Filipenses 3.12-21

Auxílio Homilético

10/10/1999

Prédica:Filipenses 3.12-21

Leituras: Isaías 5.1-7 e Mateus 21.33-43
Autor: Margarete Emma Engelbrecht
Data Litúrgica: 20º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 10/10/1999
Proclamar Libertação - Volume: XXIV
 

 

O que se sabe...

A Carta aos Filipenses, em especial o cap. 3, foi objeto de estudo em Proclamar Libertação, vols. II, XI e XX. Valeria a pena conferi-los. A carta é destinada à comunidade cristã iniciada quando Paulo freqüentou reunião com Lídia (At 16.11-15).

Ivoni Richter Reimer apresenta estudo inovador sobre tal reunião em seu livro Vida de mulheres na sociedade e na igreja. Diferentemente de outros tantos pesquisadores, ela faz com que cheguemos à conclusão de que a comunidade que ali iniciou sua caminhada cristã era uma comunidade pobre. Era formada, na grande maioria, por mulheres. Essa comunidade abriga Paulo e seus companheiros em meio à perseguição. Percebemos que a confissão de fé de Lídia supera o medo e a desconfiança de Paulo. Não conseguimos enxergar a oferta de um repouso em local mais abastado, como nos afirmam certos autores.

Na Carta aos Filipenses, Paulo agradece a ajuda recebida daquela comunidade. De outras comunidades ele não quis aceitar auxílio para si. Dali ele aceita. Talvez, mais uma vez impulsionado pela confissão de fé da comunidade, reconheça que precisa de apoio. Este fato comprova que bens/ajuda/dinheiro existem para ser colocados a serviço (Lutero) e não para demonstrar quem detém o poder.

O que se enxerga...

A perícope indicada para a pregação é famosa pela figura da corrida. O objetivo de alcançar o alvo é relativizado com a proposta de prosseguir.

Já que o tempo de Paulo é tempo de incerteza a respeito do seu próprio futuro e do futuro da comunidade, torna-se necessária ainda mais a caminhada, ainda mais a partilha, ainda mais a certeza de amparar e ser amparada.

A confiança no Cristo que o conquistou primeiro descarta para Paulo, a possibilidade de um poder exercido para coibir: poder é alvo a ser partilhado, possibilidades e cuidados também.

O que para trás fica (v. 13) pode sempre bitolar a caminhada de uma comunidade. Esquecem-se transformações e são oferecidas tradições destituídas de sentido, cumprimento de obrigações que não oferecem vida, zelo pelo que já foi conquistado em detrimento de novas perspectivas.

Tal visão retorna no v. 19 quando se lembra do cuidado excessivo, preocupação que extrapola sua época, com o próprio ventre. Certos autores tentam dar apenas o sentido de sexualidade a este termo. Mas ventre é traduzido por corpo'' outras tantas vezes, dando a visão que o Evangelho de Mateus nos traz: Não só de pão viverão as pessoas... (4.4).

A transcendência é a certeza da pessoa cristã, já que, diante de tantos obstáculos na caminhada, a certeza da presença de Deus indicando outros caminhos é imprescindível para a vida.

E novamente a promessa do governo/poder de Deus intranqüiliza poderes/ governos que enfraquecem corpos, denuncia seus mortos. É a confissão de fé no poder de Deus, é a confiança vivida que mostra comunhão, solidariedade entre a comunidade e o apóstolo perseguidos.

Com as outras duas leituras para este domingo fortalece-se a denúncia da luta pelo poder que não traz vida. A perícope de Filipenses mostra que imitar Paulo (preso, com espinho na carne, sempre perseguido), seguir Jesus (Deus que termina numa cruz) é caminho para se procurar por vida.

O que se procura...

Em nosso mundo diário mais e mais nos acostumamos a ver pessoas transformadas em massa: igualmente necessitadas, diferentemente aceitas. Longe fica o testemunho pessoal da não-convivência com a destruição da natureza, desrespeito com a vida que Deus deu. Longe fica o testemunho de comunidades que poderiam ver pessoas diferentemente necessitadas, igualmente aceitas!

Num grupo de agricultores e agricultoras preocupadas com a dinâmica do Mercosul e suas consequências na vida diária, a ênfase do texto foi se encaminhando para a busca de outros caminhos de organização e produção. Buscar vida sem compactuar com o que se acredita ser destrutivo é viver a certeza de que Deus chamou primeiro.

Em outro grupo, de pais e mães preocupadas com a educação e com a vida de filhas e filhos, a ênfase foi no exemplo: não somos exemplos perfeitos, mas buscamos vida, é-nos exigido testemunho. Cristo, procurando por vida, encontrou a cruz (e não o sucesso...). Ao formarmos uma comunidade que se solidariza com quem sofre, viramos exemplo. Podemos nos solidarizar com quem sofre e permanece em isolamento e, ainda assim, indicar a certeza do amparo de Deus, do poder de Deus.

A transcendência proposta no texto contradiz as teorias de um progresso natural, de um mundo que vai se edificando sozinho. Algumas comunidades esqueceram dificuldades políticas no início da imigração alemã no Brasil e pregam a não-inserção da comunidade cristã na política, no mundo. Outras tantas comunidades querem seguir o caminho do céu e também pregam o distanciamento de decisões políticas no mundo, alienam e favorecem a não-vida.

Encarando a comunidade de Filipos como comunidade de pessoas com grandes dificuldades para viver ou mesmo sobreviver torna-se forte a denúncia contra coisas do mundo. Vemos pessoas sucumbindo hoje ainda por precisarem ser coniventes com a injustiça, com práticas ilegais e lesivas, com a não-observância de direitos mínimos para sobreviverem. Ainda hoje vertemos lágrimas por quem ou com quem arrisca o poder do pensamento positivo ou a certeza do poder (econômico, pessoal) da fé.

Talvez precisemos celebrar mais a fraqueza dos corpos, a solidão de quem denuncia, a cruz de Jesus Cristo... Talvez precisemos celebrar mais a coragem da confissão de fé que abriga, sustenta e capacita para a vida, que extrapola o antigo, que espera a redenção.

O que se vive...

Vivenciei este texto em celebrações de comunidades rurais, empobrecidas, onde o objetivo era desafiar a comunidade para uma caminhada coletiva a partir da fé no desejo de viver a cidadania. Em se tratando de comunidades rurais, não pode ser menosprezada a situação social, econômica e cultural na qual as pessoas dessas comunidades vivem. Enquanto a propaganda prega o vínculo individual com instâncias maiores, há necessidade de fortalecer a caminhada diária como comunidade. Esta realidade e a esperança escatológica do reino de Deus são misturadas na celebração.

Para uma celebração participativa podem ser cortados pedaços de barbante/ fios (entre 80 e 120 cm) em número maior do que o número de pessoas participantes no encontro, no culto. Os fios são reunidos em um pequeno monte ou espalhados pelo centro do círculo formado por participantes. É feita a acolhida, canta-se. Pode-se acender uma vela durante a invocação, que pode ser falada ou cantada. E o momento da oração do dia.

O texto bíblico sugerido como base para a reflexão é lido e são dadas informações sobre o mesmo. Os outros textos também podem ser lidos.

As pessoas participantes são convidadas a buscar um pedaço de fio e a desenvolver o tema o que impede minha corrida' , o que impede nossa corrida como comunidade. Depois de as opiniões serem partilhadas, e hora de amarrar os fios uns aos outros.

Forma-se um círculo irregular. O círculo é mantido suspenso pelas mãos de participantes. Pode-se conversar sobre como ser exemplo, mesmo sendo imperfeito. Buscando a solidariedade as pessoas são convidadas a partilhar sua vivência, a testemunhar, a confessar, a dar sua confiança a outras pessoas.

Observando o círculo formado, percebe-se o restante de fios ainda dispersos. Poderíamos simplesmente anexá-los ao grande círculo. Mas é hora de denunciar as propostas vazias, as propostas que não conduzem à vida. E se é hora de denúncia, é hora de verter lágrimas também por quem perde a vida. Não é hora de planos de missão sem respeito a quem não faz parte do círculo.

A proposta continua sendo que as pessoas venham a ser sujeitos nessa corrida. Poderíamos buscar jeitos de o círculo encostar nos fios separados sempre enfocando a solidariedade que não se rompe por ser formada por fios imperfeitos. Talvez seja o momento de se perceber propostas para que a solidariedade surja de fato e não seja só mais um termo bonito em nossas celebrações.

Assim como são as mãos de participantes que sustentam os fios, torna-se óbvio que é o poder de Deus que faz os fios/as pessoas se encontrarem.

Ao final deste momento de partilha, recebe destaque a oração de intercessão seguida pelo Credo Apostólico ou outra confissão de fé. Lembrar que é a confissão, como testemunho, que nos dispõe a confiar.

O gesto da paz, a bênção e o envio finalizam a celebração. Cantos de agradecimento e envio são entoados.

Bibliografia

COMBLIN, José. Epístola aos Filipenses. Petrópolis : Vozes; São Bernardo do Campo : Imprensa Metodista; São Leopoldo : Sinodal, 1995. 65 p.
CONZELMANN, H., FRIEDRICH, G. Epístolas de Ia cautividad : texto y comentário. Madrid : Fax, 1972. p. 93-100, 151-157. (Actualidad bíblica, 29).
GNILKA, Joachim. A Epístola aos Filipenses. Petrópolis : Vozes. 1978. (Novo Testamento : comentário e mensagem, 11).
REIMER, Ivoni Richter. Vida de mulheres na sociedade e na Igreja. São Paulo : Paulinas, 1995.

Proclamar Libertação 24
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Margarete Emma Engelbrecht
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 20º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Filipenses / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 21
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1998 / Volume: 24
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7232
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