está enumerando e descrevendo obras de homens, mas simplesmente mencionando a armadura, com a qual Deus reveste os seus (1 Ts 5.8). Revestir-se de Cristo (Gl 3.27) significa justamente revestir-se de fé, amor (obediência) e esperança. Paulo vê sua comunidade na fé de Cristo, no amor de Cristo e na esperança do Cristo ressurreto. Mas não no sentido estático, e sim, dinâmico. Pois onde Cristo vive numa pessoa, ali os dons de Deus se desenvolvem, a pessoa é libertada para o amor, para a esperança, enfim, para um novo caminho (v. 6). E este é o caminho do discipulado; como tal, um caminho que exige disposição para a renúncia, para o sofrimento. Como portador de Cristo (Não sou eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim.) Paulo vê seus sofrimentos como sofrimentos de Cristo, numa comunhão de sofrimento. E por isso o sofrimento do apóstolo é marcado não pela resignação ou desespero, mas, sim, pela alegria, pois nessa comunhão compartilha-se os sofrimentos daquele que venceu, que ressuscitou. Para o Reformador a disposição para o sofrimento caracteriza a verdadeira Igreja e a força para essa disposição é dada pela certeza de que o caminho para a vida conduz pela cruz.

A comunidade que nasce da palavra e que é mantida pela palavra é, por sua natureza, por sua existência, comunidade missionária, evangelizadora. A missão ou a evangelização não são, portanto, dois aspectos entre os muitos da comunidade cristã. Também não são departamentos da comunidade cristã. Ou a comunidade é missionária ou ela não é comunidade de Jesus Cristo.

A fé despertada pela palavra, em Tessalônica, e a subsequente obediência e esperança, que por sua vez se evidenciam na disposição de caminhar sob a cruz, teve em toda circunvizinhança suas consequências missionárias. Os crentes de toda a Grécia foram fortificados em sua fé e por toda parte ficou conhecido que Deus é Senhor.

A disposição ou não para a caminhada sob a cruz, na certeza de que o futuro pertence a Cristo, é um espelho fiel que mostra o quanto a comunidade está presa a ídolos (v.9) — comodismo, comprometimentos com os poderes constituídos, tradição, etc. — ou liberta para servir ao Deus vivo.

III — Prédica

O escopo deste texto pode, sem dúvida, ser enunciado com as palavras do salmista: Cantai ao Senhor um cântico novo, pois ele tem feito maravilhas.

Paulo sabe que nem tudo que brilha em Tessalônica é ouro: Paulo sabe que também a comunidade de Tessalônica tem seus problemas. Paulo certamente teria sofrido com as deficiências da comunidade se encarasse sua vida como fruto do trabalho que ele realizou. Mas Paulo vê a ação de Deus na comunidade. Tem olhos para essa ação de Deus porque ele mesmo não está deslumbrado com seu próprio esforço nem hipnotizado por seus próprios fracassos — assim como não está procurando realizar seu próprio trabalho, concretizar suas próprias metas, mas se preocupa em realizar a missão de Deus em deixar Cristo viver nele.

A pregação deste texto não deveria procurar estabelecer uma comparação de nossas comunidades com a comunidade de Tessalônica, nem criticar a ação da comunidade hoje, apontando seus erros e falhas. Deveria, isto sim, procurar articular a missão de Deus hoje na fé, na obediência e na esperança de seu povo, de sua Igreja. O texto convida para uma exposição positiva de como e quando acontece missão e evangelização na comunidade de Jesus Cristo — aliás assuntos de prioridade na IECLB.

IV — Subsídios litúrgicos

1. Confissão de culpa: Muito obrigado. Senhor, por este dia de descanso e pela oportunidade que nos dás de nos reunirmos em teu nome, como tua comunidade. Tu nos chamaste para sermos tua propriedade e, como tais, nos dás o privilégio e a oportunidade de participarmos ativamente do plano salvífico que tens para com os homens e com o mundo. Tu sabes, no entanto, Senhor, quão pouco uso fazemos desta oportunidade, quão pouco correspondemos àquilo que nos propomos ser. Presos em nossas preocupações pessoais, confiando apenas em nossas possibilidades e forças, resignados diante das dificuldades, temos simplesmente ignorado teu apelo insistente. Perdoa-nos, Senhor, nossos fracassos, nossa falta de fé e confiança. Perdoa-nos e dá-nos a força de teu Santo Espírito para uma nova vida. Amém.

2. Oração de coleta: Muito obrigado. Senhor, porque sempre estás disposto a recomeçar conosco. Sempre colocas tua confiança em nós, mesmo que tenhamos fracassado tantas vezes. É unicamente à tua longanimidade que devemos essa tua paciência para conosco. Queremos ser teus discípulos, teus servos, por isso pedimos: equipa-nos para tal com tua palavra, toca-nos com teu Santo Espírito para que, como tua Igreja e com nosso estilo de vida pessoal, testemunhemos tua verdade e teu amor para com os homens. Em nome de Jesus, nosso único Senhor e Salvador. Amém.

3. Assuntos para a oração final: Que Deus desperte na comunidade a consciência «te que somos raça eleita, sacerdócio real para proclamarmos as virtudes... (1 Pd 2.9); que Deus abençoe o trabalho da pregação da palavra em nossa Igreja para que através dela possa nascer mais fé, fé operosa; que essa fé nos liberte dos ídolos aos quais estamos presos: superstição, ganância, mentalidade consumista e de lucro, sucesso, covardia, nós mesmos; que Deus nos converta a si para que o sirvamos; que Deus nos torne sensíveis para o sofrimento do outro; que Deus nos dê força e disposição para sofrermos em favor de sua causa, que é sempre uma causa em favor do homem.

V — Bibliografia

- A Confissão de Augsburgo. São Leopoldo, 1980.
- FALKENROTH, A. Meditação sobre 1 Tessalonicenses 1.2-10. In: Hören und Fragen. Vol.4/2. Neukirchen/VIuyn, 1976.
- IWAND, H. J. Meditação sobre 1 Tessalonicenses 1.1-10. In: —. Predigtmeditationen. Göttingen, 1963.
- PEISKER, C. H. Textos sobre 1 Tessalonicenses 1.2-10 In: —. Texte zur Predigt. Vol.5 Wuppertal, 1975.

 

Editora Sinodal - São Leopoldo/RS

Escola Superior de Teologia - EST
 


Autor(a): Bruno Gottwald
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 15º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Tessalonicenses I / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1981 / Volume: 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 11382
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