Isaías 35.1-10

Auxílio Homilético

02/11/2003

Prédica: Isaías 35.1-10
Leituras: Mateus 22.23-33 e I Coríntios 15.50-58
Autor: Heinz Ehlert
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes – Dia de Finados
Data da Pregação: 02/11/2003
Proclamar Libertação - Volume: XXVIII
 

1. Considerações exegéticas

Os comentaristas, em geral, consideram os cap. 34 e 35 de Isaías um poema posterior ao exílio babilônico, cujo autor (desconhecido) conhecia os caps. 40ss. (Dêutero e Trito-Isaías). Isto, porém, não significa dependência. A maioria também admite que se trata de uma compôsição que abrange esses dois capítulos e que, portanto, não cabe fazei uma divisão entre os dois. O cap. 34 narra com termos e imagens fortes e radicais a punição de Edom, caracterizado como inimigo de Israel e de Deus. O cap. 35, em contraste, narra em termos e imagens alegres e radiantes a sorte dos remidos em seu meio ambiente. Muitos até falam em pequeno apocalipse. Nos dois capítulos, pode ser percebido como a natureza participa tanto da punição como da redenção dos respectivos personagens.

Segue uma análise um pouco mais pormenorizada:

a) As promessas quanto ao meio ambiente e às dádivas do Deus vindouro aos resgatados (35.1-6a)

V l e 2: o meio ambiente participa da libertação promovida por Deus na sua vinda. O criador restaura o que pessoas e poderes adversos destruíram. Onde havia deserto e desolação haverá uma paisagem florescente. O texto recorre a termos que relembram descrições de exuberância atribuída à paisagem do Líbano, do Carmelo e de Sarom. A linguagem poética atribui à natureza a capacidade de jubilar e de exultar de alegria. Assim, dá-se-lhes a possibilidade de ver a glória e o esplendor do próprio Deus.

V. 3 e 4: de repente, sem mais explicações, são introduzidos, de um lado, os que devem consolar, fortalecendo as mãos frouxas e os joelhos vacilantes e animar os desalentados de coração e, de outro, os que devem receber essa consolação. Quem seriam? De um lado, serão mensageiros e, de outro, os muitos que precisam desse estímulo animador, ambos pertencentes aos resgatados (v. 10). O texto focaliza a situação de fraqueza tanto física como emocional e espiritual. Quem imo se; lembraria, no contexto, de passagens do NT em que o próprio Jesus chama a si os cansados e sobrecarregados (Ml 11.28) ou das exortações na Epístola aos Hebreus (Hb 12.12)? Isto mostra que esta profecia manteve-se viva no povo de Deus .

A mensagem alentadora é esta: Eis o vosso Deus. O que parecia distante ou até inexistente está aí. Revela-se pela própria palavra profética. Merece, sem dúvida, destaque a expressão vosso Deus. Pode ser lembrado aquele com quem já tiveram uma história. Pode-se pensar, p. ex., na libertação e no êxodo do povo de Deus do Egito. Deus está ligado aos seus fiéis de maneira especial.

A vingança, o castigo vem para os seus opressores (cap.34), o que representa para os resgatados salvação. O Deus zeloso que cuida dos seus, também é o Deus da ira para aqueles que o desprezam e maltratam os seus semelhantes.

V. 5 e 6a: citam detalhes concretos sobre o novo estado dos resgatados: os debilitados e deficientes físicos experimentarão restauração. Ao mesmo tempo, porém, representam uma transformação no estado de ânimo: uma nova visão das coisas, uma nova compreensão do seu destino, uma nova perspectiva para a sua vida. O futuro existe! A escuridão tem que ceder à luz do Deus presente. O novo estado de ânimo desencadeia o louvor ao Deus criador (que renova a natureza) e libertador (que resgata os oprimidos e desalentados).

b) O regresso dos resgatados ao Sião (v. 6b-10)

A natureza transformada permitirá uma caminhada segura e alegre para o alvo traçado aos remidos ou resgatados.

V. 6b e 7: onde antes só havia deserto haverá tudo para brotar vegetação abundante. Onde antes havia só areia esbraseada e lugar para animais silvestres ferozes haverá abundância de água e plantas com condições para florescer e dar frutos.

V. 8 e 9: descrevem um Caminho Santo. Santo, porque é o caminho preparado por Deus. Por isso, é um bom caminho, ainda que não um caminho fácil. Será para o seu povo. Quem quiser estar entre os peregrinos deve santificar-se, ser purificado. Quem anda por ele sabe que está no único caminho certo, pois só ele conduz ao alvo colocado por Deus. Nenhum obstáculo (p. ex. cita-se aqui leão, animal feroz) poderá impedir definitivamente a caminhada.

V. 10: o Sião é o alvo dos resgatados . É para lá que conduz o Caminho Santo. Caminhando, entoarão cânticos de júbilo, porque experimentam a presença de Deus. E o que é este Sião? No AT, trata-se do lugar de adoração em Jerusalém. Mas, falando de alegria eterna, não pode ser apenas uma casa terrestre e temporal. Já no AT, mas muito mais a partir do NT, é permitido pensar num Sião celestial, na casa de meu Pai (Jo 14.2), para onde Jesus é o único caminho, no descanso ou repouso prometido ao povo de Deus (Hb 4.2-11), no tabernáculo de Deus (Ap 21.3 e 4), onde não haverá mais luto, nem pranto, nem dor. Assim, o poema profético liga o passado e presente ao futuro do povo de Deus.

2. Reflexão sobre o texto rumo à prédica

Meditando sobre o texto como boa nova para nós hoje, podemos partir de Is 35.4: eis o vosso Deus! Deus existe, e não é um Deus distante; ele acompanha-nos. Quer conduzir, tem um caminho, tem um alvo para nós, dando sentido à nossa vida. Ele teve, tem e terá uma história conosco. A nossa vida inteira é levada a sério pelo nosso Deus criador e libertador.

Mais do que isto: ele é senhor da história. Iluminados pela Pala vra de Deus, podemos reconhecer: Há sinais de paz e de graça neste mundo que ainda é de Deus. Em meio aos poderes das trevas manifestam-se as forças dos céus (Hinos do Povo de Deus, 165). As promessas do texto também afirmam isso. Não é difícil adivinhar o passado e a situação presente dos destinatários. O seu desalento não era sem motivos. Para os israelitas daquele tempo, foi a opressão no exílio babilônico, perseguição política e religiosa, mas também a miséria, doenças e desorientação após o exílio. Ao lembrar a nossa situação aqui e nos países vizinhos, poderíamos citar muitíssimos exemplos de sofrimento provocado pela exclusão de milhões de contemporâneos em virtude de estruturas e ordens vigentes. As razões podem ser as mais diversas. Em época pré-eleitoral, são feitos análises e diagnósticos inteligentes: corrupção no governo, na sociedade em geral, falta de investimento em educação e saúde. Mas quais são as soluções?

Vários governos na América Latina foram derrubados no passado recente, sem que com isso se solucionasse o problema da miséria. Acresce a confusão no campo religioso, a agressão ao meio ambiente, comprometendo o futuro da humanidade, a desorientação nas pesquisas e ações científicas (p. ex., clonagem humana) para causar desânimo à atual geração.

Mas tem mais. Mesmo que nem todos sejam atingidos por igual pelas aflições existentes, uma realidade atinge a todos, sem distinção, ricos e pobres, jovens e velhos: a morte, qualquer que seja sua causa. Esperança? A Igreja tem mensagem fidedigna? Tem!

O texto em estudo está previsto para ser pregado em finados (ou no domingo seguinte). Não podemos ignorar este fato. A terminalidade da vida, a morte de entes queridos e o luto consequente devem ser abordados, ainda mais, porque estão muito disseminadas, entre nós, ideias de religiões não-cristãs (p. ex., sobre a reencarnação) que causam não pouca confusão e desorientação.

O texto quer levar a sério tudo isso. E a boa nova vem centrada no eis o vosso Deus (v. 4) e no bom caminho, por onde andarão os resgatados do Senhor. Este mundo realmente ainda é de Deus. Como Senhor, ele tem cuidado de seu povo. Lembremos como agiu na história, o que já realizou como história sagrada. Para Israel, tratava-se especialmente da libertação do Egito e do êxodo para a terra prometida; para nós, é a lembrança da redenção em Jesus Cristo, da libertação de todos os pecados, da morte e do poder do diabo. Somos nova criatura (2 Co 5.17). Assim, podemos percorrer um novo caminho com coragem, pois o redentor está conosco até o fim, também até o fim da vida. Estamos em condições de enfrentar as aflições deste mundo . Mas o fim da vida não é o alvo. A esperança que resulta desta mensagem não é apenas para esta vida. Diante da morte, pode-se anunciar: haverá ressurreição do corpo e vida eterna! Este é o nosso Sião. O descanso do povo de Deus, onde vale o que diz Ap 21.3 e 4.

Forte é o desafio nos v. 3 e 4: fortalecei as mãos frouxas (...), dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais (...). A Igreja deve anunciar a mensagem da esperança, através de seus membros - por meio de palavras e ações, especialmente em situação de luto e dor, quando as pessoas são seduzidas a buscar um consolo que não vem do evangelho. A estas pessoas, quer membros da Igreja, quer não, somos enviados como cristãos. O testemunho pessoal deve aliar-se à pregação pública.

3. Um roteiro de prédica (com base na reflexão acima)

Tema: Deus não abandonou o seu mundo.

a) Ele leva a sério as aflições deste mundo,
b) mostra a razão de nossa esperança - em Cristo somos nova criatura,
c) encarrega os seus de consolar-se mutuamente.

4. Subsídios litúrgicos

Também a liturgia deverá levar em consideração a data (o dia dos finados ou proximidade). Se for na capela do cemitério ou no templo, a cor e o símbolo dos paramentos - morte e luto, mas também ressurreição - serão adequados ao momento. Serão escolhidos hinos que falam do senhorio de Deus e da sua presença, do termo desta vida e da esperança dos cristãos.
A confissão de pecados poderá mencionar nossa falta de amor aos nossos familiares e co-membros da Igreja durante a peregrinação
Em algum momento, p. ex., logo após os avisos, poderão ser enunciados os nomes dos falecidos durante o ano.

A oração final deverá interceder pelos enlutados, podendo mencionar também casos específicos de sofrimento (coletados entre os pré sentes ao culto).

Bibliografia

GRAUPNER, A. [Meditação sobre Is 35.3-10 (para 2° Domingo de Advento)]. In: Pastoral-Theologie Göttinger Predigtmeditationen. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1994.
KAISER, O. Der Prophet Jesaja. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1973.
LANGNER, C. [Auxílio para o culto e prédica sobre Is.35.3-10]. In: Meditative Zugänge zu Gottesdienst und Predigt. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1994.
SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAS, J. L. Isaías e Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988.

Proclamar Libertação 28
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Heinz Ehlert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Dia de Finados

Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 35 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2002 / Volume: 28
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 6959
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