Atos 13.44-52

Auxílio Homilético

14/05/1995

Prédica: Atos 13.44-52
Leituras: Apocalipse 21.10-14,22-23 e João 13.31-35
Autor: Almir dos Santos
Data Litúrgica: 5º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 14/05/1995
Proclamar Libertação - Volume: XX


A leitura deste trecho dos Atos dos Apóstolos se insere no tema universalista de Lucas (Lc 3.6; 24.47; At 1.8; 9.15; 10.34; 11.18) e marca uma mudança decisiva na vida apostólica de Paulo: a abertura definitiva aos pagãos (v. 46) — então nos voltaremos para os gentios.

Explicando-nos os motivos dessa mudança, o autor acentua o contraste com os judeus, suscitado por seu ciúme e inveja, pois a aceitação indiscriminada dos pagãos, somente com base na fé e não na lei (Rm 9.30 a 10.4), faz cair todo privilégio nacionalista. São Paulo, aplicando a si o que Isaías diz do Servo em 49.6, demonstra como toda destruição das barreiras nacionais ou raciais entra no plano salvífico de Deus (v. 47; e 26.16-18; 28.28 deste mesmo livro).

O Cordeiro os apascentará, conduzindo-os até as fontes de água da vida, é o que nos diz a leitura do Apocalipse. Este trecho constitui a parte intermediária da seção que tem o nome de os sete selos (7.1-8.1). Eles são abertos pelo Cordeiro imolado (5.7-9 e 6.1), isto é, por Jesus, que se apresenta assim, por meio de sua paixão, como o revelador do desígnio salvífico de Deus (cf. também Rm 16.25; l Co 2.7; Ef 1.9).

A leitura de São João é a continuação do tema Jesus, bom pastor. As palavras de Jesus infundem a segurança de que, tanto quanto depender dele, os seus discípulos certamente alcançarão a salvação.

O Cordeiro, o Grande Pastor da Humanidade — na realidade da pessoa de Cristo se identificam as imagens do cordeiro-servo de Javé e do pastor-guia do povo em seu contínuo êxodo religioso. Na primeira imagem é expressa a proximidade conosco, pela qual o Filho de Deus quer assemelhar-se em tudo a seus irmãos, partilhar seu destino até a morte, derramando seu sangue inocente para nos resgatar. Na outra, é expresso o amor misericordioso de Deus que Cristo nos deu a conhecer, vivo em sua pessoa, diversamente de outros chefes religiosos e políticos do povo, que também se apresentavam como pastores em nome de Deus. O pastor supremo das nossas almas percorreu pessoalmente o itinerário que nos indica: a grande tribulação que tem como termo — dom gratuito de Deus — uma felicidade paradisíaca simbolizada nas fontes da água da vida.

Entendemos que as leituras para este 5 Domingo da Páscoa centralizam-se ainda na grande figura do Cordeiro, o Grande Pastor da Humanidade. Gostaria de continuar este texto, procedendo a uma reflexão sobre três pequenos aspectos, que nos auxiliarão a compreender e a sentir este Cristo ressurreto que se configura e se concretiza no Cordeiro-Pastor da Humanidade, que venceu a morto o nos trouxe, pela ressurreição, a vida e a vida em abundância.

1. Um itinerário oferecido a todos

Ninguém é excluído. Os 144 mil assinalados — símbolo da totalidade do Novo Israel na fé, que reúne os que crêem, de todas as raças e culturas — já deixavam ver uma vontade de salvação universal; ainda mais evidente e a indicação da imensa multidão, que ninguém podia contar, de toda nação, raça, povo e língua.

Por outro lado, temos aqui uma proposta a todos os que, na Igreja, tem responsabilidade pastoral. Se não amam seus irmãos com um amor pessoal, suave e forte, previdente e pronto para remediar, se não consomem sua vida esquecendo-se de si mesmos, então não são verdadeiros colaboradores do único pastor.

Análoga é a missão de toda comunidade cristã para com a multidão dos filhos de Deus; condição indispensável de vitalidade é sua fecundidade apostólica, a capacidade de buscar, de acolher e de conduzir às fontes da Palavra e dos sacramentos.

2. Como ovelhas sem pastor

O homem de hoje se sente cada vez mais aviltado e desconhecido como homem, como pessoa e centro de interesse. O que mais o humilha é o clima de anonimato, típico da nossa civilização, a sensação opressiva de massificação que o torna um número enfileirado numa série fria de outros números. E essa massa anónima tem a sensação nítida de estar ao arbítrio de forças obscuras, mas poderosas, que a manipulam com o fim de explorá-la e dela tirar vantagens, com objetivos egoístas de dominação e poder. Para dar um exemplo, pensemos unicamente na força da manipulação publicitária para obter proventos cada vê/, maiores, ou na manipulação política da opinião pública em busca de poder.

A figura do Cristo cordeiro-pastor revoluciona tudo isto. Cremos que Paulo e Barnabé estavam ansiosos demais para anunciar a este Cristo. Os pagãos eram o alvo: Então voltaremos nosso anúncio aos pagãos. O verdadeiro universalismo exige renúncia a qualquer privilégio.

Paulo e Barnabé estão, de certa forma, ressaltando em Atos dos Apóstolos esta figura do Cristo-Pastor. Como pastor, Cristo instaura relações pessoais com cada um de nós (com os gentios) individualmente; por seu amor, que atinge nossa mais profunda identidade, não naufragamos no anonimato de um rebanho sem nome; ele nos conhece, nós o conhecemos, face a face, sentimo-lo próximo em todos os momentos de nossa vida, interessado com amor por nossa aventura humana. Não distante, frio, indiferente. E, como cordeiro, Cristo nos lembra que sua lógica é a lógica da doação, não a da exploração; do serviço, não do poder; do sacrificar-se pelos outros, não do sacrificar os outros a si. Nesse contexto, o Cristo cordeiro-pastor é figura viva e atual. Sentimo-nos envolvidos por seu contínuo cuidado. Não esmagados pela indiferença de um mundo hostil, por uma existência sem sentido porque sem ponto de referência. Muito alegres por estas palavras, os gentios glorificavam a palavra do Senhor, e todos aqueles que eram destinados à vida eterna abraçaram a fé. (V. 48.)

3. Um pastor pronto a dar até a vida

Em Cristo, que se faz cordeiro para ser imolado e lavar-nos com seu sangue, que se faz pão para nutrir-nos, vemos a verdadeira face de Deus Pai.

Imaginamos Deus rico e poderoso, e certamente o é, mas não do modo como pensamos; sua riqueza não consiste em possuir, mas em dar, em empobrecer-se; e não usa de seu poder para impor-se, mas para se fazer aceitar. A liberalidade do Filho manifesta como é o Pai, pobre por excesso de riqueza, transbordante de uma vida que não procura ter para si, mas que derrama, com liberalidade e sem medida, sobre nós, através de Cristo; de fato, ele dá seu espírito sem medida (Jo 3.34). Como exemplo desta generosidade, diz Paulo: Ele, que não poupou seu próprio Filho, mas o sacrificou por todos nós, como poderá deixar de nos dar, com ele, tudo mais? (Rm 8.32). Se Deus não recusa sacrificar aquilo que tem de mais caro, o próprio Filho, devemos compreender que ele não se poupa a si mesmo, que, por nós, se despoja do próprio ser e da própria vida, que se dá a nós enquanto nos dá seu filho. (J. Moingt.)

Estas leituras, e em especial Atos e São João, nos mostraram a felicidade dos eleitos que vivem e que viveram com Deus. Nós, que ainda estamos a caminho, devemos orar sempre para permanecermos unidos a Cristo, bom pastor, o grande pastor dos gentios, que nos guia às águas da vida eterna. Digamos com confiança: Senhor, concede-nos a vida. Amém.

4. Bibliografia

BUYST, Ione. Preparando a Páscoa. Petrópolis, Vozes.
Guia da Assembleia Cristã. Petrópolis, Vozes. v. II.
Guia Bíblico Litúrgico. Petrópolis, Vozes. v. II.


Autor(a): Almir dos Santos
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 44 / Versículo Final: 52
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17689
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