"Deus guia as pessoas humildes no caminho certo e lhes ensina a sua vontade" Salmo 25.9

Autoria P. Me. Alexander Busch

27/09/2020

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo,
Eis a oração de uma pessoa em angústia e sofrimento,
“Dentro de mim está escuro, mas em ti há luz. Eu estou só, mas tu não me abandonas. Eu estou desanimado, mas em ti há auxílio. Eu estou inquieto, mas em ti há paz”. Das profundezas da cela de uma prisão esta pessoa continua orando, “Não entendo os teus caminhos, mas tu conheces o caminho certo para mim”.

As palavras que ouvimos são uma oração do Pastor Dietrich Bonhoeffer que se encontrava preso por ter participado num movimento de resistência contra o governo nazista na Alemanha durante a 2ª Grande Guerra da Europa. Na prisão Bonhoeffer compartilhava orações escritas com colegas prisioneiros. Eram orações que ajudavam Bonhoeffer e os vizinhos de cela a encontrarem alento e conforto num tempo de solidão e angústia – um tempo de caos e incertezas.

Companhia fiel na prisão era o Livro de Salmos – o conhecido livro de orações que faz parte das Sagradas Escrituras. Sobre o livro de Salmos Bonhoeffer escreve da prisão uma carta a seus pais dizendo, “Leio o livro de Salmos diariamente, como venho fazendo a anos; não há livro que eu conheça e aprecie mais do que este”. Bonhoeffer conhecia e fez uso de um rico tesouro que nós também temos, as orações do livro de Salmos da Bíblia. O livro de Salmos é uma escola de oração, onde Deus nos ensina, onde Deus nos guia em comunhão com Deus e Deus nos conduz em comunhão com o mundo ao nosso redor. As orações deste livro alimentam e sustentam nossas orações diante de Deus. Elas nos ajudam a orar, falar e escutar com Deus, a colocar nossos sentimentos e pensamentos diante de Deus. Os Salmos representam uma grande variedade de situações e sentimentos, nos ensinando palavras de louvor, palavras de gratidão e confiança – ou nos carregando em momentos de angústia e sofrimento, como no Salmo 25. Este salmo é oração de lamento e clamor, confiança e esperança.

“Ó Senhor Deus, a ti dirijo a minha oração. Meu Deus, eu confio em ti” (v.1,2). O salmo inicia destacando nossa profunda dependência de Deus. No hebraico, a língua original do livro de Salmos, a imagem é de uma pessoa levantando suas mãos para o alto. Na tradição judaica levantar as mãos ao alto é gesto de oração – é a imagem de uma pessoa que se reconhece pequenina e vulnerável, que levanta suas mãos em direção a Deus todo-poderoso, criador do céu e da terra, para nele buscar amparo e refúgio. É com confiança e esperança que esta pessoa levanta suas mãos em oração, crendo que Deus tem o poder para amparar seus passos em terreno difícil, mudar o seu destino, lhe abrir novos caminhos.

Pois muitas são as aflições que se abatem sobre a pessoa que ora este salmo: a perseguição de inimigos que querem a vergonha da derrota, que se alegram com a desgraça da pessoa orante (v.2-3); ou ainda, o sentimento de culpa e responsabilidade por atitudes e ações erradas do passado, como nos diz o verso 7, “Esquece os pecados e os erros da minha mocidade”; ou ainda, o salmista fala de forma mais geral sobre as tristezas e sofrimentos que atravessam seu caminho. Neste culto ouvimos apenas uma parte do salmo 25, por isto destaca o verso 17 que nos diz, “Livra o meu coração de todas as aflições e tira-me de todas as dificuldades”. Ou seja, o salmo nos revela uma pessoa em oração num tempo de escuridão e angústia – um tempo de clamor por livramento, perdão e salvação.

Falamos até agora do salmo 25 como se fosse a oração de uma pessoa, no singular, uma pessoa. Importa destacar, entretanto, que a oração do salmista tem uma dimensão comunitária. O salmista não olha apenas para si mesmo, mas, se percebe como parte de uma comunidade, pertencente a um povo. Assim sendo, sua oração é oração solidária, que inclui outras pessoas, “O Senhor é justo e bom e por isso mostra aos pecadores o caminho que devem seguir. Deus guia as pessoas humildes no caminho certo e lhes ensina a sua vontade (v8-9).

Neste sentido, a oração do salmo 25 nos lembra a oração de Jesus, que nos ensinou o Pai nosso. O Pai nosso é oração que podemos orar sozinhos/as em casa, uma oração que podemos ensinar aos nosso filhos e filhas em casa. É uma oração pessoal e familiar, e que, ao mesmo tempo, tem uma dimensão mais ampla do que uma pessoa, mais ampla do que uma família. Pai nosso é, ao mesmo tempo. oração pessoal e comunitária. São minhas palavras em favor do próximo. São as palavras do próximo em meu favor. Sou eu carregando outras pessoas em oração. Sou eu sendo carregado por outras pessoas em oração.

Por fim, destacamos o chão firme que sustenta a oração do salmista em tempo de escuridão e angústia – um tempo de caos e incertezas. É a palavra amor que aparece três vezes no trecho que ouvimos hoje do Salmo 25: “Ó Senhor, lembra da tua bondade e do teu amor que tens mostrado desde tempos antigos” (v6); “Por causa do teu amor e da tua bondade, lembra de mim (v7); “Deus é fiel e com amor guia as pessoas que são fiéis à sua aliança” (v10). A palavra traduzida como amor neste texto vem do hebraico “hesed” e expressa muito mais do que um sentimento ou afeto que Deus tem por nós. É uma palavra que descreve o amor fiel de Deus. É o amor da aliança eterna que Deus estabelece com seu povo. Para nós, comunidade cristã, o maior sinal da fidelidade de Deus é seu filho Jesus Cristo, quem nos conduz pelo caminho certo, que mostra às pessoas pecadoras o caminho que devem seguir.

Estamos chegando ao final de nossa reflexão. O Salmo 25 nos fala sobre dependência de Deus, nos fala sobre as diferentes tristezas e sofrimentos que podem atravessar nossos caminhos, nos fala do indivíduo e da comunidade tendo no amor fiel de Deus um alicerce seguro. É uma oração apropriada para nosso tempo de angústia e isolamento. Devido à pandemia do covid-19 temos diante de nós um caminho de reconstrução da comunidade, um caminho de edificar de novo a vivência em comunidade. O Salmo 25 é nossa oração para que Deus conduza os passos de sua igreja no caminho certo, no caminho da solidariedade para com as pessoas que sofrem ao nosso redor, no caminho de orar e agir segundo a vontade de Deus. Pois a oração nos compromete à ação. O salmo 25 é palavra de Deus nos chamando para caminhar no caminho do amor fiel de Jesus, se deixando conduzir pelo seu ensino. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 25 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 59124
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Ó Senhor Deus, o teu amor chega até o céu e a tua fidelidade vai até as nuvens. A tua justiça é firme como as grandes montanhas e os teus julgamentos são profundos como o mar.
Salmo 36.5-6
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