Culto Paroquial da Reforma | João 8.31-36

23º Domingo após Pentecostes | Dia da Reforma

31/10/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

a minha força nada faz, sozinho estou perdido. Esta frase é o início da segunda estrofe do mais conhecido hino luterano “Castelo Forte”. Esta pequena frase é um dos principais resumos da redescoberta do Evangelho por Martinho Lutero. A doutrina da justificação por graça e fé não é uma invenção de Lutero; ao contrário, é um ensinamento que está presente nas Sagradas Escrituras e que foi redescoberto pelo reformador alemão.

Contudo, talvez atualmente muitos luteranos não levam a sério aquilo que foi proclamado a partir de 1517. Muitos irmãos e irmãs luteranos/as se deixaram levar pelo tradicionalismo e pelo esfriamento da sua fé. Há, inclusive, quem diga que não seja mais necessário participar dos cultos e que só precisam ler a Bíblia e orar em casa. Oras, a pergunta é onde essa pessoa vai querer passar a eternidade, pois, se não suporta a comunhão com os irmãos e as irmãs aqui neste mundo, como vai suportar a comunhão eterna dos crentes nos céus?

A grande e dolorida verdade é que há muitas “ovelhas” “brincando de igrejinha”. Estas são aquelas pessoas que não levam o Evangelho a sério. Elas acreditam que por ajudarem em algumas atividades ou obras já estão sendo agradáveis a Deus. Inclusive, há quem se ache dono da igreja por causa da sua ajuda ou contribuição, enquanto, na verdade, o único dono da Igreja é Jesus; outros vivem uma crença ainda mais estranha e distante da Palavra de Deus, achando que só precisam contribuir com a igreja quando estão precisando de alguma coisa e ainda reclamam e nos chamam de “dinheiristas” quando algum ofício é negado por causa de atrasos; outros, ao invés de agradecerem a oportunidade de novamente nos congregarmos como povo de Deus, reclamam que precisam fazer inscrição, usarem máscara e manterem o distanciamento enquanto em muitos lugares irmãos e irmãs nossos são mortos apenas pelo fato de serem cristãos.

Isto é muito sério. Há muitos luteranos “brincando de igrejinha” e achando que não colherão as consequências por não levarem o Evangelho a sério em suas vidas.

Este problema não é apenas de hoje. Já no séc. V o teólogo Aurélio Agostinho precisava combater a ideia de que o ser humano poderia ser salvo a partir das suas próprias obras. Seu oponente era um monge chamado Pelágio que defendia a possibilidade do ser humano receber a salvação eterna a partir dos seus próprios méritos. Para Pelágio, o ser humano era capaz de tomar a iniciativa pela salvação. Mais tarde, inclusive, acreditar-se-á que o ser humano possui uma centelha divina dentro de si que seria capaz de despertar nele a bondade e tornando-o apto a ser salvo.

Agostinho, como um grande estudioso da Bíblia, irá combater as ideias pelagianas ao apontar que – conforme a Palavra de Deus – a salvação é somente pela graça. Para Agostinho, após a queda de Adão e Eva (a desobediência à Lei de Deus) o ser humano passou a se rebelar contra Deus e a se inclinar naturalmente para o mal. Portanto, a natureza humana está corrompida desde a sua concepção e não há nada no próprio ser humano que possa fazê-lo alcançar a misericórdia de Deus. “Para Agostinho de Hipona, a humanidade, se deixada por conta própria apenas com os seus recursos, jamais poderia se relacionar com Deus”1, afirma o teólogo inglês Alister McGrath. Ele diz também:

Para Agostinho, a natureza humana é fraca, caída, impotente; para Pelágio, é autônoma e auto-suficiente. Para Agostinho, a humanidade deve depender de Deus para a sua salvação; para Pelágio, Deus simplesmente aponta o que deve ser feito para se alcançar a salvação e deixa o ser humano à sua própria sorte para satisfazer essas condições. Para Agostinho, a salvação é um dom imerecido; para Pelágio, ela é apenas uma recompensa ganha.2

No ano de 418 d. C., o Concílio de Cártago decidiu-se pela interpretação agostiniana em relação à graça e ao pecado ao mesmo tempo em que condenou o pelagianismo como idolatria. Assim nos diz a decisão conciliar:

Igualmente foi decidido: Quem disser que a graça de Deus, pela qual o homem é justificado mediante nosso Senhor Jesus Cristo, serve somente para a remissão dos pecados já cometidos, não também para dar auxílio para não cometê-los, seja anátema.3

Portanto, a Igreja decidiu seguir aquilo que está nas Escrituras. A salvação veio através da obra de Cristo. As obras humanas são ações de gratidão onde servimos a Deus por meio do próximo – não para ganhar a salvação, mas por já termos sido salvos. O resgate do ser humano pecador não pode ser feito por ele mesmo, mas apenas por Jesus Cristo que é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. João 1.29). Cristo nos substituiu na cruz e tomou sobre si o castigo que estava preparado para nós. Esta é a verdadeira e única obra digna de dar salvação aos pecadores, onde o justo se faz culpado para que os culpados sejam transformados em justos. Não há “bonzinhos” diante de Deus. Mesmo que você se considere a melhor pessoa do mundo, sem Cristo, você está perdido, mesmo que nunca tenha roubado nem um lápis ou assassinado alguém.

Mesmo que tenha havido a decisão conciliar em Cártago sobre a doutrina da graça, a discussão em torno do assunto não foi encerrada naquele ano. Por séculos o assunto continuou a ser uma controvérsia dentro da Igreja Cristã. A igreja procurou defender aquilo que havia sido defendido por Agostinho e consumado no Concílio de Cártago. Porém, isso não durou por muito tempo.

Na virada do primeiro milênio, a própria Igreja Cristã começou a se perder em meio à cobiça que rapidamente a levou à corrupção. Papas, padres e outras autoridades eclesiásticas enriqueciam facilmente às custas dos mais miseráveis e pobres. Começa-se a inventar todo tipo de prática antibíblica para tirar dinheiro do pobre e para que a mente das pessoas fosse controlada a tal ponto que não pudessem pensar diferente do que lhes era anunciado oficialmente. A mais conhecida prática eram as chamadas “indulgências” que eram cartas capazes de comprar a salvação tanto para vivos quanto para parentes já falecidos. Cristo não é mais visto como a revelação do amor de Deus, mas como um imperador imponente que, se não for agradado suficientemente, condenará os cristãos ao purgatório ou ao inferno. Ao invés das pessoas amarem a Jesus, passam a ter medo dele.

É neste contexto que surge a pessoa de Lutero. Ele era filho de um casal de mineradores. O sonho de seu pai era que o seu filho se tornasse um grande advogado e, quem sabe, um importante político. Ao estar retornando do velório de um amigo, Lutero é surpreendido por uma terrível tempestade que o leva a fazer uma promessa à santa Ana, afirmando que, se fosse salvo, seria padre. Dito e feito. Assim, Lutero protesta contra uma importante autoridade: seu pai. A partir dali, Lutero se dedicaria ao reino de Deus.

A vida no monastério em Erfurt não foi nada fácil. Lutero tinha sua consciência atormentada pelo pecado. Nada do que fizesse era suficiente para que se sentisse amado por Deus. Johann Staupitz, um grande homem de Deus, certo dia lhe deu um sábio conselho: “Deves fazer uma lista no qual constem pecados de verdade, caso queiras que Cristo te ajude: não deves te ocupar com besteiras e pecados de boneca e fazer de cada peido um pecado”4. Para Lutero, Cristo era um juiz impiedoso e impossível de ser agradado. O monastério em que Lutero havia entrado era o monastério dos agostinianos. Isso significa que ali estava presente a teologia de quem? Exatamente! De Aurélio Agostinho.

Quando Lutero já tinha 25 anos, Staupitz, seu orientador, achou que já seria o tempo do monge alemão começar a trabalhar. Por isso, Staupitz enviou Lutero à Wittenberg para ser professor de Bíblia. Ele deixa a pomposa Erfurt para ser professor na então pequena e insignificante Wittenberg. Ali Lutero – o monge agostiniano – começa a estudar e a ensinar a Palavra de Deus, principalmente Gálatas, os Salmos e Romanos. Ali começa o momento da mudança. Quanto mais Lutero lê a Bíblia, mais ele percebe o quanto a sua Igreja se afastou dos ensinamentos da Palavra de Deus. Como monge agostiniano, Lutero percebeu que a Igreja havia se corrompido pela mesma doutrina pelagiana que outrora condenava. A Igreja não estava contra a Bíblia apenas, mas também contra a sua própria tradição de interpretação bíblica.

Essa é a motivação principal que lhe leva a escrever e pregar as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Àquelas teses eram uma série de denúncias à corrupção da igreja e um chamado à uma reforma teológica completa. Lutero publicou suas teses em latim, pois estavam endereçadas não ao povo, mas aos acadêmicos; porém, alguém fez a tradução das teses para o alemão e através da rápida prensa recém inventada por Gutenberg, suas teses se tornaram o primeiro best-seller da história da humanidade. Entre as teses, encontramos as seguintes:

Tese 36: Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão plena de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência;
Tese 43: Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências;
Tese 62: O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus;
Tese 86: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior que a dos mais ricos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?5

Estas teses foram uma bomba dentro da Igreja da época. O mais interessante é que embora o papa e a Igreja da época soubessem que Lutero estava certo, insistiram em permanecer no erro para não perderem seus poderes e suas posições. Lutero não estava de acordo apenas com a Bíblia – que é a maior autoridade da Igreja –, mas também com os próprios concílios e decisões da Igreja Católica do primeiro milênio. Lutero faz uma denúncia óbvia à Igreja; porém, a Igreja se negou a ouvir não porque o ensino de Lutero era mentiroso, mas porque ele ousou confrontar o poder. O restante da história eu acredito que seja conhecida. Podemos resumir dizendo que a Igreja Católica não aceitou a Reforma. Por isso, surgiram novas igrejas fundamentadas na Palavra de Deus.

Uma delas é a Igreja Luterana que não tem seu nome em homenagem a Lutero. Seu verdadeiro nome era Martin Luder. Luder no alemão da época significava “vagabundo” ou também “prostituta”. Ao ler Gálatas 5.1, Luder descobre o versículo que diz “Para a liberdade foi que cristo nos libertou.” Liberdade, neste versículo, é a palavra grega eleutheros. A partir desta palavra o Luder mudou o seu nome, deixando de ser Martin, o vagabundo, para ser Martin, o Liberto. O ser humano convertido a Cristo está livre da opressão do pecado e pode servir a Deus em agradecimento pela obra salvífica de Cristo.

Mais tarde, os teólogos luteranos irão resumir a teologia luterana em quatro pontos:

1) Somente as Escrituras: No ano de 1521, Lutero é convocado para uma “CPI” diante do Imperador Carlos V em Worms. Lutero é perguntado se uma porção de livros que estavam em uma mesa eram seus. Prontamente, Lutero reconhece ser o autor dos escritos. Então, Carlos V pergunta se Lutero renegaria seus escritos e suas ideias. O monge alemão pediu 24 horas para pensar, o que lhe foi concedido. Sabe-se Deus tudo o que se passou em sua mente em todas essas horas. Ao retornar no próximo dia, novamente Lutero é perguntado por Carlos V se ele renegaria seus escritos, ao que Lutero respondeu:

Como Vossa Majestade e Vossas Altezas exigem de mim uma resposta simples, quero dar uma tal sem chifres e dentes. Caso não for convencido por testemunhos da Escritura e por motivos racionais evidentes – pois não creio nem no papa tampouco nos concílios, pois é evidente que erraram muitas vezes e se contradisseram –, estou convencido, pelas passagens da Sagrada Escritura que mencionei, e minha consciência está presta à palavra de Deus e não posso e nem quero revogar qualquer coisa, pois não é sem perigo nem salutar agir contra a consciência. De outra maneira não posso; aqui estou, que Deus me ajude, amém.6

Com isso, Lutero nos diz que em todas as questões fundamentais da vida é a Escritura quem decide. A vivência luterana das Escrituras não afirma que devemos negar aquilo que não aparece na Bíblia. Eram o que faziam os Zwinglianos, por exemplo. Tentaram, inclusive, eliminar a festa de Natal por não haver uma ordenança para isso na Palavra de Deus. Os luteranos, ao contrário, negam como mentira apenas aquilo que vai contra às Escrituras.

Ao mesmo tempo, a compreensão evangélica da Bíblia se dá a partir do culto e conflui para o culto. O Novo Testamento, por exemplo, é o resultado da proclamação evangélica nas primeiras igrejas cristãs. A Bíblia não deve ser lida ou ouvida apenas em casa e apenas por mim mesmo; ao ir ao culto, ouço uma opinião diferente sobre mim mesmo que, por isso mesmo, não é suspeita. A proclamação das Escrituras na correta distinção entre Lei que acusa e Evangelho que perdoa é usada pelo Espírito Santo para produzir no crente a fé, pois a fé não é um empreendimento humano, mas um dom espiritual.

2) Somente as Fé: Assim nos diz Romanos 10.17: “E, assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo.” Portanto, nem todas as “fés” são válidas, mas apenas aquelas que verdadeiramente brotam do encontro sério com as Sagradas Escrituras. Só é possível haver fé – ou seja, confiança – quando o crente permanece fiel na leitura e no ouvir das Sagradas Escrituras, seja individualmente ou comunitariamente. Sem a Palavra de Deus a fé não pode surgir. Só existe verdadeira fé cristã onde a Palavra de Deus é pregada corretamente, permitindo que o Espírito Santo aja na vida das pessoas.

Além disso, “o justo viverá pela fé”, nos diz Romanos 1.17. A nossa salvação não acontece por meio das obras que realizamos, sejam quais forem. O ser humano é alguém perdido e desgraçado no pecado desde a sua concepção. Por mais que alguém possa se achar uma pessoa boa, apenas Jesus Cristo passou nesta terra sem cometer nenhum pecado. É através da fé que recebemos a salvação e não das obras. Por isso, as obras são consequência da fé. Aquele que crê verdadeiramente irá ajudar sem reclamar, pois foi livre do inferno e não tem do que reclamar. O verdadeiro cristão auxiliará na comunidade de fé com seu tempo, com seus talentos e com os seus tesouros, sempre em alegria e gratidão, pois se não fosse a fé em Jesus, passaríamos o restante da eternidade queimando no inferno. Assim nos diz o missionário prof. Dr. Euler Renato Westphal sobre a fé:

Fé é dom de Deus que renova o ser humano. Pela fé, morre o velho homem, aquele que se fundamenta nas suas possibilidades e nos seus recursos. Quem vive é Cristo e não mais o eu piedoso, que quer fazer por merecer a graça e os favores de Deus. Por meio de Jesus, somos, ao mesmo tempo, pecadores e justificados.7

O próprio Lutero diz no seu Catecismo Menor:

Creio que por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé.8

Paulo confirma esta crença ao dizer em 1 Coríntios 12.3: “Ninguém pode dizer: “Senhor Jesus”, senão pelo Espírito Santo.” Somente através da fé é que o cristão pode receber os benefícios salvíficos de Cristo para a sua salvação eterna. Sem isso, estará condenado à rebeldia e eterno afastamento de Deus, incluindo a condenação ao inferno.

3) Somente a graça: Assim nos diz o apóstolo Paulo em Efésios 2.8: “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês; é dom de Deus.” Não! Você não merece a salvação. Não há nada que possamos fazer para merecê-la! Nada! Absolutamente nada! Ao não conhecermos as Escrituras e, por isso, não recebermos o dom da fé, também não iremos conhecer a graça e corremos o risco de ir para o inferno com as costas carregadas de boas ações e de boa religiosidade. Não há nenhuma maneira do ser humano se salvar através das suas obras, mesmo que seja a Madre Tereza de Calcutá, Dalai Lama ou Martin Luther King Jr.

Através da graça, Deus nos concede o que nós não merecemos: a salvação; através da misericórdia, Deus não nos dá o que merecemos: o castigo eterno. A nossa salvação não acontece através das coisas que fizermos, mas somente através do que Cristo já fez por nós. Não existe outra saída! A Fórmula de Concórdia – um importante documento luterano – diz:

A saber, que, em coisas espirituais e divinas, o intelecto, o coração e a vontade do homem irregenerado, com suas forças naturais, absolutamente nada podem entender, crer, aceitar, pensar, querer, começar, realizar, fazer, operar e em absolutamente nada podem cooperar, estando, ao contrário, inteiramente para o bem corrompidos, de modo tal que, na natureza do homem, depois da queda e antes do renascimento, não restou nem existe uma centelhazinha sequer das forças espirituais e com a qual pudesse, de si mesmo, preparar-se para a graça de Deus, ou aceitar a graça oferecida, nem é capaz para ela por si mesmo nem pode aplicar-se ou adaptar-se à graça.9

Portanto, a salvação é obra de Deus e não nossa. Não podemos fazer nada por nós mesmos. Bata-nos receber gratuitamente aquilo que Jesus Cristo já fez por nós em sua obra na cruz.

4) Somente Cristo: Assim nos diz o apóstolo Paulo em 1 Timóteo 2.5: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem.” Isso significa que não nenhum outro capaz de nos levar a Deus, senão Jesus. Os luteranos não creem e nem oram aos santos para obter a graça de Deus; não fazem preces ou pagam promessas, pois a nossa base de fé são as Sagradas Escrituras que afirmam não haver outro mediador entre Deus e os homens, senão Jesus.

Através da fé, os benefícios de Cristo passam a ser nossos. Através da fé, recebemos gratuitamente de Cristo os méritos que nos permitem entrar nos céus para todo o sempre. Cristo nos doa o que é dele e pega para si o que é nosso: ele pega para si o nosso pecado e nos doa a sua justiça. O inocente é tornado culpado para que os culpados sejam tornados inocentes. Por isso, nós dizemos somente Cristo.

É por isso que Lutero diz: “Quando o inimigo me acusa de ser pecador, isso me conforta, pois Cristo morreu pelos pecadores10. A partir da cruz de Cristo podemos viver alegres no mundo servindo amorosamente a Deus por meio do próximo, especialmente os mais fracos e vulneráveis. Tudo se consolida no Cristo crucificado que bradou “Está consumado!”, ou seja: está feito. Não há obra humana a se acrescentar àquilo que Deus já fez pela nossa salvação.

Amados irmãos, amadas irmãs,

hoje nós vivemos um tempo em que a humanidade levanta a bandeira do relativismo. O relativismo afirma que nada pode ser uma verdade absoluta, infalível e válida a todas as pessoas. Através do relativismo, todas as “fés” são vistas como igualmente boas e salvíficas. Nós, porém, devemos permanecer amarrados aos princípios da Reforma do séc. XVI, pois estes princípios não são novos, mas apenas a redescoberta do verdadeiro e santíssimo Evangelho de Jesus Cristo.

Cristo é o centro da vida verdadeiramente cristã. Por isso,

1) Quando os seres humanos acham as maiores justificativas para modificar ou deturpar as Escrituras, devemos lembrar que as Escrituras são a maior autoridade na vida do cristão. Devemos ler o mundo através da Bíblia e não a Bíblia através do mundo. Ela não é apenas mais um livro de uma biblioteca, mas Palavra “viva e eficaz” (cf. Hebreus 4.12). Além disso, a Bíblia deve ser interpretada pela própria Bíblia, pois ela mesma é sua maior intérprete. Ela é a Palavra de Deus e somente nela encontramos Jesus Cristo;

2) Quando os seres humanos defendem que todas as “fés” são boas, devemos lembrar que a salvação é somente pela fé em Cristo Jesus, nosso único e suficiente Senhor e Salvador. As outras “fés” podem até demonstrar a presença de Deus de forma mascarada. Porém, somente no Cristo crucificado temos a revelação do verdadeiro rosto misericordioso de Deus;

3) Quando os seres humanos acreditam que podem ser salvos através das suas obras e ações – sejam elas quais forem –, devemos lembrar que não passamos de pecadores que mereciam ser queimados no inferno por toda a eternidade, mas que fomos salvos de graça através da morte substitutiva de Cristo na cruz;

4) Quando os seres humanos afirmam que a salvação pode vir de outras religiões, devemos lembrar da exclusividade de Cristo para a salvação. Não há outro nome nem nos céus e nem na terra para quem possamos clamar e ser salvos, senão por Jesus. A salvação não é inclusiva, mas exclusivamente para os crentes em Jesus.

A minha força nada faz, sozinho estou perdido. Então, apeguemo-nos firmemente em Jesus, na leitura das Escrituras, recebimento da fé, da graça e de Cristo. O nosso Cordeiro já venceu. Vamos segui-lo. Amém.


23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERMELHO | TEMPO COMUM | ANO B

Dia da Reforma

31 de Outubro de 2021


P. William Felipe Zacarias


MCGRATH, Alister. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005. p. 60.

MCGRATH, 2005. p. 61.

DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. 3. ed. São Paulo: Paulinas; Edições Loyola, 2015. p. 85.

DREHER, Martin. De Luder a Lutero: uma biografia. São Leopoldo: Sinodal, 2014. p. 41.

LUTERO, Martinho. Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgências – 1517. in: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas: Os Primórdios – Escritos de 1517 a 1519. 3. ed. vol. 1. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia; Canoas: Ulbra, 2016. p. 22-29.

DREHER, 2014. p. 165.

WESTPHAL, Euler Renato. Lutero - Reforma: 500 anos. Jornal Evangélico Luterano. São Leopoldo, p. 8 - 9, 02 ago. 2012.

LUTERO, Martim. Catecismo Menor – 1529. 17. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2012. p. 11.

LIVRO DE CONCÓRDIA. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal; Canoas; ULBRA; Porto Alegre: Concórdia, 2006. p. 559.

10 Referência desconhecida.

 


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 36
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64990
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À casa de Deus não pertence nada mais que a presença de Deus com a sua Palavra.
Martim Lutero
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