Colossenses 4.2-6 - Orando por portas abertas

Prédica

10/02/1979

ORANDO POR PORTAS ABERTAS
Colossenses 4.2-6 ( Leitura: Salmo 91) 

«Perseverai na oração, vigiando com ações de graça.» --- Perseverar é continuar fazendo, é ficar firme, é não desistir. Ninguém pode perseverar, quem não começou. Ninguém pode vigiar, se não acordou do sono. Ninguém pode dar ações de graça, se não descobriu razão para agradecer. Vemos, assim, que a recomendação do apóstolo vai sendo feita a discípulos .--- não a pessoas quaisquer. Vai sendo feita aos de dentro não aos de fora. Não se trata, pois, de nenhuma receita geral, destinada para as pessoas que estão a procura de equilíbrio mental e psicológico e que, talvez entre outras coisas, também queiram experimentar a oração. Em verdade, a epístola, da qual extraímos o texto desta prédica, começa com as palavras: «Aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos.» Lembramos este fato, não para assustar. O evangelho não tem por finalidade assustar as pessoas. Lembramos apenas a vontade do remetente da carta e a situação dos destinatários porque não é sinal de boas maneiras, alguém ler uma carta que não lhe é destinada. 

Ou será que estamos errados? Será que o apóstolo quer atrair também os que estão fora para entrarem, para começarem, para acordarem e para encontrarem razão de dar graças a Deus? Vamos deixar a pergunta em aberto. Você que dê a resposta, depois de ouvir esta meditação e, quem sabe, depois de falar com aquele que mandou o apóstolo escrever o que escreveu. 

Então — seja discípulo antigo, seja discípulo iniciante, ou seja alguém que talvez poderá vir a ser discípulo. Será bom, verificar que na mensagem apostólica cada palavra tem seu significado. Perseverar, por exemplo: Não é a perseverança que range os dentes, contraída e teimosa. Não é a perseverança que faz o olhar ser fanático. Não é a perseverança que bitola, que faz o homem agarrar-se aos seus costumes. O apóstolo fala da perseverança do discípulo, que continua fazendo o que lhe permite viver como discípulo: Ele vai respirando, porque orar é respirar. Diz Lucas, em Atos 2: «Eles perseveraram, unânimes, em oração.» Perseveraram, porque Cristo os tinha chamado para o discipulado. E vigiar: Vigiar não é nenhuma luta desesperada contra o sono. Não é tomar doses reforçadas de remédio contra o sono, para ficarmos livres daquela vontade irresistível de dormir. Não. É o vigiar do homem acordado pelo evangelho. É a vida lúcida, livrada da embriaguês do velho homem, livrada do sono e dos sonhos de Adão, que tem saudades do seu paraíso perdido. O vigiar do discípulo é um vigiar com Cristo, frente as investidas e as tentações do diabo. Seu vigiar é crer, é olhar confiantemente para Cristo. E as orações de graça? Gratidão é sempre resposta. Gratidão tem sempre um motivo. Nunca parte de nós. Então ,— a gratidão não é nenhum sentimento vago de euforia e de bem-estar. Gratidão responde. Ela tem uma história a contar. Esta história não é: «Um dia eu resolvi agradar a Deus e falar com ele», mas, antes: «Um dia Deus revelou sua graça a mim e me falou.» É uma história de amor, que a gratidão conta. Não daquelas histórias de amor inventadas, como acontece nas novelas de televisão, É uma história real. É a história do discípulo que foi aceito por Cristo. 

Estamos vendo: É um conselho para valer que o apóstolo Paulo vai dando aos cristãos de Colossos, aos que estão «dentro» da comunidade. Daqueles que estão fora, ele vai falar mais tarde. Por enquanto, ele se restringe aos que estão dentro. Ele mesmo também está dentro. Dentro da comunidade, é claro, Mas isto significa, neste caso, que não se encontra num templo ou numa igreja: Paulo se acha dentro de uma prisão, está algemado, não por ter cometido um crime, mas por causa de Cristo. Paulo está preso — uma das cinco ou seis vezes que ele levou cadeia, por causa de Cristo, E, coisa estranha: Ele não põe em movimento as pessoas influentes de Colossos para tentarem livrá-lo da prisão. Não pede que façam um esforço para lhe abrirem a porta da cadeia. Pede, sim, para que seus irmãos de Colossos supliquem por ele «para que Deus nos abra porta ã palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo». 

Entenda, caro ouvinte: Aqui também não se trata de receita para qualquer um falar do mistério de Cristo é só para quem sabe do mistério. É a graça, que se manifesta na vida de um velho servidor de Cristo, um servidor que aprendeu a dizer: «Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.» ( Gal 2) Este velho servidor não se recolhe a um cantinho escuro da cadeia, impaciente e amargurado. Ele crê em portas abertas — não para ele, mas para o evangelho. Sabe que ele não pode forçar estas portas. Sabe que é Deus quem abre as portas, só ele. E é por isso que escreve aos irmãos da comunidade de Colossos para que supliquem por ele. Provavelmente para que o guarda ou o carcereiro, aos quais ele falou de Cristo, venham a aceitar a boa mensagem. Ou para que outros prisioneiros, ou pessoas que o visitaram na prisão, abram o coração à palavra que liberta e salva.
Vemos, pois, que o apóstolo não é um homem auto-suficiente, um homem que não precise de outros. Ele precisa, e muito, Precisa das orações da comunidade. Sabe que mãos dobradas têm mais poder do que punhos cerrados. Sabe que os santos — e no Novo Testamento todos os cristãos são chamados de santos — ajudam Deus a governar o mundo .— por suas orações. Sim, uma comunidade que ora, que persevera na oração, vigilante, e dando ações de graças ela é uma instância do reino de Deus neste mundo. Você sabia disto, caro irmão, cara irmã? Será demais, eu pedir-lhe aqui, expressamente, que suplique, que ore por seus pregadores? Que ore também por mim, que provavelmente não conhece? Por quê? Porque precisamos de suas orações! E para quê? Para que Deus nos abra porta à palavra! Ou talvez ele já abriu? Então será motivo de ação de graças!
Você pode estar certo de que o poder que move qualquer pregação venha ela da boca de pastor ou de leigo é a oração. Não a oração por si. É Deus, que ouve a oração. Então — que seja assim, neste caso bem concreto: Suplicai por nós -- assim como suplicamos por vocês, os destinatários da boa mensagem, também a boa mensagem contida neste livro. Desta corrente de oração, iniciada pela graça de Deus, poderão resultar portas abertas, poderão resultar corações iluminados, poderão resultar casas e lares regenerados. Dá, Pai celeste, que assim seja. Abre os corações, abre as portas, abre os lares! Em nome de Jesus! 

«Portai-vos com sabedoria para com os que estão fora; aproveitai as oportunidades. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes o que deveis responder a cada um.» — Você notou: agora vêm os de fora. Os que não podem ser contados entre os «santos e fiéis irmãos de Cristo», porque eles não entraram. Os que talvez olhem de longe, ou os que rodeiam a casa onde os cristãos se reúnem, mas que não se conseguem decidir de entrar. Paulo diz deles, com toda a franqueza, que estão fora. Pode parecer duro. Será que Paulo tem o direito de julgar a condição de uma pessoa, de dizer, se ela está dentro, ou se está fora? Ora, Paulo não julga. Ele só constata uma realidade. Ele seria duro e cruel, se confundisse as pessoas, dizendo que os que estão fora, estão dentro. Paulo sabe perfeitamente que nenhuma criatura humana é capaz de marcar a linha divisória entre crentes e descrentes, entre os de dentro e os de fora. Mas na prática da vida cristã, entre lutas e perseguições, se vai estabelecendo uma linha divisória, que não podemos ignorar. Antes tivéssemos a coragem, hoje, de dizermos com clareza: Há um «dentro» e há um «fora». Dentro há luz, e fora há escuridão. Dentro há louvor, e fora há choro e ranger de dentes. Talvez, os de dentro saberiam valorizar mais o que é a luz de Cristo. Talvez, os de fora descobrissem, surpresos, que há uma vida melhor do que esta vida de «choro e de ranger de dentes» que eles levam que também eles poderão entrar ,— e louvar a Deus!

Em todo o caso: Paulo, o apóstolo, não quer saber de portas fechadas entre os de dentro e os fora. Não quer que os santos fiéis se isolem, se retirem do mundo. Não quer que eles fiquem contentes de verem os outros fora -- assim, como um homem que fixa um aviso à entrada de seu pátio: «Cuidado, cachorro bravo! Não entre!» Paulo pede sabedoria no trato com os que estão fora. Sabedoria — isto é, entender a situação deles. É saber ouvir e distinguir. É não dizer tudo de uma vez, mas não deixar de dizer o que é essencial, e dizê-lo na hora certa. Sabedoria é tato, e tato é amor. Entenda — tato é amor. Não é fruto de me-•do ou de vergonha. Não é desinteresse, camuflado de «boas maneiras.» Aproveitai as oportunidades! Na vida do cristão não há acasos. Há oportunidades que Deus vai dando. E Deus quer que as oportunidades sejam aproveitadas por nós. Aproveitadas, não só para abrirmos a boca, mas para a abrirmos com sabedoria. Para dizermos o que serve ao evangelho. Para falarmos palavras que desfazem enganos, esclarecem dúvidas, apontam para o que é essencial. 

«Vossa palavra seja sempre agradável.» A gente pode traduzir também: «Fale sempre com graça.» Graça, no duplo sentido: Graça de Deus, e palavra que tem graça, que é agradável, por ser autêntica e verdadeira. Por que será que para tantas pessoas o evangelho não tem graça? Será culpa do evangelho, ou será nossa culpa? — O apóstolo pede mais a seus irmãos que sua palavra seja sempre temperada com sal para que saibam o que devem responder a cada um. Então: Ele não quer que seja adocicada com açúcar, mas temperada com sal. Conversa sem sal, é conversa fiada, conversa sem sentido. «Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros.» ( Jesus, em Marcos 10,50) Na era da televisão, dos jornais de oitenta páginas, na era do «Fantástico», de Chacrinha e de Sílvio Santos, onde há tanta conversa sem sal, será preciso que os cristãos se conscientizem: Eles são os homens do sal. Eles mesmos são o sal da terra, conforme a palavra de seu Senhor. O que será, se este sal se estragar? Será que sal verdadeiro poderá se estragar? 

Perguntamos, ao finalizar: Como é o caso dos de fora? O apóstolo escreve a eles também, ou não escreve? E que suas instruções sobre a oração têm que ver com as relações dos cristãos com os não-cristãos? — Entenda: O apóstolo escreve aos de dentro mas com os olhos fitos nos de fora! Escreve aos de dentro para que falem aos de fora, para que lhes digam que Cristo os ama, para que os convidem a entrar. Nenhum apóstolo verdadeiro de Cristo está interessado em fechar as portas para os de fora. Não seria bom para os de dentro ( já que se faria uma santa poluição na sua casa fechada. . . ) , e não seria bom para os que estão fora. Porque, quem lhes diria que sua vida de choro e de ranger de dentes não é aquilo que Deus quer? 

E o que a oração tem que ver com as relações dos cristãos com as outras pessoas? Veja: Orar é dialogar com Deus. É conversar com o Pai, com Cristo, o Senhor. Neste diálogo entram também os de fora. E falando a eles, o cristão faz entrar nesta conversa a outra conversa, que ele teve com Deus. Falando com seu Pai, ele aprende a falar com seus irmãos. Também com os que ainda não são irmãos, os de fora, mas que Deus quer que venham a ser seus filhos também. Que assim seja em sua e em minha vida! 

Oremos: Senhor, tu permites, em tua graça, que falemos contigo. Tua palavra nos encoraja a orarmos. Ela nos diz que tu ouves as nossas orações e que te agradas delas. Agradecemos-te por esta tua graça. Louvamos-te por este teu amor. Abre portas para tua comunidade. Abre portas para fora e para dentro. Faze-nos amar como tu amas. Amém.

Veja:

 Lindolfo Weingärtner

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Colossenses / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 6
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19705
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