Amós 5.18-24

Prédica

04/11/2011

Texto da Pregação: Amós 5.18-24
Leituras bíblicas: 1 Tessalonicenses 4.13-18 e Mateus 25.1-13
Autor: P. Geraldo Graf
Origem: Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte
Data da pregação: 06/11/2011
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes /Antepenúltimo Domingo do Ano Eclesiástico


Irmãos e irmãs em Cristo!

Certa vez, um membro influente e bem situado na vida procurou o pastor após o culto e disse:
“Pastor, se quiser manter a minha amizade e a minha colaboração na comunidade, então proceda da seguinte maneira = Ocupe-se tão somente com os assuntos dentro do templo. Celebre um culto bem bonito e faça sua pregação. Porém, não se intrometa na vida particular dos membros. O senhor cuide do que acontece dentro da igreja. O que acontece lá fora, durante a semana, não lhe interessa”.
Algumas semanas depois, o pastor foi procurado pela esposa daquele senhor. Ela solicitava a sua intermediação, pois havia indícios de que ele a traía.

Perguntemo-nos: Tem o culto dominical a ver com aquilo que fazemos durante a semana? O nosso comportamento e as nossas ações têm relação com o nosso louvor a Deus? Não bastaria frequentar os cultos e fazer generosas ofertas para a comunidade para que Deus (e o pastor) fique satisfeito conosco?

De acordo com as palavras de Amós 5.18-24, não dá para separar nossa vida pessoal e particular diária do culto e do louvor a Deus. No culto, expressamos na presença de Deus tudo o que somos e o que praticamos. Nada fica escondido. Em Rm 12.1, está escrito que “devemos oferecer-nos por inteiro a Deus como sacrifício vivo, dedicado a seu serviço”. E em Hb 4.12-13, está escrito que “a palavra de Deus é viva e poderosa... ela vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do coração delas. Não há nada que se possa esconder de Deus. Tudo está descoberto e aberto diante dos seus olhos, e é a ele que todos nós teremos de prestar contas”.

Fica evidente, de acordo com as Sagradas Escrituras, que não dá para separar nossa vida particular do culto; não dá para separar a nossa atuação diária do louvor dominical. Um culto desligado da nossa vivência diária não agrada a Deus. Porém, parece que nem todo mundo se lembra disso ou concorda com isso! É o que descobrimos e observamos nas palavras do profeta Amós:

Amós era natural de Tecoa, sul da Palestina, e viveu por volta de 760 anos antes do nascimento de Jesus. Ele não era profeta de profissão, mas era pastor de ovelhas e plantador de sicômoros (uma espécie de figo). Um dia, porém, Deus o tirou de detrás do seu rebanho e da sua plantação e o enviou como profeta ao norte, mais precisamente para a cidade de Betel, que era o centro religioso do Reino do Norte. Lá, ele deveria profetizar contra a hipocrisia do culto religioso praticado pelos israelitas.

Há muitas semelhanças entre a sociedade de Israel daquela época e a sociedade de hoje em dia. Parece que os problemas se repetem. Por isso, a mensagem de Amós permanece atual e tem muito a nos dizer em nossos dias.
O Reino do Norte de Israel atravessava um período de paz internacional. Ninguém ameaçava invadir o país. Isso proporcionou um razoável progresso econômico interno. Algumas pessoas enriqueceram muito e viviam um alto padrão de luxo. Isso também se refletia nos cultos. Eram realizadas muitas festas, as ofertas eram generosas, o louvor intenso. Novos instrumentos musicais foram incorporados às celebrações. Tudo muito bonito. Tinha-se a impressão de uma comunidade viva e participante. Porém, todo o bem-estar e o luxo escondiam uma dura realidade: a pobreza da maioria do povo, a injustiça social. A riqueza e a bem-estar de alguns estavam ancorados sobre a exploração e a escravidão de uma larga faixa da população.

O que era pior: sustentava-se a desigualdade social pela corrupção: funcionários aceitavam suborno para favorecer a classe dominante; juízes aceitavam propinas para torcer o resultado dos julgamentos; comerciantes agiam com desonestidade...

O que era pior ainda: A classe dominante se comportava como se tudo isso fosse perfeitamente normal. Reunia-se em belos cultos de intenso louvor, com muito cântico e fartas refeições. Acreditava que todo o luxo e esplendor eram bênção de Deus. Deus estaria do lado dela. Os pobres estavam em situação de miséria por castigo divino.

Foi preciso um Amós denunciar essa dicotomia entre vida diária e culto como uma escandalosa hipocrisia, que não agrada a Deus. O louvor a Deus é certo e necessário. Porém, precisa refletir nossas atitudes diárias.

Amós preocupou-se com os fracos, com as pessoas endividadas e escravizadas. Ele colocou-se radicalmente contra a prática da injustiça e rejeitou o culto hipócrita que se baseava nas aparências. Anunciou que atos religiosos no meio da injustiça e da desonestidade eram afrontas para Deus. O desejo de Deus é ver seus filhos e suas filhas vivendo o amor e exercendo a justiça e a integridade. O verdadeiro louvor não consiste em atos religiosos isolados entro do templo, mas no louvor que reflete a vivência do amor na vida diária (que a justiça corra como um rio cujas águas nunca secam).

Esta mensagem não se esgota com a atuação de Amós há 2770 anos. Ela continua viva e atual. Ela permanece como forte clamor para dentro da nossa sociedade e como alerta para a nossa prática cultual, em meio à uma realidade em que grassam a injustiça social e a exploração dos mais fracos. À luz das Sagradas Escrituras, podemos proclamar que Deus não se agrada dos cultos de prosperidade, dos cultos de louvor (por mais bonitos e bem frequentados que sejam, enquanto a maioria do povo não tem acesso digno às coisas mais básicas da vida, criadas por Deus para todos e garantidas na constituição do país. Também hoje precisamos levar a sério as denúncias e admoestações do profeta Amós.

Somos convidados para o louvor. Para muito louvor! Porém, este louvor precisa refletir a nossa vida diária. Enquanto não acontece justiça, enquanto a verdade é encoberta, enquanto pessoas passam fome e sofrimento ao nosso redor, o nosso culto precisa refletir essa inquietude. Não podemos pensar como aquela pessoa que reclamou certa vez: “Pastor, pare de falar de problemas e de injustiça em suas prédicas. Isso eu já sei e leio diariamente nos jornais. Eu venho ao culto para me sentir bem e não para ficar de consciência pesada”.

Assim como somos enviados para testemunhar a nossa fé ao mundo, assim também somos chamados para trazer ao culto aquilo que somos e fazemos na vida diária. Um culto desligado da vida, por mais bonito que pareça, não agrada a Deus.

A marca do cristão deve ser o seu esforço de agir com justiça no meio de um ambiente de materialismo e ganância, ser justo e não querer ter vantagens. Não enxergar o culto como um lugar de entretenimento, de ser uma ocasião para “fazer cócegas na alma”, mas enxergar o culto como um chamado e um envio para servir, como uma oportunidade para clamar por pureza de vida. Só assim seguiremos os passos que Jesus nos deixou como exemplo (1Pedro 2.21).
Amém.


(Geraldo Graf – BH – 03.11.2011)
 


Autor(a): Geraldo Graf
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Antigo / Livro: Amós / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 24
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 11127
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