A igreja precisa de uma ciberteologia

09/06/2020


A igreja nas redes sociais não se extinguirá com o fim da pandemia e o seu futuro on-line é uma realidade inevitável. Por isso, a igreja precisa de conhecimento técnico e de uma teologia específica. A tese é do Dr. Júlio Cézar Adam, professor da Faculdades EST, defendida em palestra por videoconferência para mais de uma centena de ministros e ministras dos sínodos Vale do Itajaí e Norte Catarinense.

Adam foi o conferencista da atualização teológica intersinodal dos dois sínodos, na manhã de 9 de junho, onde abordou o tema “Culto – Conteúdo e linguagem, virtual e presencial, comunhão e distanciamento”.

Como o culto é o centro da prática luterana comunitária, também durante a pandemia do novo coronavírus ele não é apenas mais um item na agenda ministerial. “O culto é a principal atividade; ele é o centro da vida comunitária na IECLB”, defendeu Adam.

Culto neutro? – Na primeira parte de sua apresentação, Adam questionou sobre o conteúdo do culto na IECLB: “O que o nosso culto comunica?”. Em uma lista de conceitos, Adam classificou o conteúdo dos cultos luteranos como sendo simultaneamente conservadores e críticos, tradicionais e atuais, instituicionais e abertos aos temas da sociedade. Segundo ele, os cultos na IECLB estão entre a confessionalidade e a enculturação do evangelho, entre o crítico e o atrativo, o racional e o afetivo.
Para o professor, há um esforço enorme de ministros e ministras em abrir o leque de abordagens de modo amplo para chegar bem a todo o público que participa. Entretanto, ele adverte, que “não existe culto neutro”; isso é um mito.

Overdose – Num segundo momento, Adams defendeu que a suspensão de atividades presenciais na IECLB trouxe consigo um excesso de oferta. Em um processo que foi, simultaneamente, de superação e muita criatividade, em dois meses aconteceu uma inundação de vídeos com celebrações e reflexões nas redes sociais. Isso acaba criando uma sensação de saturação.

“Vivemos numa sociedade intoxicada de ofertas”, avalia Adam. Um exemplo é o Netflix, que oferece 70 mil filmes e “não encontramos um para assistir”. É um fenômeno do qual também a IECLB não escapa.

Segundo Adam, a maior concorrência da IECLB não são as outras igrejas. “Nosso maior desafio hoje é a cultura do consumo, do hedonismo, das sensações da cultura pop”. Ao lado do culto ao shopping e ao novo, estão outros elementos que trabalham com as sensações, como os seriados do Netflix, por exemplo. Para Adams, isso confirma o que já definiu Agostinho: “O ser humano tem um buraco do tamanho de Deus”.

Igreja on-line – A reação a isso passa por uma adequação da linguagem do culto. A experiência virtual de igreja não terminará com o fim da pandemia do novo coronavírus. Para Adam, o futuro da igreja é on-line. Isso requer duas ferramentas de extrema importância e urgência: técnica e teologia. Nossa experiência cúltica recente levanta a pergunta: “existe comunidade na internet?”. A resposta passa pela readequação da nossa comunicação.

“Culto e mídia sempre andaram juntos”, já que o evangelho é comunicação em si. Nesse sentido, “precisamos de um novo jeito, uma nova linguagem”, desafiou Adam. E o primeiro aspecto importante para ser igreja on-line é que “menos é mais”.

Segundo diversos autores que tratam da Ciberteologia, isso exige novas atitudes. Em primeiro lugar, num culto on-line é preciso abrir mão das grandes palavras e conceitos da teologia para “aterrissar”, segundo Adam. Também é urgente “sair do púlpito”. Para o palestrante, isso significa gravar o vídeo do culto fora do ambiente eclesial, na sala, na cozinha, em meio à natureza ou junto a um elemento que se transforma em gancho para a reflexão.

Para isso, podemos nos inspirar na tradição judaica. Segundo Adam, a sinagoga é fruto do exílio, e foi criada quando o povo judaico ficou sem o templo. “Temos que reinventar a nossa sinagoga”, desafiou Adam, no que concerne ao espaço da igreja no mundo virtual.

A atualização teológica intersinodal também contou com a participação da Presidência da IECLB. A pastora presidente Sílvia Genz dirigiu a meditação de abertura. O pastor 1º vice-presidente Odair Braun e o pastor 2º vice-presidente Mauro Batista de Souza também falaram aos ministros e ministras.

CLOVIS HORST LINDNER, Blumenau/SC
 

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