Chamado ao discipulado!

24/01/2021

 

Antigamente, ao ouvir a expressão “discípulo”, confesso que sempre limitei minha interpretação àquele que “segue determinado mestre para aprender”. Todavia, a palavra “discípulo” tem a mesma raiz de “disciplina”. No discipulado não basta seguir. O ensino exige correção, dedicação e muita prática. É uma caminhada onde se aprende exercitando, errando e acertando. Logicamente, há um desejo e ponto de partida, que é o “chamado”. Doravante, a partir da conscientização e obediência, um constante aperfeiçoamento. Jesus desafiou: Quem deseja ser meu discípulo, precisa negar-se, tomar a cruz e seguir-me (Mateus 16.24). De fato, ninguém por si só consegue negar a sua própria natureza. Mas, quando a minha base pessoal passa a ser a pessoa de Cristo, aí compreendo também a minha vida a partir do que ele fez por mim na cruz. Ou seja, tomo a sua cruz. Entendo o seu sacrifício. Por fim, a fé se torna um processo contínuo tendo Jesus como meu Salvador e Senhor, onde vivo, aprendo e testemunho. Na sequência, como discípulo, passo a desafiar aos outros a seguirem na mesma caminhada. Jesus diz: Discípulo que faz discípulo (Mateus 28.19). Obviamente, isso começa com o nosso círculo mais próximo. Começa em nossa casa na prática do ensino após o Batismo das crianças. Ou seja, os pais encaminham o discipulado dos seus filhos.

O aprender e praticar é um exercício de erro e acerto, onde ninguém é perfeito. As pessoas são diferentes e precisam descobrir o seu jeito de viver a fé a partir de Jesus. A caminhada do discipulado se dá na oração, na meditação/reflexão, na diaconia, no louvor e na gratidão... Em Brasília conheci um idoso que, ao receber a aposentaria, vinha direto à secretaria trazer seu dízimo. Ele dizia: Sou grato a Deus pelo que sou e pelo que tenho. As primícias são d’Ele. Aqui em Garuva, conheço outro aposentado que tem atitude semelhante. Tomo-os como exemplo de discipulado no “dízimo”. Aprender a receber com gratidão. Aprender a repartir com responsabilidade e amor. É um aprendizado. Faça suas experiências. Oferte e avalie. Você perceberá os resultados. O dinheiro manda em ti ou, a partir do Senhor, você manda nele. Não que você vá ficar rico como pregam certas religiões. Mas, com certeza, você terá um equilíbrio financeiro assegurado por Deus. Seja na oferta ou na meditação e oração, coloque desafios e persiga-os. Compartilhe os resultados alcançados na ideia de que um discípulo faz outro discípulo.

O discipulado cristão surgiu com o convite de Jesus feito para algumas pessoas, as quais deram continuidade ao ministério. A base é sempre Jesus. O exemplo maior é sempre Cristo. Não seguimos pessoas. Seguimos o Mestre. Assim relata o evangelista Marcos: “Jesus seguiu para a região da Galileia. Ali anunciava a boa notícia que vem de Deus, dizendo: Chegou a hora! O Reino de Deus está perto. Arrependam-se dos seus pecados e creiam no Evangelho. Jesus estava andando pela beira do lago da Galileia quando viu dois pescadores. Eram Simão e o seu irmão André, que estavam no lago, pescando com redes. Jesus disse: Venham comigo! Eu os ensinarei a pescar gente. Então, eles imediatamente largaram as redes e o seguiram. Um pouco mais adiante Jesus viu outros dois irmãos, Tiago e João, que eram filhos de Zebedeu. Eles consertavam as redes. Jesus os chamou. Eles deixaram o pai e os demais empregados no barco, seguindo a Jesus” (Marcos 1.14-20).

Após o batismo no Jordão e tentação no deserto, Jesus volta à Galileia, onde foi criado. Ele começa a pregar sobre o Reino de Deus. Quando usa a palavra “reino” não se refere à luta por questões políticas. O reino sobre o qual prega vai além das fronteiras deste mundo. Jesus deseja que as pessoas coloquem suas vidas sob o “controle” de Deus, que Ele as governe. Por isso, com Jesus cumpriu-se o tempo determinado pelos profetas. É oportunidade de mudança, deixando velhos caminhos, assumindo a proposta do Evangelho. Ele mesmo tanto determina, como também segue na nova prioridade. Mas, Jesus não é um visionário que segue sozinho pela estrada. O projeto do Reino envolve mais pessoas. Ele somente dá início. Então, começa a desafiar outros para acompanha-lo na caminhada.

Primeiro, ele encontra Simão Pedro e André. Em seguida, Tiago e João. Todos pescadores. Provavelmente, eram pessoas que já conheciam Jesus de vista. Tinham conhecimento da sua mensagem. Concordavam com a proposta. Então, naquela manhã, ouviram o chamado, tornando-se discípulos de Jesus. Eram pessoas comuns, como você e eu, que estavam nas lidas diárias. Eles trabalhavam, tinham suas famílias e responsabilidades. Agora, encontraram um novo desafio à vida. Eles largaram as redes e seguiram o Mestre. Graças à sua vocação e aceitação é que hoje estamos aqui. O discipulado outrora iniciado tem continuidade conosco e seguirá sempre adiante.

Então, quem sabe você esteja se perguntado: Mas, para seguir a Jesus preciso largar tudo o que tenho priorizando o chamado para ser pregador, missionário e pastor? Para alguns poucos, sim. Para a maioria, não. O chamado aos 12 apóstolos foi um momento específico no ministério de Jesus. Durante 3 anos, eles foram preparados para dar continuidade ao projeto de Jesus com dedicação exclusiva. Hoje algumas pessoas recebem uma vocação de tempo integral. Mas, a grande maioria recebe o chamado para colocar integralmente no Reino ali onde estão vivendo. Certo sapateiro que se converteu perguntou a Lutero: Devo abandonar o meu ofício e me tornar um pregador? Ao que o Reformador respondeu: De jeito nenhum. Faça do teu serviço um louvor a Deus. Permita que as pessoas calcem sempre um bom sapato. Ou seja, o meu chamado ocorre e acontece dentro da realidade na qual estou vivendo. O bombeiro continua bombeiro, A dona de casa continua dona de casa. Mas, vive do amor de Deus e serve a Deus aonde está.

Nesse sentido, é bem interessante a linguagem de Jesus: Doravante, vocês pescarão gente! O Mestre não os retira do ramo. Apenas muda o foco. Façam o que vocês estão acostumados a fazer, mas focando as pessoas. Não é apenas trabalhar por trabalhar. Mas, com o trabalho, dons, tempo, oportunidades e recursos alcançar vidas para Deus. E, como na pescaria, há diferentes afazeres. Todos querem pegar o peixe. Mas, o peixe só poder capturado com bons instrumentos. Por isso, é necessário que alguns vão ao mar, enquanto outros consertam as redes. Percebam que, muitos admiram os pregadores, líderes, presbíteros e músicos que estão sempre na linha de frente, encaminhando as principais atividades eclesiásticas. Todavia, poucos reparam naqueles que contribuem com seus recursos, que oram, que visitam que fazem pequenos reparos aqui e ali. Há Pedro. Há João. Todos têm espaço na proclamação do Reino, cada um do seu jeito.

O Reino é de Deus. O chamado é de Jesus. Ele é quem deu o ponta pé inicial. A partida teve continuidade. Entraram e saíram jogadores de campo. Muitos apoiaram nos bastidores e nas arquibancadas sem nunca entrarem em campo. O resultado final do jogo já foi garantido por Jesus. Ele veio, pregou, mostrou, se entregou, morreu e ressuscitou. A vitória foi conquistada. A festa será no dia do juízo final. Agora, cada desempenha sua tarefa no Reino. Não importa se somos os craques da partida ou meros assessores, quem sabe até um gandula. O mais importante é ouvir o chamado, colocando-se à disposição, alegrando-se de antemão com a vitória. Que Deus continue nos abençoando no discipulado. Que Deus nos permite dia a dia ganhar outras pessoas para a partida do Reino, para serem nossos companheiros no discipulado. Amém!
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 60937
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A intenção real de Deus é, portanto, que não permitamos venha qualquer pessoa sofrer dano e que, ao contrário, demonstremos todo o bem e o amor.
Martim Lutero
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