2 Pedro 3.8-14

Auxílio homilético

02/11/1992

Prédica: 2 Pedro 3.8-14
Leituras: Mateus 22.23-33 ou João 5.24-29
Autor: Aline Steuer
Data Litúrgica: Dia de Finados
Data da Pregação: 02/11/1992
Proclamar Libertação - Volume: XVII
Tema: Finados


1. Situação

Hoje, quando escrevo esta reflexão sobre o uso do texto de 2 Pedro para o Dia dos Finados, o mundo está estarrecidamente acompanhando a contagem regressiva da deflagração de guerra no Oriente Médio, no Golfo Pérsico. No dia 2 de novembro vamos lembrar, comemorar, celebrar a vida dos nossos queridos e queridas que nos precederam à plenitude da vida. Hoje, os poderes do mundo planejam encurtar a vida de milhares de seres humanos. As forças de guerra e de morte parecem ser maiores que as forças de paz e de vida. Diante do possível massacre de milhares de soldados, de mulheres, de crianças (os peões sempre descartáveis na luta entre os poderosos), e aqui entre nós diante da morte diária dos menores da rua, de crianças desnutridas, de lideranças das nossas comunidades, como meditar o sentido da morte dos nossos parentes e amigos, ou a nossa própria morte? Será que tem sentido a história humana? Será que têm sentido as vidas e as mortes dos nossos entes queridos e de tantas pessoas desconhecidas? Afinal, Deus tem ou não tem um projeto para a sua criação?

2. Contexto

São perguntas desse tipo que parecem ter suscitado a elaboração desta carta. Os apóstolos, os primeiros discípulos, já haviam morrido. Até as primeiras gerações cristãs já vieram a falecer e Jesus não havia cumprido a sua promessa de voltar. Pior ainda, dentro da comunidade cristã alguns falsos doutores andavam mangando da fé dos membros da comunidade (3.4), não só denunciando a demora, mas negando o fato da vinda. Esses falsos doutores, gente graúda que levados pelo amor ao dinheiro fazem dos cristãos objeto de negócios (2.3), atacam a fé básica do cristão que afirma ter Deus um projeto para este mundo nosso: a realização do seu reino. Essa gente nega a certeza de que Deus caminha com o seu povo levando-o à realização de uma sociedade de paz, justiça e fraternidade. Essa gente diz que tudo sempre será como está, que nada muda (3.4), que as nossas vidas e as nossas mortes não têm sentido. Então, por que se esforçar? Aproveitem-se da vida e dos outros!

3. Texto

Paciência de Deus: os amados cristãos são lembrados, através do Salmo 90.4, de que os pensamentos e caminhos de Deus são diferentes dos pensamentos e caminhos humanos. Não podemos sujeitá-lo a nossa programação. Deus não é lento em voltar (3.9), mas lento para a cólera e cheio de amor e caridade (Êx 34.6). Esta paciência de Deus para com o seu povo visa a sua conversão. O tempo que assim temos permite-nos testemunhar a toda sociedade que o nosso Deus, o Deus da vida, ama a todos e todas, quer vida para cada pessoa e nos chama à transformação pessoal e comunitária, essencial à vinda do seu reino.

O Dia do Senhor: é descrito em imagens bem conhecidas da cultura do tempo. Esperava-se a destruição do mundo pelo fogo ou pela água. Os céus, que são firmamento, serão desfeitos, dissolverão, despedaçarão. Os elementos (possivelmente as estrelas) derreterão nas chamas, e o mundo será posto à prova. Esse é o jeito que o autor usa para caracterizar a profundidade da transformação que Deus propõe. Esses versos não são profecias exatas daquilo que virá no futuro. Se nós fôssemos descrever o Dia do Senhor hoje, usaríamos imagens diferentes, tais como guerra, bombas nucleares, químicas, bacteriológicas ou mísseis. Mas, o autor esclarece: a vinda desse dia difere, na sua essência, desta visão cultural (e também da nossa). O tempo, concebido no mundo grego e nas cabeças dos falsos doutores como kronos, como um ritmo repetido periodicamente, faz do mundo e da vida humana um círculo vicioso sem finalidade. Contra esse pessimismo, o Dia do Senhor está colocado como kairos, como plenitude do tempo. Do caos que resulta das opções dos poderosos e opressores, a chegada do Dia será a realização plena do projeto de Deus: nada menos que novos céus e nova terra onde habitará a justiça (3.13).

O ladrão: A figura do ladrão que vem na hora inesperada (Mt 24.43; Ap 3.3; l Ts 5.2), é usada para animar a participação ativa dos cristãos na antecipação da vinda do Dia. Os tempos de Deus são imprevisíveis, mas não o seu projeto. Portanto, os cristãos não devem ficar paralisados esperando que o Dia caia dos céus. Confiantes na verdade da presença de Deus na sua luta pela realização do reino, eles devem ser claras testemunhas aos seus companheiros e companheiras pela coerência das suas vidas. Deveras, assim eles apressam a vinda do reino, assim conseguirão a transformação do mundo.

A paz: os cristãos têm conhecimento de tudo isto. Eles conhecem a verdade e estão à espera da realização deste projeto. Neste tempo de espera, o papel é viver de tal forma que ninguém tenha motivo de queixa e que os cristãos trabalhem pela verdadeira paz, aquela que se baseia na justiça e fraternidade.

4. Sugestões para a prédica

1. Abordar a questão do sentido da vida e, portanto, da morte da pessoa humana. Quais são os falsos doutores que agem entre nós, hoje? Eles e elas pregam a vida centrada no proveito individual.
A pessoa que luta pela transformação desta sociedade injusta em uma sociedade onde haverá partilha, solidariedade e paz, sofre gozação porque não sabe aproveitar o outro para o seu próprio benefício.

2. Ligar o sentido da vida, e portanto da morte, com o anseio de toda a humanidade para novos céus e nova terra. Usar Isaías 65.17-25 para caracterizar aquilo que todos nós sonhamos e somos chamados a ajudar a construir.

3. Ligar o sentido da vida e da morte ao fato de tantas pessoas morrerem des-necessariamente devido às injustiças que reinam em nosso mundo. Rezamos diariamente venha o teu reino. Mas, não é suficiente só rezar. A nossa convicção de que Deus caminha com os pobres e oprimidos em busca de sua libertação nos obriga a viver comprometidos com essa libertação. A nossa convicção de que a vitória de Jesus sobre a morte é a garantia da nossa vitória sobre tantas mortes, é o que nos sustenta na caminhada.

4. Não é simplesmente a morte dos nossos queridos falecidos que queremos comemorar hoje. Morrer é fácil demais para ser celebrado. É a vida dessa gente que faz a sua morte memorável. À medida em que nesta vida se esforçaram para apressar a vinda do reino, à medida em que participaram da luta por uma vida digna para todos é que essas pessoas querem ser lembradas hoje. Queremos agradecer a Deus pela graça de ter convivido com elas e comprometer-nos a adiantar a transformação deste nosso mundo num novo mundo onde reina a justiça.

5. Para a celebração

O tom da liturgia deve ser celebrativo, recordando as vidas dos parentes e louvando e agradecendo a Deus pela vida deles. Também essas vidas questionam o modo como as nossas vidas mostram a coerência que a fé exige de nós.

1. Memória: Convidar as pessoas a trazerem fotos das pessoas que querem lembrar nesse dia. Parar alguns momentos para recordar algo que essas pessoas fizeram, que marcou a vida dos participantes. Usar as fotos numa procissão de ofertório ou num painel (conforme o tamanho do grupo). Cantar louvor a Deus a partir disto.

2. Confissão ou rito penitencial: Quais as forças que ameaçam a vida e a nossa fé na vida? Quantas vezes engolimos e vivemos como se não acreditássemos na presença de Deus em nossas vidas e em nossas lutas deixando-nos levar pelas falsas promessas e a propaganda? Quantas vezes deixamos da luta por uma nova terra e novos céus, esperando que tudo se realize sem o nosso esforço? Proclamar a confiança no perdão de Deus e o compromisso que este perdão exige cantando O Migrante (Quero entoar) ou Irá Chegar.

Outros cantos: Boca do Povo (Is 65.17-25), Utopia, Utopia de Milton Nascimento, Eu Quero Ver.


Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia
 


Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Dia de Finados

Testamento: Novo / Livro: Pedro II / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1991 / Volume: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 11392
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Ó Senhor, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra.
2Reis 19.15
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