IECLB: há 30 anos ordenando mulheres

10/11/2012

Este é um ano muito importante para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB. Em especial, é um ano significativo para as mulheres da Igreja, que celebram nada menos que 30 anos de ordenação de mulheres. Isso mesmo, 30 anos da presença das mulheres nos púlpitos, mulheres de fé que, ano após ano, levam a palavra de Deus a famílias de todas as classes, dando um importante testemunho de que, SIM, Deus fala por meio de todo o seu povo, não importa a etnia, a cor ou o gênero.

Para comemorar, o CONIC faz uma entrevista com a pastora Regene Lamb, conhecedora desse assunto e uma das organizadoras do Seminário que celebrará essa importante conquista na IECLB. Só para registrar, outras igrejas do CONIC também ordenam mulheres, como a IEAB e a IPU.
Confira a entrevista:

1) Quais as circunstâncias que levaram a IECLB a ordenar mulheres?

Não existe nenhum documento oficial da Igreja que fundamenta a ordenação de mulheres ao ministério. Existem apenas registros dos fatos que levaram até a primeira ordenação no dia 13 de novembro de 1982. Estes iniciam com o ingresso de mulheres no estudo da teologia em 1952, passam pelas primeiras mulheres que concluíram os estudos e procuram uma comunidade que as aceitou. A determinação e vontade das mulheres de exercer o ministério foram criando possibilidades. Foi um longo processo, com muitas discussões, orações e quebra de paradigmas. Com sua confiança em Deus e com trabalho incansável aos poucos brechas foram sendo abertas e mais mulheres foram ingressando no estudo de teologia e depois no ministério ordenado.

2) Hoje, quantas mulheres ordenadas existem na IECLB?

Hoje existem aproximadamente 350 ministras ordenadas: pastoras, catequistas, diáconas e missionárias, de um total de 1220 pessoas ordenadas na IECLB. Mas a tendência é que este número aumente, pois entre as/os estudantes de teologia mulheres já são 50%.

3) Como é a aceitação das comunidades?

De modo geral a aceitação é boa. Sempre há pessoas que fazem perguntas e duvidam da capacidade ou acham estranho ao se confrontar pela primeira vez com uma mulher no púlpito, na realização de uma benção matrimonial, num sepultamento. Como há pessoas bastante desligadas da realidade da igreja, após 30 anos ainda há pessoas que tem dificuldades em aceitar as mulheres no ministério ordenado principalmente se for em funções tradicionalmente exercidas por homens, como o pastorado. Nos ministérios catequético e diaconal, tradicionalmente ocupados por mulheres a dificuldade é reconhecer que este é um trabalho tão importante como o pastoral. 

4) Quais os principais desafios identificados no ministério ordenado no tocante às mulheres ministras?

Uma reflexão teológica menos dogmática, que considere as experiências do humano inclusivamente, isto é não parta da experiência do homem branco de classe média com normativa. Eu penso que é também uma rede de apoio e reflexão entre as ministras que contribuiria para uma teologia mais contextualizada. 

5) Qual a importância do Seminário que está sendo preparado para novembro?

Este seminário congregará 100 ministras e pretende fazer um resgate da história já vivida, celebrar os 30 anos de ordenação e refletir sobre a contribuição que nos ministras da IECLB queremos dar nas comemorações dos 500 anos de reforma luterana. Através do depoimento de mulheres de diferentes gerações e diferentes ministérios queremos conhecer o trabalho que viemos realizando para daí poder refletir sobre a nossa contribuição específica na divulgação do Evangelho. 

6) Como mulher e pastora, quais os desafios que o Brasil ainda enfrenta no tocante à violência contra a mulher?

Vários esforços já foram feitos como a criação das delegacias para mulheres, a lei Maria da Penha, os Conselhos de mulheres, as diversas ONGs que se preocupam com a questão de gênero, porém os índices de violência contra mulheres, crianças, jovens ainda são elevadíssimos. Do meu ponto de vista a teologia das igrejas cristãs pela sua tradição profundamente patriarcal ainda precisa passar por um processo de desconstrução para poder de fato contribuir para a transformação da sociedade como um todo.
Fica bem difícil identificar todos os mecanismos sociais que contribuem para a perpetuação da violência contra mulheres, A minha esperança é que a presença das mulheres em todos os setores da sociedade vá aos poucos acabando com os preconceitos e as violências. 

7) Por fim, em sua opinião, mulheres no púlpito são mais propensas ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, ou não? Por quê?

Somos, em primeiro lugar, humanas, carentes da graça amorosa de Deus. Podemos ser ecumênicas ou não, abertas ao diálogo inter-religioso ou não. Talvez se refletirmos sobre as nossas experiências de exclusão, não aceitação, diversidade, sejamos mais forçadas à abertura e à solidariedade com a/o outra/o. Vivemos numa sociedade onde ainda há uma forte diferenciação na educação de meninas e meninos. Partindo da compreensão de Genesis 1, que mulheres e homens foram criados à imagem e semelhança de Deus, creio que por natureza, não há diferença em nossa capacidade de empatia, de percepção do que promove a vida com dignidade, sem hierarquias e discriminações.

Fonte: CONIC
 

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