Isaías 30.(8-14), 15-17

Auxílio homilético

31/12/1980

Prédica: Isaías 30.(8-14), 15-17
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Véspera de Ano Novo
Data da Pregação: 31/12/1980
Proclamar Libertação - Volume VI
Tema: Ano Novo

I – Introdução

Na época do chamado de Isaías existiam dois reinos israelitas: o do Norte com o nome Israel e o do Sul com o nome Judá. Isaías é considerado o profeta dos profetas, que foi convocado para lutar em Judá. Isaías foi chamado no ano da morte do rei Uzias (cf.6.1), lá por 739 antes de Cristo. Os reinos de Israel ainda não tinham sido destruídos, quando. Isaías teve a visão (cap.6). Viu Javé no templo, rodeado de serafins, que exaltavam a maravilha de Deus: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia de sua glória. Santo é estar acima de, é estar exaltado — Deus é diferente das criaturas. Mas, de outro lado, toda a terra está cheia de sua glória. Deus não fica voltado para si mesmo, mas desce ao mundo, dando a conhecer o seu poder através do profeta Isaías. Esta particularidade vemos transparecer na pregação de Isaías: a santidade de Deus e a sua presença no meio do seu povo.

Primeiramente vemos Isaías bastante chocado com o reconhecimento de sua vida de pecador. Deus é santo e ele, pecador. Mas Isaías recebeu per- dão dos seus pecados e se colocou à disposição para ser enviado. Isaías obedeceu sem restrições. Vemo-lo firme em todos os pronunciamentos que fez, mesmo tendo que anunciar ao povo que a sua situação era desesperadora (cf. 6.10: Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos, e a entender com o coração, e se converta e seja salvo.). Sua profecia à primeira vista não trouxe esperança, mas endurecimento e destruição.

Entretanto, no meio de toda a destruição Isaías fala de um resto que permanecerá. Primeiro endurecimento e destruição - depois o resto (6.13). Isaías desafiou o povo de Deus a aceitar esta realidade. Ela só podia ser aceita na fé, na confiança, nos caminhos de Deus. Mesmo que para o momento valesse destruição, no futuro haveria um rebento, um novo começo, e isto só se pode viver na fé.

Por que esta mensagem? O povo de Judá estava confiando mais em si e no seu rei Acaz. A mensagem de Deus só encontrava ouvidos fechados e endurecidos. Quando a Assíria se pôs a caminho para destruir e tomar Damasco e Israel, Acaz se apressou a fazer uma aliança com a Assíria, para não ser destruído. Em toda esta situação Isaías aconselhou o rei a confiar em Deus e não em seus próprios planos. E isto seria fé. Mas o rei preferiu dar crédito à sua sabedoria.

Vemos assim Isaías no meio de uma situação política, onde a mensagem de Deus não encontrou aceitação.

II – Contexto

O texto de 30.8-17 precisa ser compreendido conforme descrito na parte introdutória. O contexto nos aponta o endurecimento do povo diante da mensagem de Isaías. Em 29.9-14 lemos: Estatelai-vos e ficai estatelados, cegai-vos e permanecei cegos;... Porque o Senhor derramou sobre vós o espírito de profundo sono... Em 30.27-33 Javé pessoalmente se posiciona quanto à Assíria, afirmando que fará ouvir a sua voz majestosa, e fará ver o golpe do seu braço... porque com a voz do Senhor será apavorada a Assíria, quando ele a fere com a vara. E em 31.1-8 o profeta fala daqueles que, mesmo diante da ameaça de destruição, ainda confiam no pacto com a Assíria. Somente Javé pode proteger o seu povo (31.5): Como pairam as aves, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém: protegê-la-á e a salvará, poupá-la-á e a livrará. Mas para que isso acontecesse, era necessário a conversão para Deus, do qual o povo se afastara (31.6).

III - Texto – Exegese

Nosso texto de 30.8-17 pode a seguir ser compreendido, tendo em mente o descrito até aqui. O povo de Judá procurou, conforme o nosso texto, fazer uma aliança com o Egito para proteger-se dos inimigos. Não procurou a orientação de Deus. E nesta situação soou a mensagem de Deus a Isaías.

V. 8: Isaías deveria escrever seu recado sobre tábuas e livros, portanto, em lugares visíveis, para que permanecesse como admoestação para as gerações vindouras. Só falar não adiantava mais. A mensagem precisava ser vista e ouvida para que não houvesse mais dúvida quanto ao chamado de Deus.

V. 9-11: Deveria escrever, tendo como conteúdo a desobediência do povo. Ele é rebelde, é mentiroso, não quer ouvir a mensagem de Deus. Está com o coração endurecido. Se ainda ficasse calado..., mas age contra os videntes e profetas, que lhe anunciam a verdade. Não quer saber nada de visões e profecias que falam do santo de Israel e de suas veredas. Estaria pronto a aceitar profecias aprazíveis, ilusões maravilhosas. Mas a verdade da sua desobediência, não quer escutar e nem tomar consciência dela.

V. 12-14: Mesmo assim Deus, o santo de Israel, não se cala. Ele manda anunciar a desobediência deste povo, que rejeita a sua palavra e prefere confiar na opressão, na perversidade, nas palavras humanas. Mas isto será o seu fim, pois este povo está prestes a cair, a ser destruído, como o muro torto está pronto para cair. O próprio Deus quebrará o seu povo como se despedaça um vaso, sem nada poupar. Que mensagem séria: nada sobrará. Este pensamento acompanhamos em todo o Livro de Isaías nos seus ca¬pítulos 1-39.

V. 15-17: Mas a mensagem do resto tem o seu lugar também aqui. Há salvação, se o povo se converter e sossegar. Este estar sossegado não significa ficar imóvel, mas confiar na salvação de Deus, mesmo que no momento estejam sendo cercados e destruídos. É pedir bastante deste povo sofredor: não desanimar no momento, mesmo que custe a vida, e confiar no futuro, pois só assim haverá uma saída. Portanto, o que vale é esperar pela orientação de Deus. Na tranquilidade e na confiança está a sua força. A esta altura seria de se esperar que este povo reagisse, aceitando tal desafio.

Entretanto, nada disto aconteceu. O povo preferiu tomar o futuro em suas mãos. Preferiu fugir sobre cavalos, mesmo sendo perseguido. Do santo de Israel não se aceitava orientação e ajuda. A situação foi tão longe, que quando um ameaçava, mil fugiam. Se confiassem no Senhor, seria o contrário: bastariam poucos homens para colocar o exército inimigo em fuga. É o caso de Davi diante dos filisteus (l Sm 17.41ss).

O final do v. 17 faz transparecer o pensamento de um rebento que fica, quando fala do mastro no cume do monte ou do estandarte no outeiro.

Há assim uma certa tensão entre a mensagem da desobediência (destruição) e da salvação. Deus quer a salvação, mas o povo não dá ouvidos. Prefere viver seus caminhos. Isaías tocando na ferida do povo, espera dele conversão e que possa pertencer aos remidos. Para Isaías a tábua da salvação é vista no menino, que será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (9.6). Jamais pensou o profeta que esta promessa seria cumprida só bem mais tarde no nascimento de Jesus Cristo.

IV – Meditação

Estamos no fim do ano. Foram 366 dias de trabalho, de lutas, de decepções, de tristezas, mas também de sucessos e de alegrias. Como passamos este ano? Alicerçados em nossos bons propósitos? Trilhando nossos próprios caminhos? Temos dado atenção à mensagem do Livro Sagrado, que apontou para Deus? Ou vivemos sem este livro? Temos rejeitado a mensagem que aponta para o Pai de Jesus Cristo como sendo a nossa esperança, mesmo vivendo situações desesperadoras (crise de energia, problemas ecológicos, situação dos índios, dos operários, das famílias)? Será que a palavra de Deus foi a nossa bússola? Ou temos cavalgado, procurando fugir da orientação de Deus?

Sabemos que é bem mais fácil ignorar os caminhos de Deus. Mas o texto de hoje nos chama para repensarmos nossas atitudes e voltarmos para Deus. Se no ano que finda fundamentamos nossa vida familiar, profissional, política e social no nosso entendimento e egoísmo — isso não precisa continuar assim no ano novo. Abre-se uma nova porta. Somos chamados para voltar ao Senhor em arrependimento sincero. O texto fala em sossegar, pois esta é a nossa salvação. Somos chamados para a tranquilidade e confiança nos caminhos do Senhor. Isto naturalmente não significa ficar parado e deixar as coisas acontecerem. Significa movimentar-se, mas no sentido de buscar na palavra de Deus a resposta para enfrentar a vida com seus compromissos. Vamos aceitar este desafio para o novo ano?

V - Mensagem central

De natureza estamos acostumados a trilhar nossos próprios caminhos, que nos são ditados pela consciência. Entretanto, Deus, o criador e mantenedor de todas as coisas e salvador em Jesus Cristo, nos desafia para vivermos alicerçados sobre a sua palavra, que representa perdão, salvação e uma orientação segura e duradoura para os caminhos da vida.

VI - Sugestão para desenvolver o texto

l. Introdução

Falar da situação do povo de Israel e da situação da mensagem de Deus através de Isaías, ressaltando o endurecimento do povo, o chamado à conversão e a esperança de um resto que permanecerá.

2. Análise da situação do texto

a) Tudo está escrito (tábua x livro).
b) Povo endurecido — só quer ouvir coisas aprazíveis — quer fugir sobre cavalos.
c) Mas a destruição está próxima, no exemplo do muro.
d) Entretanto existe uma esperança - o mastro no cume do monte. Ainda há tempo para converter-se e viver a salvação.

3. Nossa realidade no ano que passa e um novo começo

a) Vivemos nossa vontade própria neste ano?
b) Qual foi a nossa atitude diante da palavra de Deus?
c) Arrependimento e conversão para uma nova vida em Cristo no ano novo.

VII – Bibliografia

- VON RAD, G. Thedogie des Alten Testamentes. Vol.2. 3.ed. München, 1962.
- WEBER,O. Grundriss der Bibelkunde. S.ed. Göttingen,1958.

Proclamar Libertação 06
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Silvestre/Véspera de Ano Novo

Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 30 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 17
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980 / Volume: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 6971
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A vida cristã não consiste em sermos piedosos, mas em nos tornarmos piedosos. Não em sermos saudáveis, mas em sermos curados. Não importa o ser, mas o tornar-se. A vida cristã não é descanso, mas um constante exercitar-se.
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