Efésios 5.15-20

Auxílio Homilético

19/08/2012

Prédica: Efésios 5.15-20
Leituras: Provérbios 9.1-6 e João 6.51-58
Autora: Vera Maria Immich
Data Litúrgica: 12º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 19/08/2012
Proclamar Libertação - Volume: XXXVI


1. Introdução

O texto de Provérbios propõe-nos o caminho da sabedoria, que se constitui a partir da experiência concreta da vida e da história. Em Efésios, a ênfase está nas recomendações e conselhos para que os cristãos vivam e experimentem a fé verdadeira, renovando-se a partir de dentro e da mudança incondicional das relações. Essa renovação deve vir a partir do princípio de imitar Deus e viver como Jesus viveu: viver o amor plenamente e sem reservas. Novamente um caminho está à nossa frente, e somos convidados a participar dele. No evangelho, Jesus escandaliza não somente por dar de sua carne e de seu sangue, mas por afirmar ser Ele o único que pode dar a verdadeira vida, que se encontra em sua condição humana (carne e sangue). Jesus encarnou-se como ser humano para viver em favor de todos e dar sua própria vida por todos os seres humanos. A verdadeira vida já começa aqui e agora na celebração da Santa Ceia, quando experimentamos a presença real de Jesus em nosso meio e quando o participante da Ceia aceita a sua própria condição humana e compromete-se a viver em prol dos outros.

2. O texto

Costuma-se pensar que a carta se destina aos membros da comunidade de Éfeso. A referência a essa cidade no início da carta (1.1) falta, porém, em importantes manuscritos. Também a crítica interna não aponta nessa direção. Paulo esteve três anos em Éfeso, era íntimo da comunidade, amava-a e era amado por ela, como lemos em Atos 20.37. Passados alguns anos, ele não poderia ter escrito o que se encontra nessa carta, caso conhecesse a comunidade. A impressão que se tem na leitura é que a comunidade não conhece o apóstolo (cf. 3.2). Colossenses 4.16 refere-se a uma carta à comunidade de Laodiceia, que não conhecemos. É plausível que se trate da presente carta.

A importância da carta reside em sua temática de fundo, que é a própria igreja. Outro tema que domina a carta é a união com Cristo, sendo a igreja, como corpo de Cristo, o caminho que conduz a essa realidade.

O texto dá ênfase à sabedoria como manifestação da entrega a Cristo, permitindo que esse ilumine toda a sua vida. Paulo fala a um contexto com forte influência pagã, onde ainda impera a conduta da vida livre e dos excessos considerados inadequados para a vida cristã. A autenticidade da fé e sua radical expressão residem na aceitação de sermos e de vivermos como filhos de Deus, estando sempre atentos a como vivemos e sendo orientados pela sensatez e não pela tolice do mundo (v. 15-16).

O v. 17 fala da radicalidade de vivermos conforme a vontade de Deus. Sem dúvida, um mote, mas também uma dificuldade. Qual era a vontade de Deus para a comunidade destinatária da carta? Qual é a vontade de Deus para a nossa vida hoje? O que Ele espera de nós hoje e que conduta é adequada ao tempo presente? Onde encontrar a “sabedoria” de Provérbios, a “sensatez” de Efésios e o “ensino” de Jesus na sinagoga?

Quanto à recomendação de não se embriagar com vinho (v.18), não nos parece que o autor esteja proibindo o seu uso, e sim o abuso, quando se fazem coisas sob o domínio do álcool e da liberdade falsa que ele dá ao liberar os limites morais e de conduta, fazendo-nos perder a noção do certo e do errado. Há registros que mostram que também nas ágapes havia excesso de comida, de bebida e de comportamento inadequado, levando as pessoas a afastar-se da sabedoria que vem de Deus, como vemos em 1 Coríntios 11.17-34. Ao contrário da embriaguez, o cristão deve preferir recitar salmos, cantar hinos inspirados e louvar a Deus de todo o coração.

O v. 20, por fim, exorta os fiéis a reunir-se, em primeiro lugar, para dar graças a Deus pelos dons recebidos em nome de Cristo, cultivando assim a fé que vem de Deus e afastando-se da má conduta e do mau exemplo.

3. Meditação

O texto chama nossa atenção para estar atentos à maneira como vivemos, não como tolos, mas como pessoas sensatas (v. 15), não nos embriagando com vinho (v. 18). Trago esses versículos para nossos dias e pergunto com que “vinho” estamos nos embriagando enquanto sociedade, indivíduos e famílias modernas.

Bebemos do avanço tecnológico e da medicina e queremos transpor todos os impossíveis e manipular o que não pode ser manipulado. Em Curitiba, no ano de 2011, foi amplamente divulgada na imprensa a “tolice” de um casal de classe média, universitários, que se submeteu à inseminação artificial, resultando em gravidez de trigêmeos, bem-sucedida, tendo a mãe dado à luz três crianças saudáveis, viáveis, uma menor e mais fraca. O casal havia “aprendido” com seu médico que se pode “desprezar” o óvulo já fecundado menor e menos viável antes de implantá-lo. Ao constatar a gravidez múltipla, o casal também se preparou para entregar para adoção a criança menor e mais fraca, ficando apenas com gêmeos, já que não cabem três cadeirinhas no assento traseiro do carro. Quis Deus que, após alguns dias, a menorzinha, já destinada à adoção, ganhasse peso, deixando para trás o outro bebê, levando o casal a uma nova decisão. A essa altura, uma enfermeira chamou o Conselho Tutelar e o escândalo foi noticiado pela imprensa. Os pais foram “apedrejados” e perderam o poder familiar sobre as crianças; uma tia solicitou a guarda antes que fosse encaminhada para adoção anônima. O caso segue na justiça.

O que significa, nesse contexto, viver segundo a vontade de Deus? O que significa compreender a sua vontade? Escandalizamo-nos e com razão com a atitude dos pais, que se submetem a um tratamento, cientes do que pode acontecer, mas na alcova, a sós, planejam deixar um filho para trás, devido ao inconveniente de ter três filhos pequenos ao mesmo tempo. Não são critérios econômicos, pois, se fosse, nem teriam feito a inseminação. Não foi o desespero de uma mãe ao se ver sozinha com filhos dos quais ela acha que não vai dar conta e resolve abandoná-los em condições inadequadas ao invés de entregá-las para adoção. Não somente os pais, mas também muitos médicos não veem a vida como um sagrado dom do Criador. Com o avanço da medicina, rompe-se a barreira da sensatez e criam-se dias maus e tenebrosos. Eles não vêm de Deus, mas são obras de nossas mãos e de nossa ânsia em ignorar a “sabedoria” e sucumbir ao conhecimento sem critério.

De forma alguma, sou contrária ao avanço da medicina, que, entre outras coisas, tem promovido longevidade e qualidade de vida, e até mesmo proporcionado filhos a casais com dificuldades para tê-los naturalmente. Tem tornado viável o que outrora era inviável. O que a Carta aos Efésios nos ensina é que tudo precisa estar sob o crivo de Deus e do exemplo de Jesus.

O vinho, quando consumido em demasia, leva à libertinagem, como diz o texto, afastando os irmãos da verdadeira comunhão e da vida na igreja de Jesus Cristo. A submissão do ser humano a qualquer tipo de conhecimento, ciência ou mesmo fanatismo religioso impede-o de beber da graça de Deus e de sua misericórdia. Impede o ser humano de experimentar seus limites e sua necessidade de ser cuidado e amado por Deus. Paulo exorta-nos ainda hoje a nos manter unidos como igreja e corpo de Cristo, entoando hinos e recitando salmos com todo o nosso coração, no mais íntimo de nosso ser, em intimidade com Cristo e em seu nome, para que nosso louvor e nossas orações cheguem ao Pai, que as aceitará.

4. Imagens para a prédica

A comunidade cristã pode ser vista como a reunião daqueles que estão a caminho de um objetivo ou destino, que professam a mesma fé e defendem os seus fundamentos, vivendo de maneira coerente com ela. Caminho é uma ilustração possível. Caminho pode ser sinônimo de estrada. Podemos trazer para o contexto da pregação os vários tipos de estradas que conhecemos e preferimos: a estrada de chão, às vezes cheia de buracos e imperfeições, obriga-nos a andar devagar e com cuidado. Permite-nos apreciar a natureza ao redor, às vezes campos cheios de alimentos, às vezes matas imponentes. Lá está a velha estrada que nos faz comer poeira, às vezes nos faz perder nosso precioso tempo com a demora que ela nos impõe para chegar ao destino.

Há também a estrada asfaltada: lisinha, perfeita e que permite altas velocidades, sem poeira entrando pela janela, que nos conduz tão rapidamente ao nosso destino, que muitas vezes nem vemos por onde passamos. Toda a técnica empregada permite encurtar distâncias, mas nem sempre nos leva em segurança. Os riscos são enormes, as derrapadas podem ser fatais. As curvas podem ocultar perigos, e o convívio com os enormes e pesados caminhões já tirou muitas vidas. Assim como o vinho, também a estrada, quando não se respeitam suas condições ou as regras de trânsito, pode transformar-se em um pesadelo sem tamanho. Vidas são ceifadas desnecessariamente e precocemente. Destinos são interrompidos, e chegadas não acontecem.

Nossa vida pode ser comparada a uma estrada com um destino, que, mui¬tas vezes, muda e que vai sendo construída no decorrer da existência. A vida em comunidade apresenta um sem-número de desafios e possibilidades. O versículo inicial do texto de pregação ressalta o andar prudente, como sábios e não como néscios. A pregadora pode explorar o andar nas estradas com trevos, encruzilhadas, trechos que necessitam de manutenção (pecados e omissões na vida comunitária), trechos escorregadios e perigosos (tentações que nos afastam dos irmãos), estradas diversas, de terra, asfaltadas, de ferro, com paralelepípedos, usadas em cidades e adequadas para escoar a água. Assim também nossa vida tem que ter fendas e brechas para a palavra do Senhor poder “escorregar” e fazer morada.

5. Subsídios litúrgicos

Acolhida:

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso do que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena ...

Alberto Caeiro

Oração:

Querido Deus e Pai: na tua presença colocamo-nos como seres incompletos e carentes de teus cuidados e de tua proteção. Ó Deus: clamamos por caminhos justos e bons; por venturas e plenitude de vida, por alegrias e crescimento, enfim, por tua mão a nos indicar o caminho certo a trilhar. Por estradas desérticas conduziste teu povo à terra prometida. Conduze-nos aos caminhos plenos que tens reservado aos teus. Amém!

Bênção:

Que Deus te ama – isso você acredita.
Que Deus te abençoa – isso você sente.
Que Deus te presenteia – isso você sabe.
Que Deus te protege – isso você espera.
Que Deus te carrega – isso você experimenta.
Que Deus te acompanha – isto você precisa.
Que Deus te compreende – isso você pressente.
Que Deus te perdoa – isso você reconhece.
Abençoe-vos, Deus Pai, Filho e Espírito Santo! Amém!
(trad. livre: Vera Maria Immich)

Bibliografia

AGENTUR. Gottes Segen: begleitet uns jeden Tag. Hamburg: Agentur, 2002.
BROX, N.; STAAB, K. Carta a los tesalonicenses, cartas de la cautividad e cartas pastorales. Barcelona: Editorial Herder, 1974.
 


Autor(a): Vera Maria Immich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 12º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2011 / Volume: 36
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25566
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Que todo o meu ser louve o Senhor e que eu não esqueça nenhuma de suas bênçãos!
Salmo 103.2
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