Ezequiel 37.1-14

Auxílio Homilético

31/05/2009

Prédica: EZEQUIEL 37.1-14
Leituras: JOÃO 15.26-27; 16.4-15; ATOS 2.1-21
Autor: Marcia Blasi
Data Litúrgica: Domingo de Pentecostes
Data da Pregação: 31/05/2009
Proclamar Libertação – Volume: XXXIII

Para que o possível seja feito, constantemente o impossível deve ser tentado.
Hermann Hesse

1. Introdução

É dia de Pentecostes. Lembramos nesse dia o envio do Espírito Santo aos seguidores e seguidoras de Jesus. Ouvimos textos sobre a ação desse Espírito de Deus, que já estava com Deus na criação e que continua recriando nova vida ali onde a desesperança parece reinar. Os textos bíblicos previstos para hoje são ricos em imagens: ossos secos, sopro/vento, fogo, movimento; pessoas saindo para as ruas, falando sem medo. Todas essas imagens precisam ser exploradas no culto. Para esse dia especial, a comunidade pode ser convidada a vestir vermelho, a cor litúrgica de Pentecostes.

Ezequiel 37.1-14 já foi muito bem trabalhado anteriormente nos volumes 15, 18 e 24 do Proclamar Libertação. O novo deste ano é que o texto é sugerido para a pregação no dia de Pentecostes.

O aspecto central de todos os textos previstos para esse domingo é a ação do Espírito de Deus: é ele quem dá vida a tudo o que foi criado; é ele quem desacomoda pessoas e as empurra para anunciar a Boa-nova; é ele quem mostra a verdade.

2. O texto

O profeta Ezequiel foi chamado a profetizar no quinto ano do exílio babilônico, em 593 a.C.

Ele foi o primeiro profeta a pregar sem o templo ou a terra prometida para mostrar a presença de Deus. A tarefa de Ezequiel não foi nada fácil. O povo estava cansado das palavras de conforto que alguns profetas, como Ananias, tinham anunciado e que não se concretizaram. Agora o povo tinha sido levado para a Babilônia e aprendeu a viver por lá. Diferente dos exílios do tempo atual, aquele exílio possibilitou ao povo construir suas casas, cultivar seus campos, organizar seus vilarejos, desde que não tentasse voltar para casa. Vejamos alguns destaques nos versículos do texto de Ezequiel.

v. 1 – A mão de Deus leva o profeta a um vale de ossos secos. O nome do vale não é citado. Talvez seja o mesmo vale citado em Ezequiel 3.22.

v. 2 – O profeta move-se sobre os ossos, e há muitos ossos mesmo. Esse vale pode guardar os ossos de muitos israelitas mortos pelas guerras. Agora só restam ossos secos; o resto já foi consumido pelos animais e seco pelo sol.

v. 3 – Deus pergunta: “Podem esses ossos voltar a viver?” É claro que não! Mas o profeta sabe que Deus pode mudar o rumo das coisas.

v. 4-6 – Deus pede ao profeta que profetize a um monte de ossos secos.

v. 7-8 – O profeta faz o que Deus pede e os ossos se juntam, carne cresce neles, mas eles ainda não têm vida.

v. 9-10 – O profeta novamente é chamado a profetizar ao espírito, e esse vem como um vento e devolve vida. Em hebraico, a palavra ruah pode significar vento, espírito ou fôlego.

v. 11-14 – Deus promete que, assim como esses ossos secos tornaram a viver, também vai acontecer com o povo de Israel. O espírito vai soprar sobre ele e vai ser conduzido a uma terra segura.

3. Meditação

Deus pede a Ezequiel uma atitude quase ridícula: profetizar para um monte de ossos secos. De que adianta? Para que jogar tempo fora? Vale a pena investir em ossos secos? Talvez nós poderíamos dizer: seria melhor trazê-los à vida e depois sim fazer um discurso inflamado, uma pregação sobre a maravilhosa obra de Deus, sobre as maravilhas que Deus tem feito. Mas não é isso que Deus pede: Deus pede para acompanhar os ossos secos em seu processo de voltar a viver. Esse processo é doloroso. Mas também não é só de carne e ossos que se faz uma pessoa. É preciso o sopro da vida, a ruah de Deus. Aquela que já esteve com Deus na criação; aquela que dá nova vida aos ossos secos e aquela que vai transformar um temeroso grupo de seguidores e seguidoras de Jesus em corajosos anunciadores e anunciadoras da Boa-nova.

Esse mesmo Espírito continua soprando esperança sobre nós. Às vezes, parece que construímos paredes cada vez mais altas para não deixar o sopro entrar. O sopro desacomoda, pede coisas que parecem impossíveis, abre portas, gera mudanças: o sopro é revolucionário. É aí que está o problema: por vezes é muito bom e confortável fazer-nos de vítimas e querer que outras pessoas façam as coisas por nós. Por vezes, nossas pernas estão tão fracas, que o medo toma conta e paralisa; outras vezes, a fome, a miséria, a opressão e a violência extraem qualquer sonho e a esperança não passa de mera palavra, vazia de significado.

4. Pistas para a prédica

Não é necessário pensar em ilustrações, pois os textos são ricos em imagens e sons. Um vale de ossos secos é algo terrível. Não há como enfeitar. Ossos secos e abandonados lembram morte violenta, massacre, terror. É só lembrar dos ossos dos judeus, empilhados nas covas coletivas do nazismo, ou dos povos da Ruanda no genocídio da década de 1990. O vale é cheio de lembranças e silêncio. Silêncio que penetra fundo, que grita. E é justamente para esses ossos, sem esperança, que Deus pede que palavras sejam profetizadas. Parece uma cena ridícula: falar para ossos secos. O resultado parece impossível, mas nem por isso o profeta deixa de fazer o que lhe é pedido.

No dia de Pentecostes, as pessoas seguidoras de Jesus estavam reunidas no mesmo lugar, sem saber muito bem o que fazer e como fazê-lo. Sentiam-se fracas e desanimadas. Estavam com a esperança em pedaços – estavam como um monte de ossos secos. Mas aí o vento santo de Deus – a ruah – mudou o rumo da história, e a palavra anunciada criou uma nova esperança.

Hoje muitas pessoas ao nosso redor sentem-se como um monte de ossos secos. A dor secou sua esperança até a profundidade dos ossos. São mulheres violentadas constantemente pelos companheiros; são crianças maltratadas, subnutridas, abandonadas pelas famílias e pelos órgãos públicos; são trabalhadores e trabalhadoras explorados em condições precárias de trabalho e com salário indigno; são pessoas idosas esquecidas pela família e ainda exploradas por essa; são pessoas sem terra, sem casa, sem esperança. São montes de ossos secos caminhando, sobrevivendo. Se você prestar bem atenção, ouvirá o barulho de ossos secos aí onde você vive.

O grande desafio hoje talvez seja ouvir a voz de Deus e profetizar mesmo onde parece não haver mais nenhuma esperança. Profetizar para ossos secos e crer que a ruah continua agindo.

5. Subsídios litúrgicos

Pentecostes é uma festa. É festa para reacender esperanças e celebrar a presença do Espírito de Deus entre nós. Para tanto, é importante pensar também em todo o ambiente litúrgico, nas cores dos paramentos, panôs, flores, velas. Se possível, podem ser colocados no ambiente litúrgico panôs vermelhos, de tecido bem leve, que se movimentem ao vento. Sobre esse tecido (talvez tule vermelho) podem ser coladas “línguas de fogo”, confeccionadas anteriormente pelos diversos grupos da comunidade. Pode-se providenciar também sons de vento e de ossos batendo uns nos outros, mas acima de tudo Pentecostes é festa da esperança. O culto precisa viver essa alegria.

Canto de invocação:
Envia-nos, Senhor (Miriã, volume 2, n° 4)

Confissão de pecados:
Ó Santíssimo Espírito, neste dia de Pentecostes colocamo-nos em tua presença, manifestando a nossa fragilidade, reconhecendo os nossos erros e pedindo o teu perdão. Lava-nos e purifica-nos, renovando nossas vidas no teu fogo abrasador... e assim pedimos:
Perdão, Senhor, perdão. Perdão, Senhor, perdão.

Kyrie:
(Lembrar preocupações do contexto mundial e local) ... e assim clamamos:
Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra.

Hino após a prédica:
Vem, Santo Espírito (O Povo Canta n° 211)

Bênção:
Que o vento sopre suave sobre sua vida,
trazendo sempre o aroma da paz;
que o fogo aqueça seu coração,
deixando-o sempre pleno de ternura;
que a palavra que sair dos seus lábios
e as que visitarem os seus ouvidos
levem e tragam sempre o som de uma bênção!
Amém.
(Luiz Carlos Ramos)

Bibliografia

ALVES, Rubem (org.). CultoArte. Celebrando a Vida. Pentecostes. Petrópolis: Vozes, 2002.
BOADT, Lawrence. Reading the Old Testament. An introduction. New York: Paulist Press, 1984.


Autor(a): Marcia Blasi
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: Domingo de Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Ezequiel / Capitulo: 37 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2008 / Volume: 33
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 24545
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