Hebreus 4.12-13

Auxílio Homilético

02/02/1986

Prédica: Hebreus 4.12-13
Autor: Günter Wolff
Data Litúrgica: Domingo Sexagesimae
Data da Pregação: 02/02/1986
Proclamar Libertação - Volume: XI

I — O Livro

a) Autor

O autor da Carta aos Hebreus é desconhecido. Hebreus em seu estilo não demonstra ser uma carta, mais parece um tratado teológico. A linguagem é de alguém instruído, pois está escrita em bom grego. O autor é, provavelmente, um judeu cristão que teve uma educação helenista, como era praxe dos judeus na diáspora.

b) Estrutura do livro

1.1 - 4.13 —Jesus Cristo é maior que anjos e Moisés
4.14 -10.31 — Aproximemo-nos frente ao Sumo Sacerdote
10.32-13.17 — Sede firmes em Jesus Cristo, o iniciador e consumador da fé
13.18-25 — Saudação final.

c) Destinatários

Os destinatários são judeus cristãos e helenistas. A comunidade estava nas dificuldades da perseguição. A carta procura afastar o medo e firmá-los no testemunho. O autor procura colocar que Jesus Cristo é maior que os anjos, sacerdotes e todos os seres, por isso o servir a ele é o mais importante. O autor procura fortalecer a fé da comunidade para suportar a perseguição Por causa da perseguição a comunidade estava duvidando de que Jesus Cristo é o libertador e achavam bastava serem filhos de Deus conforme o AT. Por isto que o autor coloca que os anjos, holocaustos, o sacerdócio são coisas deste século e que Jesus vai além.

d) Época

A carta foi escrita na época do Imperador Domiciano (81-96 d.C.). Este, nos primeiros anos de governo, administrou os assuntos públicos com justiça e energia e no início dos anos noventa foi degenerando progressivamente e virou um grande tirano. Deu a si mesmo o título de Senhor (dominus) e se divinizou em vida.

Só podemos entender a atitude anticristã dos romanos, se entendermos o caráter da religião naquela época. Na Antiguidade clássica, tanto na Grécia quanto em Roma, era essencialmente sobre a religião que se fundava a polis, a cidade (e por cidade deve entender-se o Estado, a política). A religião era uma função do Estado, desempenhada por homens especialmente designados para isto. Nela a interioridade não contava: era uma religião de atos formais, de culto puramente exterior. A política estava essencialmente impregnada de religião, e separar uma da outra era impossível. O culto formava o laço de união, dava coesão a toda a sociedade. Assim como o altar doméstico congregava em torno de si os membros de uma família, do mesmo modo a cidade era a reunião dos que tinham os mesmos deuses protetores e cumpriam o ato religioso no mesmo altar. Renegar os deuses era não somente apostasia mas uma traição à pátria; e o ato religioso era um ato cívico.

Fora Otávio, o iniciador do Império, que introduzira a divinização do Imperador. O Imperador, agora pontífice máximo (Pontifex Maximus), passaria a ser chamado, com o tempo, Augustus, Divus, Divinus, Sol Invictus, Dominus et Deus. A divinização do Imperador e o incremento à vida religiosa tinha por finalidade desenvolver a penetração, a implantação segura e a coesão de todo o Império. O Culto do Imperador teve inegáveis efeitos políticos: tornou-se como que um denominador comum para todos os habitantes do vasto Império, tão diversificado sob outros aspectos (Lesbaupin, p. 15-17).

Os romanos acreditavam que os deuses se irritavam com a presença de pessoas que adoravam outro Deus e lhes recusavam o culto. Os cristãos eram considerados ateus e rebeldes contra o Estado. A expansão do cristianismo era uma ameaça política, pois a coesão do Império se baseava na religião e no Imperador. O cristianismo era considerado uma associação ilícita, o que significava crime.

O texto da sentença de Cipriano, bispo de Cartago, diz: Durante muito tempo viveste sacrilegamente e juntaste contigo muita gente numa conspiração criminosa, constituindo-te em inimigo dos deuses romanos e de seus sagrados ritos, sem que os piedosos e sacratíssimos príncipes Valeriano e Galieno (...) tenham conseguido fazer-te voltar à sua religião. Portanto, tendo sido provado que foste cabeça e líder de homens réus dos mais abomináveis crimes, servirás de exemplo para aqueles que juntaste para tua maldade, e com teu sangue ficará sancionada a lei. Outro exemplo exprime muito bem a maneira como os cristãos eram vistos: em setembro de 303, o Imperador Dioclesiano promulgou anistia que abriu as portas das prisões a numerosos con¬denados. Ela não se estendeu, porém, aos cristãos. Eles não eram con¬siderados condenados comuns, mas rebeldes (Lesbaupin, p. 18).*O cristianismo por causa das consequências políticas que ele trazia consigo era inimigo do Estado. O objetivo da perseguição era fazer os cristãos negar a fé a voltar ao paganismo, assim não seriam mais ameaça ao Estado.

II — Texto

a) Estrutura

1 - A Palavra de Deus é viva, eficaz e cortante
2 - Penetra para dividir
3 - Discerne (julga)
4 - Deus conhece cada pessoa
5 - Tudo está descoberto aos olhos de Deus
6 - Temos que prestar contas a Deus

b) Reflexão sobre o conteúdo

1 - A Palavra de Deus é viva, eficaz e cortante Qual afinal é a Palavra de Deus?

Hoje muitos membros (identificados com o sistema opressivo) dizem que os pastores e a Igreja não pregam mais a Palavra de Deus, e por isso não participam mais dos cultos e programas da comunidade. Pois, nas pregações os pastores só falam de Reforma Agrária, contra as Barragens, dos pobres, enfim só falam de política.

O texto define a Palavra de Deus como viva, eficaz e cortante; nada de enlevo espiritual, portanto. A Palavra de Deus sendo eficaz, significa que ela é dinâmica e resolve situações, faz acontecer.

E sendo dinâmica, resolvendo situações e fazendo acontecer, ela revela o conflito (= pecado). Este revelar traz a reação coletiva da comunidade que supera e afasta o conflito (= pecado). No ato de afastar o conflito este se intensifica e se acentua entre os que querem que a Palavra de Deus seja enlevo espiritual e os que querem que a Palavra de Deus seja viva, eficaz e mais cortante que espada.

A eficácia da Palavra de Deus (PdD) se mostrou na ressurreição criando vida nova e eterna. Portanto, a Pd D é eficaz para dar salvação e perdição. A salvação e a perdição dependem da aceitação ou da rejeição da PdD como criadora e mantenedora da vida. Aceitação não é dizer sim, simplesmente, mas trabalhar para afastar os conflitos que criam a morte; significa lutar contra a opressão e os opressores. A eficácia da PdD está no fato de que o Reino vem, queiramos ou não; ele vem com a nossa ajuda ou apesar da nossa luta contra.

Há um movimento forte dentro da comunidade em fazer a PdD ineficaz, quer dizer morta, alienada. Quando a PdD se revela eficaz em desmascarar o sistema opressivo, então a revolta de alguns é de que esta não é a PdD.

A eficácia da PdD é, uma vez, clarear o conflito, dar o nome para o pecado, e, outra vez, mostrar a solução para encaminhar o conflito conforme a vontade de Deus. Por outro lado, a eficácia da PdD é a de preservar a vida e alertar que a PdD é em 1.° lugar em favor da vida.

A PdD é mais afiada que espada de dois gumes. Espada é símbolo de justiça, tanto terrena como divina. Para que se possa fazer justiça é necessário discernir os fatos para poder clarear a situação, para poder haver um julgamento justo. Por isso, a PdD corta fundo para dentro deste sistema de pecado em que vivemos, e isto dói, pois a ferida fica de repente às claras e aberta. Por isso é importante dar o nome aos pecados, pois é fácil falar em pecado. A comunidade até gosta que se fale em pecado, que todos são pecadores, etc. Mas o que ela não admite é que se dê o nome ao pecado; nem ao pecado individual nem ao coletivo. Aí, diz ela, a Igreja está criando conflitos.

Acontece que a Igreja não cria o conflito, ela apenas clareia o conflito através da PdD. São muitos os exemplos de pastores exemplares, pois tiveram a ousadia de deixar a PdD ser uma espada de dois gumes. Líderes sindicais, de movimentos populares e políticos na época da ditadura militar que foram cassados, presos, torturados, exilados e mortos são exemplos que deixaram a PdD ser espada afiada que corta para dentro da situação e deixa entrever o interior do sistema de pecado reinante.

O simples fato de deixar a PdD ser viva dentro do processo do movimento popular era e é uma ameaça ao sistema de morte que é o capitalismo. O simples fato da organização popular ser em favor dos sem terra, lutar contra as barragens, lutar na oposição sindical, etc. é deixar a PdD ser viva e isto é uma ameaça enorme para este sistema que vive da morte. O terrível é que comunidades e pastores trabalham contra a PdD, tentando estancar a luta pelo direito e pela justiça. O que, no entanto, permanece, é que o Evangelho de Jesus Cristo não é palavra morta e sim poderosa força de transformação neste mundo das situações de opressão em libertação.

2 — Penetra para dividir

A PdD divide: coloca cada qual na sua posição, a favor ou contra o Reino. É a Palavra que age como espada que separa as águas, quem é contra e quem é a favor.

Os conflitos nas comunidades deixam isto claro. Enquanto se prega que a PdD é harmonia e mantenedora do status quo há paz na comunidade. Quer dizer, se consegue esconder e ignorar os conflitos. Quando acontece um fato concreto onde alguém ou um grupo toma posição frente a um conflito existente, aí a coisa explode. Quando as pessoas se dão conta de que tudo o que há no mundo não é vontade de Deus, então acontece o divisor das águas. Quando a pregação da PdD deixa claro o pecado e mostra e desvenda o conflito existente no mundo e na comunidade, então o conflito aumenta, pois agora está desvendado e encaminha em direção à solução ou à continuidade.

A PdD machuca, dói, e os que vão ao culto para ouvir consolo espiritual individual? Estes de fato não formam comunidade, pois comunidade é um coletivo e o coletivo se interessa com os problemas do individual e do coletivo. Quem vai para ouvir palavra de consolo para aguentar melhor a opressão e deixá-la como está, se revolta quando a Palavra viva e eficaz e cortante o atinge, pois revela o compromisso que ele tem para com o coletivo.

PdD não está aí para o enlevo espiritual. Isto é alienação, isto é ópio para o povo. Se a PdD é viva então não tem enlevo espiritual mas mexe com a vida; cria e mantém a vida. Palavra como enlevo espiritual não mantém a vida mas mantém a acomodação na opressão.

A PdD é a espada que divide. Isto contradiz ao dito comum dos conservadores da comunidade de que a PdD une todo mundo, diz que somos todos iguais, traz a paz ao coração de todos, traz a harmonia. São conceitos que procuram encobrir a lama que está por baixo. Quando a PdD começa a cortar, a harmonia fictícia desaparece. Pois o que há no sistema brasileiro, que é um sistema capitalista dependente, é a paz de cemitério. Não existe harmonia com 32 milhões de analfabetos, com 12 milhões de sem terra, com 80% das terras indígenas não demarcadas, com o Banco do Brasil em 1984 tendo um lucro de 1,8 trilhões de cruzeiros (272% acima do lucro do ano anterior), com o trabalhador nos últimos 3 anos perdendo 37% do poder aquisitivo de seu salário, com a produção de alimentos baixando e a produção de cana aumentando, com a transição de uma ditadura militar para uma Nova República com os elementos tirados da velha ditadura, onde os grupos econômicos continuam no poder. Não há paz na comunidade quando há uma apatia em relação à missão e ao trabalho em prol do Reino. A PdD penetra em nosso meio para deixar claro o que é referente à alma (à vida da pessoa) e o que é referente a ação do Espírito de Deus. Com isto a PdD mostra o que é vontade do homem e o que é vontade de Deus. Para mostrar isto a PdD tem que clarear a ação dos dois; assim como para diferenciar a junta da medula se precisa separar uma da outra para vê-la e entender o que é o que. Assim, a PdD separa com sua ação poderosa opressores e oprimidos, injustiçados e injustos, quem é a favor e quem é contra, para deixar claro a todos a posição de Deus.

3 — Discerne (julga)

A PdD divide no sentido de clarear as posições e com isto também divide a comunidade e com isto se clareia quem tem e quem não tem fé.

Com a referência no final da carta, que Timóteo foi posto em liberdade, se mostra que a perseguição da comunidade era forte e por isso a PdD é o critério e o veículo para clarear as posições dos que são do Reino e dos que são contra. Por isso precisa-se dividir a sociedade ao meio pela PdD como espada para ver o interior dela para poder discernir, julgar os fatos e as pessoas. Por isso também se fala de um prestar contas perante Deus de todas as criaturas, pois Deus sabe o que está acontecendo.

A PdD discerne os pensamentos e as intenções e não só as ações concretas. Pensar em estar ao lado dos poderosos já é como se de fato estivesse, pensarem trair a causa do Rei no é como se já tivesse traído. Com isto Deus também discerne, julga as intenções das diretorias de paróquias e comunidades e pastores que fazem questão de construir prédios para deixar nome; agora, se a PdD foi difundida na comunidade isto é secundário. O pouco apoio que o Culto Infantil, o Ensino Confirmatório, os Grupos de Reflexão, o trabalho na oposição sindical, com os sem terra, com as mulheres (não estou pensando na OASE) recebem, mostra que a PdD não é prioritária, pois ela aos poucos solapa o poder dos grandes.

A PdD também discerne que as lideranças, principalmente diretorias, são os financeiramente melhor ou bem situados e o que isto significa. Significa que a PdD será abafada. A verdade é que a classe dominante f az questão de ser dirigente de igreja para solapar a missão em favor do Reino, pois concretamente trabalham contra as organizações do povo que são PdD viva e eficaz, que são transformação em direção ao Reino. Temos que aprender nesta igreja que a missão da PdD vai progredir com mais facilidade na medida em que os seus dirigentes forem sal e luz, gente pobre engajada na luta pela transformação da sociedade.

Parece que a PdD varia muito com a situação política do país. Nos anos da repressão mais pesada os membros denunciavam os outros ou os pastores ao Dops se eles clareavam demais os conflitos. Quando caiu a censura os dedos duros já não mais denunciavam diretamente ao Dops, apenas faziam pressão e calúnia. Estes cristãos consciente ou inconscientemente são agentes do sistema de morte e a PdD incomoda este sistema e por isto ela precisa ser calada. Devemos estar cientes de que a PdD, passando ou saindo de nossa boca, deixou de ser pura e reta, pois está misturada à nossa ideologia. O critério para ver se ela ainda está muito perto da pureza e retidão é se proferimos palavras e fazemos ação em favor dos fracos, defendendo a vida. Quando a pregação é clara e desvenda o sistema opressivo há muita reação, pois se está acostumado a ouvir a PdD para legitimar o sistema deixando-o como está. A PdD mostra o pecado e dá o nome ao pecado e avisa do julgamento divino; isto aborrece a classe dominante e aos que a apoiam.

4 — Deus conhece cada pessoa

Deus conheça cada pessoa; isto significa que ele sabe se nós estamos nos empenhando ou não na construção da comunidade do Reino. Ninguém tem como se esconder de Deus, pois ele conhece a todos, significa que ele sabe se nossa fé tem prática ou se é morta. Ele sabe e vê a opressão a que o povo está sujeito e vê a ação dos cristãos a favor ou contra a opressão que diminui e elimina a vida. É importante saber que Deus sabe das coisas, pois os opressores agem como se Deus ignorasse aquilo que eles fazem. Por outro lado, Deus também sabe e vê se os oprimidos resistem ou não, ou se se deixam comprar. Isto tudo serve para Deus saber das coisas na hora do juízo, quando haverá o julgamento de cada pessoa.

Já que cada pessoa é criatura de Deus, por isso ela não pode se ocultar do Criador, pois é responsável perante ele pelo que fez e faz, se tem uma fé sem ação ou não. Fé sem ação é morta, inexiste.

5 — Tudo está descoberto aos olhos de Deus

Não adianta nós nos iludirmos a nós mesmos, pois diante de Deus tudo está claro. Podemos enganar os homens, mas a Deus não enganamos. Se queremos participar da nova vida que Deus nos oferece a partir de agora e após a ressurreição, não adianta fingirmos perante os outros e perante nós mesmos; é tempo perdido. O texto diz: todas as coisas; significa que Deus conhece toda a nossa ação e a nossa intenção. Ele sabe se estamos apenas usando a teologia do remendo, se estamos fazendo de conta e de fato estamos agindo em favor dos opressores (que é o mesmo que agir em favor do diabo). Ele também sabe se estamos assumindo a cruz e procuramos transformar este mundo, pelo poder de Deus, em seu Reino.

Deus conhece a realidade dos homens, por isso a função de sua palavra é mostrar o que ele conhece. Isto significa que a pregação da PdD mostrará que em nossa sociedade existem aqueles que possuem e concentram os meios de produção e os que apenas têm a sua força de trabalho. E os que possuem os meios de produção conseguem seus lucros às custas dos que só têm a sua força de trabalho para vender. A PdD mostra também que muitos que só têm a sua força de trabalho não conseguem trabalho para que o lucro dos patrões possa aumentar, pois isto serve para baixar os salários e desmobilizar a organização dos trabalhadores. Todos devem prestar contas: os que defendem a privatização dos meios de produção e os que defendem sua coletivização; e Deus vai dizer quem está certo e quem trabalhou para o Reino. Por isso, a função da comunidade é clarear ao máximo para todos a sociedade em que vivemos, para que todos saibam como agirem favor do Reino. Também a comunidade no tempo do Imperador Domiciano precisava clarear a sua situação e conhecer o sistema romano que a perseguia para se posicionar e assim melhor dirigir o seu trabalho missionário. A PdD penetra no mais íntimo das pessoas e dos sistemas para discernir não só as ações, mas também a ideologia (pensamentos e propósitos) que está por trás de cada ação e afirmação. A comunidade precisou conhecer, além da prática do Império, a própria ideologia do Império para poder compreender o porquê das coisas serem como são.

Por isso hoje é necessário a comunidade, além de fazer uma constante análise da conjuntura da sociedade brasileira, fazer também uma análise da evolução e aplicação da ideologia que move os fatos da nossa sociedade capitalista. Por causa de uma má ou ineficiente análise da conjuntura em momentos de transição a comunidade entra na conversa da burguesia que sabe mudar para não mudar, como é o caso da Nova República onde acontece um mero continuísmo da dominação burguesa. A comunidade deve estar ciente das propostas dos capitalistas e da dos trabalhadores para não ser enganada pelas aparências de uma abertura controlada. Pois os meios de produção continuam, como antes, nas mãos dos capitalistas e os trabalhadores continuam, como antes, vendendo a sua força de trabalho, portanto não mudou nada de substancial. Para clarear esta situação num momento de transição que sempre é confuso (por falta de uma correta análise de conjuntura) a PdD está aí para clarear a situação e colocar cada um em seu devido lugar: quais continuam ou são agora os opressores e quais são agora ou continuam os oprimidos. A partir disso a comunidade pode saber para onde dirigir a sua ação. Os critérios da análise são a PdD que é viva, eficaz e cortante, quer dizer, não dá chance de embrulhação. A grande falha da Igreja é exatamente esta: Ela não faz uma análise, a partir da PdD, do mundo que a cerca e por isso sua ação é ineficaz. E essa ineficácia de sua ação ajuda ao diabo. Por sua falta de clareza a Igreja presta uma grande ajuda ao diabo. E para a PdD ser viva, eficaz e cortante ela é subversiva neste mundo, pois clareia para mudar em favor do Reino.

6 — Temos que prestar conta a Deus

Deus, por causa do conhecimento minucioso que tem de nós, irá julgar se a nossa fé é uma fé oca, divorciada da ação, ou se é uma fé ligada à ação transformadora. Por isso não nos iludamos com falsas ações e esperanças, a Deus não se engana, ele sabe das coisas. E por saber das coisas ele é capaz de nos julgar.

III — Prédica

Este texto é um alerta claro à comunidade perseguida que está sempre na tentação de cair fora do compromisso de resistir à opressão e de transformá-la. Não adianta fazer alianças com os opressores e perseguidores do Reino para salvar a própria pele; exatamente por esse motivo perderemos a nossa pele na hora do julgamento de Deus.

Se o texto foi escrito na época do Imperador Domiciano, então dá para entender a posição da comunidade e de indivíduos da mesma que estão entre o assumir a cruz e o fazer o jogo duplo para salvar a pele. Por isso o texto deixa claro que não adianta fugir e desconversar, pois a PdD clareia tudo, até aquilo que pensamos, o que fazemos e o que deixamos de fazer; tudo será levado em conta no julgamento. Neste julgamento os perseguidores também entrarão.
A questão para nós hoje é: A comunidade normal não é perseguida; são apenas perseguidos os que se envolvem diretamente na transformação da sociedade. Perseguidos são os que se envolvem com pessoas e situações consideradas limítrofes e marginais e que questionam o ser normal da sociedade. Por exemplo: Alguém se envolver numa oposição sindical, apoiar os sem terra que ocupam uma área improdutiva, etc. Este texto também penetra no meio da comunidade para clarear a sua posição. Comunidade que está ao lado dos opressores não é comunidade. Comunidade onde os opressores estão na diretoria está em grande perigo, e isto a Pd D deixa claro.

A prédica deve questionar a postura individual e a postura da comunidade. Deus conhece, não adianta disfarçar e dizer que não é bem assim ou coisa parecida. O Evangelho mostra o caminho e é por aí e não por outro lado. O Evangelho também clareia a nossa própria postura dentro da comunidade e em relação ao mundo que precisa ser transformado, queiram os opressores e perseguidores ou não. O negócio é aguentar as consequências da exigência do Evangelho. A comunidade deve estar aberta para deixar a Pd D ser o critério de sua ação; por isso é importante que a Pd D seja a motivadora de um avaliação da postura concreta da comunidade. Se a comunidade fizer uma análise de sua vida, vai ficar claro de que lado ela está de fato.
Para o desenvolvimento da prédica pode-se usar o esquema proposto no item II.

IV — Subsídios Litúrgicos

1. Confissão de culpa: Senhor, diante de ti, como tua comunidade, estamos reunidos em celebração e queremos te confessar os nossos pecados. Pecados que cometemos quando nos omitimos perante à exploração que a classe trabalhadora sofre. Nos omitimos quando não nos manifestamos contra o arrocho salarial e a queda do poder aquisitivo dos salários dos trabalhadores. Pecamos quando dizemos que a Igreja não tem nada a ver com a mudança deste sistema de exploração que o sistema capitalista move em cima da classe trabalhadora. Pecamos quando nos omitimos em participar da organização dos sem terra em nosso município. Pecamos quando dizemos que os sem terra são vagabundos. Pecamos quando nos deixamos iludir pelo sistema capitalista, que se faz passar por cristão. Pecamos quando defendemos pela nossa prática os grandes e ajudamos a perseguir os fracos. Como comunidade confessamos que estamos apenas preocupados conosco, com nossas construções e festas e não temos tempo e não damos espaço para um bom trabalho em favor dos pequenos em nossa comunidade. Por isto e muito mais pedimos. Tem piedade de nós, Senhor!

2. Oração de coleta: Ó Deus! abre as nossas mentes para ouvir o teu Evangelho e não o anúncio da vontade dos opressores em nosso país. Faça com que os pequenos em nossa comunidade se organizem para conquistar o espaço a que têm direito. Ilumina a nossa comunidade para que sinta gosto no estudo da tua Palavra, afim de que a partir dali possa surgir uma ação em favor dos fracos. Abre a nossa vista para enxergarmos o próximo explorado como aquele que de nós precisa.

3. Oração final: Orar em favor: — da comunidade, para que possa desenvolver um trabalho em conjunto com os oprimidos. — dos trabalhadores que não têm sindicato para os defender ou cujo sindicato é pelego. — das pessoas que na comunidade querem fazer um trabalho com os oprimidos e que não têm espaço para isto. — das crianças abandonadas em nosso município. — das viúvas que são presa fácil para serem exploradas pelos que fazem de conta que querem ajudar. — dos enlutados que têm dificuldade em aceitar a separação do falecido(a). — do governo para que trabalhe em favor da classe trabalhadora e não sempre em favor dos patrões.

V — Bibliografia

- Lutherbibel erklãrt. Deutsche Bibelgesellschaft. Stuttgart, 1982.
- LEIPOLDT, J. GRUNDMANN, W. El mundo del Nuevo Testamento, v. 1. Madrid, 1973.
- LESBAUPIN, I.A bem-aventurança da perseguição. 2. ed. Petrópolis, 1977.
- Strobel, A. Der Brief an die Hebräer. In: Das Neue Testament Deutsch. v. 9. Göttingen, 1976.


Autor(a): Günter Adolf Wolff
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1985 / Volume: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17763
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