Hebreus 2.9-11

Auxílio Homilético

22/10/2006

Prédica: Hebreus 2.9-11
Leituras: Gênesis 2.18-24 e Marcos 10.2-16
Autor: Louraini Christmann
Data Litúrgica: 20º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 22/10/2006
Proclamar Libertação - Volume: XXXI

1. Hebreus – uma carta diferente das outras

A Carta aos Hebreus não é uma carta como as outras. É uma pregação, uma exortação. É pura aula. É puro conselho. Mas tem finzinho de carta. Tem saudação final. É, pois, uma carta sem muito estilo de carta, inclusive sem assinatura.

Conforme as pesquisas, são palavras escritas para cristãos de origem judaica, muito perseguidos, prestes a deixar de ser. Dá pra imaginar a angústia, o medo, a ansiedade. Quem escreveu o Livro de Hebreus tem a preocupação de animar aquele povo. Precisa dizer que Jesus é o verdadeiro, que só por ele se chega a Deus.

Parece que isso não estava mais tão claro. Será que a propaganda contra esse Jesus de Nazaré era tão grande assim? Parece que sim. Aí precisam mais do que nunca dessas palavras animadoras do livro de Hebreus.

E toda a perseguição que havia! Podemos imaginar como aquela imagem do Jesus de Nazaré, pobre, torturado e morto, não era nada convidativa ao lado de tantas outras imagens de deuses majestosos e ditos poderosos.

Se havia tanta necessidade de falar da grandiosidade de Jesus, é porque havia quem se dizia grande? Aliás, os reis se diziam os deuses, os deuses se diziam os reis... Como se fazia necessário falar de um Jesus carregado de glória, de brilho! “O filho brilha com o brilho da glória de Deus” (Hb 1.3).

Pensando na pregação, talvez devêssemos introduzi-la falando desse brilho, dessa glória. Desafiar a comunidade a cantar louvores a esse Deus todo cheio de brilho e glória, cujo filho tem exatamente o mesmo brilho e a mesma glória. Penso que seria um bom começo.

2. Leituras: Gn 2.18-24 e Mc 10.2-16

Estranham um pouco os textos previstos para leitura. O que teriam em comum com Hb 2. 9-11 o texto de Gênesis, que fala da questão do gênero, e o Evangelho de Marcos, que lembra a questão dos direitos iguais no matrimônio e da valorização da criança? É preciso ver, pois, um pouco mais de perto cada um desses textos.

2.1 – Gênesis 2.18-24

Conforme Gênesis, cai por terra qualquer argumento que queira tornar o homem superior à mulher. A mulher é a “outra metade”(Gn 2.18 ) A outra metade trata-se tão bem quanto a primeira. Ela é igual à primeira. Ambas são uma só carne. Aqui não cabe, pois, o senhorio, o domínio. Só cabe a igualdade.

E mais. Deus sentiu a falta da mulher na vida do homem no momento de dar nome às espécies. Dar nome é ter o poder sobre. Deus sentiu necessidade da ajuda de uma outra metade naquele momento. Então Ele age.

Não há participação do homem. O homem dorme. É coisa de Deus.

E mais: ele tirou uma costela, um osso pertinho do coração. Tem tudo a ver com carinho, com abraço de iguais.

“Agora sim!”, diz o homem. “Esta é carne da minha carne e osso dos meus ossos” (Gn 2. 23). Isso é compromisso assumido pelo homem. Carne da minha carne a gente não bate. Osso dos meus ossos a gente não quebra. “É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa” (Gn 2.24) ou uma só carne, como diz a tradução mais antiga. Aqui em Gênesis, não é ela que deixa tudo para trás, como é da nossa cultura, onde a mulher deixa para trás inclusive o seu sobrenome, que é marca de toda a sua história. Esse texto, pois, dá-nos muita responsabilidade como casais, como lideranças que precisam mexer mais em toda essa questão de gênero. Estamos deixando tudo como está. Não questionamos mais o senhorio do homem sobre a mulher, a diferença enorme que existe entre os direitos e deveres dentro dos relacionamentos matrimoniais.

Se esse texto de Gênesis nos vem como leitura junto ao de Hebreus como pregação, vejo claramente que é preciso falar disso.

2.2 – Marcos 10.2-12

Aqui Jesus faz referência a Gênesis e lembra justamente o fato de que “o homem deixa a casa do pai e da mãe”. Ele busca a resposta nas origens. Os fariseus buscam na lei de Moisés, Jesus busca na lei de Deus. E quer apostar na “moleza” do coração dos que o ouvem, porque “Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês” (Mc 10.5).

Ele coloca aqui para o homem e a mulher a mesma responsabilidade. Mesmos deveres, mesmos direitos (Mc 10.11-12). E o interessante é que os seus
opositores se calam. O que Jesus disse continua errado, de acordo com a lei de Moisés. O argumento de Jesus, tirado da própria palavra de Deus, desarma-os.

2.3 – Marcos 10.13-16

Jesus passa rapidamente de um assunto para outro. Trazem-lhe crianças, e Jesus não vê problema em interromper a sua conversa com os podero- sos fariseus e defender as crianças perante a repreensão dos discípulos, que ainda não entenderam nada do seu evangelho da graça. Ele passa a dizer que o reino de Deus é das pessoas que são como as crianças. Perante o poderio dos fariseus, é muita audácia. Criança era considerada impura perante a lei, justamente por não conhecê-la.

Naquela situação de questionamento das atitudes de Jesus em relação à lei, ele abraça e abençoa as crianças (v. 16), o que é totalmente fora dos padrões.

3. O nosso texto e sua insistência na grandiosidade de Jesus

Não somente o nosso texto, mas todo o livro de Hebreus insiste muito na grandiosidade de Jesus, como Hb 1.3: “O filho brilha com o brilho da glória de Deus”. Já falamos sobre isso no início desse estudo, e outros estudos que me precederam no PL também já o fizeram. Mas quero aqui destacar todas as intervenções do nosso texto, especificamente as que destacam a grandiosidade de Jesus:

“Nós vemos Jesus fazendo isso (governando todas as coisas)” (v. 9); “Agora nós o vemos coroado de glória e de honra” (v. 9 c);

“pois Deus (...) tornou Jesus perfeito ...” (v. 10);

“... para que tomassem parte da glória de Jesus” (v.10 b);

“Pois é Jesus quem os guia para a salvação”;

“Jesus purifica as pessoas dos seus pecados”;

“Jesus não se envergonha de chamá-los de irmãos”.

É muita insistência. Por que será? – a gente se pergunta. E imaginamos que, se havia tanta necessidade de falar da grandiosidade de Jesus, é porque havia quem se dizia grande. Seria isso?

Logo no início de nosso texto, a grandiosidade de Jesus é contraposta à sua pequenez, quando ele foi “colocado em posição inferior à dos anjos” (v. 9). Aqui o autor fala de seu nascimento numa estrebaria, numa desprezada Nazaré? Fala da perseguição que sofreu? Da condenação à morte?

Provavelmente. Imagino que, na comunidade destinatária de Hebreus, havia quem dissesse que o sofrimento todo pelo qual passou Jesus não levava a nada, que a mensagem da cruz não era de nada, ao contrario da mensagem da glória, muito pregada por outras crenças.

Mas e quanto à crença em anjos? Qual era a posição dos anjos? Provavelmente o autor estava constatando e combatendo religiões que colocavam os anjos em “posições superiores”.

Nesse contexto de anjos, fala da graça de Deus, que fez com que a morte de Jesus fosse para todas as pessoas. Parece claro que lá havia outras coisas que tinham mais valor, como força, capacidade, reza para anjos, talvez a questão da raça...

Lembrando os textos previstos para a leitura nesta celebração (Gn 2.18-24 e Mc 10.2-16), uma coisa que contava muito era ser homem e ser adulto; ou então, não ser mulher e não ser criança. Disso falava a lei. O senhorio do patriarcado, pois, é assunto aqui. Penso ser lógico que na pregação se fale disso. Como hoje esse senhorio se impõe ainda? Quais são hoje as lutas para que o senhorio de Jesus seja o único?

O senhorio de Jesus passa pela morte. Opressão, dor, sofrimento, exclusão, pois, não impedem nada. Por Jesus, que é coroado de honra e glória por causa da morte que sofreu, é possível buscar saída. Normalmente, quem sofre esse tipo de morte não é, de jeito nenhum, coroado de glória e de honra. Em Jesus muda tudo. Por Jesus podemos sonhar com outra realidade. A oração “Deus, em tua graça, transforma o mundo” é bem contextual aqui.

O v. 10 inicia com uma confissão de fé: “Pois Deus que cria e sustenta todas as coisas...”. A pergunta que surge aí é: Fazemos essa confissão de fé hoje? Cremos nós que Deus cria e sustenta todas as coisas? Ou cremos muito mais em nossas capacidades? Em meio ao surgimento de tantas denominações que se dizem igrejas e que se sustentam em cima de uma teologia da prosperidade, o que dizemos nós de tudo isso a partir desse nosso texto? O que temos a dizer em uma realidade onde falta emprego, onde falta salário justo, onda falta terra, onde falta preço justo para os produtos da terra... O que temos a dizer frente à realidade de sentimento de vazio na modernidade, às famílias desunidas, ao ser humano degradado?

Deus tornou Jesus perfeito por meio do sofrimento. É mensagem que fala alto em meio ao sofrimento de hoje. Diz o texto na segunda parte do v. 10: “Deus fez isso a fim de que muitos, isto é, os seus filhos, tomassem parte na glória de Jesus. Pois é Jesus quem os guia para a salvação”. Sim, Jesus é que nos guia para a salvação, somos agraciados para participar da glória de Jesus.

O nosso texto lembra a necessidade de insistir nisso, nessa doutrina grandiosa que nos marca. É preciso repeti-la. O que não se repete é esqueci- do. Por isso o autor do texto passa a repetir tudo para que eles não esqueçam. “Jesus purifica as pessoas dos seus pecados; e todos, tanto ele como os que são purificados, têm o mesmo Pai.” Temos, pois, uma comunhão de Pai com Jesus. Ele nos faz irmãos. Irmãos vivem em igualdade. Então nossa missão de lutar pela igualdade no mundo.

O autor insiste: “É por isso que Jesus não se envergonha de chamá-los de irmãos”. Que bom! Será que tem gente que se envergonha? Talvez por
causa de uma questão de gênero ou por ser criança. Se há essa insistência, na certa havia os que se diziam mais, os que se rogavam o poder de ser os senhores.

4. Também insistindo na grandiosidade de Jesus (a pregação)

Sugiro os seguintes passos:

1 – “O filho brilha com o brilho da glória de Deus” (Hb 1.3). Sugiro iniciar a pregação dando glória a Deus por isso. Desafiar a comunidade a cantar louvores a esse Deus todo cheio de brilho e glória, cujo filho tem exatamente o mesmo brilho e a mesma glória. Penso que seria um bom começo.

2 – Depois listar todas as palavras que falam da grandiosidade de Jesus, como eu fiz no início do capítulo 3 deste estudo.

3 – Continuar perguntando se, de fato, o poder hoje está nas mãos de Jesus. A comunidade poderia ser desafiada a listar poderes hoje que se dão o direito de dominar conforme os seus interesses.

4 – E o senhorio dos homens? Há casais em que a mulher ainda hoje não tem voz? E como anda o senhorio dos adultos? Lembrar o que é autoridade, o que não tira da criança o direito de ter opinião e de ter uma vida digna. E as buscas por igualdade? Depois disso, fazer referências aos textos de Gênesis e Marcos, previstos para a leitura.

5 – “Pois Deus que cria e sustenta todas as coisas” – Essa é uma confissão de fé. Desafiar a comunidade a confessar sempre de novo esse Deus em nossa vida. Desafiar a também ter insistência, a falar muito desse Deus, da grandiosidade de seu filho Jesus. Mas lembrar que é preciso ter a humildade e a pureza das crianças – essa é a condição para fazer parte do reino de Deus.

6 – Finalizar com o mesmo momento de louvor com o qual iniciou a pregação.

5. Proposta litúrgica

(Trago aqui uma proposta de liturgia, sem as devidas costuras. Alguns passos estão mais elaborados, outros não. Conforme a situação, é só elaborar. Eu costumo compartilhar a liturgia com uma pessoa; por isso enumero assim os passos. Uma faz os números ímpares, a outra os números pares. As comunidades têm tido muita abertura para isso, o que tem me dado grandes alegrias. Espero estar prestando um serviço com essas minhas idéias.)

1 – “Agora nós o vemos coroado de glória e de honra, por causa da morte que ele sofreu, pois Deus que cria e sustenta todas as coisas, fez o que era apropriado e tornou Jesus perfeito por meio do sofrimento” (Hb 2.9b – 10a).

2 – Quem aqui nos reúne é este Jesus coroado de honra e de glória, tornado perfeito por Deus, que cria e sustenta todas as coisas. É Deus Pai e Filho tornando-nos irmãos e irmãs pela força do Espírito Santo. Amém.

3 – Louvemos a esse Trino Deus, cantando “Glorificado seja o teu nome” (ou outro cântico, é claro).

Comunidade: Glorificado...

4 – Jesus, coroado de honra e de glória, morrendo por nós, agracia-nos com abertura para pedir perdão e para recomeçar. Coloquemos em Deus nossas culpas por todas as vezes que nos arrogamos o direito de dominar, de oprimir, de excluir, sempre tirando de Jesus o senhorio e colocando-o em nossas mãos de um jeito ou de outro. Reconheçamos isso com sinceridade e humildade.

5 – Está escrito em nosso texto de hoje: “Jesus purifica as pessoas dos seus pecados; e todos, tanto ele como os que são purificados, têm o mesmo Pai. É por isso que Jesus não se envergonha de chamá-los de irmãos” (Hb 2.11).

6 – A partir de nossa fé nesse perdão, nessa purificação por parte de Jesus, é que somos livres para lembrar de tantos irmãos e irmãs que sofrem. Temos o mesmo Pai, como ouvimos agora. Jesus não se envergonha de nos chamar de irmãos e irmãs. Muitos outros senhores, no entanto, querem impor-se, tirando de nós as condições de ser irmãos e irmãs. Cantemos em comunidade “Pelas dores deste mundo, ó Senhor!”.

Comunidade: “Pelas dores deste mundo, ó Senhor...”

7 – “Deus fez isso, a fim de que muitos, isto é, os seus filhos, tomassem parte na glória de Jesus. Pois é Jesus quem os guia para a salvação”(Hb 2.10b) – Glória a Deus nas alturas e paz entre nós!

Comunidade: Glória, glória, glória a Deus nas alturas...

8 – Oremos: A tua palavra, Senhor, fala-nos hoje da glória e da honra de Jesus em detrimento da glória e honra dadas pela lei e pelos costumes a tantos outros senhores, tão questionados por Jesus e seus seguidores. Clareia nossas mentes e nossos corações, Senhor, para que saibamos sair daqui com a bênção de levar junto a tua mensagem, para podermos vivê-la lá fora em nosso dia-a-dia. Tu és o Deus que cria e sustenta todas as coisas. Precisamos desse teu criar constante. Precisamos desse teu sustento firme. Ilumina, Senhor. Amém.

9 – Canção intercalando os textos...

10 – Leitura de Gn 2.18-24.

11 – Canção intercalando os textos...

12 – Leitura de Hb 2.9-11.

13 – Aclamação do evangelho: Bem-aventurada é a pessoa que tem o Jesus coroado de glória e de honra por meio da cruz como a sua glória e a sua honra. Aleluia!

Comunidade: Aleluia, aleluia...

14 – Leitura de Mc 10. 2-16.

15 – Canção...

16 – Pregação e confissão de fé.

17 – Canção com a oferta.

18 – Comunicações, diversos.

19 – Intercessões gerais / Pai-Nosso.

20 – Bênção /Envio.


 


Autor(a): Louranini Christmann
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 20º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2005 / Volume: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23673
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