Alocução para Bênção Matrimonial - Eclesiastes 3.1-8

13/02/1988

ALOCUÇÃO PARA BÊNÇÃO MATRIMONIAL

Casal de filhos a serem batizados

Eclesiastes 3.1-8

Edna M. Ramminger e
Otto H. Ramminger

I — Descrição do caso

Tiago e Sueli são um casal de 32 e 29 anos. Ambos saíram de cidade pequena do interior para estudar em cidade maior. De diferentes cidades, se encontram na universidade e passam a viver juntos, ainda estudantes.

A vida numa cidade maior, como estudantes, provocou em ambos uma revolução de valores. Separaram-se de família, amigos e também da convivência de comunidade. Muita coisa passou a ser relativa para eles, inclusive a necessidade do casamento. Fizeram o casamento civil apenas para registrar o primeiro filho. Até então não tinham dúvidas de que isso era apenas exigências externas. As dúvidas começaram a surgir a partir do questionamento de familiares sobre a orientação religiosa que não estavam dando aos filhos, que eram dois. Contra qualquer argumentação do casal (mesmo as do tipo: Para ser cristão não é necessário viver na igreja.), os parentes contrapunham o fato de que ambos nasceram e cresceram em famílias participantes de comunidades cristãs. Não tinham o direito de negar a educação, a vivência religiosa em comunidade, aos filhos. O questionamento mais desafiador veio de uma irmã de Tiago, mãe solteira, que é membro ativo de uma comunidade cristã. Tiago e Sueli se convenceram da importância da participação numa comunidade cristã para a educação dos filhos e decidiram levá-los ao batismo. Acharam que começar pela ponta certa seria com a Bênção Matrimonial.

A alocução foi proferida numa comunidade do interior, onde o casal foi morar.

II — A alocução

Prezados Tiago e Sueli!

Neste momento em que vocês vêm pedir a bênção de Deus para a vida que querem continuar compartilhando, escolhemos uma palavra bíblica que lhes seja especialmente significativa. Ela está escrita em Eclesiastes 3.1-8. (Ler o texto).

O que nos é dito aqui, de forma poética, é que Deus é Senhor do tempo. Os tempos da vida vão se sucedendo numa seqüência natural. Nada há que dure para sempre. Nenhum mal será sem fim. Nenhuma alegria será eterna. O limite dos tempos liga o fim de um ao início de outro. A vida se faz de uma sucessão de tempos, entre os tempos determinados pelo nascimento e pela morte.

Nessa seqüência dos tempos da vida, as pessoas não podem interferir. Deus determina, ele decide e assim acontece. O que ele dá, porém, as pessoas que vivem, que reagem nesses tempos da vida, é a compreensão, a consciência do que está acontecendo. O Senhor dos tempos dá às pessoas a capacidade de decidir como vão viver os tempos que ele vai distribuindo e organizando para cada uma. Ele capacita as pessoas a compreender, aceitar e superar, se for necessário, aquilo aconteceu pelo nascimento o pela morte.

Essa mensagem de Eclesiastes deve ser compreensível e significativa para vocês dois. Pensando na vida que já viveram juntos e no tempo em que ainda não se conheciam, constatam que, de fato, houve uma sucessão de tempos. Há não muitos anos, não se conheciam. Experimentavam a sucessão dos tempos em separado. Naquela época, outras pessoas compartilhavam com vocês as perguntas e as respostas por tudo o que acontecia. Era uma época em que o mundo ao redor lhes era conhecido, as pessoas, amigos e parentes, eram próximos e a vida comunitária também era algo agradável. Era época também em que aprenderam a conhecer o Senhor dos tempos.

Depois, vocês saíram desse mundo conhecido e foram estudar num lugar distante. Entraram num mundo diferente, à procura da formação profissional, se encontraram. Passaram a repartir as dúvidas, as incertezas, as descobertas e as conquistas. Começou um tempo novo. Aquele mundo, a princípio tão estranho, começou a se abrir. Cada um dos dois não estava mais tão sozinho. Havia ainda alguns amigos. Mas, apesar deles, vocês sentiram a necessidade de se aproximar mais, de compartilhar a vida no dia-a-dia, sob o mesmo teto. Juntos, se sentiram fortes o suficiente para enfrentar questionamentos e críticas. Tinham consciência de que a forma de convivência que escolheram não era regra nem na sociedade, nem entre os amigos e parentes.

Quando vocês ouvem o pregador de Eclesiastes dizer que Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu..., provavelmente se lembram que já experimentaram isso. Podem lhes surgir lembranças das alegrias e tristezas, dos sucessos e frustrações que se sucederam, quando ainda não se conheciam, mas principalmente depois que passaram a compartilhar suas vidas. Essas palavras de Eclesiastes não nos falam de algo abstraio, distante, mas falam de nossa própria vida. Por isso é tão fácil de preenchê-las com nossa experiência. E um dos melhores tempos que vocês viveram, foi o do nascimento dos filhos. Esses dois filhos são tão decisivos na vida de vocês, a ponto de motivá-los a darem uma nova direção a ela. Por esses filhos, vocês tiveram a coragem de revisar posições, de modificar opiniões que defendiam. Por causa deles vocês procuraram novamente a convivência comunitária na Igreja. Os tempos não voltam, como nos lembra o Eclesiastes. Fica apenas a consciência, ficam as marcas de como se viveu cada tempo. Quem sabe as marcas do tempo em que vocês faziam parte, integrante e ativa, de uma comunidade cristã foram muito boas. E, por isso, querem dará mesma oportunidade aos filhos. Vocês decidiram iniciá-los na vivência desta comunidade pelo Batismo. Com a bênção de Deus para sua vida familiar também dão testemunho de que querem a orientação constante de Deus.

Queremos acreditar que Deus os trouxe ao convívio desta comunidade. Não podemos avaliar, o quanto Deus lhes falou nesta sucessão de tempos que viveram até aqui. Também não podemos avaliar, o quanto vocês ouviram a voz de Deus em cada situação —em cada etapa que já se passou. Certo é que vocês estão hoje aqui testemunhando o desejo de ouvir a vontade de Deus para sua vida familiar.

Vocês retornam ao convívio de uma comunidade cristã. A comunidade tem motivos de se alegrar por isso. Vocês passam a fazer parte desta comunidade que confessa a fé no mesmo Deus. Destacamos este fato, não porque esta comunidade seja o caminho para Deus. O único caminho para Deus é seu Filho e nosso irmão, Jesus Cristo.

Importante é que vocês decidiram se integrar nesta comunidade, porque uma comunidade cristã deve ser comunidade de irmãos. A comunidade de irmãos procura testemunhar, na prática, a fé que confessa em conjunto. A comunidade de irmãos procura se comprometer com os ensinamentos de Jesus Cristo — o caminho que leva a Deus. Assim como vocês se sentiram mais fortes para enfrentar o mundo novo e estranho do seu tempo de estudantes, e para isso decidiram viver juntos, assim também se sentirão mais fortes para dar testemunho de sua fé ao mundo, apoiados nesta comunidade de irmãos. Esta comunidade também se alegra por recebê-los. Vocês têm dons e capacidade que poderão colocar a serviço. Com sua disposição de compartilhar, poderão fortalecer aqueles que estão numa caminhada de testemunho frente ao mundo. A tarefa dos cristãos é muitas vezes dificultada, porque são poucos os que assumem o compromisso de testemunhar desde o seu Batismo.

Nosso desejo é que vocês iniciem aqui um tempo novo. Que vocês possam ter consciência do que Deus quer que façam em cada novo tempo que ele lhes reserva! Que vocês e seus filhos possam se sentir acolhidos e aceitos no convívio desta comunidade! E que esta comunidade seja fortalecida no testemunho da vontade de Deus com a participação de vocês! Amém.

III — Subsídios litúrgicos

1. Oração: Nosso Deus, agradecemos por podermos nos reunir aqui como comunidade cristã neste culto. Ele é para nós um culto especial. Por tua vontade pode este casal se integrar no convívio de nossa comunidade e receber a bênção para a vida familiar.

Sabemos que, assim como hoje Tiago e Sueli vivem momentos de gratidão e alegria, na sucessão e eterna alternância dos tempos, irão se defrontar com momentos amargos e dolorosos. Que também nesses momentos possam saber-te presente, possam perceber que tu mesmo estás com eles, remando o barco da vida! Que a certeza da tua presença permita-lhes superar também as tempestades com a devida serenidade! Que eles sempre percebam que o verdadeiro sentido da vida é estar aí para aqueles tantos que anseiam por uma mão amiga, por um braço forte, por um corpo disposto a suportar outros corpos fracos, famintos, doentes e desprezados! Olha também por seus filhos. Que possam também eles, junto com os pais, aprender a alegrar-se por causa da tua presença em cada tempo da vida!

Que a comunidade faça todo o possível para acolher bem o casal e seus filhos! Que possa auxiliá-los e animá-los a colocar seus dons a serviço da comunidade confessional e também das tantas outras pessoas e grupos, aos quais poderão servir!

Rogamos, ainda, por todos os casais e famílias de nossa comunidade, para que, em meio à desintegração e a individualização que o mundo lhes propõe, possam manter-se unidas no serviço a ti. Serviço esse que se reflete numa vivência comunitária entusiasmada e no incansável apoio aos pequeninos irmãos de teu Filho Jesus Cristo que nos ensinou a orar: PAI NOSSO.

2. Leituras: Salmo 34.1-10 e Tiago 4.13-17.

3. Cantos: Hinos do Povo de Deus 229 e 232.


Proclamar Libertação – Suplemento 2
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Oto Hermann Ramminger e Edna Moga Ramminger
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1988 / Volume: Suplemento 2
Natureza do Texto: Liturgia
Perfil do Texto: Alocução
ID: 7322
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