Atos 1.15a,21-26

Auxílio Homilético

20/05/2012

Prédica: Atos 1.15a,21-26
Leituras: João 17.1a,6 -19 e 1 João 5.9-13
Autor: Jeferson Andre Samuelsson
Data Litúrgica: 7º. Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 20/05/2012
Proclamar Libertação - Volume: XXXVI

1.Introdução

O livro de Atos (assim como o Evangelho de Lucas) destina-se a Teófilo, provavelmente um romano que pertencia a uma classe rica e influente. O escrito possui um grego fluente e bem elaborado e destina-se, principalmente, a gentio-cristãos.

O alvo de Lucas aparece em cada capítulo. Ele queria relatar, em primeiro lugar, como o dom do Espírito Santo foi concedido no dia de Pentecostes e mostrar que o trabalho dos apóstolos que se seguiu deve-se ao auxílio e ao ministério do Espírito Santo. Esse e sua obra são mencionados umas setenta vezes no decorrer do relato de Atos. Por isso o livro é chamado por um estudioso de “evangelho do Espírito Santo”. Em segundo lugar, Lucas quis relatar a difusão do cristianismo não apenas entre os judeus, mas também entre os gentios, como um progresso do evangelho. Ainda um terceiro propósito: Lucas ensina que somos justificados somente mediante a fé cm Cristo Jesus, sem as obras da lei. Daí o uso frequente da palavra “graça” e a contínua referência às boas-novas da misericórdia de Deus em Jesus.

O livro de Atos, além de demonstrar as decorrências da ressurreição, procura relatar a difusão do cristianismo e os feitos pessoais ou a história dos apóstolos. Observamos em suas páginas como a igreja cristã se formou e estabeleceu. Os apóstolos proclamaram a verdade de Deus sobre paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Mas Deus acompanhou o testemunho deles com a manifestação do Espírito Santo. Foram abraçados pelo amor de Deus e, publicamente, professaram sua fé, mesmo sabendo dos riscos que corriam.

2. Exegese e meditação

Considerando a mesma autoria de Lucas e Atos, percebemos que o evangelista enfatiza a espera do cumprimento da promessa do envio do Espírito Santo. A ordem de Jesus em Atos, de não ausentar-se de Jerusalém até que se cumprisse a promessa do Pai (At 1.4), é a mesma de Lucas: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais investidos de poder” (Lc 24.49).

Respondendo sobre a restauração do reino de Israel, Jesus ressalta que não competia a eles conhecer tempos ou épocas que o Pai reservara para sua exclusiva autoridade. Mesmo com essa restrição, Jesus enfatiza que eles receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito Santo e que seriam testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria até aos confins da terra (At 1.8).

Como deviam esperar em Jerusalém para receber o Espírito Santo, voltaram ao lugar usual onde se reuniam: no cenáculo, que provavelmente fora a casa de um discípulo. Os discípulos celebravam reuniões públicas no templo (Lc 24.53), especialmente interessados na obra missionária. No entanto, a consolação e o encorajamento mútuo realizavam nas casas dos membros da congregação. Como indicam as páginas de Atos, muitos deles são citados nominalmente. Foram preservados, apesar do temporal de adversidades que os atingira com muita violência, ocasionado pela paixão e morte de Jesus Cristo.

Agora, no entanto, queriam iniciar o trabalho que lhes fora designado, esperando apenas pelo prometido poder do alto: o envio do Espírito Santo. Entre a ascensão e o pentecostes, perseveraram em oração, no mesmo sentimento. Por certo que sentiam sua fraqueza e pobreza espiritual e estavam ansiosos para receber o dom que Jesus lhes prometera. O modo como agiram serve de exemplo para nós e para os cristãos de todos os tempos, pois se reuniam tanto em público como em particular, perseverando na oração sincera.

A perícope de Atos, proposta para esse dia, não tem muitos contornos e relevos, nem tantas possibilidades de leituras diferentes. Trata-se da escolha de um apóstolo para ocupar o lugar deixado por Judas. A respeito disso trata a própria sequência do texto a partir do v. 15. Há, no entanto, alguns pontos a serem pensados: a assembleia com mais de 120 pessoas, as qualificações específicas do candidato, a eleição e o conteúdo da oração.

Deixando de lado o “lançar sortes” (v. 26), temos uma espécie de procedimento a ser seguido quando uma comunidade precisa tomar decisões ou escolher dentre as pessoas um representante, um líder ou alguém para ocupar um determinado cargo.

Havia uma lacuna a ser preenchida. O autor não nos informa por que o grupo deveria ser completado por um 12º apóstolo em lugar de Judas. Também os evangelhos nada informam sobre essa iniciativa. Mas o número doze provavelmente é uma alusão aos patriarcas do povo de Deus da antiga aliança, que agora será restaurado a partir da atividade dos doze discípulos de Jesus. Mais tarde, esse grupo foi aumentado por outras lideranças, como o apóstolo Paulo. “Naqueles dias” (At 1.15), ou seja, num dos dez dias entre a ascensão de Cristo e o derramamento do Espírito Santo, numa das reuniões realizadas, Pedro assumiu a iniciativa, ergueu-se e, em pé diante de todos, falou-lhes sobre um assunto muito importante. Na ocasião, o grupo compunha-se de aproximadamente 120 pessoas. Pedro chama-os de irmãos, pois estão unidos pela mesma fé. Ele próprio também é um irmão; mesmo que atue como porta-voz, é um deles, que atua com o consentimento deles. De modo solene, dirige-se à assembleia como irmãos, destacando que, antes de tudo, foi necessário que a Escritura se cumprisse. A traição de Judas fora predita mais de mil anos antes (Sl 41.9).

Depois de referir-se à vacância no número dos apóstolos, Pedro fez a proposta para a eleição de um homem para suceder Judas no sublime ofício da proclamação da mensagem de Deus e para fazer parte do grupo dos doze. Era necessário escolher, dentre os discípulos, alguém que desde o começo estivesse junto deles e de Jesus, alguém que fosse testemunha de todo o curso da vida de Cristo, desde o batismo por João até o dia da ascensão.

Notemos que são apresentadas certas qualificações ao futuro integrante. Mesmo sem dar detalhes, Lucas revela a preocupação daquelas pessoas quanto à qualificação dos candidatos. No preâmbulo de seu discurso, Pedro fala “dos homens que nos acompanharam todo o tempo”. Outra tradução possível seria “dos homens que conviveram conosco”. Não se trata, portanto, de uma pessoa qualquer, mas de alguém conhecido, amigo, companheiro e digno de confiança. A qualificação pressupõe uma convivência de cerca de três anos, ou seja, “todo o tempo em que Jesus esteve conosco, desde seu batismo até que ascendeu”. Logo não poderia ser um neófito, com a empolgação dos recém-convertidos. Precisava ser uma testemunha do ministério terreno de Jesus e da ressurreição de Cristo.

É necessário frisar que, sem a certeza da ressurreição de Jesus, o cristianismo torna-se uma ilusão, uma farsa. A experiência de participar de todos esses acontecimentos é pré-requisito para o novo apóstolo. Os apóstolos foram chamados para testificar a respeito daquilo que eles próprios viram e ouviram. A igreja recebeu o evangelho de Cristo por meio de testemunhas oculares e auriculares.

Aceita a proposta de Pedro, propuseram-se dois homens para ocupar a vaga: José Barsabás e Matias. Esses dois homens eram talvez os únicos que possuíam as qualificações apresentadas por Pedro. Depois os presentes dirigiram-se a Deus, conhecedor dos corações (Jr 17.10), em oração. Ele conhece o coração das pessoas, não precisa refletir, e sim simplesmente designar o homem escolhido para ocupar o ministério e apostolado deixado vago por Judas.

Saliente-se, ainda, que a oração dos discípulos serve como modelo para nós. Eles se limitam a apresentar seu pedido. Não repetem qualquer pensamento, nem elaboram nenhum ponto fora do necessário. Uma oração breve numa ocasião importante dificilmente seria considerada uma verdadeira oração em nossa época. Provavelmente, seria considerada uma oração volúvel. Tendo santificado o momento com a palavra de Deus, por meio da oração, lançaram sortes. Como fizeram isso, o texto não diz. Mas, provavelmente, seguiram práticas utilizadas no Antigo Testamento. Talvez utilizaram tabuletas com os nomes de José e Matias, sacudiram-nas num vaso ou noutro vasilhame. A primeira a cair forneceu a decisão (1Cr 24.5; 25.8; Lv 16.8; Nm 34.13).

Foi incomum, é claro, a maneira de selecionar o novo apóstolo. O método, no entanto, não deve ser considerado um exemplo a ser seguido. Todavia, o uso da palavra de Deus e o sincero apelo para dirigir a escolha dos dirigentes da igreja nunca deveriam faltar em qualquer assembleia de uma congregação cristã.

3. Subsídios litúrgicos

Oração (Coleta):

Ó Rei da Glória, Senhor dos Exércitos, conhecedor dos corações humanos, que subiste com triunfo para além de todos os céus, nós te rogamos que não nos deixes sem consolo, mas que nos envies o Espírito da Verdade, prometido pelo Pai; ó tu, que vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo, ouve a nossa oração. Amém.

Oração geral ou responsiva:

Como oração geral ou responsiva, pode-se utilizar o Salmo 139, um hino de confiança em Deus, que cuida de todas as pessoas e conhece-as desde o ventre materno.

Bibliografia

BROWN, Colin; COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.Volumes 1 e 2. São Paulo: Vida Nova, 2000.
KRETZMANN, Paul E. Popular Commentary of the Bible. St. Louis: Concordia Publishing House, 1921.
 


Autor(a): Jefferson André Samuelsson
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 7º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 21 / Versículo Final: 26
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2011 / Volume: 36
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25587
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Devemos orar com tanto vigor como se tudo dependesse de Deus e trabalhar com tanta dedicação como se tudo dependesse de nosso esforço.
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