Conversando com os redatores

01/12/1995

Anuário: O senhor foi o primeiro redator do Anuário Evangélico. Como foi editar aquela primeira edição em 1971?

Gierus: Quando fui convidado para assumir a redação do Anuário, eu era pastor da Paróquia Evangélica de Indaial(SC), que tinha aproximadamente 1.000 famílias. Quer dizer, não foi por falta de serviço que aceitei o desafio. Mas vi no surgimento deste veículo de comunicação uma oportunidade de contribuir para a edificação e integração da Igreja, que ainda estava no início de sua caminhada como uma grandeza nacional. Tínhamos o Jahrweiser em alemão e achávamos que estava na hora de oferecer aos membros uma opção de leitura em língua portuguesa. Foi, sobretudo, uma questão pastoral que nos motivou a editar o Anuário.

Anuário: Como foi sua experiência de ser o redator do Anuário por tantos anos, primeiro de 1972 a 1977 e depois de 1988 até 1995?

Gierus: Como já disse antes, eu era pastor de uma grande paróquia que exigia toda a minha atenção. Por isso, infelizmente, nunca tive tempo de sobra para dedicar-me ao trabalho redacional. Sacrifiquei muitas horas e dias de folga para dar conta do recado. Mesmo assim, senti-me muito realizado porque tive o apoio de um grupo que me acompanhava, cada um conforme suas possibilidades, sobretudo o diretor do Anuário, o pastor Heinz Ehlert.

Anuário: Em qualquer atividade sempre existem os bons e os maus momentos. O que mais chateou o senhor e o que foi mais gratificante enquanto foi redator do Anuário?

Gierus: Gostei imensamente da reação da direção da Igreja quando apresentamos o plano de editar um almanaque em português.' O então pastor presidente, Karl Gottschald, apoiou a ideia plenamente. Tenho a impressão de que naquela época se lia muito mais do que hoje. Bem, a televisão ainda não tinha conquistado tanto espaço nas famílias quanto tem hoje. Muitos artigos eram trabalhados em conferências pastorais, em grupos de estudo; até no culto infantil as matérias foram aproveitadas para ensinar e refletir. Este fato nos deu o sentimento de missão cumprida . Por outro lado, houve também pastores que, assim como hoje, não valorizaram o nosso trabalho, não enxergaram a importância da palavra escrita na missão da Igreja.

Anuário: O senhor acredita que um almanaque como o Anuário ainda tem futuro na IECLB? Se não, teria uma sugestão alternativa?

Gierus: A tendência é que o hábito de leitura está sumindo aos poucos. Quer dizer, o povo lê cada vez menos. A televisão é uma concorrente muito forte. Mesmo assim, acredito que a palavra escrita tem um valor insubstituível, especialmente na missão da Igreja. Um programa de TV ou de rádio, uma vez assistido, some. O livro, a revista, o folheto e o jornal sempre estão ao alcance. Sobretudo quem lê tem melhores condições de diferenciar, tem tempo para refletir e não é tão facilmente vítima do sistema. Como cristãos temos a responsabilidade de viver com os olhos abertos e buscar alternativas de informação para ter condições de julgar tudo criticamente.

Não sei se o almanaque é a forma mais feliz hoje de oferecer leitura. Temos que fazer uma pesquisa de mercado e a partir daí criar outros veículos. Sobretudo precisamos conscientizar obreiros e líderes nas comunidades para que descubram o valor da palavra escrita na missão.

Anuário: O senhor abriu mão do Anuário. Por quê? A que se dedica agora?

Gierus: Senti-me sobrecarregado. Ao lado de dirigir a missão de folhetos da IECLB, sou diretor da Livraria Martin Luther (que trabalha em função da missão de folhetos) e sou editor do jornal regional O Caminho , que tem uma tiragem de 37.000 exemplares. Não consegui mais dar conta do recado. O Anuário Evangélico exigiu mais tempo de mim do que consegui dar. Isto me deixou muito insatisfeito. Continuo trabalhando na área da missão de folhetos, no jornal O Caminho e na livraria. A missão de folhetos depende ainda muito de apoio financeiro do exterior. Procuro priorizar o plano de conseguir autossuficiências econômica. A missão de folhetos é da IECLB. Dela também têm que provir os recursos. Colocar a Literatura Evangelística no orçamento da Igreja seria fácil demais. É preciso descobrir fontes de recursos e motivar coletas e doações no seio da Igreja. Tudo é uma questão de conscientização. Para isso precisamos de muita fantasia e, sobretudo, tempo.

Anuário: Pastor João Pedro Brueckheimer, como foi sua experiência como redator do Anuário Evangélico durante dez anos (1978-1987)?

Brueckheimer: Durante vários anos redigi o Anuário ao lado de minhas funções pastorais nas paróquias de Florianópolis (SC) e Castro (PR). Mas, além desse trabalho suplementar, havia outros: direção e execução da Missão de Folhetos Evangelísticos, pastor distrital da OASE, criação da Livraria Oikos em Florianópolis, realização de dois acampamentos de férias para crianças, atuação no campo da música vocal e instrumental, etc. Contudo, pela graça do Senhor Jesus, a gente passou pela experiência de Paulo: Nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez capazes ... (2 Cor. 3.5). Portanto, foi um fardo bastante pesado, mas Deus supriu as necessidades.

Anuário: Em qualquer atividade sempre existem os bons e os maus momentos. O que foi gratificante e o que não foi para o senhor?

Brueckhmeier: Houve muito estímulo por parte de leitores. O Conselho Redatorial sempre foi muito objetivo, fraterno e colaborador. Gratificantes foram também os contatos com líderes políticos e eclesiásticos, artistas, até gente simples do povo e das comunidades. Isso arejava a mente, refrescava o espírito e estabelecia comunhão. Como maus momentos lembro a ingerência de instâncias da IECLB na ilustração da capa do Anuário, a inclusão de crônicas maçantes de alguma instituição escolar ou eclesial por motivo de jubileu na última hora em detrimento de matérias de interesse geral e de leitura cativante. Lembro ainda a tentativa de promover modismos ideológicos/filosóficos, para não dizer teológicos, e a barreira que certos colegas levantavam contra a promoção do Anuário em suas comunidades por discordarem da linha editorial.

Anuário: Um almanaque como o Anuário Evangélico ainda tem futuro na IECLB? O senhor teria uma sugestão alternativa?

Brueckheimer: Não creio que um almanaque do tipo atual do Anuário Evangélico seja tão necessário e tenha grande futuro na IECLB. Minha filosofia redatorial não tinha em mira apenas a IECLB; era mais ambiciosa. Visava fazer do Anuário O livro de leitura para a família brasileira: um anuário produzido pela IECLB para o povo cristão brasileiro, onde a IECLB apareceria discretamente com sua doutrina e ética, através de artigos breves, instrutivos e cativantes. O Anuário apenas é interessante e importante se tem como meta o povo em geral e se, acima de tudo, espalhar o bom perfume de Jesus por esse Brasil afora. Quanto a uma sugestão alternativa, não tenho nenhuma.

Anuário: O hábito de leitura vem caindo sempre mais no Brasil. Terá alguma saída para isso?

Brueckheimer: Em minha casa paterna, éramos todos católico-romanos, com exceção da mãe. Ela, despertada para uma fé viva e ativa pelo trabalho da MEUC, empenhou-se para que seus filhos usufruíssem da praxe pietista, que desde o início valeu-se de boa literatura. Assim a gente teve sua fé evangélica forjada na meninice através de boa literatura: Bíblia infantil ilustrada, contos, biografias, folhetos... A partir daquela experiência a gente ficou possesso do anseio de promover a boa literatura e a leitura. Hoje continuo pensando que devemos lançar livros instrutivos e cativantes que falem ao coração e educar para a leitura. Muitos corações transformados forjarão nossas comunidades, serão sal e luz do mundo.


Entrevistas realizadas por Rui J. Bender, em abril de 1995


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Autor(a): Rui J. Bender
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1996 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995
Natureza do Texto: Publicação
Perfil do Texto: Anuário
ID: 36929
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