Atos 5.12,17-32

Auxílio Homilético

23/04/1995

Prédica: Atos 5.12,17-32
Leituras: Apocalipse 1.9-20 e João 20.19-31
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: 2º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 23/04/1995
Proclamar Libertação - Volume: XX

1. Considerações gerais

a) O presente texto não foi comentado na série de auxílios de Proclamar Libertação, nem na séries alemãs.

b) Observando o título do livro Atos dos Apóstolos, é bom lembrar que não se trata das obras dos apóstolos, mas do anúncio do evangelho, onde o próprio Jesus fala e age (8.25).

c) O autor do livro de Atos é Lucas, o mesmo que escreveu o Evangelho segundo Lucas.

d) O livro todo acentua que o caminho para a salvação é a fé em Jesus Cristo (4.12; 13.39; 15.11; 26.18).

e) O livro tem um esquema ordenado, tendo como ponto de partida 1.8: Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. Ser testemunha em Jerusalém: 2.1 até 7.60. Ser testemunha na Judéia e em Samaria e até os confins da terra: 8.1 até 28.31.

2. Contexto

A presente perícope relata acontecimentos com os apóstolos em Jerusalém. Todo o problema surgiu já no cap. 3, onde Pedro havia curado uma pessoa em nome de Jesus. O povo viu nesse sinal uma grande obra de Pedro. Mas este se defendeu num discurso afirmando que nada vinha dele próprio, mas tudo acontecera através da fé em Jesus. Toda esta situação gerou descontentamento das autoridades e grupos religiosos da época. Para não causar mais confusão, mandaram prender Pedro e João (cap. 4). E, no interrogatório, proibiram os apóstolos de falar no nome de Jesus. Mas eles disseram que não podiam deixar de falar das coisas que viram e ouviram. Com receio da revolta do povo, os soltaram.

Na sequência vemos que os apóstolos continuaram a testemunhar Jesus e agir no seu nome. Novamente foram levados à prisão. Este segundo relato da prisão tem bastante semelhança com o primeiro no cap. 4, com a diferença de que no cap. 5 os apóstolos são libertados da prisão pelo poder de Deus, que se mostra mais forte do que o poder dos homens. E segue-se o parecer de Gamaliel, que levou as autoridades a soltá-los.

Quanto à delimitação do texto, não seria necessário deixar os vv. 13-16 fora, pois eles descrevem os sinais e prodígios do v. 12. Por isso, sugiro usar o texto corrido na leitura e reflexão: 5.12-32.

3. Refletindo sobre o texto

O que as autoridades desejavam, a saber, acabar com as pessoas que falavam de Jesus e agiam em seu nome, não conseguiram. Quanto mais perseguiam e proibiam, tanto mais falavam de Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado. Os sinais e prodígios são descritos como grandiosos nos vv. 13-16. Muitas pessoas eram levadas à presença dos apóstolos e recebiam orientação, consolo, cura, ajuda, ânimo para a vida.

Tudo isso era simplesmente demais para as autoridades. Novamente mandaram prendê-los para os fazer calar. E desta vez certamente foram presos com mais segurança. Mesmo assim, Deus resolveu agir com o seu poder, mostrando às autoridades que todo o seu aparato de poder não representava nada. Pois, no dia seguinte, os guardas da prisão tiveram que confessar que não sabiam como os apóstolos haviam saído dela. Tudo estava trancado, os guardas nos seus postos, mas os apóstolos não estavam mais nas celas.

Os apóstolos, por sua vez, não fugiram para escapar das mãos das autoridades. Deus os mandou retornar ao templo e dizer ao povo todas as palavras desta Vida. E essas palavras têm como conteúdo Jesus Cristo: morto na cruz, mas que ressuscitou e é a única esperança para a vida. Basta crer nele e aceitá-lo como Senhor e Salvador.

No dia seguinte estavam reunidos o Sinédrio e todo o Senado dos filhos de Israel para ouvir os apóstolos. Não estavam mais na prisão. Houve inquietação e alvoroço. Houve confissão dos guardas: na prisão tudo intacto, mas os apóstolos não estavam lá. Apareceu finalmente alguém que relatou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere estão no templo, ensinando o povo.

Inacreditável! Colocados na prisão e agora falando de Jesus. O que fazer? Todo o cuidado seria pouco, pois o povo estava do lado dos apóstolos. Por isso mandaram buscá-los com cautela para interrogá-los. Lembraram aos apóstolos a proibição que tinham imposto para que não falassem mais no nome de Jesus. Toda Jerusalém já estava cheia desta doutrina (v. 28). Novamente Pedro e os demais apóstolos tiveram que dizer às autoridades que não podiam deixar de obedecer a Deus. As proibições humanas não poderiam ser mais fortes do que o testemunho de Jesus Cristo, morto, mas ressuscitado. Ele foi exaltado a Príncipe e Salvador (v. 31). Ele estava chamando as pessoas ao arrependimento, a fim de receber remissão dos pecados e ter assim nova vida em Jesus. No poder do Espírito Santo os apóstolos precisavam continuar sua caminhada, testemunhando Jesus e agindo em seu nome em favor de todas as criaturas.

4. Meditação

Onde acontece algo diferente daquilo que costumamos ver no dia-a-dia, aí pessoas apontam olhos e ouvidos para verificar o que está acontecendo de extraordinário. Exemplos: numa rua o movimento é normal. Mas, se acontece um acidente com um carro ou com uma pessoa, muitos se aglomeram no local para ver. Em casa tudo transcorre normalmente. Mas, se alguém fica doente ou traz uma novidade para casa, todos querem saber o que está acontecendo. Na lavoura tudo transcorre normalmente. Mas, se nasce um bezerro, se os ovos descascam e nascem pintinhos, se as primeiras espigas de milho podem ser colhidas, aí os olhares se voltam para o que aconteceu de diferente.

Assim também foi com os apóstolos no tempo da formação das primeiras comunidades cristãs. Eles anunciavam ao povo o evangelho de Jesus Cristo que fora morto, mas que Deus ressuscitou. Ele é a Vida para todos. Também era a Vida para os doentes, que eram marginalizados pela Igreja e pelas autoridades da época. Os apóstolos colocavam em prática o evangelho curando pessoas. Eram acontecimentos fora do normal diário. E por isso o povo procurava os apóstolos. Mas, como em todas as coisas extraordinárias, há duas maneiras de reagir: uns a favor e outros contra; assim também ocorreu com aquilo que os apóstolos realizaram em nome de Jesus. O povo via os acontecimentos com alegria, pois estava vendo pessoas serem ajudadas em suas necessidades. Mas as autoridades da Igreja viam nesses acontecimentos diminuição de sua influência e de seu poder.

Já Jesus tinha sido tal ameaça. Acabaram com ele para pôr fim ao movi¬mento. Entretanto, os apóstolos continuavam a obra de Jesus Cristo. Era necessário agir. O que fazer? A saída seria prender os apóstolos e colocá-los sob vigilância dia e noite. Já haviam feito isso uma vez, e foram soltos, mas com a recomendação de não falarem mais no nome de Jesus. Já na primeira vez os apóstolos haviam dito que não poderiam deixar de falar daquilo que viram e ouviram. Podemos imaginar a raiva das autoridades. Sua vontade seria acabar de vez com os apóstolos. Mas não poderiam cometer tal ato, pois o povo iria revoltar-se contra elas.

Vejo espelhada aí a nossa situação de hoje. Onde se anuncia Jesus Cristo, que veio trazer vida digna para todos, há muitas pessoas, sejam do governo ou às vezes até de igrejas, que não vêem com bons olhos a atenção que se dá aos deficientes, aos sem-terra, aos desempregados, aos favelados... Estes são em parte tachados de preguiçosos. A Igreja que pregue a Palavra e não se envolva em tais situações. Há pessoas que ameaçam suas igrejas, se elas continuarem a defender tais grupos de pessoas. Em todo caso as autoridades não conseguiram acabar com a ação dos apóstolos. Tiveram que soltá-los, diante do parecer de Gamaliel.

Os apóstolos declararam também desta vez que precisavam obedecer mais a Deus do que aos homens. E que no poder desse Deus iriam continuar sua missão. No decorrer da história tivemos muitas pessoas que, obedientes ao chamado de Jesus, agiram em nome deste, mesmo que lhes custasse a vida (por exemplo: Dietrich Bonhoeffer). Também hoje somos desafiados a não negar Jesus, mas testemunhá-lo em palavras e ações. Tudo podemos naquele que nos fortalece, Jesus Cristo.

Dois assuntos vejo com destaque no texto:

1. A obediência irrestrita para anunciar o evangelho e nele agir (Páscoa).

2. A soberania do poder de Deus no seu Espírito Santo, que nos dá coragem diante dos que querem proibir ou até matar (vitória de Deus sobre a morte — poder de Deus). Os outros dois textos previstos para este domingo ajudam a ver claramente o Senhor ressurreto e sua vitória sobre a morte e suas manifestações.

5. Celebração litúrgica e pregação

1. Estamos alegres com a presença de todos neste 1o Domingo depois da Páscoa. Lembramos nesta época que Jesus Cristo não permaneceu na morte. Ele ressuscitou e vive. Ele é nossa esperança para a vida. Assim estamos reunidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Exaltamos Jesus Cristo com as palavras: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. (At 4.12.)

2. Nesta alegria da vida que temos em Jesus Cristo convido para cantar o hino 65 (Hinos do Povo de Deus: Desperta em alegria, minha alma com louvor (ou hino idêntico que exalte a ressurreição de Jesus).

3. Lembro que toda a esperança vem do Senhor, que fez o céu e a terra. O apóstolo Paulo testemunha na sua 1a Carta aos Coríntios 15.19: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Na certeza desta esperança que ultrapassa nossa curta vida neste mundo, convido para cantarmos louvores ao Triúno Deus:

4. Glória seja ao Pai... ou cantar um hino que engrandeça o Senhor (por exemplo: 1a estrofe do hino 70 de HPD — Glorioso o dia já raiou...).

5. Diante da grandeza deste Deus nos sentimos pequenos e fracos. Por isso, confessemos os nossos pecados:

Deus Todo-Poderoso! Tu venceste os poderes da morte e vives para sempre. Ninguém pode impedir a tua vitória. De nossa parte sentimos que somos desobedientes ao teu chamado. Pedimos, pois, perdão e renova-nos pelo sangue de Jesus, a fim de sermos teus seguidores em palavras e atitudes. Humildemente pedimos-te: tem piedade de nós, Senhor!

6. A comunidade canta as estrofes 5 e 6 do hino 59 de HPD:Nós te pedimos, ó Jesus, tu que venceste o mal na cruz, concede-nos a tua luz! (ou só ler).

7. Através da Bíblia ouvimos a respeito de pessoas que sentiram fraqueza e dúvidas, mas Jesus, o ressurreto, animou-as com a sua presença. Vamos ler do Evangelho segundo João, 20.19-31. Quatro pessoas lêem o texto: vv. 19-23; 24-25; 26-29; 30-31.

8. A comunidade canta: A tua palavra é semente e tu és o semeador (no 80 de Cantarei ao Senhor — azul).

9. Outro testemunho do poder de Jesus como ressuscitado nos é dado na visão de João em Apocalipse 1.9-20. Convido para lermos todos juntos.

10. A comunidade canta: A tua palavra é semente e tu és o semeador (o mesmo do item 8).

11. Oração: Deus, nosso Pai: agradecemos-te por podermos viver como teu povo neste culto. Obrigado por podermos ler a tua palavra e experimentar a partir dela que tu és o vencedor sobre a morte. A ti unicamente pertence toda a honra, glória e poder. Concede que possamos aperfeiçoar-nos na obediência para contigo e possamos agir melhor no mundo no qual vivemos. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.

12. Espaço para avisos, boas-vindas, recolhimento de ofertas, batismos.

13. A comunidade canta: 200,1-5 de HPD — Cantai e folgai! O Messias chegou! Dissiparam-se as trevas, a aurora raiou.

14. Leitura: Atos 5.12-32.

15. Reflexão sobre o texto.

1. Descrever um acontecimento fora do comum (que tenha ocorrido em torno deste dia). Colher reações — a favor e contra.

2. Relatar o acontecimento com os apóstolos.

3. Situação do evangelho hoje: a favor — contrários — indiferentes.

4. Estamos obedecendo mais a Deus do que aos homens? O que é obedecer mais a Deus?

5. Andar nos caminhos de Jesus significa:

a) Obedecer ao chamado de Deus — não vacilar em divulgar o evangelho, que vai ao encontro dos que clamam por vida.

b) Ter a certeza que os poderes contrários ao evangelho não podem vencei o Todo-Poderoso, que já venceu o maior inimigo — a morte.

6. Vivemos a alegria da Páscoa, que representa a vitória definitiva de Deus sobre todos os poderes ameaçadores deste mundo.

16. A comunidade canta o hino 58 de HPD: Perdeu a morte o seu poder. Jesus teve a vitória.

17. Oração: Eterno Deus! Adoramos-te jubilosos porque és vencedor da morte e de todos os poderes que querem afastar a ti e a tua palavra salvadora e transformadora deste mundo. Como deste coragem e força aos teus apóstolos para que pudessem testemunhar a ti, mesmo diante dos que procuravam intimidá-los, assim capacita a cada um de nós para vivermos obedientes ao teu chamado e, movidos pelo teu poder, espalharmos vida digna para todos. Por Jesus Cristo, nosso Príncipe e Salvador. Amém.

18. Todos: Pai nosso, que estás nos céus...

19. Bênção: Abençoa, Pai celeste, o teu povo em graça e amor! Com o teu vigor reveste nossos corações, Senhor! Tua face volta a nós, dá que ouçamos a tua voz! Deus Triúno a ti louvamos, tua glória proclamamos.

20. Hino final: Cristo venceu a morte... (HPD 67).

6. Bibliografia

STÄHLIN, Gustav. Die Apostelgeschichte. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1962. (Das Neue Testament Deutsch, 5).
VOIGT, Gottfried. Homiletische Auslegung der Predigttexte; Neue Folge: Reihe IV. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1981.


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 17 / Versículo Final: 32
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17686
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