E quando o sonho acaba?

Uma reflexão necessária em nosso tempo.

03/12/2015

E quando o sonho acaba?

A história vem se repetindo. São anos e anos esperando. A sra. Alice, aos 96 anos, tendo vivido as agruras da guerra no exterior e conseguido salvar todos seus filhos pequenos, disse ainda ter esperança na sua pátria brasileira. Já Saulo, aos 88 anos, acaba de me dizer que também tem esperança de ver dias melhores, o que nunca chegou a viver até então, mas ressalva: será a  l-o-n-g-o  prazo. A Bernadete é uma jovem negra, e me disse que está difícil confiar em alguém porque muitas promessas feitas desapareceram como por encanto. Quando se acha que “agora vai”, tudo volta pior que antes. Casa e vida desaparecem do horizonte. O povo brasileiro está angustiado, massas buscando dignidade de vida, clamando por líderes honestos. O povo está cansado de ver os recursos vindos dos impostos servirem os interesses de alguns poucos, e isso não é de hoje. O povo está cansado da péssima qualidade de ensino, da péssima qualidade de saúde, da péssima qualidade do transporte público, dos péssimos indicativos na qualidade de serviços e expectativa de vida especialmente para os jovens, dos políticos corruptos fazendo uso do artifício que parece os caracterizar: mentiras. O povo chegou à exaustão O povo quer se organizar para construir uma sociedade estável, que permita vida digna para todos.

Refletimos e conversamos sobre o tema acima em um centro de cuidados para pessoas idosas. Muitas destas participaram ativamente do debate. Lemos o texto de Isaías 66.10-14. Na leitura fomos confrontados com uma alegre esperança que vem a se concretizar justamente em tempos difíceis. Enquanto falávamos das inúmeras pessoas que mamam nas tetas dos órgãos públicos, lemos que Deus dá de mamar como uma mãe o faz, carregando carinhosamente no colo, dando esperança de vida. Que contraste gritante! Há esperança. Há valores de justiça e ética sendo oferecidos. Esta não pode ser uma realidade de esperança alcançada apenas para uma ou outra pessoa. Toda a nação brasileira, todas as pessoas, merecem respeito dos que governam e das pessoas que trabalham pelo bem do povo nos órgãos públicos.

Somente para falar de um caso: a água, até porque o texto que lemos fala da paz estendida como um rio sobre a cidade. Sonhamos que o poder público, com nossos impostos, fosse capaz de cuidar da água. Hoje percebemos que se os órgãos responsáveis pela fiscalização do meio ambiente no Brasil fossem, de fato, sérios, não teríamos nem rios de lama, nem rios de espuma e muito menos uma baía da Guanabara olímpica alarmantemente contaminada. Estamos muito bem servidos de gerências, ministério, autarquias, agências reguladoras e outros babados que cuidam do nosso meio ambiente. Cito alguns: IBAMA - Inst. Bras. do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; MMA - Ministério do Meio Ambiente; CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente; CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental; Ministério da Integração Nacional; FEEMA - Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente; FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente; SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente; Conselho Nacional de Recursos Hídricos; PNMA - Programa Nacional do Meio Ambiente; ANA - Agência Nacional de Água; GERCO - Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro; PROBEM - Programa Brasileiro de Ecologia Molecular; PRONABIO - Programa Nacional de Biodiversidade. Temos nestes órgãos centros de excelência que fazem exatamente aquilo para que foram criados e estão sendo pagos, ou servem para outros fins? Não queremos ser injusto com ninguém que trabalhe nestes organismos, mas é inevitável perguntar: quantos parasitas estão recebendo seu salário (e outras benesses) para deixar as coisas como estão no Brasil?

Sonha-se com novos tempos. Vivemos a esperança da chegada de algo diferente e promissor, o princípio de algo novo. Esperamos e sonhamos com algo novo. Ficaram célebres as palavras ouvidas na mais alta corte da justiça brasileira quando ecoou a constatação de que a maioria dos brasileiros acreditou que a esperança tinha vencido o medo, mas esta esperança acabou sendo vencida pelo cinismo. O caradurismo observado nos meios políticos, segundo estas mesmas palavras, virou menosprezo e zombaria para cima deste povo brasileiro. Quando brasileiros poderosos, que são poderosos por representarem o povo a partir do voto democrático, agem com desfaçatez para com brasileiros simples e dignos de crédito e respeito, sinalizam que o advento de algo novo e transformador é urgente.

Uma boa notícia pode mudar tudo. Ela gera sonhos. Sonhos geram alegria e esperança. Depois de um longo tempo de grandes dificuldades aparece sempre uma luz no fim do túnel. Segundo o texto de Isaías, há o convite para adorar, cantar hinos de louvor. Louvar é o primeiro sinal de confiança das forças que vêm do alto. Reconhecer a mão poderosa de Deus, como Maria o reconhece em seu cântico conforme Lucas 1.46-55 faz surgir um canto de louvor. Como isso faz bem à alma. Há uma causa que faz brotar a alegria. Brotar é palavra que nos faz lembrar novamente da leitura de Isaías: a planta que cresce viçosa como erva tenra. Ao ver uma plantinha crescendo, nos sentimos animados, pois sinaliza esperança. Deus fez a sua parte colocando ao nosso dispor a natureza e os seus mandamentos que ordenam o convívio social. Isto nos faz cantar um hino de louvor ao Trino Deus. Olhando para o Criador temos motivos para continuar sonhando.

Ao dormirmos, sonhamos. Dormir, quem sabe também sonhar, ei aí a nossa oportunidade. Sonhemos sonhos enquanto dormimos, inclusive aqueles que nos obrigam a distanciar das coisas terrenas que aqui nos atormentam. Sonhemos em ver as coisas da vida do ponto de vista da justiça de Deus e do amor reconciliador de Jesus. Depois, o sonho nos desperta para a realidade e, assim, somos animados a enfrentar a realidade com a esperança de um sonho. Se o sonho acabou é porque acordamos. Esta é a nossa realidade. Sonhamos até acordar para a realidade. Quantas vezes vamos repetir estar experiência existencial, não sabemos. Agora despertamos do sonho. O sonho acabou. Anunciemos o próximo sonho!

No coração o escreve, ó povo sofredor:
O crente nunca deve desanimar na dor.
Ó sede corajosos, Jesus bem perto está.
Nos transes dolorosos conforto e graça dá.

Vem ele ao julgamento do que despreza a cruz.
Só no arrependimento há salvação e luz.
Ó vem, Senhor amado, excelso Redentor,
conduze o condenado,
ó Cristo, ao teu fulgor!   (HPD 1 - Paul Gerhardt, 1607-1676)
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 66 / Versículo Inicial: 10 / Versículo Final: 14
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 36127
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A ingratidão é um vento rude que seca os poços da bondade.
Martim Lutero
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