Louvado sejas ó Jesus

Comentário e Reflexão

15/09/2013

Textos bíblicos: Romanos 8.29; Hebreus 2.11-17;

O HPD nº 18 - Louvado sejas, ó Jesus é um dos hinos do reformador Martin Luther, que conta entre os primeiros que ele compôs. Provavelmente foi feito por volta do Natal de 1523, pois na sexta-feira após Epifania (ou seja: após 6 de janeiro) de 1524 já se achava impresso em folhas avulsas. E no mesmo ano de 1524 se encontra no “Enchiridion de Erfurt” e no “Gesangbüchlein de Johann Walther”.

A melodia foi conhecida já por volta de 1460 em Medingen, ela foi encontrada num convento entre manuscritos feitos por freiras.

Para vários de seus hinos Martin Luther tem recebido impulsos de cânticos mais antigos. Provavelmente também para o “Louvado sejas, ó Jesus” ele baseou a primeira estrofe numa poesia da Idade Média (cerca de 1370)1  que tem o mesmo ritmo e o mesmo conteúdo:

“Lovet sistu ihu crist,

dat tu hute gheboren bist

van eyner mahget. Dat is war.

Des vrow sik al de hemmelsche schar. Kyr.”

Assim a primeira estrofe no hino de Martin Luther ainda reflete o espírito da Idade Média. A respeito do nascimento do Salvador as mentes naquela época se ocupavam principalmente com dois temas (a) a virgindade e (b) os anjos. Os teólogos se empenharam a desvendar o incompreensível mistério do nascimento de Jesus por uma mãe virgem. Foi em vão. Mas a Virgem Maria continuou a ter um lugar de destaque na Igreja Católica Romana. O segundo tema de maior interesse na Idade Média foi a participação dos anjos. Acreditava-se que os anjos fossem dirigentes dos astros e que nos astros estivessem escritos os destinos dos seres humanos.

Martin Luther deixa à Virgem e aos anjos os seus lugares que eles têm na Bíblia (Mateus 1; Lucas 1 e 2). Porém, nas demais estrofes, ele dirige nossa atenção para a última palavra, que, no original alemão, usa a expressão grega “Kyrioleis” (de Kyrie eleison = Senhor, piedade). Os tradutores do HPD 18 substituíram este grito de socorro pelo voto de louvor hebraico “Aleluia” (Louvado seja Deus)2.

A partir da segunda estrofe, Luther acentua o fato de que com a vinda de Jesus para este mundo foi vencida a imensa distância entre o eterno e o passageiro, entre o infinito e o transitório, entre Deus e os seres humanos. (veja Filipenses 2.6-8). Observe na 2ª estrofe os contrastes entre “nossa carne e sangue” por um lado e “o eterno e mais precioso bem” por outro. E na 3ª estrofe “a luz eterna” e a “noite” escura de “nosso mundo” (Ev. João 1.5+9).

As 4ª e 5ª estrofes descrevem o porque do nascimento de Jesus, acentuando o grande, imenso, eterno amor de Deus e lembrando Ev. João 3.16: “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito...”. Deus chegou tão perto de nós. Por isso “jubilai com gratidão! Cantai-lhe graças, dai louvor”, seja com o grego Kyrie eleison, ou seja com a palavra hebraica Aleluia!

A melodia deste hino foi trabalhada desde 1544 (Balthasar Resinárius) até o século XX por inúmeros compositores, entre eles Johann Sebastian Bach (BWV 91, 604, 722).

Notas:

1. Manuscrito da época de 1370 guardado em Kopenhage.

2.  Kyrie eleison (=Senhor, misericórdia) já bem antes do cristianismo, foi usado como tributo de homenagem e veneração a soberanos e divindades. No cerimonial da corte antiga o Imperador foi saudado com esta aclamação solene, sempre que entrava no recinto. Os judeus dispersos em terras de língua grega usaram o título Kyrios para o Deus de Israel (Adonai, Senhor). No início do cristianismo o termo Kyrios tornou-se designação central para a soberania de Jesus Cristo (p.ex. Filipenses 2.10+11). Os cristãos, ao confessarem „Cristo é o Senhor“, distanciaram-se claramente dos cultos prestados aos soberanos e outras divindades. - Mais tarde a aclamação Kyrie eleison (Senhor, piedade) fazia parte da liturgia do culto na Igreja Ortodoxa Grega. Cerca a partir do ano 500 foi usada também na liturgia da Igreja Romana, onde a língua oficial era o latim; porém, manteve-se a expressão Kyrie eleison na língua original grega. - Na Idade Média a música na Igreja era executada pelo coral litúrgico e pelo clero. Em consequência disso o canto congregacional nos cultos foi diminuindo em grande parte da Europa central. Mas na Alemanha o canto congregacional sobreviveu através dos Leisen. Canções sacras que incluiram ou terminaram com o Kyrie eleison, (que podia ser contraída para kirleis ou leis) cantado pelo povo da igreja, eram chamadas de Leisen. Já que naquela época grande parte do povo era composto de analfabetas pode-se concluir que nem sabiam o que estavam cantando. O Kyrie eleison era para eles uma expressão de alegria ou um voto de louvor, equiparado ao Aleluia de origem hebraica. http://de.wikipedia.org/wiki/Kyrie_eleison

Fontes

Otto Schlisske “Handbuch der Lutherlieder”, Göttingen, 1948.

http://en.wikipedia.org/wiki/Gelobet_seist_du,_Jesu_Christ

Veja maiores detalhes em http://www.bach-cantatas.com/CM/Gelobet-seist-du.htm#Others
 


Autor(a): Leonhard Creutzberg
Âmbito: IECLB
Hino: 18. Louvado sejas
Natureza do Texto: Música
Perfil do Texto: Comentário ou reflexão sobre hino
ID: 25155
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