Bíblia - um arquivo histórico

Uma das primeiras razões para ler a Bíblia deveria ser a simples curiosidade. Vale a pena conhecer este livro. Explicará costumes ainda hoje em vigor, vai mostrar as raízes de nossa cultura, vai mostrar as bases de nossa identidade. Por que festejamos o Natal, por exemplo? Por que o dia de descanso já não é o sábado, e, sim, o domingo? Por que Jerusalém é cidade santa? Quem não lê a Bíblia fica à mercê de informações de terceiros. O desconhecimento favorece o “analfabetismo” religioso, que aos poucos vai alienando a própria cultura, pois cultura e religião são gêmeas.

A Bíblia é, antes de mais nada, um livro de história. Inicia com a criação do mundo por Deus, concentrando a seguir a atenção na vocação de Abraão e na história de Israel. Fala da escravidão deste povo no Egito e de sua libertação, o êxodo, fala da aliança que Deus fez com ele por meio de Moisés no monte Sinai. Conta a caminhada pelo deserto e a tomada da terra prometida, a terra de Canaã, situada nas adjacências do rio Jordão e do Mar Morto, território ocupado hoje pelos estados de Israel e da Palestina. Temos aqui a documentação da glória dos reinados de Davi e Salomão, como também da trágica queda de Jerusalém e do exílio na Babilônia. Não há registro equivalente à primeira parte da Bíblia, que é o Antigo Testamento (AT), quando se trata da história milenar do antigo Israel. Além de história, o AT contém orações, preces, salmos e, sobretudo, escritos proféticos. Costumamos subdividir os livros componentes do AT em históricos, didáticos e proféticos.

Algo análogo vale para o Novo Testamento (NT). Inicia com quatro evangelhos, contendo a história de Jesus de Nazaré, de sua pregação e ação, de sua cruz e ressurreição. Segue no livro dos Atos dos Apóstolos a primeira história da igreja. É uma história de intensa missão e expansão da fé cristã pelo Império Romano na orla do Mar Mediterrâneo. Segue um bloco de cartas, cuja maioria é da autoria do apóstolo Paulo. Mas temos também cartas de Pedro, de João, de Tiago, de Judas e uma carta anônima dirigia “aos hebreus”. Estas cartas dão viva impressão da vida das primeiras comunidades. O NT encerra com o livro do Apocalipse, que se apresenta a si mesmo como profético.

Ambos os testamentos conservaram depoimentos muito antigos. Guardaram a “tradição”, originalmente passada adiante por via oral. Isto está em grande evidência no estilo e na redação. Credos e partes litúrgicas, cânticos e provérbios, mas também genealogias, parábolas, histórias perfazem o fascinante conteúdo da Bíblia. É comparável a um museu que guarda tesouros de épocas passadas. Funciona como um arquivo que traz à luz sempre novas preciosidades. Juntamente com a cultura greco-romana, foi a Bíblia que impregnou o pensamento dito “ocidental”. Desmistifico a natureza, transformando-a de divindade em criação. Possibilitou assim o surgimento da ciência moderna. Simultaneamente acentuou a dignidade do ser humano, atribuindo-lhe o distintivo da imagem de Deus. Nasce o “humanismo cristão”. A Bíblia está na raiz não só de duas religiões, como também de uma tradição cultural.

Para a igreja cristã, porém, a Bíblia é mais do que um simples livro de história. É uma escritura a que se atribui qualidade sagrada. Por ela Deus mesmo fala. A Bíblia, pois, é palavra de Deus e, como tal, possui singular autoridade.


Pastor Dr. Gottfried Brakemeier, em “Por que ser cristão?”, Editora Sinodal

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Quanto mais a gente de embrenha na Criação, maiores os milagres que se descobre.
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