Discriminação

Carta Pastoral da Presidência

03/05/1988

“Dessa forma não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

Assim o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da Galácia (Gl 3.28).

Afirma que em Jesus Cristo surge uma nova comunhão, na qual as pessoas, em todas as suas diferenças, aprendem a novamente conviver como irmãs e irmãos.

A criação de Deus é multiforme. Consiste nisto sua beleza. Uniformidade é monótona, estanque. Somente a variedade permite a complementação mútua e a experiência de verdadeira comunhão. Deus quer a integração da diversidade de suas criaturas num todo orgânico e harmonioso.

Sociedade e Igreja, porém, tiveram e continuam tendo dificuldades em cumprir o mandato de Deus. Usam a variedade como pretexto para discriminação. Dizem haver pessoas com menos valor que outras e as tratam como sendo de segunda categoria. Negam-lhes a igualdade de chances e direitos. Neste ano lembramos especialmente os negros. Apesar do centenário da abolição da escravidão, pertencem aos segmentos marginalizados de nossa sociedade. Somos todos criaturas do mesmo Deus, revestidos da mesma dignidade. Como se justifica, então, o “racismo” que faz diferença de grau entre as pessoas e as julga pela mera cor de sua pele? Há culpa a confessar.

Como Igreja de Jesus Cristo temos motivos para sermos particularmente sensíveis a esta questão. Jesus Cristo restabelece a fraternidade entre os seres humanos. Não apaga a individualidade nem obriga ninguém a ser diferente do que Deus o criou. Somos negros, brancos, índios, homens e mulheres. Isto é bom. O que não se justifica é sentirmo-nos ameaçados por aquele ou aquela que é diferente. Não é correto reagir à diversidade da criação de Deus com agressão; menosprezo e marginalização. Resultam daí a escravidão, a dominação, a perseguição, portanto diferenças que Deus não quer. Sua vontade é que na variedade das criaturas seja respeitada a igualdade e que haja fraternidade e cooperação.

Das comunidades da Galácia, assim deduzimos, faziam parte pessoas de muitas raças, culturas e nacionalidades. Mas todos tinham recebido o dom do batismo, pelo qual as pessoas são declaradas filhos de Deus e integradas na comunhão dos santos. A comunidade de fé tem o privilégio e ser o exemplo de integração social e de assinalar a possibilidade de nova convivência humana a traduzir-se em novidade de relações também na sociedade.

Assim sendo, percebemos o quanto está por fazer, a começar em nossa própria Igreja. No ano de 1988 o apóstolo Paulo certamente escreveria: “Dessa forma não pode haver negro nem branco, nem índios nem asiáticos; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Importa abrir espaço em nossas comunidades para o ser do negro e oferecer-lhe comunhão. Importa ensaiar fraternidade racial e ver o quanto temos a aprender uns dos outros. Importa superar preconceitos mútuos e esforçar-nos por um clima de confiança.

Da mesma forma nos deve preocupar a discriminação de que o negro em nossa sociedade é vítima. Ainda que superada por lei, essa discriminação não deixa de ser realidade. Jesus Cristo requer o inconformismo com uma mentalidade que fere a dignidade do negro. Escola, saúde e outros serviços públicos são direitos do negro com o são de todo cidadão brasileiro. O mesmo vale com respeito a salários, emprego e cargos de liderança. No mundo de Deus somos todos parceiros uns dos outros. É preciso colocar isto em prática.

Que a IECLB seja pioneira dessa mentalidade que corresponde ao nosso ser em Jesus Cristo é o desejo com a qual os cumprimento.

Porto Alegre, 03 de maio de 1988

Dr. Gottfried Brakemeier

Pastor Presidente
 


Autor(a): Gottfried Brakemeier
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Multiculturalidade / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Manifestação oficial
ID: 12557
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