História de vida de Luciana Jarosczevski

28/03/2016

 

Nome: Luciana Jarosczevski

Comunidade Luterana da Cruz / Curitiba

Sínodo: Paranapanema

Cidade: Curitiba/PR

 

 

Onde DEUS está quando mais precisamos dele?

Resolvi começar com essa pergunta por achar que ela expressa o que tantas pessoas, também as que se dizem cristãs, sentem diante das dificuldades: a falta de Deus. Por muito tempo, em minha vida, senti-me agraciada com a presença de Deus, até o momento em que experimentei o que hoje vivencio e defino como a “MAIOR DOR” que um ser humano pode experimentar: a partida de uma filha para a VIDA ETERNA. A experiência da perda de minha filha me levou a perguntar: POR QUE EU?

Ainda hoje, quando faço esta pergunta para DEUS, durante minhas infindáveis crises de choro, pela saudade da minha pequena Kelli Cristina, sinto a dor tomar conta do meu ser. Depois de um tempo de silêncio, calmamente começo a perceber que Deus sempre esteve ali, o tempo todo comigo. ELE sempre esteve junto, pois, se fosse diferente, eu não aguentaria. Então percebo que é nossa tendência querer sempre mais do que Deus nos proporciona.

No início de 2015, quando Kelli foi internada, chorei durante dias. Foram três meses de angústia, acompanhando seu difícil quadro de saúde. Nos 65 dias finais em que permanecemos juntas na UTI, a Kelli em estado gravíssimo, acometida pelo mal epilético e eu desorientada pela possibilidade de perder minha única filha, questionei: “Onde DEUS está enquanto minha filha, uma adolescente de apenas 16 anos, sofre? Ela não tem o direito de ao menos falecer com dignidade? Precisa ficar neste ambiente frio e com tantas dores, sem que eu possa ao menos ajudá-la?”

Sem me dar conta, DEUS estava ao nosso lado o tempo todo, providenciando tudo de que nós necessitávamos, mas não aquilo que eu considerava que precisávamos. Toda essa reflexão me ocorreu quando meus familiares, pessoas amigas e pastores da comunidade me alertaram sobre a gravidade do caso, dizendo que só me restava entregá-la nas mãos de DEUS. Como foi difícil, mas não havia alternativa: entreguei-a nas mãos de Deus e, aos poucos, fui percebendo que tudo tinha um propósito. Comecei a fazer as poucas coisas que eu poderia: primeiro, relembrar como nós tivemos uma vida maravilhosa juntas.

Apesar das limitações da Kelli, nós não reduzimos nossas vidas apenas a poucos passeios, mas desfrutamos do melhor que a vida pode nos oferecer. Visitamos com frequência as pessoas que nos amam de verdade, conhecemos lugares fantásticos criados por Deus ou pelos simples mortais. Quando aparecia algo que a Kelli não conseguiria fazer sozinha, eu a agarrava junto de mim, e nós desfrutávamos ao máximo qualquer oportunidade de felicidade juntas. Presenteamos nosso paladar com alimentos muito deliciosos, viajamos, lutamos contra o preconceito, brincamos. Quando buscávamos estímulos nas clínicas de fisioterapia, terapia ocupacional ou fonoaudiologia, nas piscinas em que fazíamos hidroterapia ou apenas fazíamos farra na água, rimos e descobrimos na Reeducação Visual, em meu local de trabalho, o CMAE (Centro Municipal de Atendimento Especializado), que a baixa visão nos proporcionava enxergar além, com os olhos do coração. Nós nos emocionamos nas sessões de equoterapia, em que a Kelli, por vezes, resolvia mostrar que podia, sim, melhorar seu controle de tronco. Em outros momentos, ela simplesmente curtia as crinas do cavalo. Foram momentos cheios de emoções. 

Por outro lado, não podemos deixar de mencionar as nove escolas que a Kelli frequentou, algumas para mostrar que a inclusão é possível, outras para a Kelli ser realmente estimulada. Em algumas escolas, percebemos que existem professoras fascinantes; em outras, experimentamos o descaso de professoras incompetentes e sem preparo para lidar com o diferente. Mas em cada local por onde passamos pudemos perceber que DEUS estava ao nosso lado.

Em segundo lugar pude pensar: “Nossa, como é injusto a Kelli ter ficado neste mundo somente 12 anos após sua adoção”. Mas também percebi que isso é uma questão de interpretação. DEUS é tão bondoso que me permitiu viver com a Kelli por 12 anos muito intensos, nos quais fui chamada de MÃE pela criatura mais iluminada que já conheci. Embora Kelli tenha falado por um período muito curto, pois logo teve o 1º mal epilético que a impediu de continuar falando, ela me mostrou algo ainda mais grandioso: a linguagem do coração. Na minha limitação, não consigo explicar, mas a Kelli sabia me transmitir muito da grande inteligência emocional com a qual foi agraciada por Deus. Não vi minha filha correndo, andando, mas a vi com toda a certeza flutuando com a sua cadeira de rodas. Sempre fiz questão de lhe proporcionar muito conforto, porém alguns passos foram importantes para que eu desse valor à maneira de conduzir nossas vidas. Também pude frequentar a Comunidade da Cruz, em Curitiba, com este anjo ao meu lado. Inclusive, na sua Confirmação, ela nos fez refletir e questionar sobre quem consegue cumprir os DEZ mandamentos? A Kelli nos ensinava muito quando cantava cada hino do culto com a língua dos anjos. 

Deus sabe de todas as coisas. A Kelli ensinou na vida e na morte. Obrigada, SENHOR, por me permitir ser MÃE de um ANJO. Sei que a missão dela permanecerá com a mesma importância: ensinar-nos a nunca desistir. Como diz a letra do seu canto preferido: “Eu quero ser, Senhor amado, como um vaso nas mãos do oleiro, quebra a minha vida e faze-a de novo, eu quero ser, eu quero ser um vaso novo.”


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Isaias 41.10
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